domingo, 5 de janeiro de 2025

 São Pedro Tomás
Patriarca de Constantinopla
Bispo de nossa Ordem.
 
Nasceu por volta do ano 1305 numa aldeia da Aquitânia, França. Os seus pais viviam em pobreza extrema, o que levou Pedro Tomás a abandonar o lar paterno muito cedo para não ser pesado aos seus. Era Pedro Tomás de estatura baixa, mas possuía uma inteligência rara e profunda. Vivendo de esmolas, conseguiu estudar, tornando-se mestre e professor com apenas 17 anos. Foi convidado para ser professor dos estudantes carmelitas, vindo também ele a entrar na Ordem em 1327. Ensinou várias matérias em muitos conventos da Ordem, até ser nomeado Procurador da Ordem junto da Santa Sé, que então se encontrava em Avinhão.  Em certa ocasião, vendo o Padre Geral a humilde e pequena aparência do santo, envergonhava-se de apresenta-lo aos Cardeais. No entanto, certo Cardeal que conhecia a fama de Frei Pedro Tomás resolveu apresentá-lo. O Papa fê-lo seu Núncio e Legado, encomendando-lhe muitas e difíceis missões que Frei Pedro Tomás resolveu sempre em bem.  Foi arauto e apóstolo incansável da paz e da unidade da Igreja, pelo que depressa este nosso irmão granjeou em toda a parte fama de santo. Depois de ter exercido o múnus de bispo em várias dioceses, foi nomeado Patriarca de Constantinopla. Apesar dos altos cargos que exerceu, nas suas viagens, Frei Pedro Tomás procurava sempre, como residência, os conventos dos seus irmãos carmelitas, vivendo como irmão e com os irmãos de Nossa Senhora do Carmo a vida normal da comunidade, segundo a Regra. Morreu no dia 6 de janeiro de 1366. Apesar de ser bispo, pediu que o vestissem com o hábito da Ordem. Era muito devoto da Virgem Maria e um dia contou a um irmão que Nossa Senhora lhe tinha aparecido dizendo-lhe que a Ordem do Carmo durará até ao fim dos tempos. Morreu na Ilha de Chipre, em 1366.
 
INVITATÓRIO
R. Vinde, adoremos a Cristo, o grande Pontífice, que se compadece de nós.
 
LAUDES
Hino
Sem os dons que a terra estima,
mas rico de bens dos céus,
São Pedro Tomás ensina
que só se é pobre... sem Deus.
 
Fraco e pequeno em estatura,
mais ainda em seu conceito,
Deus o ergueu à Sua altura,
vendo-o fiel e perfeito.
 
De Cristo soube imitar
a humildade profunda,
por isso pôde ensinar
ciência sublime e funda.
 
Da Mãe de Deus recebeu
promessa, que causa inveja,
mas toda a vida ofereceu
pelo serviço da Igreja.
 
Louvemos o Deus presente,
que é do Carmelo o Amor,
com o Filho onipotente
e o Santo Consolador.
 
Ant. 1. Unido a Vós estou, Senhor; a vossa mão me serve de amparo.
 
Salmos e cântico do domingo da I Semana.
 
Ant. 2. Louvai o nosso Deus vós todos, servos do Senhor.
 
Ant. 3. O Senhor coroa com a vitória os humildes.
 
Leitura breve - Lv11 2,6-7
A lei da verdade estava na sua boca, e a iniquidade não se encontrava nos seus lábios; andava comigo na paz e na retidão, e a muitos afastou do mal. Os lábios do sacerdote guardam a ciência, da sua boca espera-se a doutrina, porque é mensageiro do Senhor do Universo.
 
Responsório breve
R. Dar-vos-ei pastores
* segundo o meu coração. R. Dar-vos-ei.
V. E eles vos apascentarão com inteligência e sabedoria.
* Segundo. Glória ao Pai. R. Dar-vos-ei.
* Segundo. Glória ao Pai. R. Dar-vos-ei.
* Segundo. Glória ao Pai. R. Dar-vos-ei.
 
Cântico evangélico, Ant. (à escolha) 1 ou 2
1) Sirvamos ao Senhor sem pavor, na santidade e na justiça enquanto perdurarem nossos dias.
ou
2) Eu sou o Bom Pastor; dou minha vida pelas minhas ovelhas e haverá um só rebanho e um só Pastor.
 
Preces
Glorifiquemos, irmãos, a Cristo, nossa Paz e Reconciliação, que, mediante as obras e a pregação de São Pedro Tomás, fortaleceu e confortou a sua Igreja, e aclamemos:
 
R. Deus Santo, Deus Forte, Salvador!
 
Senhor Jesus Cristo, em vós formamos um só corpo e nos tomamos membros uns dos outros,
- fazei que vivamos em paz com todos. R.
 
Rei Pacífico, que transformais as espadas em arados e as lanças em foices,
- convertei as invejas em amor e os rancores em perdão. R.
 
Senhor Jesus, que sois perfeito Louvor da Glória do Pai,
- conservai-nos no vosso louvor até à morte.    R.
 
Filho Unigênito do Pai, que na Cruz nos destes por mãe Maria, vossa própria Mãe,
- concedei que com a sua ajuda guardemos no coração as vossas maravilhas, e com a vida as proclamemos. R.
 
(intenções livres)
Pai Nosso
 
Oração
Senhor, Deus da paz, que concedestes ao bispo São Pedro Tomás a força do vosso Espírito para estabelecer a paz e promover a unidade dos cristãos, concedei que, pelo seu exemplo e intercessão, testemunhemos a integridade da fé e vivamos unidos pelo vínculo da caridade. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
 
VÉSPERAS
Hino
Louvemos o eleito
São Pedro Tomás!
Carmelita perfeito,
evocar-te nos apraz.
 
Desde novo revelaste
virtude e sabedoria
do mal muitos desviaste:
teu zelo os convertia.
 
Em defesa da Senhora,
filho dileto da Virgem
escreves, provando que fora
sem mancha desde a origem.
 
O bom combate travaste,
justa causa defendeste;
pela fé que conservaste,
já o prêmio recebeste.
 
