terça-feira, 30 de abril de 2013

MÊS DE MARIA


ORAÇÃO PREPARATÓRIA
Senhor, todo poderoso e infinitamente perfeito, de quem procede todo o ser e para quem todas as criaturas devem sempre se elevar, eu vos consagro este mês e os exercícios de devoção que em cada um de seus dias praticar, oferecendo-os para vossa maior glória em honra de Maria Santíssima. Concedei-me a graça de santificá-lo com piedade, recolhimento e fervor.
Virgem Santa e Imaculada, minha terna Mãe, volvei para mim vossos olhares tão cheios de doçura e fazei-me sentir cada vez mais os benéficos efeitos de vossa valiosa proteção.
Anjos do céu dirigi meus passos, guardai-me à sombra de vossas asas, pondo-me ao abrigo das ciladas do demônio, pedindo por mim a Jesus, Maria e José sua santa bênção. Amém.

LECTIO DIVINA (abaixo)

LADAINHA DE NOSSA SENHORA
Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo, tende piedade de nós.
Senhor, tende piedade de nós.
Jesus Cristo ouvi-nos.
Jesus Cristo atendei-nos.
Deus Pai dos céus tende piedade de nós.
Deus Filho, Redentor do mundo,
Deus Espírito Santo,
Santíssima Trindade, que sois um só Deus,
Santa Maria rogai por nós.
Santa Mãe de Deus,
Santa Virgem das virgens,
Mãe de Jesus Cristo,
Mãe da divina graça,
Mãe puríssima,
Mãe castíssima,
Mãe imaculada,
Mãe intacta,
Mãe amável,
Mãe admirável,
Mãe do bom conselho,
Mãe do Criador,
Mãe do Salvador,
Mãe da Igreja,
Virgem prudentíssima,
Virgem venerável,
Virgem louvável,
Virgem poderosa,
Virgem benigna,
Virgem fiel,
Espelho de justiça,
Sede da sabedoria,
Causa da nossa alegria,
Vaso espiritual,
Vaso honorífico,
Vaso insigne de devoção,
Rosa mística,
Torre de Davi,
Torre de marfim,
Casa de ouro,
Arca da aliança,
Porta do Céu,
Estrela da manhã,
Saúde dos enfermos,
Refúgio dos pecadores,
Consoladora dos aflitos,
Auxílio dos cristãos,
Esperança dos carmelitas,
Rainha dos anjos,
Rainha dos patriarcas,
Rainha dos profetas,
Rainha dos apóstolos,
Rainha dos mártires,
Rainha dos confessores,
Rainha das virgens,
Rainha de todos os santos,
Rainha concebida sem pecado original,
Rainha assunta ao céu,
Rainha do sacratíssimo Rosário,
Rainha das famílias,
Rainha e esplendor do Carmelo,
Rainha da paz,
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, perdoai-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, ouvi-nos, Senhor.
Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende misericórdia de nós.
V. – Rogai por nós, Santa Mãe de Deus.
R. – Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.
OREMOS - Infundi, Senhor, como vos pedimos, vossa graça em nossas almas, para que nós que pela anunciação do Anjo viemos ao conhecimento da encarnação de Jesus Cristo, vosso Filho, pela sua paixão e morte de cruz, sejamos conduzidos à glória da ressurreição. Pelo mesmo Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.

ORAÇÃO COMPOSTA POR SANTO AFONSO DE LIGÓRIO
Ó Maria, filha predileta do Altíssimo, pudesse eu oferecer-vos e consagrar-vos os meus primeiros anos, como vós vos oferecestes e consagrastes ao Senhor no templo! Mas é já passado esse período de minha vida!
Todavia, antes começar tarde a vos servir do que ser sempre rebelde. Venho, pois, hoje, oferecer-me a Deus. Sustentai minha fraqueza, e por vossa intercessão alcançai-me de Jesus a graça de lhe ser fiel e a vós até a morte, a fim de que, depois de vos haver servido de todo o coração na vida, participe da glória e da felicidade eterna dos eleitos. Amém.

O “LEMBRAI-VOS” DE SÃO BERNARDO
Lembrai-vos, ó piedosíssima Virgem Maria, que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que a vós têm recorrido, implorado vossa assistência e invocado o vosso socorro, tenha sido por vós abandonado. Animado de uma tal confiança, eu corro e venho a vós e, gemendo debaixo do peso dos meus pecados, me prostro a vossos pés, ó Virgem das virgens; não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Verbo encarnado, mas ouvi-as favoravelmente e dignai-vos atender-me. Amém.

Quarta-feira da 5ª semana da Páscoa



São José Operário
Evangelho (Jo 15,1-8): «Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não dá fruto em mim, ele corta; e todo ramo que dá fruto, ele limpa, para que dê mais fruto ainda. Vós já estais limpos por causa da palavra que vos falei. Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira e vós, os ramos. Aquele que permanece em mim, como eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim, nada podeis fazer. Quem não permanecer em mim será lançado fora, como um ramo, e secará. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados. Se permanecerdes em mim, e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será dado. Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos».

Comentário: Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)

Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós

Hoje, contemplamos novamente Jesus rodeado dos Apóstolos, em um clima de especial intimidade. Ele confia-lhes o que poderíamos considerar como as últimas recomendações: aquilo que se diz no último momento, justo na despedida, e que tem uma força especial, como se de um testamento se tratasse.

Nos imaginamo-los no cenáculo. Ali, Jesus lhes tem lavado os pés, tem lhes anunciado novamente que tem que partir, tem lhes transmitido o mandamento do amor fraterno e os tem consolado com o dom da Eucaristia e a promessa do Espírito Santo (cf. Jo 14). Introduzidos já no capítulo décimo quinto deste Evangelho, achamos agora a exortação à unidade na caridade.

O Senhor não esconde aos discípulos os perigos e dificuldades que deverão afrontar no futuro: «Se me perseguiram, também vos hão de perseguir» (Jo 15,20). Mas eles não se acovardarão nem se abaterão ante o ódio do mundo: Jesus renova a promessa do envio do Defensor, garante-lhes a assistência em tudo aquilo que eles lhe peçam e, enfim, o Senhor roga ao Pai por eles — por nós todos — durante a sua oração sacerdotal (cf. Jo 17).

Nosso perigo não vem de fora: a pior ameaça pode surgir de nós mesmos ao faltar ao amor fraterno entre os membros do Corpo Místico de Cristo e ao faltar à unidade com a Cabeça deste Corpo. A recomendação é clara: «Eu sou a videira e vós, os ramos. Aquele que permanece em mim, como eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim, nada podeis fazer» (Jo 15,5).

