sábado, 31 de outubro de 2015

Solenidade de Todos os Santos

Textos: Ap 7, 2-4.9-14; 1Jo 3, 1-3; Mt 5, 1-12a

Evangelho (Mt 5,1-12a): Naquele tempo, Vendo as multidões, Jesus subiu à montanha e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, e ele começou a ensinar: Felizes os pobres no espírito, porque deles é o Reino dos Céus. Felizes os que choram, porque serão consolados. Felizes os mansos, porque receberão a terra em herança. Felizes os que têm fome e sede da justiça, porque serão saciados. Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Felizes os puros de coração, porque verão a Deus. Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Felizes sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus. Pois foi deste modo que perseguiram os profetas que vieram antes de vós.

«Alegrai-vos e exultai»

Mons. F. Xavier CIURANETA i Aymí Bispo Emérito de Lleida  (Lleida, Espanha)

Hoje, celebramos a realidade de um mistério salvador, expresso no credo, que se torna muito consolador: Creio na comunhão dos santos. Todos os santos que já passaram para a vida eterna, a começar pela Virgem Maria, formam uma unidade: Felizes os puros de coração, porque verão a Deus (Mt 5,8). E também estão, ao mesmo tempo, em comunhão conosco. A fé e a esperança não podem unir-nos, porque eles já gozam da visão eterna de Deus; mas une-nos, por outro lado, o amor que não passa nunca (1Cor 13,13); esse amor que nos une, juntamente com eles, ao mesmo Pai, ao mesmo Cristo Redentor e ao mesmo Espírito Santo. O amor que os torna solidários e solícitos para conosco. Portanto, não veneramos os santos somente pela sua exemplaridade, mas sobretudo pela unidade no Espírito de toda a Igreja, que se fortalece com a prática do amor fraterno.

Por esta profunda unidade, devemos sentir-nos perto de todos os santos que, antes de nós, acreditaram e esperaram o mesmo que nós cremos e esperamos e, acima de tudo, amaram Deus Pai e os seus irmãos, os homens, procurando imitar o amor de Cristo.

Os santos apóstolos, os santos mártires, os santos confessores que viveram ao longo da história são, portanto, nossos irmãos e intercessores; neles se cumpriram as palavras proféticas de Jesus: Felizes sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus, (Mt 5,11-12). Os tesouros da sua santidade são bens de família, com que podemos contar. São estes os tesouros do céu, que Jesus convida a juntar (cf. Mt 6,20). Como afirma o Concílio Vaticano II, A nossa fraqueza é assim grandemente ajudada pela sua solicitude de irmãos (Lumen gentium, 49). Esta solenidade traz-nos uma notícia reconfortante, que nos convida à alegria e à festa.

Todos estamos chamados a ser santos por ser batizados.

Pe. Antonio Rivero L.C.

 Hoje celebramos toda essa multidão inumerável de pessoas, irmãos nossos, que já gozam de Deus e continuam em comunhão conosco desde o céu. É uma festa que nos enche de alegria e otimismo: se eles puderam ser santos, por que nós não? Qual foi o segredo da sua santidade?

Em primeiro lugar, a festa de todos os Santos nos convida a celebrar, a princípio, dois fatos. O primeiro é que, verdadeiramente, a força do Espírito de Jesus age em todas as partes, é uma semente capaz de arraigar em todas as partes, que não necessita condições especiais de raça, ou de cultura, ou de classe social. Por isso esta festa é uma festa gozosa, fundamentalmente gozosa: o Espírito de Jesus deu, e dá, e dará fruto, e dará em todas as partes. O segundo fato que celebramos é que todos esses homens e mulheres de todo tempo e lugar têm algo em comum, algo que os une. Todos eles “lavaram e alvejaram as suas vestes no sangue do Cordeiro”, mediante o batismo (1ª leitura). Todos eles foram pobres, famintos e sedentos de justiça, limpos de coração, trabalhadores da paz (Evangelho). E isso os une. Porque hoje não celebramos uma festa superficial, hoje não celebramos que “no fundo, todo mundo é bom e tudo terminará bem”, mas celebramos a vitória dolorosamente alcançada por tantos homens e mulheres no seguimento do Evangelho (conhecendo-o explicitamente ou sem conhecê-lo). Porque existe algo que une o santo desconhecido das selvas amazônicas com o mártir das perseguições de Nero e com qualquer outro santo de qualquer outro lugar: une-os a busca e a luta por uma vida mais fiel, mais entregada, mais dedicada ao serviço dos irmãos e do mundo novo que Deus quer.