Pelo exemplo recebido
de tão santo Pastor
o Carmelo agradecido
te glorifica, Senhor.
 
Ant. 1. Apoiado na força divina, colaborou na difusão do Evangelho.
 
Salmos e Cântico do Comum dos Pastores: para bispos
 
Ant. 2. Este é o servo fiel e prudente, que o Senhor estabeleceu à frente de sua família.
 
Ant. 3. Grande é a glória do Senhor e eterna é a sua misericórdia.
 
Leitura breve - Is 52, 7.10
Como são belos por sobre os montes os pés do mensageiro, que vem anunciar a paz, que vem trazer a boa-nova, que vem proclamar a salvação e dizer a Sião: "Reina o teu Deus!" O Senhor desnudou o seu santo braço diante de todas as nações, e todos os confins da terra verão a vitória do nosso Deus.
 
Responsório breve - Sr 44,17
R. Eis o Sumo Sacerdote, que nos seus dias agradou ao Senhor
* e foi reconhecido como homem justo. R. Eis o Sumo Sacerdote.
V. E no tempo da ira foi o vínculo da reconciliação.
* E foi reconhecido. Glória ao Pai. R. Eis o Sumo Sacerdote.
 
Cântico Evangélico
Ant. Hoje um glorioso filho da Igreja deixou a terra da fé.  Hoje um pregador da Cruz e da verdade mergulhou no Mistério. Hoje um glorioso defensor da fé, poderoso em palavras e obras, recebeu a eterna recompensa.
 
Preces
Glorifiquemos a Cristo Jesus, o Sumo Pontífice, que entrou nos Céus e recompensou com o prêmio da Vida Eterna os trabalhos de São Pedro Tomás; e digamos:
 
R. Salvai o vosso povo, Senhor!
 
Vós que, por meio de santos e insignes pastores, fizestes resplandecer a vossa Igreja de modo admirável,
_ fazei que os cristãos, onde quer que se encontrem, trabalhem na construção do vosso Reino. R.
 
Vós, que suscitastes na vossa Igreja zelosos pregadores movidos de sincera caridade,
_ concedei aos sacerdotes e ministros do vosso povo o zelo e a constância. R.
 
Vós que, por meio dos santos pastores, sois o médico dos corpos e das almas,  
_ fortalecei os fracos, sarai os feridos, curai os enfermos e consolai os tristes. R.
 
Vós, que nos confiastes a Maria, vossa Mãe, e a confiastes ao nosso amor filial,
- fazei que, a exemplo de São Pedro Tomás, possamos beneficiarmos sempre do seu amor maternal. R.
 
 (intenções livres)
 
Vós que, por meio dos pastores da Igreja, dais a vida eterna às vossas ovelhas, para que ninguém as arrebate das vossas mãos,
- salvai os nossos irmãos e irmãs falecidos, pelos quais destes a vossa vida. R.
 
Pai Nosso ...
 
Oração
Senhor, Deus da paz, que concedestes ao bispo São Pedro Tomás a força do vosso Espírito para estabelecer a paz e promover a unidade dos cristãos, concedei que, pelo seu exemplo e intercessão, testemunhemos a integridade da fé e vivamos unidos pelo vínculo da caridade. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

Terça-feira depois da Epifania

São Raimundo de Penaforte, presbítero
 
1ª Leitura (1Jo 4,7-10):
Caríssimos: Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. Assim se manifestou o amor de Deus para conosco: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que vivamos por Ele. Nisto consiste o seu amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele que nos amou e nos enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados.
 
Salmo Responsorial: 71
R. Virão adorar-Vos, Senhor, todos os povos da terra.
 
Deus, concedei ao rei o poder de julgar e a vossa justiça ao filho do rei. Ele governará o vosso povo com justiça e os vossos pobres com equidade.
 
Os montes trarão a paz ao povo e as colinas a justiça. Ele fará justiça aos humildes e salvará os indigentes.
 
Florescerá a justiça nos seus dias e uma grande paz até ao fim dos tempos. Ele dominará de um ao outro mar, do grande rio até aos confins da terra.
 
Aleluia. O Senhor enviou-me a anunciar aos pobres a boa nova, a proclamar aos cativos a redenção. Aleluia.
 
Evangelho (Mc 6, 34-44): Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão e encheu-se de compaixão por eles, porque eram como ovelhas que não têm pastor. E começou, então, a ensinar-lhes muitas coisas. Já estava ficando tarde, quando os discípulos se aproximaram de Jesus e disseram: «Este lugar é deserto e já é tarde. Despede-os, para que possam ir aos sítios e povoados vizinhos e comprar algo para comer» Mas ele respondeu: «Vós mesmos, dai-lhes de comer»! Os discípulos perguntaram: «Queres que gastemos duzentos denários para comprar pão e dar de comer a toda essa gente?» Jesus perguntou: «Quantos pães tendes? Ide ver». Eles foram ver e disseram: «Cinco pães e dois peixes». Então, Jesus mandou que todos se sentassem, na relva verde, em grupos para a refeição. Todos se sentaram, em grupos de cem e de cinquenta. Em seguida, Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao céu, pronunciou a bênção, partiu os pães e ia dando-os aos discípulos, para que os distribuíssem. Dividiu, também, entre todos, os dois peixes. Todos comeram e ficaram saciados, e ainda encheram doze cestos de pedaços dos pães e dos peixes. Os que comeram dos pães foram cinco mil homens».
 
«Porque eram como ovelhas que não têm pastor»
 
Rev. D. Xavier SOBREVÍA i Vidal (Sant Just Desvern, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, Jesus mostra-nos como Ele é sensível às necessidades das pessoas que saem ao seu encontro. Não pode encontrar-se com pessoas e passar indiferente perante as necessidades delas. O coração de Jesus se compadece ao ver a grande quantidade de gente que lhe seguia «como ovelhas que não têm pastor» (Mc 6,34). O Mestre deixa atrás os projetos prévios e começa a ensinar. Quantas vezes nós deixamos que a urgência ou a impaciência mandem sobre nossa conduta? Quantas vezes não queremos mudar de planos para atender necessidades imediatas e imprevistas? Jesus dá-nos exemplo de flexibilidade, de modificar a programação prévia e de estar disponível para pessoas que o seguem.
 
