segunda-feira, 30 de setembro de 2024

Quarta-feira da 26ª semana do Tempo Comum

 Santos Anjos da Guarda

1ª Leitura (Jó 9,1-12.14-16): 
Job tomou a palavra e disse aos seus amigos: «Na verdade, eu sei muito bem que é assim: como pode um homem ter razão contra Deus? Se ele quisesse discutir com Deus, nem uma vez em mil poderia responder-Lhe. O coração de Deus é sábio, a sua força é grande: quem se Lhe opôs e saiu ileso? Ele desloca as montanhas sem elas saberem e as derruba no seu furor. Sacode os alicerces da terra e abala as suas colunas. Dá ordens ao sol e ele não nasce e põe um selo sobre as estrelas. Sozinho Ele estende os céus e caminha sobre as ondas do mar. Criou a Ursa Maior e o Orion, as Plêiades e as Constelações do Sul. Faz prodígios insondáveis e maravilhas sem conta. Se vier junto de mim, não O vejo, se passar a meu lado, não O sinto. Se apanhar uma presa, quem Lho impedirá? Quem Lhe dirá: ‘Que estais a fazer?’. Como iria eu então responder-Lhe e encontrar argumentos contra Ele? Embora eu tivesse razão, não devo replicar, só tenho de implorar Àquele que é meu juiz. Ainda que eu O chamasse e Ele me respondesse, não tenho a certeza de que escutasse a minha voz».
 
Salmo Responsorial: 87
R. Senhor, chegue até Vós a minha súplica.
 
A Vós clamo, Senhor, todo o dia, estendo para Vós as minhas mãos. Fareis Vós maravilhas entre os mortos? Irão levantar-se os defuntos para Vos louvar?
 
Haverá no sepulcro quem fale da vossa bondade ou da vossa fidelidade no reino dos mortos? Serão conhecidas nas trevas as vossas maravilhas, na terra do esquecimento a vossa justiça?
 
Eu, porém, clamo por Vós, Senhor, de manhã a minha oração sobe à vossa presença. Porque me afastais de Vós, Senhor, por que escondeis de mim o vosso rosto?
 
Aleluia. Considero todas as coisas como prejuízo, para ganhar a Cristo e n’Ele me encontrar. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 9,57-62): Enquanto estavam a caminho, alguém disse a Jesus: «Eu te seguirei aonde quer que tu vás». Jesus respondeu: «As raposas têm tocas e os pássaros do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça». Então disse a outro: «Segue-me». Este respondeu: «Permite-me primeiro ir enterrar meu pai». Jesus respondeu: «Deixa que os mortos enterrem os seus mortos; mas tu, vai e anuncia o Reino de Deus». Um outro ainda lhe disse: «Eu te seguirei, Senhor, mas deixa-me primeiro despedir-me dos de minha casa». Jesus, porém, respondeu-lhe: «Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus».

«Segue-me»

Frei Lluc TORCAL Monge do Monastério de Sta. Mª de Poblet (Santa Maria de Poblet, Tarragona, Espanha)

Hoje, o Evangelho invita-nos a reflexionar, com muita claridade e não com menos insistência, sobre o ponto central da nossa fé: o seguimento radical de Jesus. «Eu te seguirei aonde quer que tu vás» (Lc 9,57). Com que simplicidade a expressão que propõe um cambio total da vida de uma pessoa!: «Segue-me» (Lc 9,59). Palavras do Senhor que não admitem desculpas, demoras, condições, nem traições...
 
A vida cristã é este seguimento radical de Jesus. Radical, não só porque em toda a sua duração quere estar debaixo da guia do Evangelho (porque compreende, portanto, todo o tempo da nossa vida), mas sim -sobretudo- porque todos os seus aspectos -desde os mais extraordinários até aos mais ordinários- querem ser e hão de ser manifestação do Espírito Santo de Jesus Cristo que nos anima. Efetivamente, desde o Batismo, a nossa já não é a vida de uma pessoa qualquer: levamos a vida de Cristo inserida em nós! Pelo Espírito Santo derramado nos nossos corações, já não somos nós que vivemos, senão que é Cristo que vive em nós. Assim é a vida do cristão, é vida cheia de Cristo, ressume Cristo desde as suas raízes mais profundas: esta é a vida somos chamados a viver.
 
O Senhor, quando veio ao mundo, ainda que «todo o gênero humano tivesse o seu lugar, Ele não o teve: não encontrou lugar no meio dos homens (...), só numa manjedoura, no meio do gado e dos animais, e ao lado das pessoas mais simples e inocentes. Por isso disse: As raposas têm tocas e os pássaros do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça» (São Jerônimo). O Senhor encontrará sítio no meio de nós se como João Batista, deixamos que Ele cresça e que nós diminuamos, quer dizer, se deixamos crescer a Aquele que já vive em nós sendo dúcteis e dóceis ao seu Espírito, a fonte de toda humildade e inocência.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«O consentimento à graça depende muito mais da graça do que apenas da nossa própria vontade; mas a resistência à graça depende unicamente da nossa vontade. Tal é a mão amorosa de Deus» (São Francisco de Sales)
 
«Deus, a fim de nos dar o movimento do seu poder sem impedir o da nossa vontade, ajusta o seu poder à sua doçura e à liberdade do nosso querer» (Bento XVI)
 
«(...) A vocação do homem para a vida eterna não suprime, antes reforça, o seu dever de aplicar as energias e os meios recebidos do Criador no serviço da justiça e da paz neste mundo» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.820)

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* No evangelho de hoje continua a longa e dura caminhada de Jesus desde periferia lá da Galileia para a capital.
 Saindo da Galileia, Jesus entra na Samaria e segue para Jerusalém. Nem todos o compreendem. Muitos o abandonam, pois as exigências são grandes. Mas outros se aproximam e se apresentam para seguir Jesus. No início da sua atividade pastoral, lá na Galileia, Jesus havia chamado três pessoas: Pedro, Tiago e João (Lc 5,8-11). Aqui na Samaria, também são três que se apresentam ou são chamados. Nas respostas de Jesus, transparece quais as condições para alguém poder ser discípulo ou discípula de Jesus.
 
* Lucas 9,56-58: O primeiro dos três novos discípulos. “Enquanto iam andando, alguém no caminho disse a Jesus: "Eu te seguirei para onde quer que fores." Mas Jesus lhe respondeu: "As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça." A esta primeira pessoa que quer ser discípulo, Jesus pede o despojamento total de tudo: não ter onde reclinar a cabeça, nem buscar uma falsa segurança onde reclinar o pensamento da cabeça.
 
* Lucas 9,59-60: O segundo dos três novos discípulos. “Jesus disse a outro: Siga-me. Esse respondeu: Deixa primeiro que eu vá sepultar meu pai." Jesus respondeu: Deixe que os mortos sepultem seus próprios mortos; mas você, vá anunciar o Reino de Deus." A esta segunda pessoa chamada por Jesus para segui-lo, Jesus pede para deixar que os mortos enterrem seus mortos. Trata-se de um provérbio popular usado para dizer: deixe para lá as coisas do passado. Não perca tempo com o que já passou e olhe para a frente. Depois de ter descoberto a vida nova em Jesus, o discípulo não deve perder tempo com o que já passou.
 
* Lucas 9,61-62: O terceiro dos três novos discípulos. “Outro ainda lhe disse: Eu te seguirei, Senhor, mas deixa primeiro que eu vá me despedir do pessoal de minha casa. Mas Jesus lhe respondeu: Quem põe a mão no arado e olha para trás, não serve para o Reino de Deus". A esta terceira pessoa chamada para ser discípulo, Jesus pede para romper com os laços familiares. Em outra ocasião ele tinha dito: “Quem ama seu pai e sua mãe mais do que a mim, não pode ser meu discípulo (Lc 14,26; Mt 10,37). Jesus é mais exigente que o profeta Elias que permitiu que Eliseu despedir-se dos seus pais (1Rs 19,19-21). Significa também romper com os laços nacionalistas da raça e com a estrutura da família patriarcal.