As primeiras gerações de cristãos conservaram uma consciência muito viva da necessidade de permanecer unidos pela caridade: Temos aqui o testemunho de um Padre da Igreja, Santo Inácio da Antioquia: «Correis todos a uma como a um só templo de Deus, como a um só altar, a um só Jesus Cristo que procede de um só Pai». Tem aqui também a indicação de Santa Maria, Mãe dos cristãos: «Fazei o que ele vos disser» (Jo 2,5).

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* Os Capítulos 15 até 17 do Evangelho de João trazem vários ensinamentos de Jesus que o evangelista juntou e colocou aqui no contexto amigo e fraterno do último encontro de Jesus com seus discípulos:
Jo 15,1-17: Reflexões em torno da parábola da videira
Jo 15,18 a 16,4a: Conselhos sobre a maneira de como comportar-se quando forem perseguidos
Jo 16,4b-15: Promessa sobre a vinda do Espírito Santo
Jo 16,16-33: Reflexões sobre a despedida e o retorno de Jesus
Jo 17,1-26: O Testamento de Jesus em forma de oração.

* Os Evangelhos de hoje e de amanhã trazem uma parte da reflexão de Jesus em torno da parábola da videira. Para entender bem todo o alcance desta parábola, é importante estudar bem as palavras que Jesus usou. Igualmente importante é você observar de perto uma videira ou uma planta qualquer para ver como ela cresce e como acontece a ligação entre o tronco e os ramos, e como o fruto nasce do tronco e dos ramos.

* João 15,1-2: Jesus apresenta a comparação da videira
No Antigo Testamento, a imagem da videira indicava o povo de Israel (Is 5,1-2). O povo era como uma videira que Deus plantou com muito carinho nas encostas das montanhas da Palestina (Sl 80,9-12). Mas a videira não correspondeu ao que Deus esperava. Em vez de uvas boas deu um fruto azedo que não prestava para nada (Is 5,3-4). Jesus é a nova videira, a verdadeira. Numa única frase ele nos entrega toda a comparação. Ele diz: "Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo em mim que não produz fruto, ele o corta. E todo ramo que produz fruto, ele o poda!".  A poda é dolorosa, mas é necessária. Ela purifica a videira, para que cresça e produza mais frutos.

* João 15,3-6: Jesus explica e aplica a parábola  
Os discípulos já são puros. Já foram podados pela palavra que ouviram de Jesus. Até hoje, Deus faz a poda em nós através da sua Palavra que nos chega pela Bíblia e por tantos outros meios. Jesus alarga a parábola e diz: "Eu sou a videira e vocês são os ramos!"  Não se trata de duas coisas distintas: de um lado a videira, do outro, os ramos. Não! Videira sem ramos não existe. Nós somos parte de Jesus. Jesus é o todo. Para que um ramo possa produzir fruto, deve estar unido à videira. Só assim consegue receber a seiva. "Sem mim vocês não podem fazer nada!" Ramo que não produz fruto é cortado. Ele seca e é recolhido para ser queimado. Não serve para mais nada, nem para lenha!

* João 15,7-8: Permanecer no amor.  
Nosso modelo é aquilo que Jesus mesmo viveu no seu relacionamento com o Pai. Ele diz: "Assim como o Pai me amou, também eu amei vocês. Permaneçam no meu amor!" Ele insiste em dizer que devemos permanecer nele e que as palavras dele devem permanecer em nós. E chega a dizer: "Se vocês permanecerem em mim e minhas palavras permanecerem em vocês, aí podem pedir qualquer coisa e vocês o terão!"  Pois o que o Pai mais quer é que nos tornemos discípulos e discípulas de Jesus e, assim, produzamos muito fruto.

Para confronto pessoal
1) Quais as podas ou momentos difíceis, que já passei na minha vida e que me ajudaram a crescer? Quais as podas ou momentos difíceis, que passamos na nossa comunidade e nos ajudaram a crescer?
2) O que mantém a planta unida e viva, capaz de dar frutos, é a seiva que a percorre. Qual é a seiva que percorre nossa comunidade a mantém viva, capaz de produzir frutos?

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Terça-feira da 5ª semana da Páscoa


Evangelho (Jo 14,27-31a): «Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não é à maneira do mundo que eu a dou. Não se perturbe, nem se atemorize o vosso coração. Ouvistes o que eu vos disse: ‘Eu vou, mas voltarei a vós’. Se me amásseis, ficaríeis alegres porque vou para o Pai, pois o Pai é maior do que eu. Disse-vos isso agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, creiais. Já não falarei mais convosco, pois vem o chefe deste mundo. Ele não pode nada contra mim. Mas é preciso que o mundo saiba que eu amo o Pai e faço como o Pai mandou».

Comentário: Rev. D. Enric CASES i Martín (Barcelona, Espanha)

Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não é à maneira do mundo que eu a dou

Hoje, Jesus nos fala indiretamente da cruz: deixara-nos a paz, mas ao preço de sua dolorosa saída deste mundo. Hoje lemos suas palavras ditas antes do sacrifício da Cruz e que foram escritas depois de sua Ressurreição. Na Cruz, com sua morte venceu a morte e ao medo. Não nos dá a paz como a do mundo «Não é à maneira do mundo que eu a dou» (cf. Jo 14,27), senão que o faz passando pela dor e a humilhação: assim demonstrou seu amor misericordioso ao ser humano.

Na vida dos homens é inevitável o sofrimento, a partir do dia em que o pecado entrou no mundo. Umas vezes é dor física; outras, moral; em outras ocasiões se trata de uma dor espiritual..., e a todos nos chega a morte. Mas Deus, em seu infinito amor, nos deu o remédio para ter paz no meio da dor: Ele aceitou “ir-se” deste mundo com uma “saída” cheia de sofrimento e serenidade.

Por que ele fez assim? Porque, deste modo, a dor humana — unida à de Cristo— se converte em um sacrifício que salva do pecado. «Na Cruz de Cristo (...), o mesmo sofrimento humano ficou redimido» (João Paulo II). Jesus Cristo sofre com serenidade porque satisfaz ao Pai celestial com um ato de custosa obediência, mediante o qual se oferece voluntariamente por nossa salvação.

Um autor desconhecido do século II põe na boca de Cristo as seguintes palavras: «Vê as cuspidas no meu rosto, que recebi por ti, para restituir-te o primitivo alento de vida que inspirei em teu rosto. Olha as bofetadas de meu rosto, que suportei para reformar à imagem minha teu aspecto deteriorado. Olha as chicotadas de minhas costas, que recebi para tirar da tua o peso de teus pecados. Olha minhas mãos, fortemente seguras com pregos na árvore da cruz, por ti, que em outro tempo estendeste funestamente uma de tuas mãos à árvore proibida».

