sábado, 30 de setembro de 2023

Segunda-feira da 26ª semana do Tempo Comum

Santos Anjos da Guarda
 
1ª Leitura (Zac 8,1-8):
A palavra do Senhor do Universo foi-me dirigida nestes termos: «Assim fala o Senhor do Universo: Sinto por Sião um amor ardente, tenho por ela um grande ciúme. Assim fala o Senhor: Eu voltarei para Sião, habitarei em Jerusalém. Jerusalém será chamada ‘Cidade fiel’ e o monte do Senhor do Universo ‘Monte Santo’. Assim fala o Senhor do Universo: Velhos e velhas voltarão a sentar-se nas praças de Jerusalém, cada um apoiado no seu bastão por causa da muita idade. As praças da cidade encher-se-ão de meninos e meninas, que brincarão nas suas praças. Assim fala o Senhor do Universo: Se isto parece impossível, naqueles dias, aos olhos do resto deste povo, porventura será também impossível a meus olhos? – oráculo do Senhor do Universo. Assim fala o Senhor do Universo: Eu libertarei o meu povo, das terras do Oriente e das terras do Ocidente. Hei de trazê-los de novo para habitarem em Jerusalém. Eles serão o meu povo e Eu serei o seu Deus na fidelidade e na justiça».
 
Salmo Responsorial: 101
R. Quando o Senhor restaurar Sião, manifestará a sua glória.
 
Os povos temerão, Senhor, o vosso nome, todos os reis da terra a vossa glória. Quando o Senhor reconstruir Sião e manifestar a sua glória, atenderá a súplica do infeliz e não desprezará a sua oração.
 
Escreva-se tudo isto para as gerações vindouras e o povo que se há-de formar louvará o Senhor. Debruçou-Se do alto da sua morada, lá do Céu o Senhor olhou para a terra, para ouvir os gemidos dos cativos, para libertar os condenados à morte.
 
Os filhos dos vossos servos hão de permanecer e a sua descendência se perpetuará na vossa presença, para ser proclamado em Sião o nome do Senhor e em Jerusalém o seu louvor, quando se reunirem todos os reinos para servirem o Senhor.
 
Aleluia. O Filho do homem veio para servir e dar a vida pela redenção dos homens. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 9,46-50): Surgiu entre os discípulos uma discussão sobre qual deles seria o maior. Sabendo o que estavam pensando, Jesus pegou uma criança, colocou-a perto de si e disse-lhes: «Quem receber em meu nome esta criança, estará recebendo a mim mesmo. E quem me receber, estará recebendo Aquele que me enviou. Pois aquele que entre todos vós for o menor, esse é o maior». Tomando a palavra, João disse: «Mestre, vimos alguém expulsar demônios em teu nome, mas nós lhe proibimos, porque não anda conosco». Jesus respondeu: «Não o proibais, pois quem não é contra vós, está a vosso favor».
 
«Aquele que entre todos vós for o menor, esse é o maior»
 
Prof. Dr. Mons. Lluís CLAVELL (Roma, Itália)
 
Hoje, caminho de Jerusalém em direção à paixão, «surgiu entre os discípulos uma discussão sobre qual deles seria o maior» (Lc 9,46). Cada dia os meios de comunicação e também nossas conversas estão cheias de comentários sobre a importância das pessoas: dos outros e de nós mesmos. Esta lógica só humana produz, frequentemente, desejo de vitória, de ser reconhecido, apreciado, correspondido, e a falta de paz, quando estes reconhecimentos não chegam.
 
A resposta de Jesus a estes pensamentos -até mesmo comentários- dos discípulos, lembra o estilo dos antigos profetas. Antes das palavras estão os gestos. Jesus «pegou uma criança, colocou-a perto de si» (Lc 9,47). Depois vem o ensinamento: «aquele que entre todos vós for o menor, esse é o maior» (Lc 9,48). -Jesus, por que custa tanto aceitar que isto não é uma utopia para as pessoas que não estão implicadas no tráfico de uma tarefa intensa, na qual não faltam os golpes de uns contra os outros, e que, com a tua graça, podemos vivê-lo todos? Se o fizéssemos, teríamos mais paz interior e trabalharíamos com mais serenidade e alegria.
 
Esta atitude é também a fonte de onde brota a alegria, ao ver que outros trabalham bem por Deus, com um estilo diferente do nosso, mas sempre assumindo o nome de Jesus. Os discípulos queriam impedi-lo. Em troca, o Mestre defende aquelas outras pessoas. Novamente, o fato de sentir-nos filhos pequenos de Deus facilita-nos a ter o coração aberto para todos e crescer na paz, na alegria e na gratidão. Estes ensinamentos valeram à Santa Teresinha de Lisieux o título de Doutora da Igreja: em seu livro História de uma alma, ela admira o belo jardim de flores que é a Igreja, e está contenta de perceber-se uma pequena flor. Ao lado dos grandes santos -rosas e açucenas- estão as pequenas flores -como as margaridas ou as violetas- destinadas a dar prazer aos olhos de Deus, quando Ele dirige o seu olhar à terra.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«É melhor ser cristão sem o dizer, do que dizê-lo sem o ser. É uma coisa ótima ensinar, mas na condição de que se pratique o que se ensina» (Santo Inácio de Antioquía)
 
«Comportamo-nos frequentemente como controladores de graça e não como seus facilitadores. Mas a Igreja não é uma alfândega» (Francisco)
 
«Extraordinários ou simples e humildes, os carismas são graças do Espírito Santo que, direta ou indiretamente, têm uma utilidade eclesial, ordenados como são para a edificação da Igreja, o bem dos homens e as necessidades do mundo» (Catecismo da Igreja Católica, nº 799)
 
Reflexão
 
Iluminando o texto. Se Lucas já havia apresentado a convergência das pessoas em torno Jesus para de reconhecê-lo na fé, para escutá-lo e assistir suas curas, agora se abre uma nova etapa em seu itinerário público. A pessoa de Jesus não monopoliza a atenção das multidões, mas ele é apresentado como aquele que está lentamente é tirado dos seus para ir ao Pai. Este itinerário inclui a viagem para Jerusalém. E enquanto faz esta viagem, Jesus revela-lhes o destino que o espera (9,22). Depois ele se transfigura diante deles, como que para indicar o ponto de partida do seu "êxodo" de Jerusalém. Mas imediatamente após a luz experimentada no evento da transfiguração, Jesus começa novamente a anunciar sua paixão deixando os discípulos na incerteza e perturbação. As palavras de Jesus sobre o evento de sua paixão, "o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens", encontram nos discípulos incompreensões (9,45) e medo silencioso (9,43).
 
O Reino dos Céus é de quem acolhe as crianças
 
Padre Roger Araújo - Sacerdote da Comunidade Canção Nova
 
* “Quem receber esta criança em meu nome, estará recebendo a mim”.
A pergunta do Evangelho de hoje é a discussão entre os discípulos para saber quem era o maior entre eles. Jesus não respondeu, Ele simplesmente pegou uma criança e colocou no meio deles. Para ser alguém ou até para entrar no Reino, é preciso, primeiro, acolher as crianças.
Na época de Jesus as crianças não eram nada. E, nos dias de hoje, nossas crianças estão sendo deixadas de lado, como se elas não significassem nada ou não importassem nada, quando, na verdade, elas são o que tudo importam para nós.
Nossas crianças precisam do nosso cuidado, da nossa atenção e do nosso acolhimento. Alguém diz: “As crianças não sabem de nada”. A criança é aquela que precisa saber de tudo, mas saber tudo a partir do nosso cuidado e da nossa atenção.
O Reino dos Céus é de quem acolhe as crianças e de quem se transforma numa criança. Não seja aquela pessoa infantil ou não viva a infantilidades, achando que isso é se tornar criança.
A criança é pura, não fala da vida dos outros, não carrega maldades, não vive de ressentimentos e de rancor. As crianças não vivem as disputas do mundo dos adultos. A criança só se torna vaidosa quando o pai, a mãe ou o mundo colocam a vaidade na cabeça delas e colocam elas para competirem umas com as outras.
 
