Salmo Responsorial: 23
R. O Senhor do Universo é o Rei da
glória.
Levantai, ó
portas, os vossos umbrais, alteai-vos, pórticos antigos, e entrará o Rei da
glória.
Quem é esse
Rei da glória? O Senhor forte e poderoso, o Senhor poderoso nas batalhas.
Levantai, ó
portas, os vossos umbrais, alteai-vos, pórticos antigos, e entrará o Rei da
glória.
Quem é esse
Rei da glória? O Senhor dos Exércitos, é Ele o Rei da glória.
2ª Leitura (Heb
2,14-18): Uma vez que os filhos dos homens têm
o mesmo sangue e a mesma carne, também Jesus participou igualmente da mesma
natureza, para destruir, pela sua morte, aquele que tinha poder sobre a morte,
isto é, o diabo, e libertar aqueles que estavam a vida inteira sujeitos à
servidão, pelo temor da morte. Porque Ele não veio em auxílio dos Anjos, mas
dos descendentes de Abraão. Por isso devia tornar-Se semelhante em tudo aos
seus irmãos, para ser um sumo sacerdote misericordioso e fiel no serviço de
Deus, e assim expiar os pecados do povo. De facto, porque Ele próprio foi
provado pelo sofrimento, pode socorrer aqueles que sofrem provação.
Aleluia. Luz para se
revelar às nações e glória de Israel, vosso povo. Aleluia.
Evangelho (Lc
2,22-40): E quando se completaram os dias da
purificação, segundo a lei de Moisés, levaram o menino a Jerusalém para
apresentá-lo ao Senhor, conforme está escrito na Lei do Senhor: «Todo
primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor”. Para tanto, deviam
oferecer em sacrifício um par de rolas ou dois pombinhos, como está escrito na
Lei do Senhor. Ora, em Jerusalém vivia um homem piedoso e justo, chamado
Simeão, que esperava a consolação de Israel. O Espírito do Senhor estava com
ele. Pelo próprio Espírito Santo, ele teve uma revelação divina de que não
morreria sem ver o Ungido do Senhor. Movido pelo Espírito, foi ao templo.
Quando os pais levaram o menino Jesus ao templo para cumprirem as disposições
da Lei, Simeão tomou-o nos braços e louvou a Deus, dizendo: «Agora, Senhor,
segundo a tua promessa, deixas teu servo ir em paz, porque meus olhos viram a
tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as
nações e glória de Israel, teu povo». O pai e a mãe ficavam admirados com
aquilo que diziam do menino. Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe: «Este
menino será causa de queda e de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um
sinal de contradição — e a ti, uma espada traspassará tua alma! — e assim serão
revelados os pensamentos de muitos corações». Havia também uma profetisa,
chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Ela era de idade avançada.
Quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido. Depois ficara
viúva e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do templo; dia e
noite servia a Deus com jejuns e orações. Naquela hora, Ana chegou e se pôs a
louvar Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de
Jerusalém. Depois de cumprirem tudo conforme a Lei do Senhor, eles voltaram
para Nazaré, sua cidade, na Galileia. O menino foi crescendo, ficando forte e
cheio de sabedoria. A graça de Deus estava com ele».
«Agora, Senhor,
segundo a tua promessa, deixas teu servo ir em paz, porque meus olhos viram a
tua salvação»
Rev. D. Lluís RAVENTÓS i Artés (Tarragona, Espanha)
A Simeão
«Fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que não morreria sem primeiro ver o
Cristo do Senhor» (Lc 2,26), e hoje, «movido pelo Espírito», subiu ao Templo.
Ele não é levita, nem escriba, nem doutor da Lei, é somente um homem «Ora,
havia em Jerusalém um homem chamado Simeão. Este homem, justo e piedoso,
esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava nele» (Lc 2,25) O
vento sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para
onde vai. Assim é também todo aquele que nasceu do Espírito”. (cf. Jo 3,8).