* São três exigências fundamentais apresentadas como condição para alguém poder ser discípulo ou discípula de Jesus: (1) abandonar os bens materiais, (2) não se agarrar aos bens pessoais vividos e acumulados no passado, e (3) romper com os laços familiares. Na realidade, ninguém, nem mesmo querendo, pode romper com os laços familiares, nem com as coisas vividas no passado. O que se exige é saber reintegrar tudo (bens materiais, vida pessoal e vida familiar) de maneira nova em torno do novo eixo que é Jesus e a Boa Nova de Deus que ele nos trouxe.

* Jesus, ele mesmo, viveu e realizou o que pedia dos seus seguidores e seguidoras. Com a sua decisão de subir para Jerusalém Jesus revela qual é o seu projeto. A sua viagem a Jerusalém (Lc 9,51 a 19,27) é apresentada como assunção (Lc 9,51), êxodo (Lc 9,31) ou travessia (Lc 17,11). Chegando em Jerusalém, ele realiza o êxodo, a assunção ou a travessia definitiva deste mundo para o Pai (Jo 13,1). Só uma pessoa verdadeiramente livre poderia realizá-lo, pois um tal êxodo supõe a entrega radical da própria vida pelo irmãos (Lc 23,44-46; 24,51). Este é o êxodo, a travessia, a assunção que as comunidades devem realizar para levar adiante o projeto de Jesus

Para um confronto pessoal
1) Compare cada uma das três exigências com a sua própria vida
2) Quais os problemas que apareceram em sua vida como consequência da decisão que tomou de seguir Jesus?

1º de outubro

 Santa Teresa do Menino Jesus
Virgem de nossa Ordem e Doutora da Igreja
 
Nasceu em Alençon (França) no dia 2 de janeiro de 1873. Entrou para o Carmelo de Lisieux no dia 9 de abril de 1888. Exercitou-se de modo singular na humildade, simplicidade evangélica e confiança em Deus, virtudes que também procurou inculcar nas suas irmãs, especialmente nas noviças. Oferecendo a sua vida pela salvação das almas e pela edificação da Igreja, morreu num êxtase de amor no dia 30 de setembro de 1897.
 
INVITATÓRIO
R. Vinde, adoremos o Senhor, que se revela aos pequeninos.
 
LAUDES
Hino
A infinita caridade do Senhor
tua glória quis, no Céu, fosse igualada,
dos apóstolos e dos mártires à palma,
Virgem que és, de dons imensos coroada.
 
Desejando, como vítima de amor,
por um fogo virginal, ser abrasada,
pede ao Esposo consumi-la sem demora,
nos ardores de sua chama abençoada.
 
Ao anúncio da partida suspirada,
vê Teresa a eternidade gloriosa.
Num gemido – “Eu te amo” – alegremente,
para o Cristo alça voo, vitoriosa.
 
Lá do alto, das estrelas cintilantes,
se já sorves da alegria nos caudais,
não te esqueças que a esta terra prometeste
uma chuva derramar dos teus rosais.
 
Vós, ó Rei, que sempre às almas pequeninas
um espaço reservais de dileção,
a nós todos que a Teresa nos unimos,
dai que entremos na celestial mansão.
 
Força, honra e louvor eternamente
a Deus Pai e ao Unigênito também;
e ao Espírito Paráclito igualmente
pelos séculos dos séculos.  Amém.
 
Ant.1 Minha alma se agarra a Vós; com poder vossa mão me sustenta.
 
Salmos e Cântico do Domingo da I Semana
 
Ant.2 Vós, santos e humildes de coração, bendizei o Senhor.
 
Ant. 3 O Senhor ama o seu povo, coroa os humildes com a vitória.
 
Leitura breve - Rm 8,14-17
Os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Não recebestes um espírito de escravos para recairdes no medo, mas recebestes um Espírito de filhos adotivos, no qual todos nós clamamos: "Abbá! Ó Pai!" O próprio Espírito Santo se une ao nosso espírito, para atestar que somos filhos. E, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo; se realmente sofremos com Ele, é para sermos também glorificados com Ele.
 
Responsório breve
R. Farei correr sobre ela a paz * como um rio. R. Farei correr.
V. E a riqueza das nações como uma torrente a transbordar.
* Como um rio. Glória ao Pai. R. Farei correr.
 
Cântico Evangélico
Ant. Em verdade eu vos digo: Se não vos converterdes e não vos tornardes iguais a crianças, no Reino dos Céus não haveis de entrar.
 
Preces
Louvemos o Senhor, que nos dá em Santa Teresa do Menino Jesus um modelo exemplar de vida evangélica. E roguemos:
 
R. Ouvi-nos, Senhor!
 
Senhor, que dissestes: "Se alguém tem sede venha até mim e beba quem tem fé em mim",
- fazei-nos sedentos do vosso Amor. R
 
Senhor, que dissestes: "Se não vos transformardes em crianças, não entrareis no Reino do Céu",
- concedei-nos a simplicidade de coração e a confiança no vosso amor. R.
 
Senhor, que dissestes: "Só entrará no Reino do Céu quem faz a vontade do meu Pai, que está no Céu",
- ensinai-nos guardar os vossos mandamentos com espírito de fé e obediência. R
 
Senhor, que dissestes: "Tudo o que fizestes a um dos meus irmãos mais pequeninos foi a mim que o fizestes",
- fazei que hoje vos reconheçamos e amemos em cada um dos nossos irmãos. R.
 
Senhor, que dissestes: "A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos",
- criai em nós o espírito missionário tão vigoroso do coração de Santa Teresa do Menino Jesus, que a levou a oferecer-se pela salvação das almas. R.
 
(intenções livres)
 
Pai Nosso
 
Oração
Deus de infinita bondade, que abris as portas do vosso reino aos pequeninos e humildes, fazei que sigamos confiadamente o caminho espiritual de Santa Teresa do Menino Jesus, para que, por sua intercessão, cheguemos à revelação da vossa glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
 
VÉSPERAS
Hino
Do teu trono de glória fulgente,
já, ó virgem, na Pátria gozando,
tua chuva de rosas envia
aos fiéis que te estão suplicando.
 
Sejam símbolo, prá nós, tuas rosas,
de que podes prestar-nos auxílio!
Junto a Deus, firma a nossa esperança
na alegria e na dor, neste exílio.
 
Que teus rogos inspirem mais fé.
Tuas rosas maior esperança
possam dar, aos que lutam na terra,
a Deus Pai, teu amor de criança.
 
Dai-nos isto Deus Pai e Deus Filho
e o Espírito Santo também,
cuja glória, na altura dos céus,
sem cessar cantaremos.  Amém.
 
Ant.1 Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos.
 
Salmos e Cântico das II Vésperas do Comum das Virgens.
 
Ant. 2 Por eles, a mim mesmo me consagro para que sejam consagrados na verdade.
 
Ant. 3 Deus escolheu os fracos para confundir os fortes.
 
Leitura breve - 1 Tm 2, 1.3
Caríssimo, antes de tudo recomendo que se façam preces e orações, súplicas e ações de graças por todos os homens. Isto é bom e agradável a Deus, nosso Salvador. Ele quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade, pois há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus, que se entregou em resgate por todos.
 
Responsório breve
R. Anunciarei o vosso nome aos meus irmãos * e no meio
da assembleia hei de louvar-vos! R. Anunciarei.
V. Porque não desprezastes o pobre na sua angústia. * E no meio.
Glória ao Pai. R. Anunciarei.
 
Cântico Evangélico
Ant. Alegrai-vos e exultai, diz o Senhor, pois no Céu estão escritos vossos nomes.
 
Preces
Oremos a Deus Pai Onipotente pela Igreja estendida por toda a terra. E digamos:
 
R. Lembrai-vos, Senhor, da vossa Aliança.
 
Para que a Igreja se entregue ao vosso amor
_ e descubra aos contemplativos a sua vocação ao amor. R.
 
Para que o mundo acredite em vós,
_ fazei que as almas consagradas sejam testemunhas fiéis da vossa bondade. R.
 