* As crianças precisam ser acolhidas e amadas porque, onde elas estão, o Reino de Deus ali está. Uma criança, muitas vezes, perde a dignidade de criança, quando a mãe quer que a criança seja mais bonita do que as outras crianças. As crianças precisam ser acolhidas e amadas porque, onde elas estão, o Reino de Deus ali está.
Vivemos num mundo sujo, impuro, competitivo, vaidoso e maldoso. Precisamos extrair da pureza das crianças, da bondade delas o odor que purifica, renova, transforma e cura o mundo no qual estamos.
Os discípulos estavam discutindo para ver quem era o maior. Nós, adultos, estamos discutindo para ver quem sabe mais, quem pode mais, quem tem mais, quem conseguiu mais. Tudo isso são discussões tolas e bobas, discussões que diminuem a dignidade humana.
Que Jesus cale as nossas discussões, nossas brigas e nos leve a olhar para as crianças e, nelas, buscarmos o sentido e a pureza da vida.
Deus abençoe você!
 
O mais importante do Reino
 
Do site da Canção Nova

O Evangelho de hoje trata de um assunto que nunca sai de moda: a vaidade, a soberba, o orgulho, a avareza, ou seja, dos sete pecados capitais que se resume no desejo de ser grande. O desejo de se sentir importante é um dos mais primitivos desejos do ser humano. Aliás, o ditado popular diz que o coração do homem é insaciável de ambições. Quanto mais tem mais quer.
 
Diferentemente da nossa maneira de pensar, olhar e ver humanos, Jesus nunca olha para uma pessoa, mas sempre olha através da pessoa. Quando olhamos para alguém, não percebemos o que aquela pessoa está passando, pensando, sentindo. Isso nós só conseguimos saber quando nos anulamos e nos colocamos no lugar da outra pessoa. Jesus foi, então, o maior de todos os psicólogos que já existiu. Ele sondava o coração, e era capaz de ser aquela pessoa.
 
Na passagem de hoje, Ele sondou o coração dos discípulos e sentiu que eles se perguntavam quem, dentre os Doze, seria o maior. Eles eram humanos como nós, e dentro do grupo, procuravam uma posição de destaque. Observe que Jesus não coloca todos no mesmo patamar. Jesus admite que haja a possibilidade de alguém ser maior que os outros. Existe uma hierarquia no Reino dos Céus! Mas essa hierarquia é o inverso da nossa.
 
Aqui, neste mundo, quanto maior for a sua posição, mais inacessível você se torna. Na hierarquia de Jesus, quanto mais acessível você for, maior a sua posição. Viu como inverte duplamente? Neste mundo, você cresce e se torna inacessível; no Reino dos Céus, você se torna acessível e cresce!
 
Quando as pessoas tiverem medo e resistência em falar com você, significa que algo está errado. O primeiro passo é assumir. Se você não assumir, não vai conseguir nem passar para o segundo passo: descobrir o porquê. A maioria das pessoas quer interagir mais, ter mais e melhores amigos. Mas só o farão se encontrarem abertura no seu coração. E isto pode ser na forma de um sorriso, uma brincadeira ou até em você saber o nome da pessoa e chamá-la pelo nome. E esse já é o terceiro passo: abrir-se. Em pouco tempo, você já vai ser tão solicitado, que não vai dar nem conta de tanta responsabilidade.
 
O missionário do Reino, portanto, não pode desprezar ninguém! A criança que Jesus tomou em seus braços nesta passagem, representa não só as crianças, mas todos os que são excluídos neste mundo.
 
Jesus nos revela hoje a novidade do projeto de Deus: é um mundo de justiça, de vida plena para todos, abolindo os privilégios daqueles que concentram poder a partir da acumulação de riquezas ou do prestígio religioso. Percebe-se, nos Evangelhos, que os discípulos vindos do judaísmo sempre tiveram dificuldades em compreendê-lo. Estavam tomados pela ideologia messiânica nacionalista. Como Jesus falou para eles sobre a fragilidade de sua condição humana, vulnerável ao sofrimento e à morte, aludindo ao fim que pressentia acontecer em Jerusalém e os discípulos não entenderam e logo em seguida, passam a discutir quem seria o maior, pensando que Jesus estaria na iminência de conquistar o poder, assim também Ele quer falar para nós. Jesus nos apresenta como exemplo e, sobretudo, condição para sermos os maiores no Seu Reino o olhar puro e simples de uma criança. A criança como símbolo e modelo de humildade e exclusão do Reino dos Céus. Somos chamados a viver dedicados ao serviço, sem pretensões ao poder e a privilégios.
 
Pai, que eu busque sempre destacar-me no serviço ao meu semelhante, de modo especial, aos mais necessitados, pois nisto consiste minha verdadeira grandeza de discípulo. E que nesta busca eu seja simples, puro e humilde como as crianças.

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

XXVI Domingo do Tempo Comum

Sta. Teresa do Menino Jesus, Virgem de nossa Ordem e Doutora da Igreja
 
1ª Leitura (Ez 18,25-28):
Eis o que diz o Senhor: «Vós dizeis: ‘A maneira de proceder do Senhor não é justa’. Escutai, casa de Israel: Será a minha maneira de proceder que não é justa? Não será antes o vosso modo de proceder que é injusto? Quando o justo se afastar da justiça, praticar o mal e vier a morrer, morrerá por causa do mal cometido. Quando o pecador se afastar do mal que tiver realizado, praticar o direito e a justiça, salvará a sua vida. Se abrir os seus olhos e renunciar às faltas que tiver cometido, há-de viver e não morrerá».
 
Salmo Responsorial: 24
R. Lembrai-Vos, Senhor, da vossa misericórdia.
 
Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos, ensinai-me as vossas veredas. Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me, porque Vós sois Deus, meu Salvador: em vós espero sempre.
 
Lembrai-Vos, Senhor, das vossas misericórdias e das vossas graças que são eternas. Não recordeis as minhas faltas e os pecados da minha juventude. Lembrai-Vos de mim segundo a vossa clemência, por causa da vossa bondade, Senhor.
 
O Senhor é bom e reto, ensina o caminho aos pecadores. Orienta os humildes na justiça e dá-lhes a conhecer os seus caminhos.
 
2ª Leitura (Flp 2,1-11): Irmãos: Se há em Cristo alguma consolação, algum conforto na caridade, se existe alguma comunhão no Espírito, alguns sentimentos de ternura e misericórdia, então completai a minha alegria, tendo entre vós os mesmos sentimentos e a mesma caridade, numa só alma e num só coração. Não façais nada por rivalidade nem por vanglória; mas, com humildade, considerai os outros superiores a vós mesmos, sem olhar cada um aos seus próprios interesses, mas aos interesses dos outros. Tende em vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus. Ele, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte, e morte de cruz. Por isso, Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem, no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.
 