O tempo passa depressa. Quando você ama é fácil que o tempo passe muito depressa. E Jesus, que ama muito, está explicando a doutrina de uma maneira prolongada. Estava ficando tarde, os discípulos lhe avisaram ao Mestre, lhes preocupa que a multidão possa comer. Então Jesus faz uma proposta incrível: «Vós mesmos, dai-lhes de comer» (Mc 6,37). Não somente lhe preocupa dar o alimento espiritual com seus ensinos, senão também o alimento do corpo. Os discípulos põem dificuldades, que são reais, muito reais: Os pães custam muito dinheiro (cf. Mc 6,37). Veem as dificuldades materiais, mas seus olhos ainda não reconhecem que quem lhes fala o pode tudo; lhes falta fé.
 
Jesus não manda fazer uma fila; faz sentar às pessoas em grupos. Comunitariamente descansarão e compartilharão. Pediu aos discípulos a comida que levavam: somente são cinco pães e dois peixes. Jesus os pega, invoca a benza de Deus e os reparte. Uma comida tão escassa que servirá para alimentar milhares de homens e ainda restarão doze cestas. Milagre que prefigura o alimento espiritual da Eucaristia, Pão de vida que se estende gratuitamente a todos os povos da Terra para dar vida e vida eterna.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Pedimos-te, Senhor, que sejas a nossa ajuda e amparo. Que todos os povos da terra saibam que Tu és Deus e que não há outro, e que Jesus Cristo é Teu servo e que nós somos o Teu povo, o rebanho que Tu guias» (São Clemente Romano)
 
«Apenas a misericórdia de Deus pode libertar a humanidade de tantas formas do mal, por vezes monstruosas, que o egoísmo nela gera. El traz a esperança: onde Deus nasce, nasce a paz, não há lugar nem para o ódio nem para a guerra» (Francisco)
 
«A compaixão de Cristo para com os doentes e as suas numerosas curas de enfermos de toda a espécie são um sinal claro de que «Deus visitou o seu povo» (Lc 7,16) e de que o Reino de Deus está próximo» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.503)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* Sempre é bom olhar o contexto em que se encontra o texto do evangelho, pois ele traz luz para descobrir melhor o sentido.
Pouco antes, em Mc 6,17-29, Marcos narrou o banquete de morte, promovido por Herodes com os grandes da Galileia, no palácio da Capital, durante o qual foi morto João Batista. Aqui, em Mc 6,30-44, descreve o banquete de vida, promovido por Jesus com o povo faminto da Galileia lá no deserto. O contraste deste contexto é grande e ilumina o texto.
 
* No evangelho de Marcos a multiplicação dos pães é muito importante. Ela aparece duas vezes: aqui em Mc 6,35-44 e em Mc 8,1-9. E o próprio Jesus faz questão de interrogar o discípulos a respeito da multiplicação dos pães (Mc 8,14-21). Por isso, vale a pena você pesquisar e refletir até descobrir em que consiste exatamente esta importância da multiplicação dos pães.
 
* Jesus tinha convidado os discípulos para descansar um pouco num lugar deserto (Mc 6,31). O povo percebeu que Jesus tinha ido para o outro lado do lago, foi atrás dele e chegou antes (Mc 6,33). Quando Jesus, ao descer do barco, viu aquela multidão esperando por ele, ficou com dó, “pois eles estavam como ovelhas sem pastor”. Esta frase evoca o salmo do bom pastor (Sl 23). Diante do povo sem pastor, Jesus esquece o descanso e começa a ensinar, começa a ser pastor. Com suas palavras ele orienta e guia o povo no deserto da vida, e o povo podia cantar: “O Senhor é meu pastor! Nada me falta!” (Sl 23,1).
 
* O tempo foi passando e começava a escurecer. Os discípulos estavam preocupados e pedem a Jesus para despedir o povo. Acham que lá no deserto não é possível conseguir comida para tanta gente. Jesus diz: “Deem vocês de comer ao povo!” Eles levam susto: “Então quer que vamos comprar pão por 200 denários?” (i.é, salário de 200 dias!) Os discípulos procuram a solução fora do povo e para o povo. Jesus não busca solução fora, mas dentro do povo e a partir do povo, pois pergunta: “Quantos pães vocês têm? Vão verificar!” A resposta é: “Cinco pães e dois peixes!” É pouco para tanta gente! Jesus manda o povo se acomodar em grupos e pede aos discípulos para distribuir os pães e os peixes. Todos comeram à vontade!
 
* É importante notar como Marcos descreve o fato. Ele diz: “Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, olhou para o céu, abençoou os pães e os partiu e deu aos seus discípulos, para que os distribuíssem”. Esta maneira de falar faz as comunidades pensar em que? Sem dúvida nenhuma, fazia pensar na eucaristia. Pois estas mesmas palavras eram usadas (até hoje) na celebração da Ceia do Senhor. Assim, Marcos sugere que a eucaristia deve levar à partilha. Ela é o pão da vida que dá coragem e leva a enfrentar os problemas do povo de maneira diferente, não a partir de fora, mas a partir de dentro do povo.
 
* Na maneira de descrever os fatos, Marcos evoca a Bíblia para iluminar o sentido dos fatos. Dar de comer ao povo faminto no deserto, foi Moisés quem o fez por primeiro (cf. Ex 16,1-36). E pedir para o povo se organizar em grupos de 50 e 100 lembra o recenseamento do povo no deserto depois da saída do Egito (cf. Nm, cap. 1 a 4). Marcos sugere assim que Jesus é o novo Moisés. O povo das comunidades conhecia o Antigo Testamento, e para o bom entendedor meia palavra já bastava. Assim, eles iam descobrindo, aos poucos, o mistério que envolvia a pessoa de Jesus.
 