Agora
comprova com desconcerto que não se tem feito nenhum preparativo, não se veem
bandeiras, nem grinaldas, nem escudos em nenhum lugar. José e Maria cruzam a
explanada levando o Menino nos braços. «Levantai, ó portas, os vossos frontões,
erguei-vos, portas antigas, para que entre o rei da glória» (Sal 24,7), clama o
salmista.
Simeão
avança para saudar a Mãe com os braços estendidos, recebe ao Menino e abençoa a
Deus, dizendo: «Agora, Senhor, deixai o vosso servo ir em paz, segundo a vossa
palavra. Porque os meus olhos viram a vossa salvação. Que preparastes diante de
todos os povos, como luz para iluminar as nações, e para a glória de vosso povo
de Israel» (Lc 2,29-32).
Depois diz
a Maria: «E uma espada traspassará a tua alma!» (Lc 2,35). Mãe! —digo-lhe—
quando chegue o momento de ir à casa do Pai, leva-me nos braços como Jesus, que
também eu sou teu filho e menino.
COMENTÁRIO DOS TEXTOS
BÍBLICOS
O encontro
de Jesus com Simeão e Ana no templo de Jerusalém, aparece como o símbolo de uma
realidade muito maior e universal: a humanidade encontra seu Deus na Igreja.
Ouvimos do Profeta Malaquias (Ml 3, 1-4) que prenunciava esse encontro:
"Eis que envio meu anjo, e ele há de preparar o caminho para mim; logo
chegará ao seu Templo o Senhor que buscais, o anjo da aliança que desejais.” No
Templo, Simeão reconheceu como Messias esperado a Jesus e o proclamou Salvador
e luz do mundo. Compreendeu que, doravante, o destino de cada homem se decidia
de acordo com a atitude assumida em relação a ele; Jesus será causa ou de ruína
ou de ressurreição.
Nossa
Senhora preparou o seu coração, como só Ela o podia fazer, para apresentar o
seu Filho a Deus Pai e oferecer-se Ela mesma com Ele. Ao fazê-lo, renovava o
seu faça-se (SIM) e punha uma vez mais a sua vida nas mãos de Deus. Jesus foi
apresentado ao Pai pelas mãos de Maria. Nunca se fez nem se tornaria a fazer
uma oblação semelhante naquele Templo.
A festa de
hoje convida-nos a entregar ao Senhor, uma vez mais, a nossa vida, pensamentos,
obras…, todo o nosso ser. E podemos fazê-lo de muitas maneiras.
A liturgia
desta festa quer manifestar, com efeito, que a vida do cristão é como uma
oferenda ao Senhor, traduzida na procissão dos círios acesos que se consomem
pouco a pouco, enquanto iluminam. Cristo é profetizado como a Luz que tira da
escuridão o mundo sumido em trevas.
Seus pais
maravilharam-se do que se dizia dele. Maria, que guardava no seu coração a
mensagem do Anjo e dos pastores, escuta novamente admirada a profecia de Simeão
sobre a missão universal do seu Filho: a criança que sustenta nos seus braços é
a Luiz enviada por Deus Pai para iluminar todas as nações: é a glória do seu
povo.
É um
mistério ligado à oferenda feita no Templo e que nos recorda que a nossa
participação na missão de Cristo, que nos foi conferida no batismo, está
estritamente ligada à nossa entrega pessoal. A festa da Apresentação do Senhor
é um convite a darmo-nos sem medida, a “arder diante de Deus, como essa luz que
se coloca sobre o candelabro para iluminar os homens que andam em trevas; como
essas lamparinas que se queimam junto do altar, e se consomem alumiando até se
gastarem”. (São Josemaría Escrivá, Forja, 44). Meu Deus, dizemos hoje ao
Senhor, a minha vida é para Ti; não a quero se não for para gastá-la junto de
Ti. Para que outra coisa haveria de querê-la?