Aleluia. As minhas ovelhas ouvem a minha voz, diz o Senhor; Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 21,28-32): «Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse: ‘Filho, vai trabalhar hoje na vinha!’ O filho respondeu: ‘Não quero’. Mas depois mudou de atitude e foi. O pai dirigiu-se ao outro filho e disse a mesma coisa. Este respondeu: ‘Sim, senhor, eu vou’. Mas não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai?». Os sumos sacerdotes e os anciãos responderam: «O primeiro». Então Jesus lhes disse: «Em verdade vos digo que os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. Pois João veio até vós, caminhando na justiça, e não acreditastes nele. Mas os publicanos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes, para crer nele».
 
«Qual dos dois fez a vontade do pai?»
 
Dr. Josef ARQUER (Berlin, Alemanha)
 
Hoje, contemplamos o pai dono de uma vinha pedindo aos seus dois filhos: «Filho, vai trabalhar hoje na vinha!» (Mt 21,29). Um diz que “sim” e não vai. O outro diz que “não” e vai. Nenhum dos dois mantém a palavra dada.
 
Seguramente, o que diz “sim” e fica em casa não pretende enganar o seu pai. Será apenas preguiça, não apenas “preguiça para fazer”, mas também para refletir. O seu lema é: “O que me importa o que disse ontem?”.
 
O do “não”, sim que se importa com o que disse ontem. Tem remorsos pelo desaire com seu pai. Da dor arranca a valentia de retificar. Corrige a palavra falsa com o fato certo. “Errare, humanum est?”. Sim, mas ainda mais humano —e mais de acordo com a verdade interior gravada em nós— retificar. Mesmo que custe, porque significa humilhar-se, arrasar a soberba e a vaidade. Alguma que outra vez vivemos momentos assim: corrigir uma decisão precipitada, um juízo temerário, uma valorização injusta… Depois um suspiro de alívio: —Obrigado, Senhor!
 
«Em verdade vos digo que os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus» (Mt 21,31). S. João Crisóstomo realça a maestria psicológica do Senhor perante os “sumos sacerdotes”: «Não lhes atira à cara diretamente: Por que não acreditastes em João? Mas pelo contrário confronta-os —o que resulta muito mais pujante— com os publicanos e as prostitutas. Assim os recrimina com a força patente dos fatos, a malícia de um comportamento marcado pelos respeitos humanos e pela vanglória».
 
Inseridos na cena, provavelmente sentiremos a falta de um terceiro filho, dado às meias tintas, em cujo comportamento nos seria mais fácil reconhecer e pedir desculpa, envergonhados. Inventamo-lo com autorização de Senhor e ouvimo-lo responder ao pai, com voz apagada: `Pode ser que sim pode ser que não…” E há quem diga ter ouvido no final “o mais provável é que, talvez, quem sabe…”.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Nada há de tão fácil que a nossa tibieza não nos o apresente difícil e pesado» (s. João Crisóstomo)
 
«Nesta transformação do não´em sim´, nesta inserção da vontade da criatura na vontade do Pai, Ele transforma a humanidade e redime-nos. E convida-nos a entrar neste seu movimento: sair do nosso não ‘e entrar no sim´ do Filho» (Bento XVI)
 
«Deus é o Senhor soberano dos seus planos. Mas, para a realização dos mesmos, serve-Se também do concurso das criaturas. Isto não é um sinal de fraqueza, mas da grandeza e bondade de Deus omnipotente (...)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 306)
 
CHAMADOS A MUDAR TANTO COMO MATEUS
 
Dom Antônio Couto
 
1.
Mais uma parábola de Jesus, dita aos «chefes dos sacerdotes» e aos «anciãos» do povo, no seguimento de Mateus 21,23. São eles, os bem colocados na religião e na vida pública, que são interpelados por Jesus: «Que vos parece?» (Mateus 21,28); «Qual dos dois fez a vontade do Pai?» (Mateus 21,31). No final de duas parábolas em que a temática é a «vinha» (Mateus 21,28-46), são os «chefes dos sacerdotes» e os «fariseus» que reagem às interpelações de Jesus (Mateus 21,45-46).
 
2. Os fariseus aparecem no Evangelho de Mateus como aqueles que «dizem, mas não fazem» (Mateus 23,3). E «fazer», em oposição a dizer, é um tema fundamental neste Evangelho, assim expresso por Jesus no Discurso programático da Montanha: «Não todo aquele que me diz: “Senhor, Senhor” entrará no Reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos céus» (Mateus 7,21).
 
3. Mais ainda: neste Evangelho de Mateus, o verdadeiro «fazer» traduz-se em «fazer fruto», como consequência da conversão ou mudança operada na nossa vida. Como é importante, a ideia é recorrente neste Evangelho: veja-se Mateus 3,8; 7,16-20; 12,33; 13,8; 21,41.43; 25,40.45.
 
4. Mas também a «justiça» é um termo recorrente em Mateus. E «justiça», no Evangelho de Mateus, indica o desígnio divino de salvação e a nossa obediência a esse desígnio. Dada a sua importância, esta nota da «justiça» faz-se ouvir por sete vezes neste Evangelho: veja-se Mateus 3,15; 5,6.10.20; 6,1.33; 21,32.
 
5. Posto isto, é agora mais fácil deixar entrar em nós a força da parábola de Jesus, contada a gente habituada apenas a dizer, dizer, dizer… O homem e pai, na parábola, é Deus. A vinha é dele, mas é também nossa. Nunca se fala, no corpo desta parábola, da «minha» vinha. A vinha é, portanto, campo aberto de alegria e de liberdade, onde todos os filhos de Deus podem encontrar um novo espaço relacional, porventura ainda inédito, de filialidade e fraternidade.
 
6. É dito que este Pai tem dois filhos, que são todos os seus filhos, nas suas semelhanças e diferenças. Somos todos nós, nas nossas semelhanças e diferenças. Ao primeiro, o Pai diz: «Filho, vai hoje trabalhar na vinha» (Mateus 21,28). Note-se o termo carinhoso «filho», o imperativo da liberdade «vai», que nos coloca na estrada de Abraão, o «hoje», que requer resposta pronta e inadiável, e a «vinha», símbolo da festa e da alegria. Note-se ainda a resposta tresloucada deste «filho»: «Não quero» (Mateus 21,29a), e a emenda: «mas, depois, arrependeu-se e foi» (Mateus 21,29b). Note-se também a resposta do segundo filho, depois de ter ouvido o mesmo convite do seu Pai: «Eu vou, Senhor» (Mateus 21,30a), e a constatação do narrador de que, de facto, não foi (Mateus 21,30b).
 
7. Como se vê, todos os filhos de Deus-Pai ouvem o mesmo convite e veem a mesma atitude de carinho. Respondem que não ou que sim, e ambos mudam! O que disse que não, de facto, vai HOJE fazer a vontade do PAI; o que disse que sim, ficou apenas em palavras, apenas mudando o sim em não.
 
8. Os interpelados por Jesus (chefes dos sacerdotes e anciãos), os que só dizem, dizem, dizem, têm de reconhecer que não é o que se DIZ, mas o que se FAZ, o que verdadeiramente conta. E ainda têm de reconhecer que João Batista bem que os tinha chamado à conversão (mudança de vida e atitude) para fazerem frutos de justiça (Mateus 3,8; 21,32) e obedecerem ao desígnio de Deus, mas nem por isso lhe deram qualquer atenção (Mateus 21,32). Entenda-se: o que fez João Batista é o que Jesus faz agora, e tampouco lhe prestam atenção, convertendo-se ou mudando de vida e de atitudes.
 
