Lectio Divina - IV Semana da Páscoa
«Eu sou o Bom
Pastor: o bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas.»
O caminho pascal só tem sentido se
continuarmos a fixar o nosso olhar em Cristo, Bom Pastor. Esta passagem
completa o discurso que Jesus dirige aos seus discípulos, no qual deseja
explicar quem é e qual a razão da sua vinda e ainda ajudá-los a distinguir a
Sua presença e o seu modo de agir dos outros mestres, contemporâneos ou
futuros, que podem encontrar.
Jesus é o Pastor das nossas almas; um
pastor paciente, misericordioso, disposto a sacrificar a sua vida por nós. Com
o Evangelho deste Domingo, somos chamados a renovar a confiança, o acolhimento,
a adesão a Cristo que Ele abre as portas do seu coração para nos admitir no seu
Reino de paz e alegria que não tem fim.
Ao
Evangelista João cabe a missão de trazer à luz a bondade do Pastor, a sua
dedicação e o seu amor incondicional pelas suas ovelhas. Para além deste
aspecto, sublinha o comportamento daqueles que se proclamam guias do povo, mas
mais do que orientar, procuram o poder e o sucesso, colocando em primeiro lugar
o interesse pessoal.
Embora
nos possa parecer um pouco ridículo sermos comparados com um rebanho, esta
imagem reflete a nossa condição: sem meios de defesa e sem um guia que se
revele um pastor verdadeiro, podemos ser arrebatados pelos “lobos”. A vocação
cristã nasce do amor de Cristo e é fruto da sua fidelidade ao amor do Pai.
Evangelho segundo S. João (10, 11-18)
“Naquele tempo, disse Jesus: «Eu sou o Bom Pastor: o
bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas. O mercenário, como não é pastor, nem
são suas as ovelhas, logo que vê vir o lobo, deixa as ovelhas e foge, enquanto
o lobo as arrebata e dispersa. O mercenário não se preocupa com as ovelhas. Eu
sou o Bom Pastor: conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me, do
mesmo modo que o Pai me conhece e Eu conheço o Pai; Eu dou a vida pelas minhas
ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil e preciso de as
reunir; elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só Pastor. Por
isso o Pai me ama: porque dou a minha vida, para poder retomá-la. Ninguém ma
tira, sou Eu que a dou espontaneamente. Tenho o poder de a dar e de a retomar:
foi este o mandamento que recebi de meu Pai.”»
SEGUNDA FEIRA
PALAVRA - Naquele tempo, disse Jesus: «Eu sou o Bom
Pastor: o bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas.
Jesus
apresenta-se como Bom Pastor: pastor verdadeiro, autêntico, que sabe fazer o
seu trabalho. É um convite a pensá-lo deste modo: amável, doce e próximo. Jesus
apresenta-se como Pastor, sabendo que esta imagem, na primeira Aliança, indica
o próprio Deus: «Eu sou…», que, revela também a Sua identidade com Deus,
traduzindo depois em gestos concretos e significativos as várias imagens deste
Deus que se interessa pelos homens.
MEDITAÇÃO
Para
entender bem o que Jesus nos quer dizer, devemos colocar-nos numa atitude de
escuta atenta e, mais do que tentar compreender, devemos fazer espaço para experimentá-lo.
Jesus cumpre a obra que o Pai iniciou: trata e cuida do seu povo, até dar a
vida por ele. Jesus ama até ao ponto de dar a vida. É incrível, como isto possa
acontecer: um Deus que nos quer mesmo bem, um bem que nos compete apenas
contemplá-lo, e que nos deve encher de alegria. Alegria que deve chegar a tocar
o coração e a vida de todos. Jesus está ligado a nós, de modo tão passional que
sacrifica a sua vida, tudo e somente por amor. Por isso, como refere o salmista
“refugiemo-nos no Senhor, mais do que nos homens” (salmo 117).
ORAÇÃO
Em
ação de graças pelo imenso amor com que Deus me ama, rezo, com calma, o salmo
117:
Dai
graças ao Senhor, porque Ele é bom,
Porque é eterna a sua misericórdia.