Para um confronto pessoal
1.
Jesus esqueceu o descanso para poder servir ao povo. Que mensagem eu encontro aqui para mim?
2. Se houvesse partilha hoje, não haveria fome no mundo. Que posso fazer eu?

sábado, 4 de janeiro de 2025

Segunda-Feira depois da Epifania

Santo André Bessette, religioso

1ª Leitura (1Jo 3,22—4,6):
Caríssimos: Nós recebemos de Deus tudo o que Lhe pedirmos, porque cumprimos os seus mandamentos e fazemos o que Lhe é agradável. É este o seu mandamento: acreditar no nome de seu Filho, Jesus Cristo, e amar-nos uns aos outros, como Ele nos mandou. Quem observa os seus mandamentos permanece em Deus e Deus nele. E sabemos que permanece em nós pelo Espírito que nos concedeu. Caríssimos, não deis crédito a qualquer espírito, mas examinai os espíritos para ver se são de Deus, porque surgiram no mundo muitos falsos profetas. Nisto conhecereis o espírito de Deus: todo o espírito que confessa a Jesus Cristo feito homem é de Deus; e todo o espírito que não confessa a Jesus não é de Deus. Este é o espírito do Anticristo, do qual ouvistes dizer que havia de vir e agora já está no mundo. Vós, meus filhos, sois de Deus e já os vencestes, porque Aquele que está no meio de vós é maior do que aquele que está no mundo. Eles são do mundo; por isso falam a linguagem do mundo e o mundo escuta-os. Nós somos de Deus e quem conhece a Deus escuta-nos; quem não é de Deus não nos escuta. Nisto distinguimos o espírito da verdade e o espírito do erro.
 
Salmo Responsorial: 2
R. Eu te darei os povos em herança.
 
Vou proclamar o decreto do Senhor. Ele disse-me: ‘Tu és meu filho, Eu hoje te gerei. Pede-me e te darei as nações em herança e os confins da terra para teu domínio’.
 
Agora, ó reis, tomai sentido, atendei, vós que julgais a terra. Servi o Senhor com temor, aclamai-O com reverência.
 
Aleluia. Jesus proclamava o Evangelho do reino e curava todas as doenças entre o povo. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 4,12-17.23-25): Quando soube que João tinha sido preso, Jesus retirou-se para a Galileia. Deixou Nazaré e foi morar em Cafarnaum, às margens do mar da Galileia, no território de Zabulon e de Neftali, para cumprir-se o que foi dito pelo profeta Isaías: «Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região além do Jordão, Galileia, entregue às nações pagãs! O povo que ficava nas trevas viu uma grande luz, para os habitantes da região sombria da morte uma luz surgiu». Daí em diante, Jesus começou a anunciar: «Convertei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo». Jesus percorria toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, anunciando a Boa Nova do Reino e curando toda espécie de doença e enfermidade do povo. Sua fama também se espalhou por toda a Síria. Levaram-lhe todos os doentes, sofrendo de diversas enfermidades e tormentos: possessos, epiléticos e paralíticos. E ele os curava. Grandes multidões o acompanhavam, vindas da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judéia e da região do outro lado do Jordão».
 
«O Reino dos Céus está próximo»
 
Rev. D. Jordi CASTELLET i Sala (Vic, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, por assim di-lo, recomeçamos. «O povo que ficava nas trevas viu uma grande luz, para os habitantes da região sombria da morte uma luz surgiu» (Mt 4,16), nos diz o profeta Isaías, citado neste Evangelho de hoje e, que nos remete ao que escutávamos na Noite de Natal. Voltamos a começar, temos uma nova oportunidade. O tempo é novo, a ocasião o merece, deixemos —humildemente— que o Pai ingresse na nossa vida.
 
Hoje começa o tempo em que Deus dá-nos uma vez mais seu tempo para que o santifiquemos, para que estejamos perto Dele e, façamos de nossa vida um serviço de face aos outros. O Natal acaba-se, o fará o domingo próximo —se Deus quiser— com a festa do Batismo do Senhor e, com ela dá-se a pistolada de saída para o novo ano, para o tempo comum —tal como dizemos na liturgia cristã— para viver in extenso o mistério do Natal. A Encarnação do Verbo nos visitou nestes dias e, semeou nos nossos corações, de maneira infalível, sua Graça salvadora que nos encaminha, novamente até o Reino do Céu, o Reino de Deus que Cristo veio inaugurar entre nós, graças a sua ação e compromisso no seio da humanidade.
 
Por isso, disse São Leão Magno que «a providência e misericórdia de Deus que já tinha pensado ajudar —nos tempos recentes— ao mundo que se afundava, determinou a salvação de todos os povos por meio de Cristo».
 
Agora é o tempo favorável. Não pensemos que Deus atuava mais antes do que agora, que era mais fácil acreditar sob a existência de Jesus —fisicamente, quero dizer— já que agora não o vemos tal como ele é. Os sacramentos da Igreja e a oração comunitária dão-nos o perdão e a paz e a oportunidade de participar, novamente, na obra de Deus no mundo, através de nosso trabalho, estudo, família, amigos, divertimento ou convivência com os irmãos. Que o Senhor, fonte de todo dom e de todo bem, nos o faça possível!
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Na solenidade anterior [Natal] o Senhor se mostrava como um menino débil, que testemunhava nossa própria imperfeição» (São Próclo de Constantinopla)
 
«Caminhar em trevas significa estar satisfeito de si mesmo, estar convencido de não ter necessidade de salvação. ¡Essas são as trevas!» (Papa Francisco)
 
