quarta-feira, 31 de outubro de 2018

1º de novembro: Solenidade de Todos os Santos


1ª Leitura (Apoc 7,2-4.9-14): Leitura do Apocalipse de São João: Eu, João, vi um Anjo que subia do Nascente, trazendo o selo do Deus vivo. Ele clamou em alta voz aos quatro Anjos a quem foi dado o poder de causar dano à terra e ao mar: «Não causeis dano à terra, nem ao mar, nem às árvores, até que tenhamos marcado na fronte os servos do nosso Deus». E ouvi o número dos que foram marcados: cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel. Depois disto, vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé, diante do trono e na presença do Cordeiro, vestidos com túnicas brancas e de palmas na mão. E clamavam em alta voz: «A salvação ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro». Todos os Anjos formavam círculo em volta do trono, dos Anciãos e dos quatro Seres Vivos. Prostraram-se diante do trono, de rosto por terra, e adoraram a Deus, dizendo: «Amém! A bênção e a glória, a sabedoria e a ação de graças, a honra, o poder e a força ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amém!». Um dos Anciãos tomou a palavra e disse-me: «Esses que estão vestidos de túnicas brancas, quem são e de onde vieram?». Eu respondi-lhe: «Meu Senhor, vós é que o sabeis». Ele disse-me: «São os que vieram da grande tribulação, os que lavaram as túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro».

Salmo Responsorial: 23
R. Esta é a geração dos que procuram o Senhor.

Do Senhor é a terra e o que nela existe, o mundo e quantos nele habitam. Ele a fundou sobre os mares e a consolidou sobre as águas.

Quem poderá subir à montanha do Senhor? Quem habitará no seu santuário? O que tem as mãos inocentes e o coração puro, o que não invocou o seu nome em vão.

Este será abençoado pelo Senhor e recompensado por Deus, seu Salvador. Esta é a geração dos que O procuram, que procuram a face de Deus.

2ª Leitura (1Jo 3,1-3): Caríssimos: Vede que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamar filhos de Deus. E somo-lo de fato. Se o mundo não nos conhece, é porque não O conheceu a Ele. Caríssimos, agora somos filhos de Deus e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Mas sabemos que, na altura em que se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porque O veremos tal como Ele é. Todo aquele que tem n’Ele esta esperança purifica-se a si mesmo, para ser puro, como Ele é puro.

Aleluia. Vinde a Mim, vós todos os que andais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei, diz o Senhor. Aleluia.

Evangelho (Mt 5,1-12a): Naquele tempo, Vendo as multidões, Jesus subiu à montanha e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, e ele começou a ensinar: Felizes os pobres no espírito, porque deles é o Reino dos Céus. Felizes os que choram, porque serão consolados. Felizes os mansos, porque receberão a terra em herança. Felizes os que têm fome e sede da justiça, porque serão saciados. Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Felizes os puros de coração, porque verão a Deus. Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Felizes sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus. Pois foi deste modo que perseguiram os profetas que vieram antes de vós.

«Alegrai-vos e exultai»

Mons. F. Xavier CIURANETA i Aymí Bispo Emérito de Lleida (Lleida, Espanha)

Hoje, celebramos a realidade de um mistério salvador, expresso no credo, que se torna muito consolador: Creio na comunhão dos santos. Todos os santos que já passaram para a vida eterna, a começar pela Virgem Maria, formam uma unidade: Felizes os puros de coração, porque verão a Deus (Mt 5,8). E também estão, ao mesmo tempo, em comunhão conosco. A fé e a esperança não podem unir-nos, porque eles já gozam da visão eterna de Deus; mas une-nos, por outro lado, o amor que não passa nunca (1Cor 13,13); esse amor que nos une, juntamente com eles, ao mesmo Pai, ao mesmo Cristo Redentor e ao mesmo Espírito Santo. O amor que os torna solidários e solícitos para conosco. Portanto, não veneramos os santos somente pela sua exemplaridade, mas, sobretudo pela unidade no Espírito de toda a Igreja, que se fortalece com a prática do amor fraterno.

Por esta profunda unidade, devemos sentir-nos perto de todos os santos que, antes de nós, acreditaram e esperaram o mesmo que nós cremos e esperamos e, acima de tudo, amaram Deus Pai e os seus irmãos, os homens, procurando imitar o amor de Cristo.

Os santos apóstolos, os santos mártires, os santos confessores que viveram ao longo da história são, portanto, nossos irmãos e intercessores; neles se cumpriram as palavras proféticas de Jesus: Felizes sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus, (Mt 5,11-12). Os tesouros da sua santidade são bens de família, com que podemos contar. São estes os tesouros do céu, que Jesus convida a juntar (cf. Mt 6,20). Como afirma o Concílio Vaticano II, A nossa fraqueza é assim grandemente ajudada pela sua solicitude de irmãos (Lumen gentium, 49). Esta solenidade traz-nos uma notícia reconfortante, que nos convida à alegria e à festa.

Todos estamos chamados a ser santos por ser batizados.

Pe. Antonio Rivero L.C.


Hoje celebramos toda essa multidão inumerável de pessoas, irmãos nossos, que já gozam de Deus e continuam em comunhão conosco desde o céu. É uma festa que nos enche de alegria e otimismo: se eles puderam ser santos, por que nós não? Qual foi o segredo da sua santidade?

Em primeiro lugar, a festa de todos os Santos nos convida a celebrar, a principio, dois fatos. O primeiro é que, verdadeiramente, a força do Espírito de Jesus age em todas as partes, é uma semente capaz de arraigar em todas as partes, que não necessita condições especiais de raça, ou de cultura, ou de classe social. Por isso esta festa é uma festa gozosa, fundamentalmente gozosa: o Espírito de Jesus deu, e dá, e dará fruto, e dará em todas as partes. O segundo fato que celebramos é que todos esses homens e mulheres de todo tempo e lugar têm algo em comum, algo que os une. Todos eles “lavaram e alvejaram as suas vestes no sangue do Cordeiro”, mediante o batismo (1ª leitura). Todos eles foram pobres, famintos e sedentos de justiça, limpos de coração, trabalhadores da paz (Evangelho). E isso os une. Porque hoje não celebramos uma festa superficial, hoje não celebramos que “no fundo, todo mundo é bom e tudo terminará bem”, mas celebramos a vitória dolorosamente alcançada por tantos homens e mulheres no seguimento do Evangelho (conhecendo-o explicitamente ou sem conhecê-lo). Porque existe algo que une o santo desconhecido das selvas amazônicas com o mártir das perseguições de Nero e com qualquer outro santo de qualquer outro lugar: une-os a busca e a luta por uma vida mais fiel, mais entregada, mais dedicada ao serviço dos irmãos e do mundo novo que Deus quer.