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* Aqui, em Jo 14,27, começa a despedida de Jesus e no fim do capítulo 14, ele encerra a conversa dizendo: "Levantem! Vamos embora daqui!" (Jo 14,31). Mas, em vez de sair da sala, Jesus continua falando por mais três capítulos: 15, 16 e 17. Se você pular estes três capítulos, você vai encontrar no começo do capítulo 18 a seguinte frase: "Tendo dito isto, Jesus foi com seus discípulos para o outro lado da torrente do Cedron. Havia ali um jardim onde entrou com seus discípulos" (Jo 18,1). Em Jo 18,1, está a continuação de Jo 14,31. O Evangelho de João é como um prédio bonito que foi sendo construído lentamente, pedaço por pedaço, tijolo por tijolo. Aqui e acolá, ficaram sinais destes remanejamentos. De qualquer maneira, todos os textos, todos os tijolos, fazem parte do edifício e são Palavra de Deus para nós.

* João 14,27: O dom da Paz.
Jesus comunica a sua paz aos discípulos. A mesma paz será dada depois da ressurreição (Jo 20,19). Esta paz é mais uma expressão da manifestação do Pai, de que Jesus tinha falado antes (Jo 14,21). A paz de Jesus é a fonte da alegria que ele nos comunica (Jo 15,11; 16,20.22.24; 17,13). É uma paz diferente da paz que o mundo dá, diferente da Pax Romana. Naquele fim do primeiro século a Pax Romana era mantida pela força das armas e pela repressão violenta contra os movimentos rebeldes. A Pax Romana garantia a desigualdade institucionalizada entre cidadãos romanos e escravos. Esta não é a paz do Reino de Deus. A Paz que Jesus comunica é o que no AT se chama Shalôm. É a organização completa de toda a vida em torno dos valores da justiça, fraternidade e igualdade.
* João 14,28-29: O motivo por que Jesus volta ao Pai.  
Jesus volta ao Pai para poder retornar em seguida. Ele dirá a Madalena: “Não me segure, porque ainda não subi para o Pai “ (Jo 20,17). Subindo para o Pai, ele voltará através do Espírito que nos enviará (cf Jo 20,22). Sem o retorno ao Pai ele não poderá estar conosco através do seu Espírito.

* João 14,30-31a: Para que o mundo saiba que amo o Pai. 
Jesus está encerrando a última conversa com os discípulos. O príncipe deste mundo vai tomar conta do destino de Jesus. Jesus vai ser morto. Na realidade, o Príncipe, o tentador, o diabo, nada pode contra Jesus. Jesus faz em tudo o que lhe ordena o Pai. O mundo vai saber que Jesus ama o Pai. Este é o grande e único testemunho de Jesus que pode levar o mundo a crer nele. No anúncio da Boa Nova não se trata de divulgar uma doutrina, nem de impor um direito canônico, nem de unir todos numa organização. Trata-se, antes de tudo, de viver e de irradiar aquilo que o ser humano mais deseja e tem de mais profundo dentro de si: o amor. Sem isto, a doutrina, o direito, a celebração não passa de peruca em cabeça calva.

* João 14,31b: Levantem e vamos embora daqui.  
São as últimas palavras de Jesus, expressão da sua decisão de ser obediente ao Pai e de revelar o seu amor. Na eucaristia, na hora da consagração, em alguns países se diz: “Na véspera da sua paixão, voluntariamente aceita”. Jesus diz em outro lugar: “O Pai me ama, porque eu dou a minha vida para retomá-la de novo. Ninguém tira a minha vida; eu a dou livremente. Tenho poder de dar a vida e tenho poder de retomá-la. Esse é o mandamento que recebi do meu Pai” (Jo 10,17-18).

Para confronto pessoal
1) Jesus disse: “Dou-vos a minha paz”. Como contribuo para a construção da paz na minha família e na minha comunidade?
2) Olhando no espelho da obediência de Jesus ao Pai, em que ponto eu poderia melhorar a minha obediência ao Pai?

domingo, 28 de abril de 2013

Segunda-feira da 5ª semana da Páscoa

Sta Catarina de Sena

Evangelho (Jo 14,21-26): «Quem acolhe e observa os meus mandamentos, esse me ama. Ora, quem me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele». Judas, não o Iscariotes, perguntou-lhe: «Senhor, como se explica que tu te manifestarás a nós e não ao mundo?». Jesus respondeu-lhe: «Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada. Quem não me ama, não guarda as minhas palavras. E a palavra que ouvis não é minha, mas do Pai que me enviou. Eu vos tenho dito estas coisas enquanto estou convosco. Mas o Defensor, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito».

Comentário: Rev. D. Norbert ESTARRIOL i Seseras (Lleida, Espanha)

Mas o Defensor, o Espírito Santo que o Pai enviará em meu nome, ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos tenho dito

Hoje, Jesus mostra-nos o seu imenso desejo de que participemos da sua plenitude. Incorporados nele, estamos na fonte da vida divina que é a Santíssima Trindade. «Deus está contigo. Na tua alma habita, em graça, a Beatíssima Trindade. —Por isso, tu, apesar das tuas misérias, podes e deves estar em continuo diálogo com o Senhor» (São Josemaria).

Jesus assegura que estará presente em nós pela graça divina que habita na alma. Assim, os cristãos já não somos órfãos. Já que nos ama tanto, apesar de não necessitar de nós, não quer prescindir de nós.

«Quem acolhe e observa os meus mandamentos, esse me ama. Ora, quem me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele» (Jo 14,21). Este pensamento ajuda-nos a ter presença de Deus. Então, não têm lugar outros desejos ou pensamentos que, pelo menos, às vezes, nos fazem perder o tempo e nos impedem de cumprir a vontade divina. Eis uma recomendação de São Gregório Magno: «Que não nos seduza o elogio da prosperidade, porque é um caminhante tonto aquele que vê, durante o seu caminho, prados deliciosos e se esquece para onde queria ir».

A presença de Deus no coração nos ajudará a descobrir e realizar neste mundo os planos que a Providencia nos tenha atribuído. O Espírito do Senhor suscitará no nosso coração iniciativas para situá-las no vértice de todas as atividades humanas e tornar presente, assim, Cristo no alto da terra. Se tivermos esta intimidade com Jesus chegaremos a ser bons filhos de Deus e nos sentiremos seus amigos em todos os lugares e momentos: na rua, no meio do trabalho quotidiano, na vida familiar.