«A doutrina sobre o pecado original – ligada à da redenção por Cristo – proporciona uma visão de lúcido discernimento sobre a situação do homem e da sua ação neste mundo (…). Ignorar que o homem tem uma natureza ferida, inclinada para o mal, dá lugar a graves erros no domínio da educação, da política, da ação social (300) e dos costumes» (Catecismo da Igreja Católica, nº 407)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* Uma breve informação sobre o objetivo do Evangelho de Mateus.
O Evangelho de Mateus foi escrito na segunda metade do primeiro século para animar as pequenas e frágeis comunidades de Judeus convertidos que vivam na região da Galileia e da Síria. Elas sofriam perseguições e ameaças da parte dos irmãos judeus pelo fato de aceitarem Jesus como messias e de acolherem os pagãos. Para fortalecê-las na fé, o evangelho de Mateus insiste em dizer que Jesus é realmente o Messias e que a salvação trazida por ele não é só para os judeus, mas para toda a humanidade. Logo no início do seu evangelho, na genealogia, Mateus já aponta para a vocação universal de Jesus, pois como “Filho de Abraão” (Mt 1,1.17) ele será “fonte de bênção para todas as nações do mundo” (Gen 12,3). Na visita dos magos, vindos do Oriente, ele sugere novamente que a salvação se dirige aos pagãos (Mt 2,1-12). No texto de evangelho de hoje, ele mostra como a luz que brilhou na “Galileia dos Gentios” brilha também fora das fronteiras de Israel, na Decápole e no além-Jordão (Mt 4,12-25). Mais adiante, no Sermão da Montanha, Jesus dirá que a vocação da comunidade cristã é ser “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5,13-14) e pede amor aos inimigos (Mt 5,43-48). Jesus é o Servo de Deus que anuncia o direito às nações (Mt 12,18). Ajudado pela mulher Cananéia, o próprio Jesus ultrapassa as fronteiras da raça (Mt 15,21-28). Ultrapassa também as leis da pureza que impediam a abertura do Evangelho para os pagãos (Mt 15,1-20). E no final, quando Jesus envia seus discípulos a todas as Nações, fica ainda mais clara a universalidade da salvação (Mt 28,19-20). Da mesma maneira, as comunidades são chamadas a abrir-se para todos, sem excluir ninguém, pois todos são chamados a viver como filhos e filhas de Deus.
 
* O evangelho de hoje descreve como se iniciou esta missão universal. Foi a notícia da prisão de João Batista que levou Jesus a começar sua pregação. João tinha dito: "Arrependei-vos, porque o Reino de Deus está próximo!" (Mt 3,2). Por isso ele foi preso por Herodes. Quando Jesus soube que João foi preso, voltou para a Galileia anunciando a mesma mensagem: "Arrependei-vos, porque o Reino de Deus está próximo!" (Mt 4,17) Com outras palavras, desde o início, a pregação do evangelho trazia riscos, mas Jesus não recuou. Deste modo, Mateus anima as comunidades que estavam correndo os mesmos riscos de perseguição. E ele cita o texto de Isaías: "O povo que jazia nas trevas viu uma grande luz!" Como Jesus, as comunidades são chamadas a ser "Luz dos povos".
 
* Jesus começa o anúncio da Boa Nova andando por toda a Galileia. Ele não fica parado, esperando que o povo chegue e vá até ele. Ele mesmo vai nas reuniões do povo, nas sinagogas, para anunciar sua mensagem. O povo leva a ele os doentes, os endemoniados, e Jesus acolhe a todos e os cura. Este serviço aos doentes faz parte da Boa Nova e revela ao povo a presença do Reino.
 
* Assim, a fama de Jesus se espalha por toda a região, atravessa as fronteiras da Galileia, penetra na Judéia, chega até Jerusalém, vai para o além Jordão e alcança a Síria e a Decápole. Era nestas mesmas regiões, que se encontravam as comunidades para as quais Mateus estava escrevendo o seu evangelho. Agora, elas ficam sabendo que, apesar de todas as dificuldades e riscos, elas já estão sendo essa luz que brilha nas trevas.
 
Para um confronto pessoal
1. Será que alguma luz se irradia de você para os outros?
2. Hoje, muitos se fecham na religião católica. Como viver hoje a universalidade da salvação?

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Epifania do Senhor

1ª Leitura (Is 60,1-6):
Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor. Vê como a noite cobre a terra e a escuridão os povos. Mas, sobre ti levanta-Se o Senhor e a sua glória te iluminam. As nações caminharão à tua luz e os reis ao esplendor da tua aurora. Olha ao redor e vê: todos se reúnem e vêm ao teu encontro; os teus filhos vão chegar de longe e as tuas filhas são trazidas nos braços. Quando o vires ficarás radiante, palpitará e dilatar-se-á o teu coração, pois a ti afluirão os tesouros do mar, a ti virão ter as riquezas das nações. Invadir-te-á uma multidão de camelos, de dromedários de Madiã e Efá. Virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando as glórias do Senhor.
 
Salmo Responsorial: 71
R. Virão adorar-Vos, Senhor, todos os povos da terra.
 
Ó Deus, concedei ao rei o poder de julgar e a vossa justiça ao filho do rei. Ele governará o vosso povo com justiça e os vossos pobres com equidade.
 
Florescerá a justiça nos seus dias e uma grande paz até ao fim dos tempos. Ele dominará de um ao outro mar, do grande rio até aos confins da terra.
 
Os reis de Társis e das ilhas virão com presentes, os reis da Arábia e de Sabá trarão suas ofertas. Prostrar-se-ão diante dele todos os reis, todos os povos o hão de servir.
 
Socorrerá o pobre que pede auxílio e o miserável que não tem amparo. Terá compaixão dos fracos e dos pobres e defenderá a vida dos oprimidos.
 
2ª Leitura (Ef 3,2-3a.5-6): Irmãos: Certamente já ouvistes falar da graça que Deus me confiou a vosso favor: por uma revelação, foi-me dado a conhecer o mistério de Cristo. Nas gerações passadas, ele não foi dado a conhecer aos filhos dos homens como agora foi revelado pelo Espírito Santo aos seus santos apóstolos e profetas: os gentios recebem a mesma herança que os judeus, pertencem ao mesmo corpo e participam da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho.
 