São
Bernardo recorda-nos que “está proibido apresentar-se ao senhor de mãos
vazias.” Simeão abençoou os pais do Menino e disse a Maria, a mãe de Jesus:
Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em
Israel. Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos
de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma” (Lc 2,
34-35).
Jesus traz
a salvação a todos os homens; no entanto, para alguns será sinal de
contradição, porque se obstinam em rejeitá-Lo.
O
Evangelista São Lucas narra também que Simeão, depois de se referir ao Menino,
se dirigiu inesperadamente a Maria, vinculando de certo modo a profecia
relativa ao Filho com outra que se relacionava com a mãe: “uma espada
atravessará a tua alma”. Com estas palavras do ancião, o nosso olhar desloca-se
do Filho para a Mãe, de Jesus para Maria. É admirável o mistério deste vínculo
pelo qual Ela se uniu a Cristo, àquele Cristo que é sinal de contradição.
Estas
palavras dirigidas à Virgem anunciavam que Ela estaria intimamente unida à obra
redentora do seu Filho. A espada a que Simeão se refere expressa a participação
de Maria nos sofrimentos do Filho; é uma dor indescritível, que atravessa a sua
alma. O Senhor sofreu na Cruz pelos nossos pecados; e esses mesmos pecados de
cada um de nós forjaram a espada de dor da nossa Mãe.
Podemos
servir-nos das palavras de Santo Afonso Maria de Ligório, invocando Maria como
intercessora: “Minha Rainha, seguindo o vosso exemplo, também eu queria
oferecer hoje a Deus o meu pobre coração…Oferecei-me como coisa vossa ao Pai
Eterno, em união com Jesus, e pedi-lhe que, pelos méritos do seu Filho, e em vossa
graça, me aceite e me tome por seu”.
Por meio de
Maria, o Senhor acolherá uma vez mais a entrega que lhe fizermos de tudo o que
somos e temos.
Para Refletir
Primeiramente,
o Encontro – Festa do Encontro, a de hoje! – do Messias Filho de Davi com a Sua
Cidade Santa e o Seu Templo. Quantas vezes os profetas haviam anunciado que
Jerusalém haveria de alegrar-se pela vinda do Enviado Salvador: “Dança de
alegria, filha de Sião, dá vivas, filha de Jerusalém, pois agora o teu rei está
chegando, justo e vitorioso” (Zc 9,9); “Grita de alegria, filha de Sião! Canta,
Israel! Filha de Jerusalém fica contente, de todo o coração, dá gritos de
alegria! O Senhor aboliu a sentença contra ti, afastou teus inimigos. O rei de
Israel é o Senhor, que está em teu meio; não precisarás mais ter medo de alguma
desgraça. Naquele dia, Deus dirá a Jerusalém: ‘Não tenhas medo, Sião! Não te
acovardes!’” (Sf 3,14-16).
Pois bem,
ei-lo agora, realizando a promessa do Senhor Deus e a esperança de Israel.
Jesus-Messias vem à Cidade Santa e ao Templo, cumprindo quanto Israel tanto
sonhou: “Assim diz o Senhor: ‘Logo chegará ao Seu templo o Dominador, que
tentais encontrar, e o Anjo da Aliança, que desejais. Ei-lo que vem, diz o
Senhor dos exércitos; e quem poderá fazer-Lhe frente, no dia de Sua chegada? E
quem poderá resistir-Lhe, quando Ele aparecer? Ele é como o fogo da forja e
como a barrela dos lavadeiros; e estará a postos, como para fazer derreter e
purificar a prata: assim Ele purificará os filhos de Levi e os refinará como
ouro e como prata, e eles poderão assim fazer oferendas justas ao Senhor. Será
então aceitável ao Senhor a oblação de Judá e de Jerusalém, como nos primeiros
tempos e nos anos antigos’” (Ml 3,1-4). Por isso as palavras emocionadas,
exultantes, agradecidas do Velho Simeão, que representa hoje todo o Antigo
Israel: “Agora, Senhor, conforme a Tua promessa, podes deixar Teu servo partir
em paz; porque meus olhos viram a Tua salvação, que preparaste diante de todos
os povos: luz para iluminar as nações e glória do Teu povo Israel” (Lc
2,29-32).