Toda a luz e o fogo da vida divina se derramarão sobre cada um dos fiéis que estejam dispostos a receber o dom do interior. A Mãe de Deus intercederá — como nossa mãe que é — para que penetremos neste tratado com a Santíssima Trindade.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* Como dissemos anteriormente, o capítulo 14 do Evangelho de João é um exemplo bonito de como se praticava a catequese nas comunidades da Ásia Menor no fim do primeiro século. Através das perguntas dos discípulos e das respostas de Jesus, os cristãos formavam sua consciência e encontravam uma orientação para os seus problemas. Assim, neste capítulo 14, temos a pergunta de Tomé com a resposta de Jesus (Jo 14,5-7), a pergunta de Filipe com a resposta de Jesus (Jo 14,8-21), e a pergunta de Judas com a resposta de Jesus (Jo 14,22-26). A última frase da resposta de Jesus a Filipe (Jo 14,21) forma o primeiro versículo do evangelho de hoje.

* João 14,21: Eu o amarei e me manifestarei a ele.
Este versículo traz o resumo da resposta de Jesus a Filipe. Filipe tinha dito: “Mostra-nos o Pai e isso nos basta!” (Jo 14,8). Moisés tinha perguntado a Deus: “Mostra-me a tua glória!” (Ex 33,18). Deus respondeu: “Não poderás ver minha face, porque ninguém pode ver-me e continuar vivendo” (Ex 33,20). O Pai não pode ser mostrado. Deus habita uma luz inacessível (1Tim 6,16). “Ninguém jamais viu a Deus” (1Jo 4,12). Mas a presença do Pai pode ser experimentada através da experiência do amor. Diz a primeira carta de São João: “Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor”. Jesus diz a Filipe: “Quem aceita os meus mandamentos e a eles obedece, esse é que me ama. E quem me ama, será amado por meu Pai. Eu também o amarei e me manifestarei a ele”. Observando o mandamento de Jesus, que é o mandamento do amor ao próximo (Jo 15,17), a pessoa mostra o seu amor por Jesus. E quem ama a Jesus, será amado pelo Pai e pode ter a certeza de que o Pai se manifestará a ele. Na resposta a Judas, Jesus dirá como acontece esta manifestação do Pai na nossa vida.

* João 14,22: A pergunta de Judas, pergunta de todos. 
A pergunta de Judas: “Por que o senhor se manifesta só a nós e não ao mundo?” Esta pergunta de Judas reflete um problema que é real até hoje. Às vezes, sobe em nós cristãos o pensamento de que somos melhores que os outros e que Deus nos ama mais do que os outros. Será que Deus faz distinção de pessoas?

* João 14,23-24: Resposta de Jesus. 
A resposta de Jesus é simples e profunda. Ele repete o que acabou de dizer a Filipe. O problema não é se nós cristãos somos mais amados por Deus do que os outros, ou que os outros são desprezados por Deus. Este não é o critério da preferência do Pai. O critério da preferência do Pai é sempre o mesmo: o amor. "Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará. Eu e meu Pai viremos e faremos nele a nossa morada. Quem não me ama, não guarda as minhas palavras”. Independentemente do fato de a pessoa ser ou não ser cristã, o Pai se manifesta a todos aqueles que observam o mandamento de Jesus que é o amor ao próximo (Jo 15,17). Em que consiste a manifestação do Pai? A resposta a esta pergunta está estampada no coração da humanidade, na experiência humana universal. Observe a vida das pessoas que praticam o amor e que fazem da sua vida uma doação aos outros. Examine a sua própria experiência. Independentemente de religião, classe, raça ou cor, a prática do amor traz uma paz profunda e uma alegria que conseguem conviver com dor e sofrimento. Esta experiência é o reflexo da manifestação do Pai na vida das pessoas. É a realização da promessa: Eu e meu Pai viremos e faremos nele a nossa morada

* João 14,25-26: A promessa do Espírito Santo.
Jesus termina sua resposta a Judas dizendo: Essas são as coisas que eu tinha para dizer estando com vocês. Jesus comunicou tudo que ouviu do Pai (Jo 15,15). As palavras dele são fonte de vida e devem ser meditadas, aprofundadas e atualizadas constantemente à luz da realidade sempre nova que nos envolve. Para esta meditação constante das suas palavras Jesus nos promete a ajuda do Espírito Santo: “O Advogado, o Espírito Santo, que o Pai vai enviar em meu nome, ele ensinará a vocês todas as coisas e fará vocês lembrarem tudo o que eu lhes disse.

Para confronto pessoal
1) Jesus disse: Eu  e meu Pai viremos e faremos nele a nossa morada.  Como eu experimento esta promessa?
2) Temos a promessa do dom do Espírito para nos ajudar a entender as palavra de Jesus. Eu invoco a luz do Espírito quando vou ler e meditar a Escritura?

sexta-feira, 26 de abril de 2013

V Domingo da Páscoa


Queridos irmãos carmelitas.  Devido à reunião dos formadores no Convento de Santo Alberto de Goiana durante este fim de semana, preferimos adiantar os textos para as Lectio Divina do Sábado da IV Semana e o V Domingo da Páscoa, bem como o texto de formação carmelita deste sábado, dia 27 de abril.

«Que vos ameis uns aos outros»
Pe. Luciano Miguel, sdb

Nos últimos dias da sua despedida, Jesus não deixa de recomendar aos seus o seu mandamento novo: “que vos ameis uns aos outros como eu vos amei”. O mandamento do amor é o distintivo de todos os cristãos. Supõe esta ligação essencial a Cristo e ao seu Evangelho. Supõe esta adesão única à mensagem de Jesus e ao seu projeto de um novo “Reino”. Supõe a libertação de tudo aquilo que não nos identifica com o que nos é mais distintivo: uma forma de amar que é capaz, até, de perdoar aos inimigos. E esta forma de amar foi-nos ensinada por palavras, e, mais que tudo, testemunhada pela forma de atuar do Senhor que nos pede hoje que, como comunidade, nos amemos outros, e como cristãos, não deixemos nunca de amar como ele nos amou.

EVANGELHO – Jo 13,31-33a.34-35 - Quando Judas saiu do cenáculo, disse Jesus aos seus discípulos: «Agora foi glorificado o Filho do homem e Deus glorificado n’Ele. Se Deus foi glorificado n’Ele, Deus também O glorificará em Si mesmo e glorificá-lo-á sem demora. Meus filhos, é por pouco tempo que ainda estou convosco. Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros».

“Quando Judas saiu do cenáculo, disse Jesus aos seus discípulos: «Agora foi glorificado o Filho do homem e Deus glorificado n’Ele.”