Aleluia. Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorar o Senhor. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 2,1-12): Depois que Jesus nasceu na cidade de Belém da Judéia, na época do rei Herodes, alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, perguntando: «Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo». Ao saber disso, o rei Herodes ficou alarmado, assim como toda a cidade de Jerusalém. Ele reuniu todos os sumos sacerdotes e os escribas do povo, para perguntar-lhes onde o Cristo deveria nascer. Responderam: «Em Belém da Judéia, pois assim escreveu o profeta: «E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um príncipe que será o pastor do meu povo, Israel». Então Herodes chamou, em segredo, os magos e procurou saber deles a data exata em que a estrela tinha aparecido. Depois, enviou-os a Belém, dizendo: «Ide e procurai obter informações exatas sobre o menino. E, quando o encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo». Depois que ouviram o rei, partiram. E a estrela que tinham visto no Oriente ia à frente deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino. Ao observarem a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande. Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra. Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, passando por outro caminho.
 
«Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele e o adoraram»
 
Rev. D. Joaquim VILLANUEVA i Poll (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o profeta Isaías anima-nos: «De pé! Deixa-te iluminar! Chegou a tua luz! A glória do SENHOR te ilumina» (Is 60,1). Essa luz que viu o profeta é a estrela que veem os Magos em Oriente, junto com outros homens. Os Magos descobrem seu significado. Os demais a contemplam como algo que admiram mas, que não lhes afeta. E, assim, não reagem. Os Magos dão-se conta de que, com ela, Deus envia-lhes uma mensagem importante e que vale a pena deixar a comodidade do seguro e se arriscar a uma viagem incerta: a esperança de encontrar o Rei leva-os a seguir essa estrela, que haviam anunciado os profetas e esperado o povo de Israel durante séculos.
 
Chegam a Jerusalém, a capital dos judeus. Acham que aí saberão lhe dizer o lugar exato onde nasceu seu Rei. Efetivamente, lhe responderam: «Em Belém da Judéia, porque assim está escrito por meio do profeta» (Mt 2,5). A notícia da chegada dos Magos e sua pergunta propaga-se por toda Jerusalém em pouco tempo: Jerusalém era na época uma pequena cidade e, a presença dos Magos com seu séquito foi vista por todos os habitantes, pois «Ao saber disso, o rei Herodes sobressaltou-se e, com ele toda a cidade de Jerusalém» (Mt 2,3), diz o Evangelho.
 
Jesus Cristo cruza-se na vida de muitas pessoas, a quem não interessa. Um pequeno esforço teria mudado suas vidas, teriam encontrado o Rei do Gozo e da Paz. Isso requer a boa vontade de procurar, de nos movimentar, de perguntar sem nos desanimar, como os Magos, de sair de nossa poltronaria, de nossa rotina, de apreciar o imenso valor de encontrar a Cristo. Se não o encontramos, não encontramos nada na vida, pois só Ele é o Salvador: encontrar Jesus é encontrar o Caminho que nos leva a conhecer a Verdade que nos dá a Vida. E, sem Ele, nada de nada vale a pena.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Que todos os povos venham a se incorporar à família dos patriarcas (...). Que todas as nações, na pessoa dos três Magos, adorem ao Autor do universo» (São Leão Magno)
 
«O mistério do Natal se irradia sobre a terra, se espalhando em círculos concêntricos: a Sagrada Família de Nazaré, os pastores de Belém e, finalmente, os Magos, que constituem as primícias dos povos pagãos» (Bento XVI)
 
«A epifania é a manifestação de Jesus como Messias de Israel, Filho de Deus e Salvador do mundo. Juntamente com o batismo de Jesus no Jordão e com as bodas de Caná, ela celebra a adoração de Jesus pelos “magos” vindos do Oriente (Mt 2,1). Nesses “magos”, representantes das religiões pagãs de povos vizinhos, o Evangelho vê as primícias das nações que acolhem a Boa Nova da salvação pela Encarnação (...)» (Catecismo da Igreja Católica, n° 528)
 
Virão adorar-vos, Senhor, todos os povos da terra.
 
Fr. Pedro Bravo, O.Carm
 
* O episódio da adoração dos magos, exclusivo de Mateus, é uma “narrativa da infância de Jesus” (1,18-2,23).
Mateus escreve para uma comunidade judeu-cristã siro-palestina da Galileia, apresentando-lhe Jesus, “o Cristo, o Filho de Deus vivo” (16,16), como o novo Moisés (cf. Dt 18,18). Para isso, aplica a Jesus um midrash (“conto” religioso que ilustra uma passagem bíblica) relativo ao nascimento de Moisés. Diz ele que os adivinhos e astrólogos egípcios avisaram o Faraó que uma mulher hebreia trazia no seio o libertador de Israel. Então o Faraó mandou matar os meninos hebreus, afogando-os no Nilo (Ex 1,22-2,10). Mas Moisés foi salvo das águas, para mais tarde libertar Israel do Egito passando através das águas (ExR 1,66d). O mesmo acontece agora: Herodes quer matar Jesus, mas Ele é salvo da morte, para mais tarde poder salvar a todos do poder da morte, passando por ela.
 
* v. 1. Mateus mostra que Jesus nasce em Belém de Judá, a cidade de David (cf. vv. 5-6). Isto acontece no fim do reinado de Herodes I (37-4 a.C.) por volta de 7/6 a.C. Os “magos” (Dn 1,20; 2,10.27; 4,4; 5,11), são, como no referido midrash, astrólogos, sábios adivinhos, da casta sacerdotal persa, vindos “do Oriente”. Ou seja: para os judeus são gentios que exercem uma profissão proibida pela Lei (cf. Lv 12,31; 20,6; Dt 18,14; Mq 3,7). Mas Jesus vem para todos, a começar para os pecadores (cf. 9,13).
 