Mais vale refugiar-se no Senhor,
Do que fiar-se nos homens.
Mais vale refugiar-se no Senhor,
Do que fiar-se nos poderosos.
Eu
Vos darei graças, porque me ouvistes
E fostes o meu salvador.
A pedra que os construtores rejeitaram
Tornou-se pedra angular.
Tudo isto veio do Senhor:
É admirável aos nossos olhos.
Bendito
o que vem em nome do Senhor,
Da casa do Senhor nós vos bendizemos.
Vós sois o meu Deus: eu vos darei graças.
Vós sois o meu Deus: eu vos exaltarei.
Dai graças ao Senhor, porque ele é bom,
Porque é eterna a sua misericórdia.
AÇÃO
Em
tudo o me rodeia procurarei ver a bondade de Deus para comigo, mesmo que isso implique
a passagem por alguma situação mais difícil e complicada. Que seja capaz de
dizer a mim mesmo: Jesus, Tu és o meu bom Pastor, aquele que me salva.
TERÇA FEIRA
PALAVRA - O mercenário, como não é pastor, nem são
suas as ovelhas, logo que vê vir o lobo, deixa as ovelhas e foge, enquanto o
lobo as arrebata e dispersa. O mercenário não se preocupa com as ovelhas.
Dando
maior relevo à imagem, Jesus contrapõe-na à imagem do mercenário. O mercenário,
sendo assalariado, não cria laços com o rebanho, não se liga afetivamente às
ovelhas, não se ocupa totalmente delas, não coloca em risco a sua existência.
Em caso de perigo “logo que vê vir o lobo”, quer salvar-se, e foge. O motivo é
claro: as ovelhas não lhe pertencem.
MEDITAÇÃO
Uma
primeira característica do pastor é o amor e a coragem com que defende as suas
ovelhas. Ao contrário do mercenário, o pastor, expõe-se ao perigo. O mercenário
é como os ídolos, depois de nos seduzirem e de nos “espremerem”, abandonam-nos nos
momentos que mais necessitamos, não mantêm a promessa, desiludem e fazem perder
a esperança, deixando-nos nas garras do “lobo”. Acabamos por cair na rede das
forças do mal e cada época tem os seus “lobos”; por vezes têm nome e sobrenome,
mas a maioria é anônima: indicam mentalidades confusas, falsos modelos de
Homem, a “moda” que serpenteia e ataca o interior do grupo. O mal, o pecado
arrebata o Homem da verdade e o dispersa, sem sentido, pelo mundo. Este
excerto, questiona-nos: o que quero, afinal, para a minha vida? Por quem me
deixo guiar?
ORAÇÃO
Senhor,
é maravilhoso, sentir que não me abandonas, mesmo quando Te viro as costas e me
deixo levar pelos ídolos que não passam de mercenários, que não se importam
comigo, porque não lhes pertenço. Acolhe-me, Senhor, na minha pobreza e na
minha fragilidade, e faz que volte a Ti e ao rebanho que vive e sente,
quotidianamente, o Teu Amor.
AÇÃO
Hoje,
procurarei estar atento às várias coisas e pessoas que me rodeiam,
particularmente, aos meios com os quais mais comunico: internet, televisão,
telemóvel... também ali, posso encontrar “mercenários” que me querem guiar, mas
que me deixam sozinho no momento difícil e de perigo, pois não me alertam para
nada, simplesmente me deixam andar a divagar.
QUARTA FEIRA
PALAVRA - Eu sou o Bom Pastor: conheço as minhas
ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me, do mesmo modo que o Pai me conhece e
Eu conheço o Pai; Eu dou a vida pelas minhas ovelhas.
Jesus, o Bom Pastor,
não ama multidões, mas ama cada um pessoalmente. E usa palavras delicadas que
exprimem uma recíproca comunhão e conhecimento.
No
Antigo Testamento os temas da escolha, do amor de Deus, do recíproco
conhecimento, da vida comum, da condenação dos falsos pastores, reunir o povo
da dispersão, abandono, são muito falados e frutos de relações oportunistas,
falsas, de prepotência e de abuso. Temas como a pertença, conhecimento,
sacrifício, entrega, fraternidade, são frutos do amor.