Um segundo
sentido, nascido das próprias palavras de Simeão: esse Menino é glória para o
Antigo Israel e Luz para iluminar todas as nações da terra! Ele é o Servo
Sofredor, humilde e pobre, anunciado por Isaías Profeta: “Ele disse: ‘É bem
pouco seres o Meu servo só para restaurar as tribos de Jacó, só para trazer de
volta os israelitas que escaparam, quero fazer de Ti uma luz para as nações,
para que a Minha salvação chegue até os confins do mundo’” (Is 49,6). Eis por
que nós, Novo Israel, Igreja de Cristo, Jerusalém do Alto, Cidade dos cristãos,
devemos fazer nossas as esperanças e as alegrias do Antigo Israel e exultar
hoje com a vinda do santo Messias! Que Ele encontre sempre Sua Igreja e o
coração de cada um de nós abertos para reconhecê-Lo e acolhê-Lo! Conforme as
palavras de Simeão, Ele é Luz para iluminar as nações. Por isso, a Missa começa
com uma procissão com velas: eis o Menino-Luz que veio iluminar o mundo
inteiro!
As velas
acesas que trazemos nas mãos na procissão que introduz a Missa têm ainda um
ulterior significado: a Igreja, Jerusalém da Nova Aliança, recebe como Virgem
fiel o seu Esposo-Luz, que é Jesus. Como as virgens prudentes da parábola, a
Igreja mantém a luz da sua fé, do seu amor e da sua esperança em meio às trevas
deste mundo, das tantas lutas, combates e incertezas! “Eis o Noivo que chega!
Saiamos ao encontro de Cristo!” Ele vem vindo sempre e nós devemos saber
reconhecê-Lo e acolhê-Lo! Para isso, é essencial vigiar nas noites da vida!
Um último
mistério desta Festa: a Virgem Maria. Ela traz nos seus braços seus filho
único, seu Menino que é Luz. Vem para ofertá-Lo ao Senhor. Como a pobre viúva,
ela dá tudo a Deus – esse tudo, que é seu único e amado filhinho! Ela é a
Virgem oferente, mais que nosso pai Abraão, que ofereceu Isaac. Por que digo
isto? Porque Deus poupou sacrifício de Isaac oferecido; mas não poupou o filho
de Maria. Simeão a previne: “A oferta foi aceita! Uma espada, Virgem Maria,
traspassará teu coração! Chegará a hora da cruz e tu estarás lá, consumando a
oferenda do teu único filho, daquele que é tudo para ti! Maria aqui, torna-se
modelo de total entrega ao Senhor Deus, de total pobreza e desapego! Mais
ainda: observe que Simeão anuncia sua dor como participação na obra da nossa
salvação! Para que fôssemos salvos, para que o universo chegasse à plenitude,
para que fôssemos salvos da morte eterna, o Filho da Virgem teve que Se tornar
sinal de contradição, até à cruz... E isto envolveu uma espada duramente
traspassada no coração materno da Toda Santa! O ensinamento da Escritura é
claro: não se pode pensar a salvação sem contemplar o papel singularíssimo que
a Virgem nela ocupa! Hoje, a piedade popular chama a Santíssima Virgem de Nossa
Senhora da Apresentação, Nossa Senhora da Purificação, Nossa Senhora da Luz,
Nossa Senhora das Candeias, Nossa Senhora da Candelária.
Muito bem,
meu caro Amigo! Vamos nós, com a lâmpada da fé, do amor e da esperança, ao
encontro do Esposo que vem!