9. É aqui que são chamados a fazer contraponto os publicanos e as prostitutas. Estes ouviram João e ouvem agora Jesus, e estão a mudar a sua vida (Mateus 21,31-32)! Note-se sempre que nem isto podemos desmentir, pois o Autor destas páginas deslumbrantes que estamos a folhear, Mateus, era um publicano. E mudou tanto, que agora é um Apóstolo e Evangelista! E nós?
 
Vamos com alegria. Diz que vais! E faz o que dizes!
 
Pe Amaro Gonçalo – Paróquia N Sra. da Hora (Porto – Portugal)
 
Continuamos, neste Domingo, a escutar o convite do Pai a trabalharmos, como filhos queridos, na Sua vinha. A Vinha do Senhor é não é lugar de tormento, de castigo, mas praça da alegria. A Vinha não é apenas o espaço interior da Igreja, com os seus diversos grupos e movimentos. A Vinha é todo o campo deste mundo, onde os cristãos são chamados a colaborar na edificação do Reino de Deus. Somos chamados a fazê-lo, com a prontidão e a alegria do serviço, com gestos concretos e não com palavra vazias. Porque muitas vezes dizemos sim…, mas não agimos em coerência e em consequência, peçamos perdão.
 
Que vos parece?! Pergunta Jesus aos seus interlocutores, nesta parábola, tão simples, que quase nos parece um conto infantil! E eu vou dizer-vos o que me parece, neste início de ano escolar e pastoral!
 
1. O Pai não se cansa de nos convidar a trabalhar na vinha, que é d’Ele e é nossa, campo aberto de alegria e de liberdade: “Filho, vai hoje trabalhar na vinha” (Mt 21,28). Este Pai, que não é patrão, trata-nos a todos carinhosamente como filhos, com as nossas semelhanças e diferenças, mas nunca como assalariados! Pede-nos que dêmos uma resposta «hoje», pronta e inadiável, sem desculpas. Não importam a resposta que tu deste ontem ou antigamente, o que já fizeste noutros tempos, os anos que já deste à casa. Importa a tua resposta «hoje», na vinha do Senhor. Importa o que fazes, não o que dizes. Hoje, Deus espera o teu “sim”, “de facto”.
 
2. Trata-se, tal como no trabalho na vinha, de um serviço, onde predomina a festa e a alegria. Não podemos olhar para a nossa missão como um fardo, uma obrigação, um peso, uma penitência, mas como uma graça, uma oportunidade, uma chance, uma alegria. É também neste espírito que somos desafiados “a uma nova etapa evangelizadora marcada pela alegria do evangelho” (EG 1), a alegria do encontro com Cristo, que é também uma alegria missionária, uma alegria que se renova e comunica.  É a alegria de tomar parte na construção do Reino, a alegria do serviço, a alegria de dar, a alegria de dar alegria aos outros!
 
3. Somos chamados todos, todos, todos, a cuidar desta vinha, muito para lá do adro da Igreja. Numa Exortação Pastoral recente, o nosso Bispo do Porto recorda-nos a alegria do serviço do Reino de Deus, no vasto campo do mundo e a partir do coração da Igreja. Passo a citar livremente: Hoje, o tradicional voluntariado e associativismo está em crise e há Associações que desaparecem por falta de órgãos de direção: desde os Clubes de Futebol de aldeia aos Ranchos folclóricos, Grupos de teatro amador. Nesta linha, apelo a um rejuvenescimento da participação e do voluntariado social. Precisamos de gente séria que se comprometa com as Associações. São imensos os setores onde se pode colaborar para o bem comum: nos Bombeiros Voluntários, nas Ligas de Amigos ou Voluntariado dos Hospitais e prisões, na Animação Sénior, nos Grupos de intervenção ecológica, no Apoio a peregrinos e migrantes, nas Associações de Desenvolvimento Integrado, nas Redes de Apoio Familiar, no acompanhamento de pais e familiares de pessoas portadoras de deficiência, na integração dos sem-abrigo, na ajuda a organizações que fornecem refeições gratuitas ou económicas, na colaboração com Unidades de Cuidados Continuados.
 
4. Mas também, a partir do  coração da Igreja – diz-nos o nosso Bispo – precisamos de revitalizar – ou de criar! – com gente nova e decidida a dar tudo em prol do Reino – a Catequese e a Animação Juvenil, os Grupos Corais, os Grupos de Acólitos e de Leitores, a Equipa de Comunicação para a divulgação das atividades pastorais por intermédio das páginas web e redes sociais, o Grupo de Visitadores de Doentes, de velhinhos e sós, ou de pessoas enlutadas, os Conselhos Económicos e Pastorais, as Comissões de Obras, os Grupos de Caridade e de Ajuda Fraterna, as Equipas de preparação para os Sacramentos do Batismo e Matrimónio, o Voluntariado para manter abertas as igrejas em segurança, as Equipas de Acolhimento a quem  vem viver na área da paróquia e aos fiéis que frequentam as nossas celebrações. Não esqueçamos os Grupos de Oração e o compromisso vocacional, no sacerdócio ou na vida religiosa e missionária. Aí mesmo, tu és chamado a seres um humilde trabalhador da vinha do Senhor, a seres o rosto feliz do filho que honra o Pai, com os frutos do teu trabalho humano.
 
5. Irmãos e irmãs: em tudo o que somos, dizemos e fazemos, haja esta marca da alegria, como sal e sol da nossa vida; haja o sorriso feliz, de quem se sente chamado a dar tudo de si e de seu, pois há sempre mais alegria em dar do que em receber (At 20,35). Neste espírito – como nos desafia o lema do ano pastoral – “Vamos com alegria. Juntos por um caminho novo”! Diz que vais!  E faz o que dizes!

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Sábado XXV do Tempo Comum

São Jerônimo, presbítero e doutor da Igreja
S. Gregório, o Ilumonador, bispo
Dia da Bíblia
 
1ª Leitura (Zac 2,5-9.14-15a):
Levantei os olhos e vi um homem que tinha na mão um cordel de medir. Eu perguntei-lhe: «Aonde vais?». Ele respondeu-me: «Vou medir Jerusalém, para ver qual é a sua largura e o seu comprimento». Quando o Anjo que me falava se adiantou, outro Anjo veio ao seu encontro e disse-lhe: «Corre e vai dizer a esse jovem: Jerusalém deverá ficar sem muros, por causa da multidão de homens e animais que haverá nela. E Eu serei para ela - diz o Senhor - uma muralha de fogo à sua volta e no meio dela serei a sua glória. Exulta e alegra-te, filha de Sião, porque Eu venho habitar no meio de ti – oráculo do Senhor. Nesse dia, muitas nações hão de aderir ao Senhor. Serão o meu povo e Eu habitarei no meio de ti».
 
Salmo Responsorial: Jer 31
R. Como o pastor guarda o seu rebanho, assim nos guarda o Senhor.
 
Escutai, ó povos, a palavra do Senhor, e anunciai-a às ilhas distantes: Aquele que dispersou Israel vai reuni-lo e guardá-lo como um pastor ao seu rebanho.
 
O Senhor resgatou Jacob e libertou-o das mãos do seu dominador. Regressarão com brados de alegria ao monte Sião, acorrendo às bênçãos do Senhor.
 
A virgem dançará alegremente, exultarão os jovens e os velhos. Converterei o seu luto em alegria e a sua dor será mudada em consolação e júbilo.
 