MEDITAÇÃO
Sabemos
que na Bíblia, o verbo conhecer, implica uma experiência profunda, indica o
envolvimento completo no amor. Passa mais pelo coração do que pela mente. De fato
há um conhecimento, uma intimidade, um amor recíproco entre pastor e ovelhas.
Ele chama cada uma pelo seu nome, conhece-as por causa da afetividade/amor que
os uniu. Assim, acontece conosco: chamados pelo nome, amados pelo que somos,
não perdemos a nossa personalidade mas Deus quer que sejamos aquilo para o qual
fomos chamados: a viver como filhos de Deus. O conhecimento íntimo por parte de
Jesus é comparado com o conhecimento recíproco entre Pai e Filho. Permanecer no
“rebanho” é possibilidade de experimentar o seu amor e de conhecer o seu coração.
Estar com Jesus é conhecer o Pai, viver com o Filho é entrar na dinâmica do
amor trinitário. O dom de Jesus continua a fazer-se presente: um dar-se
contínuo, na obediência a um projeto; ser transparência, sinal e benevolência
do Pai. Serei capaz de corresponder assim à vontade do Pai?
ORAÇÃO
Senhor,
Pastor e Guia seguro da minha vida, Tu que me chamas pelo nome, faz que em cada
instante do meu quotidiano reconheça a Tua voz, que sinta o calor da Tua
presença que me envolve, mesmo quando a estrada se manifesta impraticável e a
noite é profunda e interminável. Seguindo-te, sem resistências e sem medo,
chegarei aos prados verdejantes, às fontes de água pura, onde Tu me farás
repousar. Amém.
AÇÃO
Hoje,
procurarei um tempo, na minha jornada, para encontar-me com Deus. Num momento
por mim escolhido, entrarei em mim mesmo e viajarei até ao profundo do coração
e aí colocarei a pergunta: Quem sou eu? Quem é Deus para mim? Quem é Jesus para
mim? A minha opção é fazê-lo com seriedade: um tempo de conhecimento para mim e
para o meu Deus.
QUINTA FEIRA
PALAVRA - Tenho ainda outras ovelhas que não são deste
redil e preciso de as reunir; elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e
um só Pastor.
Alguém
escrevia: «Parece longínquo o dia em que toda a humanidade fará esta
experiência de conhecimento recíproco com Deus». Jesus faz a vontade do Pai,
porque sabe que esta O leva à verdadeira liberdade. Mas também sabe que são
muitas as pessoas que não acolheram o seu amor «Tenho ainda outras ovelhas que
não são deste redil e preciso de reuni-las». E como um bom pastor, Ele nunca
desistirá se perder uma só das suas ovelhas, por isso fará todo o esforço para reuni-las.
MEDITAÇÃO
De
fato existem outros recintos, outros movimentos religiosos ou laicos, existem
outros lugares que possivelmente não deixam o Homem livre. Jesus, no seu imenso
amor, quer que todos vivam segundo a liberdade proposta pelo Pai: a liberdade
dos filhos de Deus, que vivem a partir do amor. O seu zelo, a sua paixão pela
humanidade, leva-o a desejar que todos os que se encontram longe escutem a sua
voz, reconheçam a voz do Pastor e todos falem a mesma linguagem. Deus ama
demasiado o mundo, pois tudo foi feito por Ele, para excluir quem quer que
seja. Seremos nós a fazê-lo? Com que autoridade? Como cristãos, somos chamados
à unidade no amor, pois só o amor salva.
Um
só rebanho, um só Pastor, uma Igreja “una”, aberta a todos que respeita a
diferença como lugar de esperança e de crescimento. Um só espírito, um só
Senhor que é servo de todos, um só Deus que é tudo em todos. Queremos melhor
programa de vida?