Convém ter bem presente o contexto histórico deste pequenino texto: o da Última Ceia. Jesus acabava de lavar os pés aos discípulos. Depois se senta de novo à mesa e anuncia que ia ser atraiçoado por um dos seus. Num diálogo, quase a sós com o discípulo “amado”, Jesus diz que será Judas Iscariotes que O entregará. Ambiente de grande tensão e dramatismo.
Diante da realidade da situação, somos levados a fixar-nos antes do mais na frase “Quando Judas saiu do Cenáculo”. Parece haver uma tentativa de separação, de limpeza. A intimidade só se comunica aos amigos chegados. Só então Jesus, na maior intimidade confessa, agora apenas aos restantes onze discípulos, que o processo da Sua morte já esta em andamento. Por um lado a traição de quem fora escolhido; por outro a aceitação dessa morte por parte de Jesus, como vontade do Pai, e que será a Sua glorificação. Predileção e traição. Morte e glorificação. Que aproximações tão raras! O que leva a interrogar-nos: o que move Judas a atraiçoar o seu Mestre? O que leva Jesus a deixar-se atraiçoar por um dos seus escolhidos? Mistério de um amor infinito!
A nossa atenção detém-se, antes de tudo, sobre a primeira palavra utilizada por Jesus neste “discurso de despedida” que lemos neste Domingo de Páscoa: “Agora”. “Agora o Filho do Homem foi glorificado”. De que “hora” se trata? É o momento da cruz que coincide com a glorificação. Este termo no Evangelho de João coincide com a manifestação ou revelação. Por conseguinte, a cruz de Jesus é a “hora” da máxima manifestação da verdade. Deve ser afastado do significado de ser glorificado tudo o que possa levar a pensar em algo relativo à “honra”, ao “triunfalismo”, etc.

Se Deus foi glorificado n’Ele, Deus também O glorificará em Si mesmo e glorificá-lo-á sem demora.

A “glorificação” de que Jesus falava nesse momento, quase certo que os Apóstolos não a entendiam. Continuavam e continuarão até depois da Ressurreição a viver num mundo totalmente diferente do de Jesus: só conheciam o humano e era nesse que apostavam, e Jesus tentava falar-lhes do divino. Tarefa difícil para Jesus.
Nós mesmos, hoje, temos dificuldade em compreender as palavras de Jesus: «Agora foi glorificado o Filho do homem e Deus glorificado n’Ele. Se Deus foi glorificado n’Ele, Deus também O glorificará em Si mesmo e glorificá-l’O-á sem demora.” Como pode vir a glória através da morte numa cruz? Quem sente honra em ter por Deus um “homem crucificado”? Que faz esse Deus numa Cruz? E entretanto essa é a fonte da Glória de Jesus porque na Cruz entregou toda sua vida inocente para dar vida divina aos homens escravizados pelo mal. Já Santo Ireneu dizia: “A glória de Deus é o homem vivo e a vida do homem é a visão de Deus”. Deus Pai glorifica Jesus por este aceitar encarnar para poder morrer numa cruz e desse modo mostrar aos homens o amor imenso com que Deus nos ama. Glória para o Filho e glória para o Pai. E o Pai glorifica o Filho ressuscitando-O ao terceiro dia.
Por um lado Judas entra de noite e Jesus prepara-se para a glória: “Quando saiu, disse Jesus: 'Agora foi glorificado o Filho do Homem e Deus foi glorificado n'Ele. Se Deus foi glorificado n'Ele, Deus também o glorificará em si mesmo e glorificá-lo-á muito em breve'” (vv. 31-32) A traição de Judas amadurece em Jesus a convicção de que a sua morte é “glória”. A hora da morte na cruz está no plano de Deus; é a “hora” na qual sobre o mundo, mediante a glória do “Filho do Homem”, resplandecerá a glória do Pai. Em Jesus, que oferece a sua vida ao Pai na “hora” da cruz, Deus é glorificado revelando o seu ser divino e acolhendo na sua comunhão todos os homens.
A glória de Jesus (o Filho) consiste no seu “amor até ao fim” por todos os homens, quer os que se oferecem a ele quer os que o atraiçoam. É um amor que carrega todas as situações destrutivas e dramáticas que gravitam ao redor da vida e da história dos homens. A traição de Judas é o símbolo não tanto de um indivíduo mas de toda a malvadez da humanidade e da sua infidelidade à vontade de Deus.

Meus filhos, é por pouco tempo que ainda estou convosco.

Jesus pressente que a sua morte está próxima. Judas já saiu ao encontro dos seus inimigos e a prisão está iminente. É o momento da despedida. Jesus, o Homem Deus, assumiu tudo o que é humano e portanto também a dor da separação humana e da separação violenta.
Jesus, mais uma vez, previne os discípulos do que vai acontecer. Certamente com este anúncio quer fazer ressaltar ainda mais a importância do testamento que lhes quer deixar. Já não terá oportunidade de lhes comunicar muito mais. Que fixem bem o “mandamento novo” que lhes vai anunciar. Jesus parte fisicamente, mas a sua separação não será definitiva. Temos nós consciência do que medeia entre esta separação e o Cristo ressuscitado? Até que ponto recordamos e vivemos o que Ele nos assegurou depois: “Não vos deixarei sós…”, “Estarei convosco… até ao fim do mundo”. Cristo morto, mas ressuscitado. Cristo morto, mas vivo. Cristo morto mas pronto a fazer conosco a vontade do Pai: a libertação dos homens! Contamos com Ele no dia a dia da nossa vida de batizados comprometidos?

 “Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros. Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros.”