Em segundo lugar, celebramos, portanto, esses dois fatos: que com Deus vivem já homens e mulheres de todo tempo e lugar, e que esses homens e mulheres lutaram com esforço no caminho do amor, que é o caminho de Deus. Mas ai podemos acrescentar também um terceiro aspecto: Santo Agostinho, na homilia que a Liturgia das Horas oferece para o dia de São Lourenço, explica isso deste modo: “Os santos mártires imitaram Cristo até o derramamento de seu sangue, até a semelhança da sua paixão. Imitaram-no os mártires, mas não só eles. A ponte não caiu depois deles terem passado; a fonte não se secou depois deles terem bebido nela”. Santo Agostinho se dirigia a uns cristãos que acreditavam que talvez só os mártires, os que nas perseguições tinham derramado o sangue pela fé, compartilhariam a gloria de Cristo. E às vezes nós também pensamos a mesma coisa: que a santidade é um heroísmo próprio só de alguns. E ano é assim. A santidade, o seguimento fiel e esforçado de Jesus Cristo, é também para nós: para todos nós e para cada um de nós. É algo exigente, sem dúvida; é algo para gente entregada, que leva as coisas à serio, não para gente superficial e que se limita a ir empurrando as coisas com a barriga.  Porém somos nós, cada um de nós, os chamados a essa santidade, a esse seguimento. Como dizia Santo Agostinho na homilia citada antes: “Nenhum homem, seja qual for o seu gênero de vida, deve desesperar da sua vocação” (...). “Entendamos, pois, de que maneira o cristão tem que seguir Cristo, ademais do derramamento de sangue, ademais do martírio”. E hoje, na festa de Todos os Santos, somos convidados a celebrar que também nós podemos entender e descobrir a nossa maneira de seguir Cristo.  

Finalmente, portanto, a festa de hoje é um chamado à santidade para todos nós. Ser santos não é fazer necessariamente milagres, nem deixar obras surpreendentes para a história. É difícil definir o que é a santidade, mas todos esses santos que hoje celebramos nos demonstram que seguir Cristo é possível, e que isso é santidade. Tiveram defeitos. Não eram perfeitos. Cometeram pecados. Foram “normais”. Porém creram no Evangelho e o cumpriram. Alguns deixaram uma pegada profunda. Outros passaram despercebidos. E hoje honramos todos. E aceitamos o seu convite para seguir o seu caminho. Aqui também recomendaria ler a “Lumen Gentium” do Concilio Vaticano II, nos seus números 39-41, que faz um chamamento à santidade aos cristãos de todos os estados: jerarquia, leigos, religiosos.

Para refletir: Realmente estou convencido de que não só posso ser santo, mas que devo ser santo, por ser batizado? Peço a intercessão dos meus irmãos santos que já gozam da amizade eterna com Deus no céu, ou nem sequer me lembro deles? Quais são os santos da minha devoção e por que?

Para rezar: Senhor, meu Deus, ajudai-me a ser santo. Santo sem premio, santo para não vos ofender, santo para servir melhor os demais. Senhor, no dia de hoje, que recorramos e celebramos a memória de todos os Santos, ajudai-me a me aproximar mais de Vós. A eles rogo que peça ao Espírito, que conceda os dons necessários para ser melhor. Não porque eu mereça algo, mas para que o meu louvor chegue a Vós, mais pleno. Senhor, perdoai-me, pelas minhas faltas e pecados, por tudo o que podia ter feito e não fiz, por tudo o que podia ter servido e não servi, por tudo o que desperdicei. Dai-me a vossa benção para que o resto da minha vida, seja fiel e caridoso, luz vossa e servidor de todos. Segundo Vós me peçais em cada momento. Obrigado, Senhor, pela vossa Misericórdia para comigo. Amém.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:  arivero@legionaries.org

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Sábado XXX do Tempo Comum

Evangelho (Lc 14,1.7-11): Num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. Estes o observavam. Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares. Então contou-lhes uma parábola: «Quando fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante, e o dono da casa, que convidou os dois, venha a te dizer: ‘Cede o lugar a ele’. Então irás cheio de vergonha ocupar o último lugar. Ao contrário, quando fores convidado, vai sentar-te no último lugar. Quando chegar então aquele que te convidou, ele te dirá: ‘Amigo, vem para um lugar melhor!’ Será uma honra para ti, à vista de todos os convidados. Pois todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado».

«Notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares....»