Para que os fiéis sejam um reflexo da vossa face e imitem o vosso Filho,
- ajudai-os a levar mutuamente a sua cruz, apoiados na caridade fraterna. R.
 
Para que, segundo a vossa vontade, todos os homens conheçam a Cristo, que é a Verdade,
- infundi em todos nós um ardente espírito missionário. R.
 
(intenções livres)
 
Para que onde Cristo reina se encontrem aqueles que lhe destes,
- concedei aos fiéis defuntos a alegria de contemplarem a vossa face. R.
 
Pai Nosso ...
 
Oração
Deus de infinita bondade, que abris as portas do vosso reino aos pequeninos e humildes, fazei que sigamos confiadamente o caminho espiritual de Santa Teresa do Menino Jesus, para que, por sua intercessão, cheguemos à revelação da vossa glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
 

domingo, 29 de setembro de 2024

Terça-feira da 26ª semana do Tempo Comum

 Sta. Teresa do Menino Jesus, virgem, doutora da Igreja
 
1ª Leitura (Jó 3,1-3.11-17.20-23):
Job abriu a boca e amaldiçoou o dia do seu nascimento. Tomou a palavra e disse: «Desapareça o dia em que eu nasci e a noite em que se anunciou: ‘Foi concebido um homem’. Porque não morri no ventre de minha mãe, ou não expirei ao sair do seio materno? Porque houve dois joelhos para me acolherem e dois seios para me amamentarem? Estaria agora deitado e tranquilo, dormiria o sono da morte e teria descanso, como os reis e os grandes da terra, que edificaram os seus túmulos sumptuosos, ou como os poderosos, que possuem ouro e enchem de prata os seus mausoléus. Ou porque não fui eu como o aborto escondido, que já não existiria, como as crianças que não chegaram a ver a luz? Ali acaba a agitação dos maus, aí repousam os homens extenuados. Porque se dá luz ao infeliz e vida aos corações amargurados, que suspiram pela morte que tarda em chegar e a procuram mais avidamente que um tesouro? Ficariam contentes diante de um túmulo, exultariam à vista de um sepulcro. Por que se dá vida ao homem que não vê o seu caminho e que Deus cerca por todos os lados?».
 
Salmo Responsorial: 87
R. Senhor, chegue até Vós a minha súplica.
 
Senhor Deus, meu Salvador, dia e noite clamo na vossa presença. Chegue até Vós a minha oração, inclinai o ouvido ao meu clamor.
 
A minha alma está saturada de sofrimento, a minha vida chegou às portas da morte. Sou contado entre os que descem à sepultura, sou um homem já sem forças.
 
Estou abandonado entre os mortos, como os caídos que jazem no sepulcro, de quem já não Vos lembrais e que foram sacudidos da vossa mão.
 
Lançastes-me na cova mais profunda, nas trevas do abismo. Pesa sobre mim a vossa ira, todas as vossas ondas caíram sobre mim.
 
Aleluia. O Filho do homem veio para servir e dar a vida pela redenção dos homens. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 9,51-56): Quando ia se completando o tempo para ser elevado ao céu, Jesus tomou a firme decisão de partir para Jerusalém. Enviou então mensageiros à sua frente, que se puseram a caminho e entraram num povoado de samaritanos, para lhe preparar hospedagem. Mas os samaritanos não o queriam receber, porque mostrava estar indo para Jerusalém. Vendo isso, os discípulos Tiago e João disseram: «Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu, para que os destrua?». Ele, porém, voltou-se e os repreendeu. E partiram para outro povoado».
 
«Jesus tomou a firme decisão de partir para Jerusalém»
 
Rev. D. Félix LÓPEZ SHM (Alcalá de Henares, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho nos oferece dois pontos principais para a reflexão pessoal. Em primeiro lugar, nos diz que «quando se completaram os dias em que ia a ser levado ao céu, Jesus tomou a decisão de ir a Jerusalém» (Lc 9,51). O verbo que usa são Lucas significa “completar”, “consumar”; Jesus leva a plenitude o tempo marcado pelo Padre para completar sua missão salvífica por meio da crucificação, morte e ressurreição. Então ele será glorificado, "levado ao céu". Diante dessa perspectiva, Jesus Cristo “tomou a decisão de subir a Jerusalém”, ou seja, a decisão firme de amar o Pai realizando sua vontade redentora. Jesus morre na cruz dizendo: "Tudo está consumado" (Jo 19,30). O Senhor viveu para cumprir a vontade do Pai e manteve essa atitude de fidelidade até a morte.
 
Assim devemos viver também, mesmo que experimentemos no caminho que nos leva a Deus a oposição ou a rejeição, o desprezo ou a marginalização por ser fiel ao Senhor. Segundo o Papa Francisco: «O verdadeiro progresso da vida espiritual não consiste em multiplicar os êxtases, mas em saber perseverar nos tempos difíceis: caminhar, caminhar, caminhar; se estiver cansado, pare um pouco e volte a andar, com perseverança.
 
Em segundo lugar, diante da rejeição dos Os samaritanos, Tiago e João querem fazer descer fogo do céu (cf. Lc 9,54). O Senhor os repreende por seu zelo indiscreto. Devemos nos lembrar da paciência que Deus tem conosco, e ser pacientes com nossos irmãos em seu caminho para Deus, mesmo que eles não respondam imediatamente à sua graça. Deus quer que todos os homens sejam salvos e deu seu único Filho na cruz por todos. Deus esgota todas as possibilidades de se aproximar de cada homem e espera com divina paciência o momento em que cada coração se abre à sua Misericórdia.
 
«Voltou-se e os repreendeu»
 
Rev. D. Jordi POU i Sabater (Sant Jordi Desvalls, Girona, Espanha)
 
Hoje no Evangelho contemplamos como «Tiago e João disseram: ‘Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu, para que os destrua?’. Ele, porém, voltou-se e os repreendeu. E partirem para outro povoado» (Lc 9,54-55). São defeitos dos Apóstolos, que o Senhor corrige.
 
Conta a história de um homem que transportava água da Índia, carregava dois cântaros um a cada lado pendurado no extremo de um pau que se apoiava em seus ombros: Um era perfeito, e o outro tinha uma rachadura e perdia água. Este –triste- observava o outro tão perfeito e com vergonha e sentindo-se miserável, disse um dia ao seu amo: sinto muito, que por causa do meu defeito perca metade do meu conteúdo. Ele lhe respondeu: Quando voltarmos para casa repara nas flores que crescem no lado do caminho. E reparou: eram belíssimas flores, mas vendo que continuava a perder água, repetiu: Não sirvo, faço tudo mal. O senhor lhe respondeu: —reparaste que as flores só crescem no teu lado do caminho? Isto porque eu sempre soube que em ti havia uma rachadura, então plantei sementes do teu lado e a cada dia que fazia este trajeto tu regavas as sementes e assim pude recolher estas flores para o altar da Virgem Maria. Sem ti e a tua maneira de ser, não seria possível esta beleza.
 
Todos, de alguma maneira somos cântaros rachados, mas Deus conhece bem os seus filhos e dá-nos a possibilidade de aproveitar as rachaduras-defeitos para alguma coisa boa. Assim o apóstolo João —que hoje quere destruir—, com a correção do Senhor converte-se no apóstolo do amor nas suas cartas. Não se desanimou com as correções, senão que aproveitou o lado positivo do seu caráter impulsivo —a paixão— para o serviço do amor. Que nós, também sejamos capazes de aproveitar as correções, as contrariedades —sofrimento, fracasso, limitações— para “começar e recomeçar”, tal como São Josemaria definia a santidade: dóceis ao Espírito Santo para convertermos a Deus e sermos seus instrumentos.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Em nosso tempo, a Esposa de Cristo prefere usar a medicina da misericórdia e não empunhar as armas da severidade» (São João XXIII)
 
«Como desejo que os anos por vir estejam impregnados de misericórdia para poder ir ao encontro de cada pessoa levando a bondade e a ternura de Deus» (Francisco)
 
«(...) Toda a Igreja é apostólica, na medida em que é “enviada” a todo o mundo. Todos os membros da Igreja, embora de modos diversos, participam deste envio (...)» (Catecismo da Igreja Católica, n° 863)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje conta como Jesus decide ir para Jerusalém.
Descreve também as primeiras dificuldades que ele encontra nesta caminhada. Traz o começo da longa e dura caminhada da periferia para a capital. Jesus deixa a Galileia e segue para Jerusalém. Nem todos o compreendem. Muitos o abandonam, pois as exigências são grandes. Hoje acontece o mesmo. Na caminhada das nossas comunidades também há incompreensão e abandono.
 