Como é evidente, Jesus dava as últimas recomendações, conselhos e orientações aos seus discípulos. E sintetizou tudo num único mandamento que Ele apelidou de “mandamento novo”: o mandamento do amor. Quem ousaria pedir tal coisa se Ele não nos “tivesse amado apaixonadamente primeiro”?
Sabemos que já no Antigo Testamento Deus educara os judeus na linha do amor: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” e “o estrangeiro que reside convosco… amá-lo-ás como a ti mesmo…” podemos ler no Lv 19, 18.34. Onde está então a novidade do mandamento de Jesus? Precisamente no “amai-vos como Eu vos amei”. Da pedagogia usada durante três anos contra o egoísmo e interesses pessoais dos discípulos, passando pelo lava-pés até à crucifixão, tudo foi amor na vida de Jesus. Se não o que é que faz um Deus pendurado numa cruz? Não é essa cruz a amorosa e infinita gratuidade de um Deus? Dar a vida por outro. Sem nada pedir. Por puro e gratuito amor. Pensando apenas na felicidade do outro. É esse o Deus que nos pede que “nos amemos como Ele nos amou”. Será que no-lo pode propor?
Prestemos atenção ao mandamento novo. No versículo 33 há uma mudança no discurso de despedida de Jesus: não é mais usada a terceira pessoa mas há um “tu” a quem o Mestre dirige a sua palavra. Este “tu” é expresso no plural e através de um termo grego que exprime profunda ternura: “filhinhos” (teknía). Mais concretamente: Jesus ao usar este termo quer comunicar aos seus discípulos, através do tom da sua voz e com a abertura do seu coração, a imensa ternura que tem por eles.
É interessante verificar outra indicação que se encontra no versículo 34: “que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. O termo grego kathòs (“como”), não indica uma comparação: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. O seu significado é consecutivo ou causal: “Porque eu vos amei, assim amai-vos uns aos outros”.
Há exegetas, como o P. Lagrange, que vêem no mandamento de Jesus um sentido escatológico: durante a sua relativa ausência, Jesus, esperando o seu definitivo retorno, quer ser amado e servido na pessoa dos seus irmãos. O mandamento novo é o único mandamento. Se falta, tudo falta. Escreve Magrassi: “Fora as etiquetas e as classificações: todo o irmão é sacramento de Cristo. Interroguemo-nos acerca da nossa vida diária: é possível viver ao lado do irmão desde a manhã até à noite sem o aceitar e amar? A grande tarefa neste caso é o êxtase, visto no sentido etimológico da palavra: sair de mim para me tornar próximo de quem quer que seja que tenha necessidade de mim, começando pelos que estão mais perto de mim e pelas coisas humildes de cada dia” (Vivere la Chiesa, 113).

Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros».

Jesus esclarece qual será a identidade dos seus seguidores: serão conhecidos pelo amor mútuo! Sem fardas, sem emblemas, sem crachás, apenas pela maneira de viver, de se comportar. As ideologias e os ritos tão próprios do judaísmo e paganismo cediam o lugar a um tipo de vida em que o amor mútuo fosse o fundamento de tudo e a identificação da pessoa.
A exigência de Jesus aos seus discípulos continua a ser-nos proposta hoje a nós. Os cristãos somos homens como os outros, vivemos nos mesmos locais, temos as mesmas profissões, os mesmos divertimentos. Cidadãos em tudo iguais aos outros. Porém… possuímos uma “marca d’água” especial que distingue o nosso modo de viver: é amor! Não um amor light, deturpado, egoísta, mas um amor que tem a sua fonte em Deus. Deus é amor e só pode amar. O distintivo dos cristãos é esse amor que nasce de Deus, um amor mútuo, gratuito, onde mergulha todo o nosso agir e viver, transformando-o também em amor. Um amor que se dá, que se entrega, que consegue dar um sentido divino à nossa vida. Exageros? Arroubos? Se é Jesus que no-lo diz, que no-lo manda, que nos deu por primeiro o exemplo, como podemos ainda duvidar? Não será antes um tentar justificar a nossa real falta de amor?

Formação Carmelita


PARTICIPANTES DA MISSÃO DE CRISTO

Do Roteiro Formativo da OTV de Faro, Portugal.

«Eu vim lançar o fogo sobre a terra e como quero que ele se ateie!» (Lc 12,49); «O amor de Cristo nos compele ao pensar que um só morreu por todos… Ele morreu por todos, para que os que vivem, não vivam mais para si mesmos, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou» (2 Cor 5,14s); «Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim fará também as obras que Eu faço e fará outras maiores, porque Eu vou para o Pai» (Jo 14,12); «Aquele que diz que permanece nele, esse deve também andar assim como Ele andou» (1 Jo 2,6)

1. Vimos como a nossa vocação, enquanto cristãos batizados e enquanto Igreja, é Cristo, passando todo o processo de conversão pela nossa conformação ao Senhor, através de uma profunda união interior com Ele. Este chamamento, porém, não é vão, mas tem sentido, ou seja, indica um rumo, aponta uma direção, conduz a uma finalidade: a de ser continuadores da missão de Cristo.

A ela referiu-se o próprio Senhor: «O meu alimento consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e levar à plena realização a sua obra» (Jo 4,34). Que obra é essa? É a obra da salvação da humanidade (cf. Jo 3,16-17), mediante a reconciliação do homem com Deus (2 Cor 5,18-20), a fim de em Cristo «congregar na unidade os filhos de Deus que andam dispersos» (Jo 11,52).

É precisamente esta obra, consumada por Cristo na cruz (cf. Jo 19,28 s), que é a razão do Seu envio pelo Pai ao mundo, da Sua vinda e encarnação, numa palavra, da Sua missão. Foi esta mesma missão que o Pai Lhe confiou, que Jesus, uma vez consumada a obra da salvação da Sua parte e da parte de Deus (dimensão objetiva ou oferta da salvação), por sua vez nos confia e quer prolongar através de nós, membros do Seu Corpo, a fim de em nós, conosco e através de nós, levar a obra do Pai à sua plena realização, fazendo com que cada pessoa dela se torne beneficiário (dimensão subjetiva ou aceitação da salvação).

Foi para continuarmos a sua missão como colaboradores seus (cf. 1 Cor 3,9; 2 Cor 6,1) que o Senhor nos deu o Seu Espírito, o Qual nos enriquece com os dons e carismas que distribui por nós, tal como o vemos no dia de Páscoa: «Disse-lhes Jesus: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos envio”. Tendo dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; e a quem lhos retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20,21-23).

É do chamamento a esta missão que decorre a necessidade de conversão e de completa renovação da nossa vida pelo Espírito de Deus, a fim de nos unirmos e conformarmos plenamente a Jesus Cristo, vivendo escondidos com Ele em Deus (cf. Col 3,3), de modo que os nossos desejos e pensamentos, critérios e sentimentos, gestos e palavras sejam de tal maneira seus que O deixemos passar e transparecer neles, a ponto de podermos dizer com S. Paulo: «Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim» (Gl 2,20).

2. Todos e cada um de nós, cristãos, somos chamados a assumir e desempenhar a nossa parte na missão de Cristo, isto é, a participar dela, cada qual segundo o dom da graça que lhe foi concedida (cf. 1 Pd 4,10), não nos podendo eximir a ela, sob a pena de cairmos no desprezo de nós mesmos e dos próprios homens: «Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no candelabro, para que alumie a todos os que se encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus» (Mt 5,13-16). No mesmo sentido devem ser entendidas a parábola das minas e a dos talentos  (Mt 25,14-30; Lc 19,11-27).