ORAÇÃO
Medito
nas palavras do apóstolo João: «Vede que admirável amor, o Pai nos consagrou em
nos chamarmos filhos de Deus. E somo-lo de fato. Se o mundo não nos conhece, é
porque não O conheceu a Ele.» (1 Jo 3, 1)
AÇÃO
Como
cristão sou convidado a dar testemunho da minha fé: empenhar-me-ei em
aproximar-me das pessoas que hoje passarão por mim, e não deixarei de dar o meu
contributo para que o amor de Deus passe através de mim: um gesto, uma atitude,
uma palavra farão a diferença e brilharei como astro no mundo, porque levo em
mim a luz de Cristo.
SEXTA FEIRA
PALAVRA - Por isso o Pai me ama: porque dou a minha
vida, para poder retomá-la. Ninguém ma tira, sou Eu que a dou espontaneamente.
Jesus
revela-se homem livre. Apresenta a liberdade nesta dinâmica de amor. Jesus
entrega a Sua vida voluntariamente. Faz-nos pensar que o seu não é um morrer
qualquer, é a realização da própria existência como dom total de amor.
«Retomá-la» significa que o destino de quem dá a vida não é a morte, mas a
plenitude da vida.
MEDITAÇÃO
Em
Jesus a vida torna-se aquilo que é: circulação viva do amor, dom recebido e
dado. A vida dá-se, entrega-se por amor; o amor dá a vida gratuitamente, sem
forçar nada nem ninguém. É nesta dimensão do dom que compreendemos o gesto de
Jesus: a sua morte nos salva porque é um livre gesto de amor. É nesta dinâmica
que cada um de nós também está convidado a viver. Como cristãos, como filhos de
Deus, a nossa vocação passa pelo caminho da doação aos outros, sempre num
serviço de amor, numa atitude de confiança em Deus Pai. «Se o grão de trigo,
lançado à terra, não morrer, fica só; se morrer dá muito fruto. Quem se ama a
si mesmo, perde-se; quem se despreza a si mesmo, neste mundo, assegura para si
a vida eterna» (Jo 12, 24-25).
ORAÇÃO
Obrigado,
Senhor, porque és o Bom Pastor, que conheces e dás a vida. És o Bom Pastor que
amas na intimidade e me convidas a seguir-Te. Se eu estou no espaço do amor,
qual a minha resposta, Senhor? Ajuda-me a dizer: «Eis-me aqui».
AÇÃO
Viverei
este dia em ação de graças: agradeço o dom da vida, o dom da fé, o dom da
amizade, o dom do serviço. um bom projeto de vida: viver na lógica do dom, cada
instante da vida, pois é a forma de a recuperar.
SÁBADO
PALAVRA - Tenho o poder de a dar e de a retomar: foi
este o mandamento que recebi de meu Pai.
O
dom da salvação não nos foi dado como um privilégio mas como um verdadeiro
chamamento a participar da missão do Pastor: salvar todo o gênero humano. É
verdade que é Deus que salva, mas serve-se de pessoas. Pessoas chamadas a viver
a 100% o mandamento do amor.
MEDITAÇÃO
O
Evangelho de hoje, termina apelando ao Mandamento do Amor, o mandamento que o
Pai entregou ao Filho e o Filho a nós. Passarão os céus e a terra, mas o amor
não passará. Este é o poder, livre e libertador do Filho. Até que ponto me
insiro nesta dinâmica? Que “voz” escuto? Estou atenta aos sinais que o Senhor
me vai mandando? Não é tempo de reter o amor, mas é tempo de dar-se. É tempo de
abrir as mãos, e partir ao encontro; é tempo de ser palavra, pão, coração junto
de todos. E fazê-lo com Cristo, por Cristo e em Cristo.
ORAÇÃO
Num
lugar onde possa encontrar silêncio faço a minha oração pessoal a partir o
mandamento do amor «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Não há maior
prova de amor do que dar vida».
AÇÃO
Valorizarei
as atitudes que sejam sinais do amor proveniente de Deus. Se conseguir fazer
algum voluntariado junto de alguma família, de alguma associação, de um lar de
crianças ou idosos da zona... (verás se não haverá mais alegria em dar do que
em receber).