Aleluia. Jesus Cristo, nosso Salvador, destruiu a morte e fez brilhar a vida por meio do Evangelho. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 9,43b-45): todos se admiravam com tudo o que Jesus fazia, ele disse aos discípulos: «Prestai bem atenção às palavras que vou dizer: o Filho do Homem vai ser entregue às mãos dos homens». Mas eles não compreendiam esta palavra. O sentido lhes ficava oculto, de modo que não podiam entender. E tinham medo de fazer perguntas sobre o assunto.
 
«O Filho do Homem vai ser entregue às mãos dos homens»
 
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, depois de mais de dois mil anos, o anúncio da paixão de Jesus continua a nos provocar. Que o Autor da Vida anuncie a sua entrega às mãos daqueles pelos quais veio para dar tudo, é uma provocação, claramente. Poderia dizer-se que não era necessário, que foi uma exageração. Esquecemos, muitas vezes, a dor que abruma o coração de Cristo, o nosso pecado, o mais radical dos males, causa e efeito de situarmos no lugar de Deus. Até mesmo, de não nos deixar amar por Deus, e de empenhar-nos em ficar dentro de nossas curtas categorias e no imediatismo da vida atual. É muito necessário reconhecer que somos pecadores como também é necessário admitir que Deus nos ama em seu Filho Jesus Cristo. Depois de tudo, somos como os discípulos, «mas eles não compreendiam esta palavra. O sentido lhes ficava oculto, de modo que não podiam entender. E tinham medo de fazer perguntas sobre o assunto» (Lc 9,45).
 
Para dizê-lo com uma imagem: podemos encontrar no Céu todos os vícios e pecados, menos a soberbia, já que o soberbo não reconhece nunca o seu pecado e, não se deixa perdoar por um Deus, que ama até o ponto de morrer por nós. E no inferno, poderemos encontrar todas as virtudes, menos a humildade, pois o humilde se reconhece tal como ele é e, sabe muito bem que sem a graça de Deus não pode deixar de lhe ofender, como tampouco pode corresponder a sua Bondade.
 
Uma das chaves da sabedoria cristã é reconhecer a grandeza e a imensidade do Amor de Deus e, ao mesmo tempo admitir a nossa pequenez e a vileza do nosso pecado. Somos tão lentos para entender isso! No dia que descubramos que temos o Amor de Deus bem ao nosso alcance, diremos como Santo Agostinho, com lagrimas de Amor: «Tarde te amei, meu Deus!». Esse dia pode ser hoje. Pode ser hoje. Pode ser.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Não tenhas medo. Esta cruz não era mortal para mim, mas para a morte. Estes pregos não me penetram com dor, mas com um amor mais profundo por ti» (São Pedro Crisólogo)
 
«A sua fidelidade consiste em agir não só como “Deus em relação aos homens”, mas também como “homem em relação a Deus”, fundando assim a Aliança de forma irrevogavelmente estável» (Bento XVI)
 
«Desde o princípio da sua vida pública, desde o seu baptismo, Jesus é o ‘Servo’ inteiramente consagrado à obra redentora, que consumará pelo ‘baptismo’ da sua paixão» (Catecismo da Igreja Católica, nº 565)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje traz o segundo anúncio da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus.
Os discípulos não entendem a palavra sobre a cruz, porque não são capazes de entender nem de aceitar um Messias que se faz empregado e servidor dos irmãos. Eles continuam sonhando com um messias glorioso.
 
* Lucas 9,43b-44: O contraste. “O povo estava admirado com tudo o que Jesus fazia. Então Jesus disse aos discípulos: "Prestem atenção ao que eu vou dizer: o Filho do Homem vai ser entregue na mão dos homens”. O contraste é muito grande. De um lado, a vibração e a admiração do povo por tudo que Jesus dizia e fazia. Jesus parece corresponder a tudo aquilo que o povo sonho, crê e espera. Por outro lado, a afirmação de Jesus de que será preso e entregue na mão dos homens. Ou seja, a opinião das autoridades sobre Jesus é totalmente contrária à opinião do povo.
 
* Lucas 9,45: O anúncio da Cruz. “Mas os discípulos não compreendiam o que Jesus dizia. Isso estava escondido a eles, para que não entendessem. E tinham medo de fazer perguntas sobre o assunto”. Os discípulos o escutam, mas não entendem a palavra sobre a cruz. Mesmo assim, não pedem esclarecimento. Eles têm medo de deixar transparecer sua ignorância!
 
* O título Filho do Homem. Este nome aparece com grande frequência nos evangelhos: 12 vezes em João, 13 vezes em Marcos, 28 vezes em Lucas, 30 vezes em Mateus. Ao todo, 83 vezes nos quatro evangelhos.  É o nome que Jesus mais gostava de usar. Este título vem do AT. No livro de Ezequiel, ele indica a condição bem humana do profeta (Ez 3,1.4.10.17; 4,1 etc.). No livro de Daniel, o mesmo título aparece numa visão apocalíptica (Dn 7,1-28), na qual Daniel descreve os impérios dos Babilônios, dos Medos, dos Persas e dos Gregos. Na visão do profeta, estes quatro impérios têm a aparência de “animais monstruosos” (cf. Dn 7,3-8). São impérios animalescos, brutais, desumanos, que perseguem, desumanizam e matam (Dn 7,21.25). Na visão do profeta, depois dos reinos anti-humanos, aparece o Reino de Deus que tem a aparência, não de um animal, mas sim de uma figura humana, Filho de homem. Ou seja, é um reino com aparência de gente, reino humano, que promove a vida. Humaniza. (Dn 7,13-14). Na profecia de Daniel a figura do Filho do Homem representa, não um indivíduo, mas sim, como ele mesmo diz, o “povo dos Santos do Altíssimo” (Dn 7,27; cf Dn 7,18). É o povo de Deus que não se deixa desumanizar nem enganar ou manipular pela ideologia dominante dos impérios animalescos. A missão do Filho do Homem, isto é, do povo de Deus, consiste em realizar o Reino de Deus como um reino humano. Reino que não persegue a vida, mas sim a promove! Humaniza as pessoas.
 
* Apresentando-se aos discípulos como Filho do Homem, Jesus assume como sua esta missão que é a missão de todo o Povo de Deus. É como se dissesse a eles e a todos nós: “Venham comigo! Esta missão não é só minha, mas é de todos nós! Vamos juntos realizar a missão que Deus nos entregou, e realizar o Reino humano e humanizador que ele sonhou!” E foi o que ele fez e viveu durante toda a sua vida, sobretudo, nos últimos três anos. Dizia o Papa Leão Magno: “Jesus foi tão humano, mas tão humano, como só Deus pode ser humano”. Quanto mais humano, tanto mais divino. Quanto mais “filho do homem” e tanto “filho de Deus!” Tudo que desumaniza as pessoas afasta de Deus. Foi o que Jesus condenou, colocando o bem da pessoa humana como prioridade acima das leis, acima do sábado (Mc 2,27). Na hora de ser condenado pelo tribunal religioso do sinédrio, Jesus assumiu este título. Perguntado se era o “filho do Deus” (Mc 14,61), ele responde que é o “filho do Homem: “Eu sou. E vocês verão o Filho do Homem sentado à direita do Todo-poderoso” (Mc 14,62). Por causa desta afirmação foi declarado réu de morte pelas autoridades. Ele mesmo sabia disso pois tinha dito: “O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate para muitos” (Mc 10,45).
 