Por isso a Regra afirma: «Pelo Batismo os leigos carmelitas tornam-se participantes da missão de Jesus Cristo, dando-lhe continuidade na Igreja, tornando-se assim como que “uma humanidade de acréscimo”, que se transforma em “louvor da sua glória” (cf. 1 Cf. B. Isabel da Trindade), Ó meu Deus, Trindade que eu adoro, onde começa por invocar o Espírito Santo para que esta vocação se realize: «Ó Fogo consumidor, Espírito de amor, “descei sobre mim” (cf. Lc 1,35), a fim de que na minha alma se faça como que uma encarnação do Verbo e que eu seja para Ele como que uma humanidade de acréscimo na qual Ele renove todo o seu mistério» (cf. Obras completas, Avessadas 2008, 190s e Ef 1,12.14). Aos seculares é reconhecida “uma participação própria e absolutamente necessária” (AA 1) nesta missão» (RTOC 24). A missão na qual se prolonga a missão de Cristo, é própria de cada terceiro, sendo, por isso mesmo, indeclinável, intransferível, inalienável e inadiável.

3. Porque participa da missão de Cristo, em virtude do Batismo e graças à unção do Espírito Santo recebido, o terceiro também participa no tríplice ministério de sacerdote, profeta e rei do Senhor em que aquela se articula. É a cada uma destas dimensões que se referem os três números seguintes da Regra.

(1) «Em virtude do sacerdócio batismal e dos carismas recebidos, os seculares carmelitas são chamados à edificação da comunidade eclesial (AA 2-3) participando “consciente, ativa e fecundamente” (SC 20) na vida litúrgica da comunidade e empenhando-se para que a celebração se prolongue na vida concreta. Isto quer dizer que os frutos de seu encontro com Deus se manifestam em todas as suas atividades, orações e iniciativas apostólicas, e também na vida conjugal e familiar, no trabalho quotidiano, no repouso espiritual e corporal e até mesmo nas próprias privações da vida, quando suportadas com paciência (cf. LG 34) e – como nos ensinam os santos carmelitas – acolhidas de coração aberto» (ROTC 25). O terceiro participa do sacerdócio de Cristo, pois o sacerdote é aquele que tem acesso a Deus e se encontra com Ele, representando o povo e levando o povo para junto de Deus, sendo, ao mesmo tempo, aquele que leva Deus ao povo. O terceiro imita assim Maria na visitação, em Belém e na apresentação de Jesus no Templo.

(2) O terceiro também participa no múnus profético de Jesus Cristo, na medida em que, como Maria, escuta a Palavra de Deus – que lhe chega em gestos, acontecimentos, pessoas e palavras –, a acolhe com fé, a guarda e medita no coração com amor, os discerne e lê, caminhando, cheio de esperança, à sua luz, que deixa que se irradie sobre todos, transmitindo-lhes a Palavra e apontando a meta final do Reino de Deus: «Com a participação no múnus profético de Cristo e da Igreja, o terceiro empenha-se, nas diversas profissões e atividades seculares, por assimilar o Evangelho na fé, anunciando-o por meio de suas obras. O seu empenho chega ao ponto de denunciar o mal com coragem e sem vacilar (cf. CfL 14). Além disso, é chamado a participar seja no sentido da fé sobrenatural da Igreja, que não pode errar em matéria de fé (LG 12), seja na graça da Palavra (cf. At 2,17-18; At 9,10; CfL 14) » (ROTC 26).

(3) Porque unido a Cristo e animado pelo amor, o secular carmelita, animado pelo Espírito, coopera com Ele na grande obra de reconciliação da humanidade «segundo a riqueza da sua graça, que Ele derramou abundantemente sobre nós, infundindo-nos toda sabedoria e prudência, dando-nos a conhecer o mistério da sua vontade, conforme o beneplácito que n’Ele lhe aprouve tomar para levar o tempo à sua plenitude: a de em Cristo recapitular todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra» (Ef 1,7-10) de modo que todas as realidades fiquem permeado pela presença de Cristo e, renovadas pela Sua graça, nele encontrem a raiz, fonte, unidade, coesão e plenitude para a qual foram criadas, de modo a que Cristo seja tudo em todos (Col 3,11): «Pela sua pertença a Cristo, Senhor e Rei do universo, o terceiro participa de seu múnus real pelo qual é chamado ao serviço do Reino de Deus e à sua expansão na história. A realeza de Cristo implica, antes de tudo, um combate espiritual para vencer em nós mesmos a tirania do pecado (cf. Rm 6,12). Mediante o dom de nós mesmos, empenhamo-nos em servir, na justiça e na caridade, o próprio Jesus presente em todos os irmãos e irmãs, sobretudo nos pequeninos (cf. Mt 25,40) e marginalizados. Isto significa dar à criação todo o seu valor originário. Ao conduzir as criaturas ao verdadeiro bem da humanidade com uma atividade fruto da vida de graça, o terceiro participa no exercício do poder com o qual Jesus Ressuscitado atrai a si todas as coisas (cf. CfL 17)» (ROTC 27). Imita assim a Virgem Maria nas bodas de Caná, que conduz todos a seu Filho Jesus, ensinando-os a caminhar à Sua luz, experimentando a fecundidade da Sua palavra: «Fazei tudo o que Ele vos disser» (Jo 2,5).

Só assim, cheio de zelo como Elias, levando pessoalmente a cabo, em comunhão com os irmãos, a missão que o Senhor lhe confia enquanto instrumento de comunhão e de reconciliação (cf.Mal 4,5s), o terceiro carmelita, vive realmente em obséquio de Jesus Cristo, servindo-o de coração puro e boa consciência, repleto do Espírito Santo, à imitação de Maria, nossa Irmã e nossa Mãe.

Sábado da 4ª Semana da Páscoa


Evangelho (Jo 14,7-14): Naquele tempo, Jesus disse aos seus discípulos: «Se me conhecestes, conhecereis também o meu Pai. Desde já o conheceis e o tendes visto». Filipe disse: «Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta». Jesus respondeu: «Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não me conheces? Quem me viu, tem visto o Pai. Como é que tu dizes: ‘Mostra-nos o Pai’? Não acreditas que eu estou no Pai e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo; é o Pai que, permanecendo em mim, realiza as suas obras. Crede-me: eu estou no Pai e o Pai está em mim. Crede, ao menos, por causa destas obras. «Em verdade, em verdade, vos digo: quem crê em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas. Pois eu vou para o Pai. E o que pedirdes em meu nome, eu o farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes algo em meu nome, eu o farei».