Em segundo lugar, celebramos, portanto, esses dois fatos: que com Deus vivem já homens e mulheres de todo tempo e lugar, e que esses homens e mulheres lutaram com esforço no caminho do amor, que é o caminho de Deus. Mas ai podemos acrescentar também um terceiro aspecto: Santo Agostinho, na homilia que a Liturgia das Horas oferece para o dia de São Lourenço, explica isso deste modo: “Os santos mártires imitaram Cristo até o derramamento de seu sangue, até a semelhança da sua paixão. Imitaram-no os mártires, mas não só eles. A ponte não caiu depois deles terem passado; a fonte não se secou depois deles terem bebido nela”. Santo Agostinho se dirigia a uns cristãos que acreditavam que talvez só os mártires, os que nas perseguições tinham derramado o sangue pela fé, compartilhariam a gloria de Cristo. E às vezes nós também pensamos a mesma coisa: que a santidade é um heroísmo próprio só de alguns. E ano é assim. A santidade, o seguimento fiel e esforçado de Jesus Cristo, é também para nós: para todos nós e para cada um de nós. É algo exigente, sem dúvida; é algo para gente entregada, que leva as coisas à serio, não para gente superficial e que se limita a ir empurrando as coisas com a barriga.  Porém somos nós, cada um de nós, os chamados a essa santidade, a esse seguimento. Como dizia Santo Agostinho na homilia citada antes: “Nenhum homem, seja qual for o seu gênero de vida, deve desesperar da sua vocação” (…). “Entendamos, pois, de que maneira o cristão tem que seguir Cristo, ademais do derramamento de sangue, ademais do martírio”. E hoje, na festa de Todos os Santos, somos convidados a celebrar que também nós podemos entender e descobrir a nossa maneira de seguir Cristo.  

Finalmente, portanto, a festa de hoje é um chamado à santidade para todos nós. Ser santos não é fazer necessariamente milagres, nem deixar obras surpreendentes para a história. É difícil definir o que é a santidade, mas todos esses santos que hoje celebramos nos demonstram que seguir Cristo é possível, e que isso é santidade. Tiveram defeitos. Não eram perfeitos. Cometeram pecados. Foram “normais”. Porém creram no Evangelho e o cumpriram. Alguns deixaram uma pegada profunda. Outros passaram despercebidos. E hoje honramos todos. E aceitamos o seu convite para seguir o seu caminho. Aqui também recomendaria ler a “Lumen Gentium” do Concilio Vaticano II, nos seus números 39-41, que faz um chamamento à santidade aos cristãos de todos os estados: hierarquia, leigos, religiosos.

Para refletir: Realmente estou convencido de que não só posso ser santo, mas que devo ser santo, por ser batizado? Peço a intercessão dos meus irmãos santos que já gozam da amizade eterna com Deus no céu, ou nem sequer me lembro deles? Quais são os santos da minha devoção e por quê?

Para rezar: Senhor, meu Deus, ajudai-me a ser santo. Santo sem premio, santo para não vos ofender, santo para servir melhor os demais. Senhor, no dia de hoje, que recorramos e celebramos a memória de todos os Santos, ajudai-me a me aproximar mais de Vós. A eles rogo que peça ao Espírito, que conceda os dons necessários para ser melhor. Não porque eu mereça algo, mas para que o meu louvor chegue a Vós, mais pleno. Senhor, perdoai-me, pelas minhas faltas e pecados, por tudo o que podia ter feito e não fiz, por tudo o que podia ter servido e não servi, por tudo o que desperdicei. Dai-me a vossa benção para que o resto da minha vida, seja fiel e caridoso, luz vossa e servidor de todos. Segundo Vós me peçais em cada momento. Obrigado, Senhor, pela vossa Misericórdia para comigo. Amém.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Quarta-feira da 30ª semana do Tempo Comum


1ª Leitura (Ef 6,1-9): Filhos, obedecei aos vossos pais, no Senhor, como é justo: «Honra pai e mãe» é o primeiro mandamento acompanhado de uma promessa: «para que sejas feliz e tenhas vida longa sobre a terra». Pais, não exaspereis os vossos filhos, mas educai-os com a disciplina e os conselhos inspirados pelo Senhor. Servos, obedecei aos vossos senhores terrenos, como a Cristo, com temor e respeito e na simplicidade de coração; não com a submissão aparente de quem pretende agradar aos homens, mas como servos de Cristo, que com toda a alma fazem a vontade de Deus. Servi de bom grado, como se servísseis ao Senhor e não a homens, pois sabeis que cada um receberá do Senhor a recompensa do bem que tiver praticado, quer seja escravo ou homem livre. E vós, senhores, tratai os vossos servos do mesmo modo; evitai as ameaças, pois sabeis que tanto eles como vós tendes o mesmo Senhor, que está no Céu e não faz distinção de pessoas.

Salmo Responsorial: 144
R. O Senhor é fiel em todas as suas palavras.

Graças Vos deem, Senhor, todas as criaturas e bendigam-Vos os vossos fiéis. Proclamem a glória do vosso reino e anunciem os vossos feitos gloriosos;

Para darem a conhecer aos homens o vosso poder, a glória e o esplendor do vosso reino. O vosso reino é um reino eterno, o vosso domínio estende-se por todas as gerações.

O Senhor é fiel à sua palavra e perfeito em todas as suas obras. O Senhor ampara os que vacilam e levanta todos os oprimidos.

Aleluia. Deus chamou-nos por meio do Evangelho, para alcançarmos a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo. Aleluia.

Evangelho (Lc 13,22-30): Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o caminho para Jerusalém. Alguém lhe perguntou: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” Ele respondeu: ”Esforçai-vos por entrar pela porta estreita. Pois eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta! ’. Ele responderá: ‘Não sei de onde sois’. Então começareis a dizer: ‘Comemos e bebemos na tua presença, e tu ensinaste em nossas praças! ’. Ele, porém, responderá: ‘Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim, todos vós que praticais a iniquidade! ’ E ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac e Jacó, junto com todos os profetas, no Reino de Deus, enquanto vós mesmos sereis lançados fora. Virão muitos do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. E assim há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos».

«Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?»

Rev. D. Lluís RAVENTÓS i Artés (Tarragona, Espanha)

Encerramento do Mês Missionário
Hoje, a caminho de Jerusalém, Jesus se detém um momento e alguém aproveita para perguntar: «Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?» (Lc 13,23). Talvez, ao escutar a Jesus, aquele homem se inquietou. Realmente, o que Jesus ensina é maravilhoso e atrativo, mas as exigências que admite já não são tão de seu agrado. Mas, e se vivesse o Evangelho à sua vontade, com una “moral a la carte”? que probabilidades teria de se salvar?

Assim pois, pergunta: «Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?» Jesus não aceita esta sugestão. A salvação é uma questão muito séria como para ser resolvida mediante um cálculo de probabilidades. DEUS «não quer que ninguém se perca, e sim que todos se convertam» (2Pe 3,9).

Jesus responde: «Esforçai-vos por entrar pela porta estreita. Pois eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. ‘Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta! ’. Ele responderá: ‘Não sei de onde sois’.» (Lc 13,24-25). Como podem ser ovelhas de seu rebanho se não seguem ao Bom Pastor, nem aceitam o Magistério da Igreja? «Ele, porém, responderá: ‘Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim, todos vós que praticais a iniquidade! E ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac e Jacó, junto com todos os profetas, no Reino de Deus, enquanto vós mesmos sereis lançados fora.» (Lc 13,27-28).

Nem Jesus, nem a Igreja temem que a imagem de Deus Pai seja manchada ao revelar o mistério do inferno. Como afirma o Catecismo da Igreja, «as afirmações da Sagrada Escritura e os ensinamentos da Igreja a propósito do inferno são um chamado à responsabilidade com a qual o homem deve usar sua liberdade em relação com seu destino eterno. Constituem ao mesmo tempo um rápido chamado à conversão» (n. 1036).

“Deixemos de brincar de espertos” e de fazer cálculos. Preocupemo-nos por entrar pela porta estreita, voltando a começar tantas vezes quantas sejam necessária, confiados em sua misericórdia «Todo isso, que te preocupa de momento — diz são Josemaria — importa más o menos — O que importa absolutamente é que seja feliz, que te salves».

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje traz mais um episódio acontecido durante a longa caminhada de Jesus desde a Galileia até Jerusalém, cuja descrição ocupa mais de uma terça parte do evangelho de Lucas (Lc 9,51 a 19,28).

* Lucas 13,22: A caminho de Jerusalém
“Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo caminho para Jerusalém”.  Mais uma vez Lucas menciona que Jesus está a caminho de Jerusalém. Durante os dez capítulos que descrevem a viagem até Jerusalém (Lc 9,51 a 19,28), Lucas, constantemente, lembra que Jesus está a caminho de Jerusalém (Lc 9,51.53.57; 10,1.38; 11,1; 13,22.33; 14,25; 17,11; 18,31; 18,37; 19,1.11.28). O que é claro e definido, desde o começo, é o destino da viagem: Jerusalém, a capital, onde Jesus será preso e morto (Lc 9,31.51). Raramente, informa o percurso e os lugares por onde Jesus passava. Só no começo da viagem (Lc 9,51), no meio (Lc 17,11) e no fim (Lc 18,35; 19,1), ficamos sabendo algo a respeito do lugar por onde Jesus estava passando. Deste modo, Lucas sugere o seguinte ensinamento: temos que ter claro o objetivo da nossa vida, e assumi-lo decididamente como Jesus fez. Devemos caminhar. Não podemos parar. Nem sempre, porém, é claro e definido por onde passamos. O que é certo é o objetivo: Jerusalém, onde nos aguarda o “êxodo” (Lc 9,31), a paixão, morte e ressurreição.

* Lucas 13,23: A pergunta sobre o número dos que se salvam
Nesta caminhada para Jerusalém acontece de tudo: informações sobre massacres e desastres (Lc 13,1-5), parábolas (Lc 13,6-9.18-21), discussões (Lc 13,10-13) e, no evangelho de hoje, perguntas do povo: "Senhor, é verdade que são poucos aqueles que se salvam?" Sempre a mesma pergunta em torno da salvação!

* Lucas 13,24-25: A porta estreita
Jesus diz que a porta é estreita: "Façam todo o esforço possível para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo: muitos tentarão entrar, e não conseguirão”.  Será que Jesus diz isto só para encher-nos de medo e obrigar-nos a observar a lei como ensinavam os fariseus? O que significa esta porta estreita? De que porta se trata? No Sermão da Montanha Jesus sugere que a entrada para o Reino tem oito portas. São as oito categorias de pessoas das bem-aventuranças: (1) pobres em espírito, (2) mansos, (3) aflitos, (4) famintos e sedentos de justiça, (5) misericordiosos, (6) puros de coração, (7) construtores da paz e (8) perseguidos por causa da justiça (Mt 5,3-10). Lucas as reduziu para quatro: (1) pobres, (2) famintos, (3) tristes e (4) perseguidos (Lc 6,20-22). Só entra no Reino quem pertence a uma destas categorias enumeradas nas bem-aventuranças. Esta é a porta estreita. É o novo olhar sobre a salvação que Jesus nos comunica. Não há outra porta! Trata-se da conversão que Jesus pede de nós. Ele insiste: "Façam todo o esforço possível para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo: muitos tentarão entrar, e não conseguirão. Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vocês vão ficar do lado de fora. E começarão a bater na porta, dizendo: Senhor, abre a porta para nós! E ele responderá: Não sei de onde são vocês”. Enquanto a hora do julgamento não chegar, é tempo favorável para a conversão, para mudar nossa visão sobre a salvação e entrar em uma das oito categorias.