* v. 2. Os magos “viram a sua estrela no Oriente”. O verbo “ver” (gr. oraô) indica aqui uma visão sobrenatural (cf. 3,16; 17,3; 28,8.17; Ex 3,3; Nm 24,16), não se referindo a nenhum fenómeno astronómico (como a tripla conjunção dos planetas Júpiter e Saturno em 7 a.C. ou algo semelhante em 6 a.C., como conjeturam Mark KIDGER, The Star of Bethlehem. An Astronomer’s View. 2ª ed. Princeton/NJ: Princeton University Press, 2017; e Michael MOLNAR, The Star of Bethlehem. The Legacy of the Magi. 2ª ed. New Brunswick: Rutgers University Press, 2013), mas é um “sinal” (12,38) dado por Deus a eles. Na Antiguidade, era costume associar o nascimento de uma pessoa ilustre ao aparecimento de uma estrela. Esta surge “no Oriente” (gr. anatolê), palavra que significa também “nascer/subir”. É uma referência à profecia de Balaão, vidente gentio (c. 1200 a.C.), que “viu” uma estrela “subir de Jacob” (Nm 24,17). Esta estrela era, no princípio, David, mas passou depois a designar o Messias, chamado “Oriente” na tradução grega da Bíblia, os LXX (cf. Jr 23,5; Zc 3,8; 6,12; Lc 1,78). É o que acontece. Deus fala a cada um na sua própria linguagem cultural: a José, em sonhos (vv. 13.19); aos judeus, nas profecias (v. 6); aos magos, na “visão” de uma estrela.
 
*
Supondo que o recém-nascido devia ser um filho do “rei Herodes”, os magos dirigem-se para Jerusalém, a capital da Judeia, para se “prostrarem” diante dele como rei (Sl 72,11) e “o adorarem” como Deus (Sl 86,9; Zc 14,16s; Is 66,23; Sr 50,17), como era habitual nos povos da Antiguidade.
 
* v. 3. A notícia põe não só Herodes, mas também Jerusalém em sobressalto. Por quê? Porque Herodes não era judeu, nem descendente de David, mas filho do idumeu Antipater e da nabateia Cipros, que fez judeu. Era, pois, um edomita judeu, a quem Roma dera o título de “rei” em 40 a.C. O Sumo Sacerdote na época também não era legítimo, pois já desde 152 a.C. deixara de ser um descendente de Sadoc (2Sm 15,24-29), para ser nomeado pelos governantes (1Ma 10,15-21). Devendo o Messias restaurar a realeza davídica (destituída em 587 a.C.), purificar o sacerdócio e instaurar o verdadeiro culto (Ml 3,3s; Zc 6,12s), os usurpadores sentem-se ameaçados.
 
* v. 4. Herodes reúne (gr. synagagô), então, os sumos sacerdotes e escribas para indagar “onde havia de nascer o Cristo”. v. 5. Estes respondem, citando as Escrituras: “Em Belém da Judeia”, v. 6, como diz Mq 5,1, passagem que Mateus combina aqui com 2Sm 5,2, para dizer que Jesus, “filho de David” (1,8) é o Messias, o Rei-Pastor que devia reinar sobre Judá e Israel (Ez 37,22-27), isto é, sobre todo o Povo de Deus.
 
v. 7. Herodes arquiteta então um plano ardiloso, inquirindo junto dos magos o tempo exato em que lhes tinha aparecido a estrela, v. 8, e pedindo-lhes que fossem até Belém (a 10 km de Jerusalém) descobrir onde se achava “o Menino” e que depois o informassem, para ele ir também lá adorá-lo. De facto, pretende matá-lo (v. 16). O mesmo fará Herodes Antipas, seu filho, que não se deslocará 16 km para ir de Tiberíades a Cafarnaum ver Jesus (cf. Lc 23,8). O termo “o Menino” (Mt 2: 9x) evoca Is 7,14ss; 9,5, designando Jesus como o Messias.
 
* v. 9. Guiados apenas pelo sinal da estrela, os magos não encontraram Jesus, mas agora, iluminados pela Palavra de Deus, já sabem para onde se dirigir e “partem” (Gn 22,6.19) para Belém. E eis que a estrela que tinham visto, reaparece e “ia à sua frente” (26,32; 28,7; Ex 17,5; Js 3,11), levando-os a Jesus, mostrando aos magos que é Ele quem rege os astros e não o oposto (Is 40,26; 47,13).
 
* v. 10. Ao vê-la, enchem-se de “enorme alegria” (Is 39,2; Lc 2,10), certos de que iriam encontrar o Messias (28,8; Lc 24,52).
 
* v. 11. Entrando “em casa”, veem o Menino com Maria, sua Mãe. A “casa” simboliza a Igreja (9,28; 13,36; 17,25; At 2,2.46; Rm 16,5) e Maria, a comunidade cristã (12,46-50), onde Jesus está presente no meio dos seus (18,20; 28,20).
 
* Ao ver o Menino, os magos reconhecem o Messias, não na figura de um rei poderoso, mas, pela fé, num bebé, pobre, ignorado pelos seus.
E vão mais longe do que os judeus (cf. 21,31): caem por terra e prostram-se (cf. 4,9; 18,26; 2Cr 7,3; 29,30; Jt 6,18; Dn 3,5.15) em adoração a Jesus, como Deus (v. 3). A fé leva à oração e à partilha e eles oferecem-lhe riquezas das suas terras, “ouro, incenso e mirra”: ouro, como a Rei (1Rs 10,2); incenso, usado no culto, como a Deus (Ex 30,34; Lv 2,1s.15s); e mirra, usada no culto (na sagração do Sumo-Sacerdote: Ex 30,23; Sl 45,9; Ct 3,6; Sr 24,15) e nos funerais (Jo 19,39), anunciando assim veladamente a paixão e morte de Jesus como Sumo-sacerdote. Cumprem-se deste modo as profecias que diziam que os gentios adorariam a Deus e obedeceriam ao Messias, pondo ao seu serviço as suas riquezas (cf. Is 49,23; 60,6.9; Jr 6,20; Sl 72,10-15; 86,9; 96,6; Ez 27,22; Zc 14,16).
 
* Uma tradição popular, que remonta ao séc. IV, viu nos magos três reis (Sl 72,10s; Is 60,3, tantos como os presentes), representantes das três grandes civilizações (e, mais tarde, dos três continentes conhecidos), dando-lhes nomes que indicam a missão que desempenham em nome de todos os gentios: Baltasar (“Deus manifesta o Rei”: Babilónia/Ásia), Gaspar (“o que vai verificar”: Pérsia/ Europa) e Melchior (“o meu Rei é luz”: Arábia/África).
 