* “Jesus decide ir para Jerusalém”. Esta decisão vai marcar a longa e dura viagem de Jesus desde a Galileia até Jerusalém, da periferia até a capital. Esta viagem ocupa mais de uma terça parte de todo o evangelho de Lucas (Lc 9,51 até 19,28). Sinal de que a caminhada até Jerusalém teve uma importância muito grande na vida de Jesus. A longa caminhada simboliza, ao mesmo tempo, a viagem que as comunidades estavam fazendo. Elas procuravam realizar a difícil passagem do mundo judeu para o mundo da cultura grega. Simbolizava também a tensão entre o Novo que continuava avançando e o Antigo que se fechava cada vez mais. E simboliza, ainda, a conversão que cada um de nós tem que fazer, procurando seguir Jesus. Durante a viagem, os discípulos e as discípulas tentam seguir Jesus, sem voltar atrás. Nem sempre o conseguem. Jesus dedica muito tempo à instrução dos que o seguem de perto. Um exemplo concreto desta instrução temos no evangelho de hoje. Logo no início da viagem, Jesus sai da Galileia e leva seus discípulos para dentro do território dos samaritanos. Ele procura formá-los para que possam entender a abertura para o Novo, para o “outro”, o diferente.
 
* Lucas 9,51: Jesus decide ir para Jerusalém. O texto grego diz literalmente: "Quando se completaram os dias da sua assunção (ou arrebatamento), Jesus firmou o seu rosto para ir a Jerusalém”. A expressão assunção ou arrebatamento evoca o profeta Elias que foi arrebatado ao céu (2 Rs 2,9-11). A expressão firmar o rosto evoca o Servo de Javé que dizia: “Faço meu rosto duro como pedra, certo de não ser enganado” (Is 50,7). Evoca ainda uma ordem que o profeta Ezequiel recebeu de Deus: "Fixa a teu rosto contra Jerusalém!" (Ez 21,7). Usando tais expressões, Lucas sugere que, com a caminhada em direção a Jerusalém, começa uma oposição mais declarada de Jesus contra o projeto da ideologia oficial do Templo de Jerusalém. A ideologia do Templo queria um Messias glorioso e nacionalista. Jesus quer ser o Messias-Servo. Durante a longa viagem, esta oposição vai crescer e, no fim, vai terminar no arrebatamento ou na assunção de Jesus. A assunção de Jesus é a sua morte na Cruz, seguida da ressurreição.
 
* Lucas 9,52-53: Fracassa a missão na Samaria. Durante a viagem, o horizonte da missão se alarga. Logo no início, Jesus ultrapassa as fronteiras do território e da raça. Ele manda seus discípulos prepararem a sua vinda numa aldeia da Samaria. Mas a missão junto dos samaritanos fracassou. Lucas diz que os samaritanos não receberam Jesus porque ele estava indo para Jerusalém. Porém, se os discípulos tivessem dito aos samaritanos: “Jesus está indo para Jerusalém para criticar o projeto do Templo e para exigir maior abertura”, Jesus teria sido aceito, pois os samaritanos eram da mesma opinião. O fracasso da missão deve-se, provavelmente, aos discípulos. Eles não entenderam por que Jesus “firmou a cara contra Jerusalém”. A propaganda oficial do Messias glorioso e nacionalista impedia-os de enxergar. Os discípulos não entenderam a abertura de Jesus, e a missão fracassou!
 
* Lucas 9,54-55: Jesus recusa o pedido de vingança. Tiago e João não querem levar desaforo para casa. Não aceitam que alguém não concorde com a ideia deles. Querem imitar Elias e usar o fogo para se vingar (2 Rs 1,10). Jesus recusa a proposta. Não quer o fogo. Certas Bíblias acrescentam: "Vocês não sabem de que espírito são movidos!" Significa que a reação dos dois discípulos não era do Espírito de Deus. Quando Pedro sugeriu a Jesus para não seguir pelo caminho do Messias Servo, Jesus chamou Pedro de Satanás (Mc 8,33). Satanás é o mau espírito que quer mudar o rumo da missão de Jesus. Recado de Lucas para as comunidades: os que querem impedir a missão junto dos pagãos são movidos pelo mau espírito!
 
Durante os dez capítulos que descrevem a viagem até Jerusalém (Lc 9,51 a 19,28), Lucas, constantemente, lembra que Jesus está a caminho de Jerusalém (Lc 9,51.53.57; 10,1.38; 11,1; 13,22.33; 14,25; 17,11; 18,31; 18,37; 19,1.11.28). Raramente, porém, ele diz por onde Jesus passava. Só aqui no começo da viagem (Lc 9,51), no meio (Lc 17,11) e no fim (Lc 18,35; 19,1), você fica sabendo algo a respeito do lugar por onde Jesus estava passando. Isto vale para as comunidades de Lucas e para todos nós. O que é certo é que devemos caminhar. Não podemos parar. Nem sempre, porém, é claro e definido por onde passamos. O que é certo é o objetivo: Jerusalém.
 
Para um confronto pessoal
1) Quais os problemas que já apareceram em sua vida como consequência da decisão que você tomou de seguir Jesus?
2) O que aprendemos da pedagogia de Jesus com seus discípulos que queriam vingar-se dos samaritanos?

sábado, 28 de setembro de 2024

30 de setembro

CELEBRAÇÃO DO TRÂNSITO DE SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS, VIRGEM da II ORDEM E DOUTORA DA IGREJA

 
Por volta das 19 horas e vinte minutos a comunidade, com velas acesas nas mãos, se reúna para celebrar o momento em que Sta Teresa do Menino Jesus “entra na vida” e inicia a sua missão de “passar o Céu fazendo o bem sobre a Terra”.
 
Antes do início das primeiras vésperas do Ofício Divino, lê-se o relato do piedoso trânsito de Sta. Teresa do Menino Jesus da Sagrada Face feito por sua irmã Madre Inês de Jesus.
 
Leitura relato do último dia de Sta. Teresa do Menino Jesus na terra, numa quinta-feira do dia 30 de setembro de 1897, feito pela madre Inês de Jesus:
 