* Lucas 13,26-28: O trágico mal-entendido
Deus responde aos que batem na porta: “Não sei de onde são vocês”. Mas eles insistem e argumentam: Nós comíamos e bebíamos diante de ti, e tu ensinavas em nossas praças! Não basta ter convivido com Jesus, de ter participado da multiplicação dos pães e de ter escutado seus ensinamentos nas praças das cidades e povoados. Não basta ter ido à igreja e de ter participado das instruções do catecismo. Deus responderá: Não sei de onde são vocês. Afastem-se de mim, todos vocês que praticam injustiça!”. Mal-entendido trágico e falta total de conversão, de compreensão. Jesus declara injustiça aquilo que os outros consideram ser coisa justa e agradável a Deus. É uma visão totalmente nova sobre a salvação. A porta é realmente estreita.

* Lucas 13,29-30: A chave que explica o mal-entendido
“Muita gente virá do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. Vejam: há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos".  Trata-se da grande mudança que se operou com a vinda de Deus até nós em Jesus. A salvação é universal e não só do povo judeu. Todos os povos terão acesso e poderão passar pela porta estreita.

Para um confronto pessoal
1) Ter o objetivo claro e caminhar para Jerusalém: Será que tenho objetivos claros na minha vida ou deixo-me levar pelo vento do momento da opinião pública?
2) A porta é estreita. Qual a visão que tenho da Deus, da vida, da salvação?

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

30 de outubro


Beata Maria Teresa de São José
Virgem, fundadora das Irmãs Carmelitas do Divino Coração de Jesus.
A beata Maria Teresa de São José cujo nome do batismo era Anna Maria Tauscher. Nasceu em 1855, em Sandow, então Alemanha e hoje Polônia, filha e neta de pastores luteranos. Desde muito jovem queria consagrar-se por inteiro ao serviço de Deus e da evangelização, adorava a presença de Cristo na Eucaristia, amava a são José e defendia a virgindade perpétua de Nossa Senhora antes, inclusive, de ter qualquer contato com católicos ou com a doutrina católica. Sua definitiva conversão ao catolicismo teve lugar depois de ler o Livro da Vida de santa Teresa de Jesus. Expulsa da família, pobre e enferma, incompreendida pelas autoridades religiosas, nunca desanimou. Depois de muitos sofrimentos e decepções, pode fundar uma congregação religiosa de espiritualidade carmelitana ao serviço dos necessitados: as Irmãs Carmelitas do Divino Coração de Jesus. Confiando sempre na Divina Providência, ela mesma fundou numerosas casas em vários países da Europa e América. Foi beatificada em 2006.

Salmodia, Leitura, Responsório breve e Preces do Dia Corrente.

Oração
Deus onipotente e misericordioso que inspirastes à beata Maria Teresa de São José um zelo admirável ao serviço de vosso povo, concedei-nos, por sua intercessão, a graça de trabalhar com o mesmo amor para a edificação da Igreja, mesmo em meio das dificuldades. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco, na unidade do Espírito Santo.

Terça-feira da 30ª semana do Tempo Comum


Bta. Maria Teresa de São José
Virgem de nossa Ordem, fundadora das 
Irmãs Carmelitas do Divino Coração de Jesus.
1ª Leitura (Ef 5,21-33): Irmãos: Sede submissos uns aos outros no temor de Cristo. As mulheres submetam-se aos maridos como ao Senhor, porque o marido é a cabeça da mulher, como Cristo é a cabeça da Igreja, seu Corpo, do qual é o Salvador. Ora, como a Igreja se submete a Cristo, assim também as mulheres se devem submeter em tudo aos maridos. Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela. Ele quis santificá-la, purificando-a no batismo da água pela palavra da vida, para apresentá-la a Si mesmo como Igreja cheia de glória, sem mancha nem ruga, nem coisa alguma semelhante, mas santa e imaculada. Assim devem os maridos amar as suas mulheres, como os seus corpos. Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo. Ninguém, de fato, odiou jamais o seu corpo, antes o alimenta e lhe presta cuidados, como Cristo à Igreja; porque nós somos membros do seu Corpo. Por isso, o homem deixará pai e mãe, para se unir à sua mulher, e serão dois numa só carne. É grande este mistério, digo-o em relação a Cristo e à Igreja. Portanto, cada um de vós ame a sua mulher como a si mesmo e a mulher respeite o marido.

Salmo Responsorial: 18
R. Felizes os que esperam no Senhor.

Feliz de ti, que temes o Senhor e andas nos seus caminhos. Comerás do trabalho das tuas mãos, serás feliz e tudo te correrá bem.

Tua esposa será como videira fecunda no íntimo do teu lar; teus filhos serão como ramos de oliveira ao redor da tua mesa.

Assim será abençoado o homem que teme o Senhor. De Sião te abençoe o Senhor: vejas a prosperidade de Jerusalém todos os dias da tua vida.

Aleluia. Bendito sejais, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque revelastes aos pequeninos os mistérios do reino. Aleluia.

Evangelho (Lc 13,18-21): Naquele tempo, Jesus dizia: A que é semelhante o Reino de Deus, e com que poderei compará-lo? É como um grão de mostarda que alguém pegou e semeou no seu jardim: cresceu, tornou-se um arbusto, e os pássaros do céu foram fazer ninhos nos seus ramos. Jesus disse ainda: Com que mais poderei comparar o Reino de Deus? É como o fermento que uma mulher pegou e escondeu em três porções de farinha, até tudo ficar fermentado.

«A que é semelhante o Reino de Deus»

+ Rev. D. Francisco Lucas MATEO Seco (Pamplona, Navarra, Espanha)

Hoje, os textos da liturgia, mediante duas parábolas, põem diante de nossos olhos uma das características próprias do Reino de Deus: é algo que cresce lentamente - como um grão de mostarda - mas que chega a ser grande ao ponto de oferecer refúgio às aves do céu. Assim o manifestava Tertuliano: Somos de ontem e enchemos tudo! Com essa parábola, Nosso Senhor exorta à paciência, à fortaleza e à esperança. Essas virtudes são particularmente necessárias a aqueles que se dedicam à propagação do Reino de Deus. É necessário saber esperar a que a semente plantada, com a graça de Deus e com a cooperação humana, vá crescendo, aprofundando suas raízes na boa terra e elevando-se pouco a pouco até converter-se em árvore. Faz falta, em primeiro lugar, ter fé na virtualidade -fecundidade-contida na semente do Reino de Deus. Essa semente é a Palavra; é também a Eucaristia, que se semeia em nós mediante a comunhão. Nosso Senhor Jesus Cristo se comparou a si mesmo com : verdade, em verdade vos digo; se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer produz muito fruto;(Jo 12,24).