Para um confronto pessoal
1) Como você na sua vida combina sofrimento e fé em Deus?
2) No tempo de Jesus havia o contraste: povo pensava e esperava de um jeito, enquanto as autoridades religiosas  pensavam e esperavam de outro jeito. Existe hoje o mesmo contraste

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

30 de setembro -

 
CELEBRAÇÃO DO TRÂNSITO DE
SANTA TERESA DO MENINO JESUS,
VIRGEM da II ORDEM E DOUTORA DA IGREJA
 
Por volta das 19 horas e vinte minutos a comunidade, com velas acesas nas mãos, se reúna para celebrar o momento em que Sta Teresa do Menino Jesus “entra na vida” e inicia a sua missão de “passar o Céu fazendo o bem sobre a Terra”.
Antes do início das primeiras vésperas do Ofício Divino, lê-se o relato do piedoso trânsito de Sta Teresa do Menino Jesus da Sagrada Face feito por sua irmã Madre Inês de Jesus.

Leitura relato do último dia de Sta Teresa do Menino Jesus na terra, numa quinta-feira do dia 30 de setembro de 1897, feito pela madre Inês de Jesus:


“Durante a manhã eu (irmã Inês) a (Santa Terezinha) vigiava durante a Missa. Ela não me dizia nada. Ela estava esgotada, ofegante; seus sofrimentos, eu presumia, eram inexprimíveis. Num determinado momento, ela juntou as mãos e olhando à estátua da Virgem Maria disse:

- Oh! Eu rezei a ela com grande fervor! Mas é uma agonia pura, sem mistura alguma de consolação.

Eu lhe disse algumas palavras de compaixão e de afeição e acrescentava que ela tinha bem me edificado durante sua convalescência.

- E você, as consolações que tinha me dado! Ah! Como elas são enormes!

Durante todo o dia, sem um instante de trégua, ela permaneceu, podemos dizer sem exageros, sob verdadeiros tormentos. Ela parecia estar no fim de suas forças e, todavia, para nosso espanto, ela podia se mexer, se sentar no seu leito.

- …Veja, nos dizia ela, como tenho forças hoje! Não, eu não vou morrer! Eu ainda tenho forças por vários meses, talvez até mesmo vários anos!

E se o bom Deus o quisesse, diz a Nossa Madre, você o aceitaria?
Ela começou a responder, na sua agonia:

- Seria bem necessário…

Mas se corrigindo na mesma hora, ela diz com um tom de resignação sublime e caindo novamente sobre seu travesseiro:

- Eu quero com certeza!

Eu pude recolher essas exclamações, mas é bem difícil de transmitir o seu tom:

- Eu não creio mais na morte para mim… Eu creio apenas no sofrimento… melhor assim! Ó meu Deus!… Eu amo o bom Deus! O minha boa Virgem Maria, venha em meu socorro! Se isso é a agonia, o que é então a morte?!… Ah! Meu bom Deus!… Sim, ele é muito bom, eu o vejo muito bom…

E olhando para a Virgem Maria:

- Oh! A senhora sabe que estou me sufocando!

Para mim:

- Se você soubesse o que é se sufocar!

O bom Deus vai ajudá-la, minha pobrezinha, e terminará logo mais.

- Sim, mas quando? …Meu Deus, tenha piedade de vossa pobre menina! Tenha piedade!

 Para Nossa Madre:

- Ó minha Madre, eu vos garanto que o cálice está cheio até a boca!… Mas o bom Deus não vai me abandonar, certamente… …Ele nunca me abandonou. Sim, meu Deus, tudo o que quiser, mas tenha piedade de mim! Minhas irmãzinhas! Minhas irmãzinhas rezem por mim! Meu Deus! Meu Deus! Vós que sois tão bom!!! Oh! Sim, vós sois bom! Eu o sei…

Depois do ofício de Vésperas, Nossa Madre colocou sobre seus joelhos uma imagem de Nossa Senhora do Monte Carmelo. Ela olhou por um instante e disse o quanto Nossa Madre lhe tinha garantido que ela logo mais iria acariciar Nossa Senhora como também o Menino Jesus nessa imagem:

- Ó minha Madre, apresentai-me logo à Virgem Maria, eu sou um bebê que não aguenta mais! … Prepare-me para bem morrer.

Nossa Madre lhe respondeu que tendo sempre compreendido e praticado a humildade, sua preparação já estava feita. Ela refletiu por um instante e pronunciou humildemente essas palavras:

- Sim, me parece que nunca busquei outra coisa senão a verdade; sim, eu compreendi a humildade de coração… parece-me que sou humilde.

Ela repetiu ainda:

- Tudo o que escrevi sobre meus desejo de sofrimento. Oh! É bem verdadeiro! Eu não me arrependo de me ter entregado ao Amor.

Com insistência:

- Oh! Não, eu não me arrependo, muito pelo contrário!

Um pouco depois:

- Eu nunca teria crido que era possível sofrer tanto [nota: nunca aplicamos nela injeção alguma de morfina]! Nunca! Nunca! Eu não posso compreender tal coisa senão pelos desejos ardentes que tive de salvar as almas.

Por volta das 5 horas, eu estava sozinha perto dela. Seu rosto mudou de repente, compreendi que era a última agonia. Quando a Comunidade entrou na enfermaria, ela acolheu todas as irmãs com um doce sorriso. Ela segurava seu Crucifixo e o olhava constantemente. Durante mais de duas horas, a respiração rouca arranhava seu peito. Seu rosto estava congestionado, suas mãos roxas, ela tinha os pés congelados e tremia todos seus membros. Um suor abundante caia em gotas enormes sobre seu rosto e inundava suas bochechas.       Ela estava sob uma opressão cada vez maior e lançava às vezes pequenos gritos involuntários para respirar. 

Durante esse tempo tão cheio de agonia para nós, escutávamos pela janela – e eu sofria bastante – o canto de vários pássaros, mas tão fortemente, de tão perto e durante tanto tempo! Eu rezava para o bom Deus de os fazer calar, esse concerto me perfurava o coração e tinha medo que ele cansasse nossa Terezinha.
Durante outro momento, ela parecia ter a boca tão ressecada que a irmã Genoveva, achando que a aliviaria, lhe colocava nos lábios um pequeno pedaço de gelo. Ela o aceitou lhe fazendo um sorriso que nunca me esquecerei. Era como um supremo adeus.

Às 6 horas o Angelus soou, ela olhou longamente para a estátua da Virgem Maria.
Enfim, às 7 horas e pouco, Nossa Madre tendo despedido a Comunidade, ela suspirou:

- Minha Madre!? Não é isso a agonia?… Não irei morrer?…

Sim, minha pobrezinha, é a agonia, mas o bom Deus quer talvez prolongá-la por algumas horas. Ela retoma com coragem:

- Ora bem!… Vamos!… Vamos!… Oh! Eu não quereria sofrer menos tempo…

E olha seu Crucifixo:

- Oh! Eu o amo!… Meu Deus… Eu vos amo!...

De uma hora para outra, após ter pronunciado essas palavras, ela caiu suavemente para trás, com a cabeça inclinada para a direita. Nossa Madre fez soar imediatamente o sino da enfermaria para chamar a Comunidade. “Abram-se todas as portas” dizia a Madre no mesmo instante. Essas palavras tinha algo de solene, e me fizeram pensar que no Céu o bom Deus o dizia também a seus anjos.