    “Durante a manhã eu (irmã Inês) a (Santa Terezinha) vigiava durante a Missa. Ela não me dizia nada. Ela estava esgotada, ofegante; seus sofrimentos, eu presumia, eram inexprimíveis. Num determinado momento, ela juntou as mãos e olhando à estátua da Virgem Maria disse:
    - Oh! Eu rezei a ela com grande fervor! Mas é uma agonia pura, sem mistura alguma de consolação.
    Eu lhe disse algumas palavras de compaixão e de afeição e acrescentava que ela tinha bem me edificado durante sua convalescência.
  - E você, as consolações que tinha me dado! Ah! Como elas são enormes!
    Durante todo o dia, sem um instante de trégua, ela permaneceu, podemos dizer sem exageros, sob verdadeiros tormentos. Ela parecia estar no fim de suas forças e, todavia, para nosso espanto, ela podia se mexer, se sentar no seu leito.
   - …Veja, nos dizia ela, como tenho forças hoje! Não, eu não vou morrer! Eu ainda tenho forças por vários meses, talvez até mesmo vários anos!
    E se o bom Deus o quisesse, diz a Nossa Madre, você o aceitaria?
    Ela começou a responder, na sua agonia:
    - Seria bem necessário…
    Mas se corrigindo na mesma hora, ela diz com um tom de resignação sublime e caindo novamente sobre seu travesseiro:
    - Eu quero com certeza!
    Eu pude recolher essas exclamações, mas é bem difícil de transmitir o seu tom
    - Eu não creio mais na morte para mim… Eu creio apenas no sofrimento… melhor assim!
    - Ó meu Deus!… Eu amo o bom Deus! O minha boa Virgem Maria, venha em meu socorro!
    - Se isso é a agonia, o que é então a morte?!…
    - Ah! Meu bom Deus!… Sim, ele é muito bom, eu o vejo muito bom…
    E olhando para a Virgem Maria:
    - Oh! A senhora sabe que estou me sufocando!
    Para mim:
    - Se você soubesse o que é se sufocar!
    O bom Deus vai ajudá-la, minha pobrezinha, e terminará logo mais.
    - Sim, mas quando?
    - …Meu Deus, tenha piedade de vossa pobre menina! Tenha piedade!
        Para Nossa Madre:
    - Ó minha Madre, eu vos garanto que o cálice está cheio até a boca!…
    - …Mas o bom Deus não vai me abandonar, certamente… …Ele nunca me abandonou.
     - …Sim, meu Deus, tudo o que quiser, mas tenha piedade de mim!
    - …Minhas irmãzinhas! Minhas irmãzinhas rezem por mim!
     - …Meu Deus! Meu Deus! Vós que sois tão bom!!!
     - …Oh! Sim, vós sois bom! Eu o sei…
         Depois do ofício de Vésperas, Nossa Madre colocou sobre seus joelhos uma imagem de Nossa Senhora do Monte Carmelo. Ela olhou por um instante e disse o quanto Nossa Madre lhe tinha garantido que ela logo mais iria acariciar Nossa Senhora como também o Menino Jesus nessa imagem:
      - Ó minha Madre, apresentai-me logo à Virgem Maria, eu sou um bebê que não aguenta mais! … Prepare-me para bem morrer.
         Nossa Madre lhe respondeu que tendo sempre compreendido e praticado a humildade, sua preparação já estava feita. Ela refletiu por um instante e pronunciou humildemente essas palavras:
       - Sim, me parece que nunca busquei outra coisa senão a verdade; sim, eu compreendi a humildade de coração… parece-me que sou humilde.
        Ela repetiu ainda:
    - Tudo o que escrevi sobre meus desejo de sofrimento. Oh! É bem verdadeiro!
         - Eu não me arrependo de me ter entregado ao Amor.
         Com insistência:
         - Oh! Não, eu não me arrependo, muito pelo contrário!
       Um pouco depois:
    - Eu nunca teria crido que era possível sofrer tanto [nota: nunca aplicamos nela injeção alguma de morfina]! Nunca! Nunca! Eu não posso compreender tal coisa senão pelos desejos ardentes que tive de salvar as almas.
    Por volta das 5 horas, eu estava sozinha perto dela. Seu rosto mudou de repente, compreendi que era a última agonia. Quando a Comunidade entrou na enfermaria, ela acolheu todas as irmãs com um doce sorriso. Ela segurava seu Crucifixo e o olhava constantemente. Durante mais de duas horas, a respiração rouca arranhava seu peito. Seu rosto estava congestionado, suas mãos roxas, ela tinha os pés congelados e tremia todos seus membros. Um suor abundante caia em gotas enormes sobre seu rosto e inundava suas bochechas. Ela estava sob uma opressão cada vez maior e lançava às vezes pequenos gritos involuntários para respirar. 
    Durante esse tempo tão cheio de agonia para nós, escutávamos pela janela – e eu sofria bastante – o canto de vários pássaros, mas tão fortemente, de tão perto e durante tanto tempo! Eu rezava para o bom Deus de os fazer calar, esse concerto me perfurava o coração e tinha medo que ele cansasse nossa Terezinha.
    Durante outro momento, ela parecia ter a boca tão ressecada que a irmã Genoveva, achando que a aliviaria, lhe colocava nos lábios um pequeno pedaço de gelo. Ela o aceitou lhe fazendo um sorriso que nunca me esquecerei. Era como um supremo adeus.
    Às 6 horas o Angelus soou, ela olhou longamente para a estátua da Virgem Maria. Enfim, às 7 horas e pouco, Nossa Madre tendo despedido a Comunidade, ela suspirou:
         - Minha Madre!? Não é isso a agonia?… Não irei morrer?…
         Sim, minha pobrezinha, é a agonia, mas o bom Deus quer talvez prolongá-la por algumas horas. Ela retoma com coragem:
       - Ora bem!… Vamos!… Vamos!… Oh! Eu não quereria sofrer menos tempo…
         E olha seu Crucifixo:
         - Oh! Eu o amo!… Meu Deus… Eu vos amo!...        
    De uma hora para outra, após ter pronunciado essas palavras, ela caiu suavemente para trás, com a cabeça inclinada para a direita. Nossa Madre fez soar imediatamente o sino da enfermaria para chamar a Comunidade. “Abram-se todas as portas” dizia a Madre no mesmo instante. Essas palavras tinham algo de solene, e me fizeram pensar que no Céu o bom Deus o dizia também a seus anjos.
    As irmãs tiveram o tempo de se ajoelhar em torno do leito e foram testemunhas do êxtase da pequena Santa que morria. Seu rosto tinha tomado a cor de uma flor-de-lis que tinha quando em plena saúde, seus olhos estavam fixados no alto, brilhantes de paz e de alegria. Ela fazia alguns movimentos de cabeça, como se Alguém a tivesse divinamente ferido com uma flecha de amor, depois retirado a flecha para a ferir novamente… A irmã Maria da Eucaristia se aproximou com uma vela para ver de mais perto seu olhar sublime. Diante da luz dessa vela, não houve movimento algum de suas pálpebras. Esse êxtase durou o tempo de um “Credo”, e ela deu seu último suspiro.
    Após sua morte, ela conservou um sorriso celeste. Ela estava com uma beleza encantadora. Ela segurava tão forte seu Crucifixo que foi necessário arrancá-lo de suas mãos para enterrá-la. A irmã Maria do Sagrado-Coração e eu fizemos tal serviço, com a irmã Amada de Jesus, e notamos que ela não parecia ter mais do que 12 ou 13 anos. Os membros do seu corpo permaneceram flexíveis até o dia do seu enterro, numa segunda-feira, no dia 4 de outubro de 1897.”
 

Vésperas I
 
V. Vinde, ó Deus em meu auxílio.
R. Socorrei-me sem demora.
V. Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R. Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
 
Hino
Um atalho de luz, eis a Pequena Via:
O ascensor é Jesus, sob o olhar de Maria!
Teresinha e seu sonho, bem maior que a vida:
Escalar a montanha, ao encontro do Amor!
Decidiu que vai fazer esta subida,
Sem medir sacrifícios, buscando o Senhor.
Contemplando o mistério santo da humildade,
Ela toma nos braços a Criança-Jesus.
Em momento de paz, na simplicidade,
Faz nascer, para nós, o atalho de luz!
Tempestades a fazem crescer na esperança.
"Oh! Não vou despertar-te!" diz ela ao Senhor.
Puro nada sou, mas Deus é segurança.
Só por Ele é que vive a santa do Amor!
Por caminhos de paz, na doce descoberta,
O Senhor, generoso, Teresinha conduz.
é segredo de Deus que, enfim, a liberta.
Vai ser vítima santa do Amor que a seduz.
Instruindo os pequenos na segura via,
A santinha nos lega a divina lição:
O ascensor é Jesus, à luz de Maria.
Aprovada no Céu, de Teresa a invenção.
 
Salmodia
 
Ant. 1 Vinde, filhas, contemplai o Senhor e ficareis radiantes.

Salmo 112 (113)
1 Louvai, servos do Senhor, *
louvai o nome do Senhor.
2 Bendito seja o nome do Senhor, *
agora e para sempre.
3 Desde o nascer ao pôr do sol, *
seja louvado o nome do Senhor.

4 O Senhor domina sobre todos os povos, *
a sua glória está acima dos céus.
5 Quem se compara ao Senhor nosso Deus, *
que tem o seu trono nas alturas,
6 e Se inclina lá do alto *
a olhar o céu e a terra?
 