O Reino de Deus prossegue Nosso Senhor, é semelhante, é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e misturou em três medidas de farinha e toda a massa ficou levedada (Lc 13,21). Também aqui se fala da capacidade que tem a levedura de fazer fermentar toda a massa. Assim sucede com: o resto de Israel, de que se fala no Antigo Testamento: o resto salvará e fermentará a todo o povo. Seguindo com a parábola, só é necessário que o fermento esteja dentro da massa, que chegue ao povo, que seja como o sal capaz de preservar da corrupção e de dar bom sabor a todo alimento (cf. Mt 5,13). Também é necessário dar tempo para que a levedura realize seu labor.

Parábolas que animam a paciência e a esperança; parábolas que se referem ao Reino de Deus e à Igreja, e que se aplicam também ao crescimento deste mesmo Reino em cada um de nós.

Reflexão

Outubro - Mês Missionário
Depois de se ter manifestado como senhor do tempo, ao curar a mulher curvada em dia de sábado, Jesus manifesta-se como o «hoje» da salvação que se realiza no amor. O reino de Deus está no meio de nós. As duas parábolas do texto evangélico que escutamos hoje revelam-nos duas características desse reino: a sua grande expansão e a sua força transformadora.

Entre as várias narrativas parabólicas que Lucas coloca ao narrar a caminhada de Jesus para Jerusalém, apenas estas duas se referem ao reino de Deus. Esse reino tem uma grande expansão no mundo, graças à pregação dos discípulos. Os modestos começos do ministério de Jesus têm um grande desenvolvimento: a sua palavra que ecoa no mundo inteiro e da qual todos recebem vida, é comparável à árvore cósmica de Daniel (4, 7ª-9), cuja imagem é evocada no crescimento do arbusto de mostarda (vv. 18s.).

Outra característica do reino de Deus é a sua força intrínseca, que realiza um crescimento qualitativo no mundo. Como um pouco de fermento escondido na massa inerte de farinha provoca o seu crescimento, assim o reino de Deus, pela evangelização animada pelo poder do Espírito Santo, transforma todo o mundo, sem qualquer discriminação.

As parábolas sobre o Reino animam-nos à confiança e à paciência. À confiança, porque o Senhor nos revela que o reino de Deus cresce em nós. É semelhante a uma pequena semente, mas tem uma grande força, semelhante à de um pouco de fermento que faz levedar três medidas de farinha. O fermento não se vê, mas atua em segredo, tal como a semente está escondida na terra, mas está viva e pode dar origem a uma grande árvore.
O Reino tem, pois, uma grande força dinâmica. Ora, esta força está em nós, porque Deus está em nós, atua em nós para transformar a nossa vida. Por enquanto não vemos o que faz: está escondido, é segredo, mas certamente faz grandes coisas.

A única condição é misturar o fermento em todas as medidas de farinha, como faz a mulher ao amassar. Fora de comparações: devemos guardar em nós este fermento e misturá-lo na nossa vida na oração, na reflexão, na decisão firme; devemos amassar sempre em nós o bom trigo do Evangelho com a nossa vida, não separar a nossa vida da palavra do Senhor, confrontar-nos em todas as situações com as propostas de Jesus, com a sua presença em nós.

O fermento é, também, o pão eucarístico que cada dia nos é oferecido. Recebendo o Corpo real de Cristo, podemos deixar-nos transformar em cada vez mais, e mais profundamente, no Corpo Místico de Cristo.

Acolhendo em nós a Palavra e o Pão, podemos caminhar com confiança e paciência rumo à santidade e pôr-nos ao serviço do Senhor, «contribuir para instaurar o reino da justiça e da caridade cristã no mundo» (Cst. 32), para que, «a comunidade humana, santificada pelo Espírito Santo, se torne uma oblação agradável a Deus (cf. Rom 15,16)» (Cst. 31). Assim seremos fermento, luz, sal, testemunhas da «presença de Cristo» entre os homens e do «Reino de Deus que vem» (Cst. 50) ou, «com a graça de Deus, pela nossa vida religiosa, dar um testemunho profético, empenhando-nos sem reserva, no advento da nova humanidade em Jesus Cristo» (Cst n. 39). 

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Segunda-feira da 30ª semana do Tempo Comum


Primeira leitura (Ef 4,32–5,8): Irmãos: Sede bondosos uns para com os outros, compassivos; perdoai-vos mutuamente, como também Deus vos perdoou em Cristo.Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos bem amados, e procedei com amor, como também Cristo nos amou e se entregou a Deus por nós como oferta e sacrifício de agradável odor. Mas de prostituição e qualquer espécie de impureza ou ganância nem sequer se fale entre vós, como é próprio de santos; nem haja palavras obscenas, insensatas ou grosseiras; são coisas que não convêm; haja, sim, ação de graças. Porque, disto deveis ter a certeza: nenhum fornicador, impuro ou ganancioso – o que equivale a idólatra – tem herança no Reino de Cristo e de Deus. Ninguém vos engane com palavras ocas; pois são estas coisas que provocam a ira de Deus contra os rebeldes. Não sejais, pois, cúmplices deles. É que outrora éreis trevas, mas agora sois luz, no Senhor. Procedei como filhos da luz.

Salmo Responsorial (Sl 1)
R. Sejamos, pois, imitadores do Senhor,como convém aos amados filhos seus.

- Feliz é todo aquele que não anda conforme os conselhos dos perversos; que não entra no caminho dos malvados nem junto aos zombadores vai sentar-se; mas encontra seu prazer na lei de Deus e a medita, dia e noite, sem cessar.

- Eis que ele é semelhante a uma árvore que à beira da torrente está plantada; ela sempre dá seus frutos a seu tempo, e jamais as suas folhas vão murchar. Eis que tudo o que ele faz vai prosperar.

- Mas bem outra é a sorte dos perversos.  Ao contrário, são iguais à palha seca  espalhada e dispersada pelo vento. Pois Deus vigia o caminho dos eleitos, mas a estrada dos malvados leva à morte.

Aleluia. Vossa palavra é a verdade; santificai-nos na verdade! Aleluia.