As irmãs tiveram o tempo de se ajoelhar em torno do leito e foram testemunhas do êxtase da pequena Santa que morria. Seu rosto tinha tomado a cor de uma flor-de-lis que tinha quando em plena saúde, seus olhos estavam fixados no alto, brilhantes de paz e de alegria. Ela fazia alguns movimentos de cabeça, como se Alguém a tivesse divinamente ferido com uma flecha de amor, depois retirado a flecha para a ferir novamente… A irmã Maria da Eucaristia se aproximou com uma vela para ver de mais perto seu olhar sublime. Diante da luz dessa vela, não houve movimento algum de suas pálpebras. Esse êxtase durou o tempo de um “Credo”, e ela deu seu último suspiro.

Após sua morte, ela conservou um sorriso celeste. Ela estava com uma beleza encantadora. Ela segurava tão forte seu Crucifixo que foi necessário arrancá-lo de suas mãos para enterrá-la. A irmã Maria do Sagrado Coração e eu fizemos tal serviço, com a irmã Amada de Jesus, e notamos que ela não parecia ter mais do que 12 ou 13 anos. Os membros do seu corpo permaneceram flexíveis até o dia do seu enterro, numa segunda-feira, no dia 4 de outubro de 1897.”
 
 Vésperas
 
V. Vinde, ó Deus em meu auxílio.
R. Socorrei-me sem demora.
V. Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R. Como era no princípio, agora e sempre. Amém.
 
Hino
Um atalho de luz, eis a Pequena Via:
O ascensor é Jesus, sob o olhar de Maria!

Teresinha e seu sonho, bem maior que a vida:
Escalar a montanha, ao encontro do Amor!
Decidiu que vai fazer esta subida,
Sem medir sacrifícios, buscando o Senhor.

Contemplando o mistério santo da humildade,
Ela toma nos braços a Criança-Jesus.
Em momento de paz, na simplicidade,
Faz nascer, para nós, o atalho de luz!

Tempestades a fazem crescer na esperança.
"Oh! Não vou despertar-te!" diz ela ao Senhor.
Puro nda sou, mas Deus é segunraça.
Só por Ele é que vive a santa do Amor!

Por caminhos de paz, na doce descoberta,
O Senhor, generoso, Teresinha conduz.
É segredo de Deus que, enfim, a liberta.
Vai ser vítima santa do Amor que a seduz.

Instruindo os pequenos na segura via,
A santinha nos lega a divina lição:
O ascensor é Jesus, à luz de Maria.
Aprovada no Céu, de Teresa a invenção.
 
Salmodia
 
Ant. 1 Vinde, filhas, contemplai o Senhor e ficareis radiantes.
 
Salmo 112 (113)

1 Louvai, servos do Senhor, *
louvai o nome do Senhor.
2 Bendito seja o nome do Senhor, *
agora e para sempre.
3 Desde o nascer ao pôr do sol, *
seja louvado o nome do Senhor.
 
4 O Senhor domina sobre todos os povos, *
a sua glória está acima dos céus.
5 Quem se compara ao Senhor nosso Deus, *
que tem o seu trono nas alturas,
6 e Se inclina lá do alto *
a olhar o céu e a terra?
 
7 Levanta do pó o indigente *
e tira o pobre da miséria,
8 para o fazer sentar com os grandes, *
com os grandes do seu povo,
9 e, no lar, transforma a estéril *
em ditosa mãe de família.
 
Ant. Vinde, filhas, contemplai o Senhor e ficareis radiantes.
 
Ant. 2 Nós Vos seguimos de todo o coração, nós Vos adoramos e procuramos o vosso rosto; não nos abandoneis, Senhor.

Salmo 147 (147 B)

12 Glorifica, Jerusalém, o Senhor, *
louva, Sião, o teu Deus.
 
13 Ele reforçou as tuas portas *
e abençoou os teus filhos.
14 Estabeleceu a paz nas tuas fronteiras *
e saciou-te com a flor da farinha.
 
15 Envia à terra a sua palavra, *
corre veloz a sua mensagem.
16 Faz cair a neve como lã, *
espalha a geada como cinza.
 
17 Faz cair o granizo como migalhas de pão *
e com o seu frio gelam as águas.
18 Envia a sua palavra e derrete-as, *
faz soprar o vento e correm as águas.
 
19 Revelou a sua palavra a Jacó, *
suas leis e preceitos a Israel.
20 Não fez assim com nenhum outro povo, *
a nenhum outro manifestou os seus juízos.
 
Ant. Nós Vos seguimos de todo o coração, nós Vos adoramos e procuramos o vosso rosto; não nos abandoneis, Senhor.
 
Ant. 3 Alegrai-vos, ó Virgens de Cristo, exultai, esposas do Cordeiro.

Cântico Ef 1,3-10

3 Bendito seja Deus, *
Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo,
que do alto do Céu nos abençoou, *
com todas as bênçãos espirituais em Cristo.
 
4 Ele nos escolheu, antes da criação do mundo, *
para sermos santos e irrepreensíveis, †
em caridade, na sua presença.
5 Ele nos predestinou, de sua livre vontade, *
para sermos seus filhos adotivos, por Jesus Cristo,
 
6 para que fosse enaltecida a glória da sua graça, *
com a qual nos favoreceu em seu amado Filho;
7 n’Ele temos a redenção, pelo seu Sangue, *
a remissão dos nossos pecados;

segundo a riqueza da sua graça *
8 que Ele nos concedeu em abundância,
com plena sabedoria e inteligência, *
9 deu-nos a conhecer o mistério da sua vontade,
segundo o beneplácito que n’Ele de antemão estabelecera, *
 
10 para se realizar na plenitude dos tempos:
instaurar todas as coisas em Cristo, *
tudo o que há nos céus e na terra.
 
Ant. Alegrai-vos, ó Virgens de Cristo, exultai, esposas do Cordeiro.
 
Leitura breve 1 Cor 7, 32.34
Quem não é casado preocupa-se com os interesses do Se­nhor, procura agradar ao Senhor. A mulher solteira e a virgem preocupam-se com os interesses do Senhor, para serem santas de corpo e de espírito.
 
Responsório breve
V. Diz-me o coração: o Senhor é a minha herança.
R. Diz-me o coração: o Senhor é a minha herança.
V. O Senhor é bom para a alma que O procura.
R. O Senhor é a minha herança.
V. Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R. Diz-me o coração: o Senhor é a minha herança.

Cântico Evangélico
Ant. Quando chegou o Esposo, a Virgem prudente entrou com a lâmpada acesa para o banquete nupcial do seu Senhor.
 
Preces
"Ó meu Jesus! amo-te, amo a Igreja, minha Mãe. Não me esqueço que para ela o mínimo impulso de puro amor é mais proveitoso do que todas as demais obras em sua totalidade". A oração de Santa Teresinha é uma oração fundamentalmente eclesial, oração aberta, que abrange toda as necessidades da Igreja. Invoquemos a misericórdia de Deus, inspirados na insistência de Santa Teresinha em implorar ao Pai por todos os seus irmãos.

R: Santa Teresinha rogai por nós.
 
1. Senhor, que dais ao vosso povo a graça de celebrar hoje a festa da virgem Santa Teresa do Menino Jesus,
— concedei-lhe que se alegre sempre com a sua intercessão.
 
2. Senhor concedei à vossa Igreja crescer na necessidade de encontrar em vossa Palavra a fonte de sua ação evangelizadora
— para se tornar uma comunidade sempre mais orante e participativa.
 
3. Senhor, como Santa Teresinha, queremos vos pedir de modo especial pelos sacerdotes,
— a fim de que sejam dignos ministros de Cristo, pastores fiéis, acolhedores e misericordiosos.
 