7 Levanta do pó o indigente *
e tira o pobre da miséria,
8 para o fazer sentar com os grandes, *
com os grandes do seu povo,
9 e, no lar, transforma a estéril *
em ditosa mãe de família.
 
Ant. Vinde, filhas, contemplai o Senhor e ficareis radiantes.
 
Ant. 2 Nós Vos seguimos de todo o coração, nós Vos adoramos e procuramos o vosso rosto; não nos abandoneis, Senhor.

Salmo 147 (147 B)
12 Glorifica, Jerusalém, o Senhor, *
louva, Sião, o teu Deus.
 
13 Ele reforçou as tuas portas *
e abençoou os teus filhos.
14 Estabeleceu a paz nas tuas fronteiras *
e saciou-te com a flor da farinha.
 
15 Envia à terra a sua palavra, *
corre veloz a sua mensagem.
16 Faz cair a neve como lã, *
espalha a geada como cinza.
 
17 Faz cair o granizo como migalhas de pão *
e com o seu frio gelam as águas.
18 Envia a sua palavra e derrete-as, *
faz soprar o vento e correm as águas.
 
19 Revelou a sua palavra a Jacó, *
suas leis e preceitos a Israel.
20 Não fez assim com nenhum outro povo, *
a nenhum outro manifestou os seus juízos.
 
Ant. Nós Vos seguimos de todo o coração, nós Vos adoramos e procuramos o vosso rosto; não nos abandoneis, Senhor.
 
Ant. 3 Alegrai-vos, ó Virgens de Cristo, exultai, esposas do Cordeiro.

Cântico Ef 1,3-10
3 Bendito seja Deus, *
Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo,
que do alto do Céu nos abençoou, *
com todas as bênçãos espirituais em Cristo.
 
4 Ele nos escolheu, antes da criação do mundo, *
para sermos santos e irrepreensíveis, †
em caridade, na sua presença.
5 Ele nos predestinou, de sua livre vontade, *
para sermos seus filhos adotivos, por Jesus Cristo,
 
6 para que fosse enaltecida a glória da sua graça, *
com a qual nos favoreceu em seu amado Filho;
7 n’Ele temos a redenção, pelo seu Sangue, *
a remissão dos nossos pecados;
segundo a riqueza da sua graça *
8 que Ele nos concedeu em abundância,
com plena sabedoria e inteligência, *
9 deu-nos a conhecer o mistério da sua vontade,
segundo o beneplácito que n’Ele de antemão estabelecera, *
 
10 para se realizar na plenitude dos tempos:
instaurar todas as coisas em Cristo, *
tudo o que há nos céus e na terra.
 
Ant. Alegrai-vos, ó Virgens de Cristo, exultai, esposas do Cordeiro.
 
Leitura breve 1Cor 7, 32.34
Quem não é casado preocupa-se com os interesses do Se­nhor, procura agradar ao Senhor. A mulher solteira e a virgem preocupam-se com os interesses do Senhor, para serem santas de corpo e de espírito.
 
Responsório breve
V. Diz-me o coração: o Senhor é a minha herança.
R. Diz-me o coração: o Senhor é a minha herança.
V. O Senhor é bom para a alma que O procura.
R. O Senhor é a minha herança.
V. Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R. Diz-me o coração: o Senhor é a minha herança.
 
Ant. Quando chegou o Esposo, a Virgem prudente entrou com a lâmpada acesa para o banquete nupcial do seu Senhor.
 
Preces
"Ó meu Jesus! amo-te, amo a Igreja, minha Mãe. Não me esqueço que para ela o mínimo impulso de puro amor é mais proveitoso do que todas as demais obras em sua totalidade". A oração de Santa Teresinha é uma oração fundamentalmente eclesial, oração aberta, que abrange toda as necessidades da Igreja. Invoquemos a misericórdia de Deus, inspirados na insistência de Santa Teresinha em implorar ao Pai por todos os seus irmãos.
 
R: Santa Teresinha rogai por nós.
 
1. Senhor, que dais ao vosso povo a graça de celebrar hoje a festa da virgem Santa Teresa do Menino Jesus,
— concedei-lhe que se alegre sempre com a sua intercessão.
 
2. Senhor concedei à vossa Igreja crescer na necessidade de encontrar em vossa Palavra a fonte de sua ação evangelizadora
— para se tornar uma comunidade sempre mais orante e participativa.
 
3. Senhor, como Santa Teresinha, queremos vos pedir de modo especial pelos sacerdotes,
— a fim de que sejam dignos ministros de Cristo, pastores fiéis, acolhedores e misericordiosos.
 
4. Senhor, como Santa Teresinha, queremos interceder por todos aqueles que sofrem longe de vós,
— por aqueles que se esqueceram que podem encontrar em vosso Coração refúgio e alívio para suas dores.
 
5. Senhor queremos interceder por aqueles que padecem de secura espiritual,
— que não encontram consolo na oração e por aqueles que não têm sede de vós.
 
6. Senhor, que o ardor missionário de nossa comunidade seja sempre revigorado por uma autêntica vivência da fé
— e sustentado na escuta amorosa de vossa Palavra.
 
7. Senhor, vos pedimos por toda a grande Família Carmelitana,
—  para que mantenham acesa a chama de sua vocação contemplativa e, a exemplo de Maria Santíssima sejam conduzidos pela oração a uma atitude de pronto serviço, de modo especial aos irmãos necessitados.
 
8. Senhor, que recebestes as santas Virgens no banquete das núpcias eternas,
— admiti benignamente os defuntos ao convívio do vosso reino.
 
(Intenções Particulares) 
PAI NOSSO
 
Oração
Deus de infinita bondade, que abris as portas do vosso reino aos pequeninos e humildes, fazei que sigamos confiadamente o caminho espiritual de Santa Teresa do Menino Jesus, para que, por sua intercessão, cheguemos à revelação da vossa glória. Por Nosso Senhor.
 

Ao final da Liturgia das Horas, a comunidade, em dois coros, rezará com as palavras de Sta. Teresa do Menino Jesus o ATO DE OFERECIMENTO
 
T. Oferecimento de mim mesma como Vítima de Holocausto ao Amor Misericordioso do Bom Deus
 
1. Meu Deus! Trindade Bem-aventurada, desejo AMAR-VOS e vos fazer AMAR, trabalhar para a glorificação da Santa Igreja, salvando as almas que estão sobre a Terra e libertando as que sofrem no purgatório. Desejo cumprir, perfeitamente, vossa vontade e chegar ao grau de glória que me preparastes, em vosso Reino, numa palavra, desejo ser santa, mas sinto minha impotência e vos peço, ó meu Deus! Sejais vós mesmo minha SANTIDADE.
 
2. Pois que me amastes, a ponto de dar-me vosso Filho único para ser meu Salvador e meu Esposo, os tesouros infinitos de seus méritos são meus, eu vo-los ofereço, com alegria, suplicando-vos que me olheis através da Face de Jesus e em seu Coração ardente de AMOR.
 
1. Ofereço-vos, ainda, todos os méritos dos Santos (que estão no Céu e sobre a Terra), seus atos de AMOR e os dos Santos Anjos; enfim, ofereço-vos, ó BEM-AVENTURADA TRINDADE! o Amor e os méritos da SANTÍSSIMA VIRGEM, MINHA MÃE QUERIDA, é a ela que abandono minha oferta, suplicando-lhe vo-la apresentar. Seu Divino Filho, meu Esposo Bem-Amado, disse-nos durante sua vida mortal: "Tudo o que pedirdes a meu Pai em meu nome, ele vo-lo dará!" Portanto, estou certa de que atendereis a meus desejos; eu o sei, ó meu Deus! quanto mais quereis dar, tanto mais fazeis desejar. Sinto em meu coração desejos imensos e é, com confiança, que vos peço vir tomar posse de minha alma. Ah! não posso receber a santa comunhão tantas vezes quanto desejo, mas, Senhor, não sois ONIPOTENTE?... Ficai em mim, como no tabernáculo, não vos afasteis jamais de vossa hostiazinha...
 