Evangelho (Lc 13,10-17): Naquele tempo, Jesus estava ensinando numa sinagoga, num dia de sábado. Havia aí uma mulher que, dezoito anos já, estava com um espírito que a tornava doente. Era encurvada e totalmente incapaz de olhar para cima. Vendo-a, Jesus a chamou e lhe disse: «Mulher, estás livre da tua doença». Ele impôs as mãos sobre ela, que imediatamente se endireitou e começou a louvar a Deus.  O chefe da sinagoga, porém, furioso porque Jesus tinha feito uma cura em dia de sábado, se pôs a dizer à multidão: Há seis dias para trabalhar. Vinde, pois, nesses dias para serdes curados, mas não em dia de sábado. O Senhor respondeu-lhe: «Hipócritas! Não solta cada um de vós seu boi ou o jumento do curral, para dar-lhe de beber, mesmo que seja em dia de sábado? Esta filha de Abraão, que Satanás amarrou durante dezoito anos, não devia ser libertada dessa prisão, mesmo em dia de sábado?». Essa resposta envergonhou todos os inimigos de Jesus. E a multidão inteira se alegrava com as maravilhas que ele fazia.

«O chefe da sinagoga, porém, furioso porque Jesus tinha feito uma cura em dia de sábado»

Rev. D. Francesc JORDANA i Soler (Mirasol, Barcelona, Espanha)

Hoje, vemos a Jesus realizar uma ação que proclama seu messianismo. E ante ela o chefe da sinagoga se indigna e repreende as pessoas para que não venham curar-se em dia de sábado: Mas o chefe da sinagoga, indignado de ver que Jesus curava no sábado, disse ao povo: «São seis os dias em que se deve trabalhar; vinde, pois, nestes dias para vos curar, mas não em dia de sábado» (Lc 13,14).

Eu gostaria que nos concentrássemos na atitude deste personagem. Sempre me surpreendeu que, diante de um milagre evidente, alguém seja capaz de fechar-se de tal modo que o que Ele viu, não lhe afeta no mais mínimo. É como se não tivesse visto o que acabava de ocorrer e o que isso significa. O motivo está na vivência equivocada das mediações que muitos judeus tinham naquele tempo. Por diferentes motivos - antropológicos, culturais, desígnio divino- é inevitável que entre Deus e o homem haja umas mediações. O problema é que alguns judeus fazem da mediação um absoluto. De maneira que a mediação não lhes põe em comunicação com Deus, e sim, ficam na sua própria mediação. Esquecem que são os últimos e ficam no meio. Dessa maneira não pode comunicar-lhes suas graças, seus dons, seu amor e, portanto sua experiência religiosa não enriquecerá sua vida.

Tudo isso lhes conduz a uma vivência rigorosa da religião, a encerrar seu deus em uns meios. Fazem um deus sob medida e não o deixam entrar em suas vidas. Na sua religiosidade acham que tudo está solucionado se cumprem com algumas normas. Compreende-se assim a reação de Jesus: «Hipócritas!, disse-lhes o Senhor. Não desamarra cada um de vós no sábado o seu boi ou o seu jumento da manjedoura, para os levar a beber?»(Lc 13,15). Jesus descobre a falta de sentido dessa equivocada vivência do sabath.

Esta palavra de Deus deveria nos ajudar a examinar nossa vivência religiosa e descobrir se realmente as mediações que utilizamos nos põe em comunicação com Deus e com a vida. Somente desde a correta vivência das mediações podemos entender a frase de Santo Agostinho: «Ama e faz o que queiras».

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

*  Lucas 13,10-11: A situação que vai provocar a ação de Jesus
Jesus está na sinagoga num dia do repouso. Ele cumpre a lei, guardando o sábado e participando da celebração com seu povo. Lucas informa que Jesus estava ensinando. Havia na sinagoga uma mulher encurvada. Lucas diz que um espírito de fraqueza a impedia de tomar posição reta. Era a maneira do povo daquele tempo explicar as doenças. Já fazia dezoito anos que a mulher estava nessa situação. Ela não fala, não tem nome, não pede para ser curada, não toma nenhuma iniciativa. Sua passividade chama a atenção.

*  Lucas 13,12-13: Jesus cura a mulher
Vendo a mulher, Jesus a chama e lhe diz: “Mulher, você está livre da sua doença!”. A ação de libertar é realizada pela palavra, dirigida diretamente à mulher, e pelo toque da imposição das mãos. Imediatamente, ela fica de pé e começa a louvar o Senhor. Há uma relação entre o colocar-se de pé e dar glória a Deus. Jesus faz a mulher ficar de pé, para que ela possa louvar a Deus no meio do povo reunido em assembléia. A sogra de Pedro, quando curada, levantou-se e se pôs a servir (Mc 1,31). Louvar a Deus e servir aos irmãos!

*  Lucas 13,14: A reação do chefe da sinagoga
O chefe da sinagoga ficou furioso com a ação de Jesus, por ele ter feito a cura num dia de sábado: “Há seis dias para o trabalho! Portanto, venham num destes dias para serem curados e não no dia de sábado!”. Na crítica do chefe da sinagoga ao povo ressoa a palavra da Lei de Deus que dizia: “Lembre-se do dia de sábado, para santificá-lo. Trabalhe durante seis dias e faça todas as suas tarefas. O sétimo dia, porém, é o sábado de Javé seu Deus. Não faça nenhum trabalho”. (Ex 20,8-10). Nesta reação autoritária do chefe temos uma chave para entender por que motivo o povo estava tão oprimido e por que a mulher não podia participar naquele tempo. A dominação das consciências através da manipulação da lei de Deus era muito forte. Era esta a maneira de eles manterem o povo submisso e encurvado.

*  Lucas 13,15-16: A resposta de Jesus ao chefe da sinagoga
O chefe condenou as pessoas porque ele queria que observassem a Lei de Deus. Aquilo que para o chefe da sinagoga é observância da lei de Deus, é hipocrisia para Jesus: "Hipócritas! Cada um de vocês não solta do curral o boi ou o jumento para dar-lhe de beber, mesmo que seja dia de sábado? Aqui está uma filha de Abraão que Satanás amarrou durante dezoito anos. Será que não deveria ser libertada dessa prisão, em dia de sábado?" Com este exemplo tirado da vida diária, Jesus mostra a incoerência desse tipo de observância da lei de Deus. Se é permitido desamarrar um boi e um jumento em dia de sábado só para dar-lhes de beber, muito mais é permitido desamarrar uma filha de Abraão para liberta-la do poder do mal. O verdadeiro sentido da observância da Lei que agrada a Deus é este: libertar as pessoas do poder do mal e colocá-las de pé, para que possam glorificar a Deus e render-lhe homenagem. Jesus imita Deus que endireita os encurvados (Sl 145,14; 146,8).