* v. 12. Os magos, homens retos de espírito e puros de coração (cf. 5,8), não suspeitam da malícia de Herodes, mas Deus avisa-os “num sonho” (1,20; Gn 20,3.6; 31,24; Nm 12,6) para não retornarem a Herodes. Pela fé em Jesus, Deus já não fala aos gentios por sinais, mas passa-lhes a falar também em sonhos, como aos patriarcas, como aos membros do seu povo.
 
* E os magos regressam “por outro caminho”, porque a fé em Jesus dá novo rumo à vida. Mateus introduz aqui os grandes temas da sua obra: o chamamento dos pecadores; o cumprimento das Escrituras em Cristo; a universalidade da salvação pela fé em Cristo; o conhecimento de Deus, único Senhor e Criador de tudo, que tudo rege com o seu poder. Apresenta também as duas atitudes que irão ser tomadas em relação a Jesus: enquanto os grandes deste mundo e o seu povo o rejeitam e procuram dar-lhe a morte, os gentios, os afastados e pecadores, apesar das trevas em que vivem, vão ao seu encontro e acolhem-no com fé, pondo ao seu serviço as riquezas e dons das suas culturas.
 
MEDITAÇÃO:
1) Onde procuro Jesus, onde o encontro e como o reconheço?
2) O meu encontro com Ele mudou a minha vida? Levou-me à oração? Abriu-me à partilha? Estou disposto a segui-lo no seu caminho?
 
 «Viemos adorá-lo»
 
Pe. Marcelo de Moraes – Diocese de Leiria-Fátima
 
A oração coleta do Domingo da Epifania do Senhor coloca-nos diante de duas dimensões do conhecimento de Deus: a primeira aqui na terra, à luz do conhecimento de Deus pela fé, e a segunda na eternidade, onde estaremos face a face com Ele, no conhecimento perfeito, iluminados pelo seu Amor.  É justamente o brilho dessa Luz de Deus, referido a Jerusalém na primeira leitura, que nos é garantido, pela fé, aqui neste mundo, onde somos todos convidados a deixar brilhar em nós a luz de Cristo; e no céu, com a Jerusalém celeste, onde brilhará para sempre em nós a luz do Senhor. Somos convidados, então, desde já, no dinamismo da fé, a adorarmos o Senhor, como fizeram os magos vindos do oriente e como a Igreja o faz todos os dias. É na adoração ao Senhor que nós deixamos iluminar por Ele, para também nós podermos iluminar o mundo. Estamos neste mundo e aqui, diante d’Ele, diante de um sacrário onde Ele está presente, e diante do mundo podemos também dizer: “viemos adorá-lo”. 
 
Os magos, guiados por uma estrela (com luz própria), saem à procura do Rei de Israel. Deixam-se guiar, na noite, por aquela luz. Assim é a vida do Cristão que se deixa iluminar pela luz da Palavra de Deus à procura de Jesus. A Palavra de Deus tem luz própria, como aquela Estrela que revela o Salvador, que se manifesta humilde, e ilumina-nos e guia-nos nas noites da vida à procura do Senhor. Os magos deixam-se guiar, pela Estrela, pelos sonhos, pela convicção que têm dentro de si. Assim também nós, que temos dentro uma luz, uma certeza: o Senhor, que é o nosso Deus, é o nosso Rei e governa a nossa vida. A Ele somos chamados, como os magos. E para ele, como os magos que lhe trouxeram presentes, somos chamados a dar o melhor de nós. E, como os magos, somos chamados a adorar o nosso Deus: «Viemos adorá-lo». 
 
* «Onde está – perguntaram eles – o rei dos judeus que acaba de nascer?» À procura do Rei, os magos caminham. Querem saber… e procuram Jesus. Esta é a pergunta que os cristãos fazem em todos os momentos da vida. Onde está Jesus? Ir à sua procura deve ser uma constate da vida. 
 
– No meu dia a dia, procuro o Senhor? Onde posso encontrá-lo? 
 
* «Nós vimos a sua estrela». Uma estrela tem luz própria. Não é como a lua que reflete luz. A estrela brilha. Assim brilha o Senhor, assim brilha a “sua estrela”.
 
– Deixo-me guiar pela “sua estrela”? De que modo me deixo guiar por Jesus? Deixo-me iluminar por Jesus? De que modo Ele me ilumina?
 
* «o rei Herodes ficou perturbado e, com ele, toda a cidade de Jerusalém».  Há quem se deixa perturbar quando há uma luz, alguém, que ilumina mais, que brilha mais, que faz sombra. O cristão não pode deixar-se perturbar por inveja ou desgostos.
 
– O que me perturba? Na minha relação com os outros existem sentimentos contrários à fé e à caridade? Como vencê-los?
 
* «‘Tu, Belém, terra de Judá, não és de modo nenhum a menor entre as principais cidades de Judá, pois de ti sairá um chefe, que será o Pastor de Israel, meu povo’».  
Às vezes sentimo-nos pequenos, sem importância; parece que ninguém está por nós. Mas o Senhor escolhe sempre o que é fraco aos olhos do mundo. O Senhor ama os pobres e humildes de coração.
 
– Sinto-me pequenino? Confio a minha pequenez ao Senhor? Apresento-lhe o pouco que tenho para que Ele possa fazer muito em mim e através de mim?
 
* «e, quando O encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo […] Entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram-no. Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra». Sabemos que Herodes mentia. Não era a sua intenção adorar o Menino. Os magos disseram antes, e com verdade, «viemos adorá-lo» e assim o fizeram diante d’Ele. A adoração é um ato de humildade. Colocamo-nos diante de Deus e submetemos a Ele a nossa vida… Adorar a Deus faz-nos bem. Deram-lhe presentes, porque diante de Deus só podemos ofertar o melhor de nós.
 
- Tenho procurado ser um adorador? Tenho adorado Jesus na Eucaristia, diante do Sacrário? Tenho procurado viver momentos de adoração na Igreja ou mesmo em casa quando estou sozinho? Elevo o meu pensamento ao Senhor e, no meu dia a dia, mesmo ocupado, penso no Senhor e adoro-O em espírito e verdade? Tenho feito da minha vida uma oferta a Deus?