2. Quisera consolar-vos da ingratidão dos maus e suplico-vos tirar-me a liberdade de vos desagradar; se por fraqueza, cair alguma vez, que, logo vosso divino olhar purifique minha alma, consumindo todas as minhas imperfeições, como o fogo que transforma em si todas as coisas...
 
1. Agradeço-vos, ó meu Deus! todas as graças que me concedestes, em particular, de me ter feito passar pelo cadinho do sofrimento. É com júbilo que vos contemplarei, no último dia, empunhando o cetro da Cruz; pois que vos dignastes fazer-me partilhar desta Cruz tão preciosa, espero, no Céu, assemelhar-me a Vós e ver brilhar em meu corpo glorificado os sagrados estigmas de vossa Paixão...
 
2. Após o exílio da Terra, espero ir gozar de vós na Pátria, mas não quero acumular méritos para o Céu, quero trabalhar só por vosso AMOR, com o único fim de vos agradar, consolar vosso Coração Sagrado e salvar almas que vos amem eternamente.
 
1. Na tarde desta vida, comparecerei perante vós com as mãos vazias, pois não vos peço, Senhor, contar minhas obras. Toda nossa justiça é manchada a vossos olhos. Quero, pois, revestir-me de vossa própria justiça, e receber de vosso Amor a posse eterna de Vós mesmo. Não quero outro trono e outra coroa senão Vós, ó meu Bem-Amado.
 
2. Para vós, o tempo não é nada. Um único dia é como se fossem mil anos. Podeis, então, preparar-me num instante para comparecer diante de vós...
 
1. A fim de viver num ato de perfeito amor, OFEREÇO-ME COMO VÍTIMA DE HOLOCAUSTO A VOSSO AMOR MISERICORDIOSO suplicando-vos me consumir, sem cessar, deixando transbordar em minha alma as ondas de Ternura Infinita que estão encerradas em vós, e que assim eu me torne Mártir de vosso Amor, ó meu Deus!...
 
2. Que este martírio após me ter preparado para comparecer perante vós, faça-me, enfim, morrer e que minha alma se precipite, sem tardar, no eterno abraço de vosso Amor Misericordioso...
 
T. Quero, ó meu Bem-amado, em cada palpitar de meu coração, renovar-vos este oferecimento um número infinito de vezes, até que, dissipadas as sombras, possa repetir-vos meu Amor, num face a face eterno!..
 

Após o ato de oferecimento a comunidade renova seus votos com as mesmas palavras da nossa Santa em seu BILHETE DE PROFISSÃO
 
T. Oh, Jesus, meu divino Esposo!
Que eu jamais perca a segunda veste de meu Batismo!
Tira-me deste mundo, antes que cometa a mais leve falta voluntária.
Que eu não procure e não encontre senão a ti.
Que as criaturas nada sejam para mim, e eu nada seja para elas,
 mas que tu, Jesus, sejas tudo!...
Que as coisas da terra jamais possam perturbar a minha alma;
que nada perturbe minha paz!
Jesus, não te peço senão a paz e também o amor,
o amor infinito, sem outro limite senão tu mesmo...
Amor que jã não seja eu, mas sejas tu, meu Jesus.
Por ti, Jesus, morra eu mártir,
o martírio do coração ou do corpo, antes, os dois...
Dá-me cumprir meus votos em toda a sua perfeição,
e leva-me a compreender o que uma esposa tua deve ser.
Faze que nunca eu seja um peso para a comunidade,
e que ninguém se ocupe de mim;
que eu seja vista, espezinhada, esquecida,
qual um grãozinho de areia que te pertence, Jesus.
Faça-se em mim tua vontade de maneira perfeita.
Que eu possa chegar à morada que antecipadamente me foste preparar...
Deixa-me, Jesus, salvar muitas almas;
que no dia de hoje, nenhuma seja condenada,
e que todas as almas do Purgatório sejam salvas...
Perdoa-me, Jesus, se digo coisas que não devo dizer.
Só quero alegrar-te e consolar-te.
 
Encerra-se a celebração como no ofício de Vésperas.
Se houver sacerdote, dá-se a bênção.
 

Segunda-feira da 26ª semana do Tempo Comum

São Jerônimo, presbítero e doutor da Igreja
 
1ª Leitura (Jó 1,6-22):
Um dia em que os filhos de Deus vieram apresentar-se diante do Senhor, Satanás apareceu também no meio deles. O Senhor disse-lhe: «De onde vens?». Satanás respondeu: «Venho de percorrer a terra, de rondar por toda ela». O Senhor disse-lhe: «Reparaste no meu servo Job? Não há ninguém como ele na terra: é um homem íntegro e reto, que teme a Deus e se afasta do mal». Satanás respondeu ao Senhor: «Porventura teme Job a Deus de maneira desinteressada? Não o cercastes Vós com um muro protetor, a ele, à sua casa e a todos seus bens? Abençoastes o trabalho das suas mãos e os seus rebanhos cobrem toda a região. Mas estendei a mão e tocai nos seus bens e vereis que Vos amaldiçoa frente a frente». Disse então o Senhor a Satanás: «Pois bem, tudo o que lhe pertence fica sob o teu poder, mas não estenderás a mão sobre ele». E Satanás saiu da presença do Senhor. Ora um dia em que os filhos e as filhas de Job comiam e bebiam vinho em casa do irmão mais velho, um mensageiro veio dizer a Job: «Estavam os teus bois a lavrar e as jumentas a pastar junto deles, quando os sabeus arremeteram contra eles e os levaram e passaram os teus servos ao fio da espada. Só eu escapei, para te vir dar a notícia». Ainda ele estava a falar, quando outro veio dizer: «Caiu do céu o fogo de Deus e queimou e reduziu a cinzas as ovelhas e os teus servos. Só eu escapei, para te vir dar a notícia». Ainda ele falava, quando chegou outro e lhe disse: «Os caldeus, divididos em três grupos, lançaram-se sobre os teus camelos e levaram-nos e passaram os teus servos ao fio da espada. Só eu escapei, para te vir dar a notícia». Ainda ele falava, quando outro entrou e lhe disse: «Os teus filhos e as tuas filhas estavam a comer e a beber vinho em casa do irmão mais velho, quando um vento impetuoso veio do lado do deserto e abalou os quatro cantos da casa. A casa desabou sobre os jovens e morreram todos. Só eu escapei, para te vir dar a notícia». Então Job levantou-se, rasgou o manto e rapou a cabeça. Depois prostrou-se por terra e disse: «Saí nu do ventre de minha mãe e nu para ele voltarei. O Senhor deu, o Senhor tirou: bendito seja o nome do Senhor». Em tudo isto, Job não cometeu pecado, nem disse contra Deus nenhuma blasfémia.
 
Salmo Responsorial: 16
R. Escutai, Senhor, e atendei a minha súplica.
 
Ouvi, Senhor, uma causa justa, atendei a minha súplica. Escutai a minha oração, feita com sinceridade.
 
Sede Vós a fazer o meu julgamento, pois vossos olhos veem o que é reto. Se perscrutais o meu coração e o provais com o fogo, não encontrareis em mim iniquidade.
 
Eu Vos invoco, meu Deus, respondei-me, ouvi-me e escutai as minhas palavras. Mostrai a vossa admirável misericórdia, Vós que salvais quem se acolhe à vossa direita.
 
Aleluia. O Filho do homem veio para servir e dar a vida pela redenção dos homens. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 9,46-50): Surgiu entre os discípulos uma discussão sobre qual deles seria o maior. Sabendo o que estavam pensando, Jesus pegou uma criança, colocou-a perto de si e disse-lhes: «Quem receber em meu nome esta criança, receberá a mim mesmo. E quem me receber, estará recebendo Aquele que me enviou. Pois aquele que entre todos vós for o menor, esse é o maior». Tomando a palavra, João disse: «Mestre, vimos alguém expulsar demônios em teu nome, mas nós lhe proibimos, porque não anda conosco». Jesus respondeu: «Não o proibais, pois quem não é contra vós, está a vosso favor».
 