*  Lucas 13,17: A reação do povo diante da ação de Jesus
O ensinamento de Jesus deixa confusos os seus adversários, mas a multidão se enche de alegria pelas coisas maravilhosas que Jesus está realizando: “Toda a multidão se alegrava com as maravilhas que Jesus fazia”. Na Palestina do tempo de Jesus, a mulher vivia encurvada, submissa ao marido, aos pais e aos chefes religiosos do seu povo. Esta situação de submissão era justificada pela religião. Mas Jesus não quer que ela fique encurvada. Desatar e libertar as pessoas não tem dia marcado. É todos os dias, mesmo em dia de sábado!

Para um confronto pessoal
1. Será que a situação da mulher mudou muito de lá para cá? Qual a situação da mulher hoje na sociedade e na igreja? Tem alguma relação entre religião e opressão da mulher?
2. A multidão se alegrou com a ação de Jesus. Qual a libertação que está acontecendo hoje e que está levando a multidão a se alegrar e dar graças a Deus?

XXX Domingo do Tempo Comum


Primeira Leitura (Jr 31,7-9): Isto diz o Senhor: Exultai de alegria por Jacó, aclamai a primeira das nações; tocai, cantai e dizei: 'Salva, Senhor, teu povo, o resto de Israel.’ Eis que eu os trarei do país do Norte e os reunirei desde as extremidades da terra; entre eles há cegos e aleijados, mulheres grávidas e parturientes: são uma grande multidão os que retornam. Eles chegarão entre lágrimas e eu os receberei entre preces; eu os conduzirei por torrentes d'água, por um caminho reto onde não tropeçarão, pois tornei-me um pai para Israel, e Efraim é o meu primogênito'.

Salmo Responsorial (Sl 125,1-2ab.2cd-3.4-5.6 (R. 3)
R. Maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!

Quando o Senhor reconduziu nossos cativos, parecíamos sonhar;
encheu-se de sorriso nossa boca, nossos lábios, de canções.

Entre os gentios se dizia: 'Maravilhas fez com eles o Senhor!'
Sim, maravilhas fez conosco o Senhor, exultemos de alegria!

Mudai a nossa sorte, ó Senhor, como torrentes no deserto.
Os que lançam as sementes entre lágrimas, ceifarão com alegria.

Chorando de tristeza sairão, espalhando suas sementes;
cantando de alegria voltarão, carregando os seus feixes!

Segunda Leitura (Hb 5,1-6): Todo sumo sacerdote é tirado do meio dos homens e instituído em favor dos homens nas coisas que se referem a Deus, para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. Sabe ter compaixão dos que estão na ignorância e no erro, porque ele mesmo está cercado de fraqueza. Por isso, deve oferecer sacrifícios tanto pelos pecados do povo, quanto pelos seus próprios. Ninguém deve atribuir-se esta honra, senão o que foi chamado por Deus, como Aarão. Deste modo, também Cristo não se atribuiu a si mesmo a honra de ser sumo sacerdote, mas foi aquele que lhe disse: 'Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei'. Como diz em outra passagem: 'Tu és sacerdote para sempre, na ordem de Melquisedec'.

Aleluia. Jesus Cristo, Salvador, destruiu o mal e a morte; fez brilhar, pelo Evangelho, a luz e a vida imperecíveis. Aleluia.

Evangelho (Mc 10,46-52): Naquele tempo, chegaram a Jericó. Quando Jesus estava saindo da cidade, acompanhavam-no os discípulos e uma grande multidão. O mendigo cego, Bartimeu, filho de Timeu, estava sentado à beira do caminho. Ouvindo que era Jesus Nazareno, começou a gritar: Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim. Muitos o repreendiam para que se calasse. Mas ele gritava ainda mais alto: Filho de Davi, tem compaixão de mim. Jesus parou e disse: Chamai-o! Eles o chamaram, dizendo: Coragem, levanta-te! Ele te chama! O cego jogou o manto fora, deu um pulo e se aproximou de Jesus. Este lhe perguntou: Que queres que eu te faça? O cego respondeu: Rabûni, meu Mestre, que eu veja. Jesus disse: Vai, tua fé te salvou. No mesmo instante, ele recuperou a vista e foi seguindo Jesus pelo caminho.

«Que queres que eu te faça? O cego respondeu: Rabûni, meu Mestre, que eu veja»

+ Rev. D. Pere CAMPANYÀ i Ribó (Barcelona, Espanha)

Stos Simão e Judas, Apóstolos
Hoje, contemplamos um homem que, na sua desgraça, encontra a verdadeira felicidade graças a Jesus Cristo. Trata-se de uma pessoa com duas carências: falta de visão corporal e incapacidade de ganhar a vida, o que o obriga a mendigar. Precisa de ajuda e fica junto do caminho, à saída de Jericó, onde passam muitos caminhantes.

Por sorte dele, naquela ocasião quem passa é Jesus, acompanhado dos seus discípulos e outras pessoas. Sem dúvida, o cego já tinha ouvido falar de Jesus; haviam-lhe comentado que fazia prodígios e, ao saber que passa perto dele, começa a gritar: Filho de Davi, tem compaixão de mim!(Mc 10,47). Os acompanhantes do Mestre ficam incomodados com os gritos do cego, não pensam na triste situação daquele homem, são egoístas. Porém Jesus quer responder ao mendigo e faz com que o chamem. Imediatamente o cego se encontra perante o Filho de Davi e o diálogo começa com uma pergunta e uma resposta: Jesus, dirigindo-se a ele, disse: Que queres que eu te faça? O cego respondeu: Rabûni, que eu veja!(Mc 10,51). E Jesus concede-lhe a dupla visão: a física e a mais importante, a fé, que é a visão interior de Deus. São Clemente de Alexandria diz: Ponhamos fim ao esquecimento da verdade; despojemo-nos da ignorância e da obscuridade que, como uma nuvem, ofuscam os nossos olhos, e contemplemos Aquele que é realmente Deus.