Comentário: P. Jacques Philippe (Cordes sur Ciel, França)

Eu estou no Pai e que o Pai está em mim

Hoje, estamos convidados a reconhecer em Jesus ao Pai que se nos revela. Filipe expressa uma intuição muito justa: «Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta» (Jo, 14, 8). Ver o Pai é descobrir Deus como origem, como vida que brota, como generosidade, como dom que constantemente renova cada coisa. Do que mais precisamos? Procedemos de Deus, e cada homem e, ainda de que não seja consciente, leva o profundo desejo de voltar a Deus, de reencontrar a casa paterna e permanecer ai para sempre. Hei aqui todos os bens que possamos desejar: A vida, a luz, o amor, a paz... São Inácio de Antioquia, que foi mártir no início do século dizia: «Há em mim um água viva que murmura e disse dentro de mim: Vem ao Pai!».

Jesus nos faz entrever a profunda intimidade recíproca que existe entre Ele e o Pai. «Eu estou no Pai e que o Pai está em mim» (Jo 14,11). O que Jesus diz e que faz acha sua fonte no Pai e, o Pai se expressa plenamente em Jesus. Todo o que o Pai deseja nos dizer se encontra nas palavras e nos atos do Filho. Todo o que Ele quer cumprir no nosso favor o cumpre pelo seu Filho. Acreditar no Filho nos permite ter «aceso a Deus» (Ef 2,18).

A fé humilde e fiel em Jesus, a eleição de lhe seguir e lhe obedecer dia trás dia, nos põe em contato misterioso mas real com o mesmo mistério de Deus e, nos faz beneficiários de todas as riquezas de sua benevolência e misericórdia. Esta fé permite ao Pai levar adiante, através de nós, a obra da graça que começou no seu Filho: «Quem crê em mim fará as obras que eu faço» (Jo 14,12).

Comentário: Rev. D. Iñaki BALLBÉ i Turu (Rubí, Barcelona, Espanha)

E o que pedirdes em meu nome, eu o farei

Hoje, quarto Sábado de Páscoa, a Igreja convida-nos a considerar a importância que tem para um cristão, conhecer Cristo cada vez mais. Com que ferramentas contamos para o fazer? Com diversas e, todas elas, fundamentais: a leitura atenta e meditada do Evangelho; nossa resposta pessoal na oração, esforçando-nos para que seja um verdadeiro diálogo de amor, e não um mero monólogo introspectivo, e o desejo renovado diariamente por descobrir Cristo no nosso próximo mais imediato de nós: um familiar, um amigo, um vizinho que talvez necessite da nossa atenção, do nosso conselho, da nossa amizade.

«Senhor, mostra-nos o Pai», pede Filipe (Jo 14,8). Uma boa petição para que a repitamos durante todo este Sábado. —Senhor, mostra-me o teu rosto. E podemos perguntar-nos: como é o meu comportamento? Os outros, podem ver em mim o reflexo de Cristo? Em que coisa pequena poderia lutar hoje? Aos cristãos nos é necessário descobrir o que há de divino na nossa tarefa diária, a marca de Deus no que nos rodeia. No trabalho, na nossa vida de relação com os outros. E também se estamos doentes: a falta de saúde é um bom momento para nos identificarmos com Cristo que sofre. Como disse Santa Teresa de Jesus, «Se não nos determinarmos a engolir de uma vez a morte e a falta de saúde, nunca faremos nada».

O Senhor no Evangelho assegura-nos: «Se pedirdes algo em meu nome, eu o farei» (Jo 14,13). —Deus é o meu Pai, que vela por mim como um Pai amoroso: não quer para mim nada de mau. Tudo o que passa —tudo o que me passa— é para o bem da minha santificação. Ainda que, com o olhos humanos, não o entendamos. Ainda que não o entendamos nunca. Aquilo — o que quer que seja – Deus o permite. Confiemos nele da mesma maneira que confiou Maria.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

* João 14,7: Conhecer Jesus é conhecer o Pai.  O texto do evangelho de hoje é a continuação do de ontem. Tomé tinha perguntado: "Senhor, não sabemos para onde vai. Como podemos conhecer o caminho?" Jesus respondeu: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida! Ninguém vai ao Pai senão por mim”. E acrescentou: “Se vocês me conhecem, conhecerão também o meu Pai. Desde agora vocês o conhecem e já o viram". Esta é a primeira frase do evangelho de hoje. Jesus sempre fala do Pai, pois era a vida dele que transparecia em tudo que falava e fazia. Esta referência constante ao Pai provoca a pergunta de Filipe.

* João 14,8-11: Filipe pergunta: "Mostra-nos o Pai, e basta!" Era o desejo dos discípulos e das discípulas, o desejo de muita gente nas comunidades do Discípulo Amado e é o desejo de muita de nós hoje: como é que a gente faz para ver o Pai de que Jesus fala tanto? A resposta de Jesus é muito bonita e vale até hoje: "Filipe, tanto tempo estou no meio de vocês, e você ainda não me conhece! Quem me vê, vê o Pai!" A gente não deve pensar que Deus está longe de nós, como alguém distante e desconhecido. Quem quiser saber como é e quem é Deus Pai, basta olhar para Jesus. Ele o revelou nas palavras e gestos da sua vida! "O Pai está em mim e eu estou no Pai!" Através da sua obediência, Jesus está totalmente identificado com o Pai. Ele a cada momento fazia o que o Pai mostrava que era para fazer (Jo 5,30; 8,28-29.38). Por isso, em Jesus tudo é revelação do Pai! E os sinais ou as obras de Jesus são as obras do Pai! Como diz o povo: "O filho é a cara do pai!" Por isso, em Jesus e por Jesus, Deus está no meio de nós.

* João 14,12-14: Promessa de Jesus.  Jesus faz uma promessa para dizer que a intimidade dele com o Pai não é privilégio só dele, mas é possível para todos que crêem nele. Nós também, através de Jesus, podemos chegar a fazer coisas bonitas para os outros do jeito que Jesus fazia para o povo do seu tempo. Ele vai interceder por nós. Tudo que a gente pedir a ele, ele vai pedir ao Pai e vai conseguir, contanto que seja para servir. Jesus é o nosso defensor. Ele vai embora, mas não nos deixa sem defesa. Ele promete que vai pedir ao Pai para Ele mandar outro defensor ou consolador, o Espírito Santo. Jesus chegou a dizer que ele precisa ir embora, pois, do contrário, o Espírito Santo não poderá vira (Jo 16,7). É o Espírito Santo que realizará as coisas de Jesus em nós, desde que peçamos em nome de Jesus e observemos o grande mandamento da prática do amor.

Para um confronto pessoal
1) Conhecer Jesus é conhecer o Pai. Na Bíblia a palavra “conhecer uma pessoa” não é apenas uma compreensão intelectual, mas implica também uma profunda experiência da presença dessa pessoa na vida. Será que eu conheço Jesus?
2) Conheço o Pai?