4. Senhor, como Santa Teresinha, queremos interceder por todos aqueles que sofrem longe de vós,
— por aqueles que se esqueceram que podem encontrar em vosso Coração refúgio e alívio para suas dores.
 
5. Senhor queremos interceder por aqueles que padecem de secura espiritual,
— que não encontram consolo na oração e por aqueles que não têm sede de vós.
 
6. Senhor, que o ardor missionário de nossa comunidade seja sempre revigorado por uma autêntica vivência da fé
— e sustentado na escuta amorosa de vossa Palavra.
 
7. Senhor, vos pedimos por toda a grande Família Carmelitana,
—  para que mantenham acesa a chama de sua vocação contemplativa e, a exemplo de Maria Santíssima sejam conduzidos pela oração a uma atitude de pronto serviço, de modo especial aos irmãos necessitados.
 
8. Senhor, que recebestes as santas Virgens no banquete das núpcias eternas,
— admiti benignamente os defuntos ao convívio do vosso reino.
 
(Intenções Particulares)
 
PAI NOSSO
 
Oração
Deus de infinita bondade, que abris as portas do vosso reino aos pequeninos e humildes, fazei que sigamos confiadamente o caminho espiritual de Santa Teresa do Menino Jesus, para que, por sua intercessão, cheguemos à revelação da vossa glória. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco, na unidade do Espírito Santo.
 

Ao final da Liturgia das Horas, a comunidade, em dois coros, rezará com as palavras de Sta Teresa do Menino Jesus o ATO DE OFERECIMENTO
 
T. Oferecimento de mim mesma como Vítima de Holocausto ao Amor Misericordioso do Bom Deus
 
1. Meu Deus! Trindade Bem-aventurada, desejo AMAR-VOS e vos fazer AMAR, trabalhar para a glorificação da Santa Igreja, salvando as almas que estão sobre a terra e libertando as que sofrem no purgatório. Desejo cumprir, perfeitamente, vossa vontade e chegar ao grau de glória que me preparastes, em vosso reino, numa palavra, desejo ser Santa, mas sinto minha impotência e vos peço, ó meu Deus! Sejais vós mesmo minha SANTIDADE.
 
2. Pois que me amastes, a ponto de dar-me vosso Filho único para ser meu Salvador e meu Esposo, os tesouros infinitos de seus méritos são meus, eu vo-los ofereço, com alegria, suplicando-vos que me olheis através da Face de Jesus e em seu Coração ardente de AMOR.
 
1. Ofereço-vos, ainda, todos os méritos dos Santos (que estão no Céu e sobre a terra), seus atos de AMOR e os dos Santos Anjos; enfim, ofereço-vos, ó BEM-AVENTURADA TRINDADE! o Amor e os méritos da SANTÍSSIMA VIRGEM, MINHA MÃE QUERIDA, é a ela que abandono minha oferta, suplicando-lhe vo-la apresentar. Seu Divino Filho, meu Esposo Bem-Amado, disse-nos durante sua vida mortal: "Tudo o que pedirdes a meu pai em meu nome, ele vo-lo dará!" Portanto, estou certa de que atendereis a meus desejos; eu o sei, ó meu Deus! quanto mais quereis dar, tanto mais fazeis desejar. Sinto em meu coração desejos imensos e é, com confiança, que vos peço vir tomar posse de minha alma. Ah! não posso receber a santa comunhão tantas vezes quanto desejo, mas, Senhor, não sois ONIPOTENTE?... Ficai em mim, como no tabernáculo, não vos afasteis jamais de vossa hostiazinha...
 
2. Quisera consolar-vos da ingratidão dos maus e suplico-vos tirar-me a liberdade de vos desagradar; se por fraqueza, cair alguma vez, que, logo vosso Divino Olhar purifique minha alma, consumindo todas as minhas imperfeições, como o fogo que transforma em si todas as coisas...
 
1. Agradeço-vos, ó meu Deus! todas as graças que me concedestes, em particular, de me ter feito passar pelo cadinho do sofrimento. É com júbilo que vos contemplarei, no último dia, empunhando o cetro da Cruz; pois que vos dignastes fazer-me partilhar desta Cruz tão preciosa, espero, no Céu, assemelhar-vos a Vós e ver brilhar em meu corpo glorificado os sagrados estigmas de vossa Paixão...
 
2. Após o exílio da terra, espero ir gozar de vós na Pátria, mas não quero acumular méritos para o Céu, quero trabalhar só por vosso AMOR, com o único fim de vos agradar, consolar vosso Coração Sagrado e salvar almas que vos amem eternamente.
 
1. Na tarde desta vida, comparecerei perante vós com as mãos vazias, pois não vos peço, Senhor, contar minhas obras. Toda nossa justiça é manchada a vossos olhos. Quero, pois, revestir-me de vossa própria justiça, e receber de vosso Amor a posse eterna de Vós mesmo. Não quero outro Trono e outra Coroa senão Vós, ó meu Bem-Amado.
 
2. Para vós, o tempo não é nada. Um único dia é como se fossem mil anos. Podeis, então, preparar-me num instante para comparecer diante de vós...
 
1. A fim de viver num ato de perfeito amor, OFEREÇO-ME COMO VÍTIMA DE HOLOCAUSTO A VOSSO AMOR MISERICORDIOSO suplicando-vos me consumir, sem cessar, deixando transbordar em minha alma as ondas de Ternura Infinita que estão encerradas em vós, e que assim eu me torne Mártir de vosso Amor, ó meu Deus!...
 
2. Que este Martírio após me ter preparado para comparecer perante vós, faça-me, enfim, morrer e que minha alma precipite-se, sem tardar, no eterno abraço de vosso Amor Misericordioso...
 
T. Quero, ó meu Bem-amado, em cada palpitar de meu coração, renovar-vos este oferecimento um número infinito de vezes, até que, dissipadas as sombras, possa repetir-vos meu Amor, num Face a Face Eterno!..
 
Após o ato de oferecimento a comunidade renova seus votos com as mesmas palavras da nossa Santa em seu BILHETE DE PROFISSÃO

 
T. Oh, Jesus, meu divino Esposo!
Que eu jamais perca a segunda veste de meu Batismo!
Tira-me deste mundo, antes que cometa a mais leve falta voluntária.
Que eu não procure e não encontre senão a ti.
Que as criaturas nada sejam para mim, e eu nada seja para elas,
 mas que tu, Jesus, sejas tudo!...
Que as coisas da terra jamais possam perturbar a minha alma;
que nada perturbe minha paz!
Jesus, não te peço senão a paz e também o amor,
o amor infinito, sem outro limite senão tu mesmo...
Amor que jã não seja eu, mas sejas tu, meu Jesus.
Por ti, Jesus, morra eu mártir,
o martírio do coração ou do corpo, antes, os dois...
Dá-me cumprir meus votos em toda a sua perfeição,
e leva-me a compreender o que uma esposa tua deve ser.
Faze que nunca eu seja um peso para a comunidade,
e que ninguém se ocupe de mim;
que eu seja vista, espezinhada, esquecida,
qual um grãozinho de areia que te pertence, Jesus.
Faça-se em mim tua vontade de maneira perfeita.
Que eu possa chegar à morada que antecipadamente me foste preparar...
Deixa-me, Jesus, salvar muitas almas;
que no dia de hoje, nenhuma seja condenada,
e que todas as almas do Purgatório sejam salvas...
Perdoa-me, Jesus, se digo coisas que não devo dizer.
Só quero alegrar-te e consolar-te.