Queixamo-nos frequentemente e dizemos: Não sei rezar. Sigamos, então, o exemplo do cego do Evangelho: Insiste em chamar Jesus e, com três palavras, diz-lhe do que necessita. Falta-nos fé? Digamos-lhe: Senhor, aumenta a minha fé. Temos familiares ou amigos que deixaram de praticar? Então, rezemos assim: Senhor Jesus, faz que vejam. A fé é assim tão importante? Se a compararmos com a visão física, que diremos? A situação do cego é triste, mas muito mais triste é a daqueles que não creem. Digamos-lhes: O Mestre lhe chama, apresenta-lhe as suas necessidades e Jesus responderá com generosidade.

Processo de fé e iluminação deste cego até chegar a Jesus, encontrar-se com Ele, receber a cura e segui-lo.

Pe. Antonio Rivero L.C.

A dinâmica da fé é a essência do discipulado, porque só a adesão total- a comunhão estreita com o Mestre- faz possível o seguimento Dele em todos os aspectos da vida. Este homem cego e pobre é o modelo do que sabe responder o chamado de Jesus: “Anda, levanta, Ele te chama!” (10,49), passando do estar “sentado na beira do caminho” (10,46) para “segui-lo pelo caminho” (10,52).

Em primeiro lugar, vejamos a situação deste cego. Na beira do caminho, aparece Bartimeu, humilde cego e mendigo, quem foi para se acomodar no justo lugar por onde deviam passar os peregrinos. Excluído da vida religiosa por causa da sua doença, e estava sozinho. Nesta época do ano, época em que as pessoas eram mais generosas, o cego espera captar mais esmolas. Ele já sabe a estratégia para consegui-las, por isso está ali no seu “lugar de trabalho”. Certas doenças- neste caso a cegueira- eram consideradas castigo de Deus. Assim, a situação de cegueira de Bartimeu, aparecia no preconceito social. Os cegos, da mesma forma que outros doentes e mulheres, estavam eximidos de participar nas festas religiosas. Dado que “A fé não é própria dos soberbos, mas sim dos humildes” (santo Agostinho, Catena Áurea, VI, p. 297), este humilde cego recebeu o prêmio: a luz da fé em Cristo Jesus. E com a fé o milagre da mudança de vida: tirou o manto sujo da sua vida passada e seguiu Jesus, único caminho de salvação.

Em segundo lugar, vejamos o caminho do cego até Jesus. A rotina do mendigo é quebrada, e quebrada para sempre, quando recebe a informação e se dá conta de que bem perto dele passa Jesus. Processo: Primeiro, escuta o passo de Jesus; a fé vem através do ouvido; e da cegueira passa à visão e da marginalidade no caminho passa a ser o seu ativo peregrino. Segundo, o grito da fé: Bartimeu, reconhecendo-o como Messias, clama misericórdia. A sua oração tem como transfundo a oração penitencial do salmo 51 (“miserere”, tende piedade), mas também a promessa messiânica de Isaias 35, 2-5: “abrir-se-ão os olhos dos cegos”. Terceiro, superação dos obstáculos: ademais das suas duas primeiras limitações, a sua cegueira e a sua pobreza, repreendem-no para calar-se; ele é a imagem do que entra no Reino despojado, abandonado com absoluta confiança na presença de Jesus. O despojo é ainda mais radical quando faz dois gestos: joga o manto e, pulando, vai até Jesus. O mando é o maior bem de um pobre, a única coisa que lhe pertence (cf. Êxodo 22, 25-26), é a sua coberta para a noite, o seu abrigo para o frio, o seu recipiente para a esmola. O seu pulo (inaudito para um cego!) é um gesto de confiança total, expressão de apoio na palavra de Jesus. Resultado? O cego consegue o seu objetivo: Jesus para diante dele e o chama. O encontro pessoal começa com um pergunta de Jesus: “o que queres que eu faça por ti?”. E termina com a cura. Bartimeu mudou completamente de situação: era cego e agora vê, estava sentado na beira do caminho e agora está no caminho, estava sozinho e agora está com Jesus e com o seu grupo. Também podemos supor que ao recobrar a vista e incorporar-se à comunidade terá deixado de mendigar. E tudo termina com o seguimento a Jesus. Agora Jesus tem um novo discípulo, que recebeu o dom da vista e se caracteriza pela sua fé.

Finalmente, e vocês que? Regozija-me saber que Jesus se deixa mudar de rumo diante do meu pedido, que vai, detém-se para me escutar, como fez com este cego Bartimeu. Mas também penso que às vezes as reclamações dos necessitados que me perturbam e procuro calá-los ou prefiro não escutar. Quero ter Bartimeu como mestre de oração, que sabia o que pedir, como pedir, onde pedir e não se deixava tapar a boca nem sequer pelos que estavam perto de Jesus. Bartimeu pedia esmola, mas quando Jesus passou, pediu o que realmente queria, que era ver. Quero ter essa franqueza e essa liberdade diante de Deus, e lhe pedir o que realmente necessito para a minha vida. Sem muitas palavras nem orações floridas nem fórmulas de outros, com a minha necessidade.

Para refletir: Meditemos este texto de São Gregório Magno: “Quem ignora o esplendor da luz eterna, é cego. Contudo, se há crê no Redentor, então já esta sentado à beira do caminho. Isto, porém, não é suficiente. Se deixar de orar para receber a fé e abandona as implorações, é um cego sentado à beira do caminho mas sem pedir esmola. Somente se crê e, convencido das trevas que escurecem o coração, pede ser iluminado, então será como o cego que estava sentado à beira do caminho pedindo esmola. Seja que for que reconhecer as trevas da sua cegueira, seja que for que compreender o que é esta luz da eternidade que lhe faz falta, invoque desde o mais íntimo do seu coração, grite com todas as energias da sua alma, dizendo: “Jesus, Filho de Davi, tende compaixão de mim”” (Homil. In Ev. 2,2.8).

Para rezar: Meu Senhor, que eu veja com os vossos olhos, que eu veja o bem e a sua fecundidade no meio de tantas trevas. Que os meus olhos de fé provoquem o vosso agir misericordioso em beneficio dos pobres pecadores, das almas. Meu Pai, que a minha alma se enriqueça com a luz da fé que brota de uns olhos de fé… que eu veja… que eu vos veja em tudo e em todos… que a minha fé me leve com audácia a confiar cegamente esperando TUDO de Vós…

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org