quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Sexta-feira da 30ª semana do Tempo Comum

1ª Leitura (Rom 9,1-5): Irmãos: Em Cristo digo a verdade, não minto, e disso me dá testemunho a consciência no Espírito Santo: Sinto uma grande tristeza e uma dor contínua no meu coração. Quisera eu próprio ser anátema, separado de Cristo, para bem dos meus irmãos, que são do mesmo sangue que eu, que são israelitas, a quem pertencem a adopção filial, a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas, a quem pertencem os Patriarcas e de quem procede Cristo segundo a carne, Ele que está acima de todas as coisas, Deus bendito por todos os séculos. Amém.

Salmo Responsorial: 147

R. Jerusalém, louva o teu Senhor.

Glorifica, Jerusalém, o Senhor, louva, Sião, o teu Deus. Ele reforçou as tuas portas e abençoou os teus filhos.

Estabeleceu a paz nas tuas fronteiras e saciou-te com a flor da farinha. Envia à terra a sua palavra, corre veloz a sua mensagem.

Revelou a sua palavra a Jacob, suas leis e preceitos a Israel. Não fez assim com nenhum outro povo, a nenhum outro manifestou os seus juízos.

Aleluia. As minhas ovelhas escutam a minha voz, diz o Senhor; Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me. Aleluia.

Evangelho (Lc 14,1-6): Num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. Estes o observavam. Em frente de Jesus estava um homem que sofria de hidropisia. Tomando a palavra, Jesus disse aos doutores da Lei e aos fariseus: «Em dia de sábado, é permitido curar ou não?» Eles ficaram em silêncio. Então Jesus tomou o homem pela mão, curou-o e o despediu. Depois lhes disse: «Se algum de vós tem um filho ou um boi que caiu num poço, não o tira logo daí, mesmo em dia de sábado?» E eles não foram capazes de responder a isso.

«Em dia de sábado, é permitido curar ou não?»

Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)

Hoje fixamos nossa atenção na pergunta aguçada que Jesus faz aos fariseus: «Em dia de sábado, é permitido curar ou não?» (Lc 14,3), e na significativa anotação que faz são Lucas: «E eles não foram capazes de responder a isso» (Lc 14,4).

São muitos os episódios evangélicos nos quais o Senhor joga na cara dos fariseus sua hipocrisia. É notável o empenho de Deus em nos deixar claro até que ponto lhe desagrada esse pecado – a falsa aparência, o engano vaidoso -, que situa-se nas antípodas daquele elogio de Cristo a Natanael: «Aí está um verdadeiro israelita, em quem não há falsidade» (Jo 1,47). Deus ama a simplicidade de coração, a ingenuidade do espírito e, pelo contrário, rechaça energicamente o que é emaranhado, o olhar vago, a dupla moral, a hipocrisia.

O significativo da pergunta do Senhor e da resposta silenciosa dos fariseus, é a má consciência que estes, no fundo, tinham. Diante jazia um doente que buscava sua cura por Jesus. O cumprimento da Lei judaica –mera atenção à letra com desprezo ao espírito- e a fátua presunção de sua conduta honorável os leva a escandalizar-se ante a atitude de Cristo que, levado pelo seu coração misericordioso, não se deixa amarrar pelo formalismo de uma lei, e quer devolver a saúde a quem carecia dela.

Os fariseus se dão conta de que sua conduta hipócrita não é justificável e, por isso, calam. Nesta parte resplandece uma clara lição: a necessidade de entender que a santidade é seguimento de Cristo – até o enamorar-se plenamente - e não frio cumprimento legal de uns preceitos. Os mandamentos são santos porque procedem diretamente da Sabedoria infinita de Deus, mas que é possível vive-los de uma maneira legalista e vazia, e então se dá a incongruência –autêntico sarcasmo- de pretender seguir a Deus para terminar indo atrás de nós mesmo.

Deixemos que a encantadora simplicidade da Virgem Maria se imponha nas nossas vidas.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje traz mais um episódio de discussão entre Jesus e os fariseus, acontecido durante a longa viagem de Jesus desde a Galileia até Jerusalém. É muito difícil de situar este fato no contexto da vida de Jesus. Existem semelhanças com um fato narrado no evangelho de Marcos (Mc 3,1-6). Provavelmente, trata-se de uma das muitas histórias transmitidas oralmente e que, na transmissão oral, foram sendo adaptadas de acordo com a situação, as necessidades e as esperanças do povo das comunidades.

* Lucas 14,1: O convite em dia de sábado. “Num dia de sábado aconteceu que Jesus foi comer em casa de um dos chefes dos fariseus, que o observavam”. Esta informação inicial sobre refeição na casa de um fariseu é o gancho para Lucas contar vários episódios que falam da refeição: cura do homem doente (Lc 14,2-6), escolha dos lugares à mesa (Lc 14,7-11), escolha dos convidados (Lc 14,12-14), convidados que recusam o convite (Lc 14,15-24). Muitas vezes Jesus é convidado pelos fariseus para participar das refeições. No convite deve ter havido também um motivo de curiosidade e um pouco de malícia. Querem observar Jesus de perto para ver se ele observa em tudo as prescrições da lei.

* Lucas 14,2: A situação que vai provocar a ação de Jesus. “Havia um homem hidrópico diante de Jesus”. Não se diz como um hidrópico pôde entrar na casa do chefe dos fariseus. Mas se ele está diante de Jesus é porque quer ser curado. Os fariseus que o observam Jesus. Era dia de sábado, e em dia de sábado é proibido curar. O que fazer? Pode ou não pode?

* Lucas 14,3: A pergunta de Jesus aos escribas e fariseus. “Tomando a palavra, Jesus falou aos especialistas em leis e aos fariseus: "A Lei permite ou não permite curar em dia de sábado?"  Com a sua pergunta Jesus explicita o problema que estava no ar: pode ou não pode curar em dia de sábado? A lei permite, sim ou não? No evangelho de Marcos, a pergunta é mais provocadora: “Em dia de sábado pode fazer o bem ou o mal, salvar ou matar?” (Mc 3,4).

* Lucas 14,4-6: A cura. Os fariseus não responderam e ficaram em silêncio. Diante do silêncio de quem não aprova nem desaprova, Jesus tomou o homem pela mão, o curou, e o despediu. Em seguida, para responder a uma possível crítica, explicitou o motivo que o levou a curar: "Se alguém de vocês tem um filho ou um boi que caiu num poço, não o tiraria logo, mesmo em dia de sábado?"  Com esta pergunta Jesus mostra a incoerência dos doutores e dos fariseus. Se qualquer um deles, em dia de sábado, não vê problema nenhum em socorrer a um filho ou até a um animal, Jesus também tem o direito de ajudar e curar o hidrópico. A pergunta de Jesus evoca o salmo, onde se diz que o próprio Deus socorres a homens e animais (Sl 36,8). Os fariseus “não foram capazes de responder a isso”. Pois diante da evidência não há argumento que a negue.

Para um confronto pessoal

1) A liberdade de Jesus diante da situação. Mesmo observado por quem não o aprova, ele não perde a liberdade. Qual a liberdade que existe em mim?

2) Há momentos difíceis na vida, em que somos obrigados a escolher entre a necessidade imediata de um próximo e a letra da lei. Como agir?

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