«Aquele que entre todos vós for o menor, esse é o maior»
 
Prof. Dr. Mons. Lluís CLAVELL (Roma, Itália)
 
Hoje, caminho de Jerusalém em direção à paixão, «surgiu entre os discípulos uma discussão sobre qual deles seria o maior» (Lc 9,46). Cada dia os meios de comunicação e também nossas conversas estão cheias de comentários sobre a importância das pessoas: dos outros e de nós mesmos. Esta lógica só humana produz, frequentemente, desejo de vitória, de ser reconhecido, apreciado, correspondido, e a falta de paz, quando estes reconhecimentos não chegam.
 
A resposta de Jesus a estes pensamentos -até mesmo comentários- dos discípulos, lembra o estilo dos antigos profetas. Antes das palavras estão os gestos. Jesus «pegou uma criança, colocou-a perto de si» (Lc 9,47). Depois vem o ensinamento: «aquele que entre todos vós for o menor, esse é o maior» (Lc 9,48). -Jesus, por que custa tanto aceitar que isto não é uma utopia para as pessoas que não estão implicadas no tráfico de uma tarefa intensa, na qual não faltam os golpes de uns contra os outros, e que, com a tua graça, podemos vivê-lo todos? Se o fizéssemos, teríamos mais paz interior e trabalharíamos com mais serenidade e alegria.
 
Esta atitude é também a fonte da onde brota a alegria, ao ver que outros trabalham bem por Deus, com um estilo diferente do nosso, mas sempre assumindo o nome de Jesus. Os discípulos queriam impedi-lo. Em troca, o Mestre defende aquelas outras pessoas. Novamente, o fato de sentir-nos filhos pequenos de Deus facilita-nos a ter o coração aberto para todos e crescer na paz, na alegria e na gratidão. Estes ensinamentos valeram à Santa Teresinha de Lisieux o título de Doutora da Igreja: em seu livro História de uma alma, ela admira o belo jardim de flores que é a Igreja, e está contenta de perceber-se uma pequena flor. Ao lado dos grandes santos -rosas e açucenas- estão as pequenas flores -como as margaridas ou as violetas- destinadas a dar prazer aos olhos de Deus, quando Ele dirige o seu olhar à terra.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«É melhor ser cristão sem o dizer, do que dizê-lo sem o ser. É uma coisa ótima ensinar, mas na condição de que se pratique o que se ensina» (Santo Inácio de Antioquía)
 
«Comportamo-nos frequentemente como controladores de graça e não como seus facilitadores. Mas a Igreja não é uma alfândega» (Francisco)
 
«Extraordinários ou simples e humildes, os carismas são graças do Espírito Santo que, direta ou indiretamente, têm uma utilidade eclesial, ordenados como são para a edificação da Igreja, o bem dos homens e as necessidades do mundo» (Catecismo da Igreja Católica, nº 799)
 
Reflexão
 
Iluminando o texto. Se Lucas já havia apresentado a convergência das pessoas em torno Jesus para de reconhecê-lo na fé, para escutá-lo e assistir suas curas, agora se abre uma nova etapa em seu itinerário público. A pessoa de Jesus não monopoliza a atenção das multidões, mas ele é apresentado como aquele que está lentamente é tirado dos seus para ir ao Pai. Este itinerário inclui a viagem para Jerusalém. E enquanto faz esta viagem, Jesus revela-lhes o destino que o espera (9,22). Depois ele se transfigura diante deles, como que para indicar o ponto de partida do seu "êxodo" de Jerusalém. Mas imediatamente após a luz experimentada no evento da transfiguração, Jesus começa novamente a anunciar sua paixão deixando os discípulos na incerteza e perturbação. As palavras de Jesus sobre o evento de sua paixão, "o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens", encontram nos discípulos incompreensões (9,45) e medo silencioso (9,43).
 
* Se Lucas havia apresentado anteriormente a convergência dos homens ao redor de Jesus para reconhecê-lo na fé, prestar-lhe atenção e estar presente em suas curas, agora se abre uma nova etapa em seu itinerário público. A pessoa de Jesus não monopoliza mais a atenção das multidões, mas Ele é apresentado como aquele que está sendo lentamente afastado dos Seus para ir em direção ao Pai. Esse itinerário prevê Sua jornada para Jerusalém. E enquanto está prestes a empreender essa jornada, Jesus revela a eles o destino que O aguarda (9:22). Ele então se transfigura diante deles para indicar o ponto de partida de Seu “êxodo” para Jerusalém. Imediatamente após a luz que experimenta na transfiguração, Jesus anuncia mais uma vez Sua Paixão, deixando os discípulos incertos e perturbados. As palavras de Jesus sobre o evento de Sua Paixão, “O Filho do Homem vai ser entregue ao poder dos homens” (Lc 9:45), eles não entenderam e tiveram medo de perguntar a Ele.
 
* Jesus leva uma criança. O enigma de Jesus ser entregue causou uma grande disputa entre os discípulos, pois eles se perguntavam a quem caberia o primeiro lugar. Sem que perguntassem sua opinião, Jesus, que, sendo Deus, sabia ler os corações, intervém com um gesto simbólico. Para começar, Ele pega uma criança e a coloca ao Seu lado. Esse gesto é uma indicação de eleição, de privilégio, que se estende quando alguém se torna cristão (Lc 10:21-22). Para que esse gesto seja compreendido, e não desconcertante, Jesus dá uma palavra de explicação: a “grandeza” da criança não é enfatizada, mas é uma inclinação à “aceitação”. O Senhor considera “grande” todo aquele que, como uma criança, sabe aceitar Deus e seus mensageiros. A salvação apresenta dois aspectos: a eleição por parte de Deus, que é simbolizada pelo gesto de Jesus, que aceita a criança, e a aceitação daquele que o enviou, o Pai de Jesus (que é o Filho) e de cada pessoa. A criança encarna Jesus, e ambos, em sua pequenez e sofrimento, percebem a presença de Deus (Bovon). Os dois aspectos da salvação também são indicativos da fé: no dom da eleição, surge o elemento passivo; no serviço, surge o ativo; dois pilares da existência cristã. Aceitar Deus ou Cristo na fé tem como consequência a aceitação total dos pequeninos por parte do crente ou da comunidade. “Ser grande”, sobre o qual os discípulos estavam falando, não é uma realidade de algo além, mas se refere ao momento presente e é expresso na ‘diaconia’ do serviço. O amor e a fé vividos cumprem duas funções: somos aceitos por Cristo (leva a criança); mas também temos o dom particular de recebê-Lo (“quem aceita a criança, aceita a Ele, o Pai”, v. 48). Segue-se um breve diálogo entre Jesus e João (vv. 49-50). Esse último discípulo é considerado um dos íntimos de Jesus. O exorcista, que não pertence àqueles que são íntimos de Jesus, recebe o mesmo papel que é dado aos discípulos. Ele é um exorcista que, por um lado, é externo ao grupo, mas, por outro, está dentro do grupo porque compreendeu a origem cristológica da força divina que o guia (“em Teu nome”). O ensinamento de Jesus é claro: um grupo cristão não deve colocar obstáculos à atividade missionária de outros grupos que sejam fiéis aos ensinamentos de Jesus. Não há cristãos que sejam “maiores” do que os outros, mas alguém é “grande” por ser e se tornar cristão. Portanto, a atividade missionária deve estar a serviço de Deus e não para aumentar a própria fama ou renome, ou para proclamar crenças e interpretações distorcidas. Essa ênfase no poder do nome de Jesus é de importância crucial: é uma referência à liberdade do Espírito Santo, cuja presença certamente está dentro da Igreja, mas pode se estender além dos ministérios instituídos ou oficiais.
 
Perguntas pessoais
- Como você, como crente batizado, entende o sucesso e o sofrimento?
- Que tipo de “grandeza” você vive em seu serviço à vida, às pessoas? Você é capaz de transformar a competição em cooperação?
- Você reconhece as pessoas na sociedade atual que usam o cristianismo ou a atividade missionária para obter fama ou ganho pessoal?