Rev. D. Josep FONT i Gallart (Tremp, Lleida, Espanha)

Hoje, você reparou no inicio deste Evangelho? Estes, os fariseus, o observavam. E Jesus também observa: «Notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares» (Lc 14,1). Que jeito diferente de observar!

A observação, como todas as ações internas e externas, varia conforme a motivação que a provoca, conforme as inseguranças internas, conforme ao que existe no coração do observador. Os fariseus –como diz o Evangelho em diversas partes- observam a Jesus para acusá-lo. E Jesus observa para ajudar, para servir, para fazer o bem. E, como uma mãe atenciosa, aconselha: «Quando fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar» (Lc 13,8).

Jesus disse com palavras o que Ele é e o que leva em seu coração: não procura ser honrado, mas honrar; não pensa em sua honra, mas na honra do Pai. Não pensa nele, mas nos outros. Toda a vida de Jesus é uma revelação de quem é Deus: “Deus é amor”.

Por isso, em Jesus se faz realidade – mais que em ninguém- seu ensino: «Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome» (Flp 2, 9-10).

Jesus é o Mestre em obras e palavras. Nós, cristãos, queremos ser seus discípulos. Somente podemos ter a conduta do Mestre se dentro do nosso coração temos o que Ele tinha, se temos seu Espírito, o Espírito do amor. Trabalhemos para nos abrir totalmente ao seu Espírito e para nos deixar tocar e possuir completamente por Ele.

E isso sem pensar em ser “exaltados”, sem pensar em nós, mas somente nele. «Mesmo que não existisse o céu, eu te amaria; mesmo que não existisse o inferno, eu te temeria; igual como te quero, te quereria» (Autor anônimo). Levados somente pelo amor.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Sexta-feira da 30ª semana do Tempo Comum

Beata Maria Teresa de São José
Evangelho (Lc 14,1-6): Num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. Estes o observavam. Em frente de Jesus estava um homem que sofria de hidropisia. Tomando a palavra, Jesus disse aos doutores da Lei e aos fariseus: «Em dia de sábado, é permitido curar ou não?» Eles ficaram em silêncio. Então Jesus tomou o homem pela mão, curou-o e o despediu. Depois lhes disse: «Se algum de vós tem um filho ou um boi que caiu num poço, não o tira logo daí, mesmo em dia de sábado?» E eles não foram capazes de responder a isso.

«Em dia de sábado, é permitido curar ou não?»

Rvdo. D. Manuel COCIÑA Abella (Madrid, Espanha).

Hoje fixamos nossa atenção na pergunta aguçada que Jesus faz aos fariseus: «Em dia de sábado, é permitido curar ou não?» (Lc 14,3), e na significativa anotação que faz são Lucas: «E eles não foram capazes de responder a isso» (Lc 14,4).

São muitos os episódios evangélicos nos quais o Senhor joga na cara dos fariseus sua hipocrisia. É notável o empenho de Deus em nos deixar claro até que ponto lhe desagrada esse pecado - a falsa aparência, o engano vaidoso-, que se situa nas antípodas daquele elogio de Cristo a Natanael: «Aí está um verdadeiro israelita, em quem não há falsidade» (Jo 1,47). Deus ama a simplicidade de coração, a ingenuidade do espírito e, pelo contrário, rechaça energicamente o que é emaranhado, o olhar vago, a dupla moral, a hipocrisia.

O significativo da pergunta do Senhor e da resposta silenciosa dos fariseus, é a má consciência que estes, no fundo, tinham. Diante jazia um doente que buscava sua cura por Jesus. O cumprimento da Lei judaica –mera atenção à letra com desprezo ao espírito- e a fátua presunção de sua conduta honorável os leva a escandalizar-se ante a atitude de Cristo que, levado pelo seu coração misericordioso, não se deixa amarrar pelo formalismo de uma lei, e quer devolver a saúde a quem carecia dela.

Os fariseus se dão conta de que sua conduta hipócrita não é justificável e, por isso, calam. Nesta parte resplandece uma clara lição: a necessidade de entender que a santidade é seguimento de Cristo - até o enamorar-se plenamente- e não frio cumprimento legal de uns preceitos. Os mandamentos são santos porque procedem diretamente da Sabedoria infinita de Deus, mas que é possível vivê-los de uma maneira legalista e vazia, e então se dá a incongruência –autêntico sarcasmo- de pretender seguir a Deus para terminar indo atrás de nós mesmo.

Deixemos que a encantadora simplicidade da Virgem Maria se imponha nas nossas vidas.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje traz mais um episódio de discussão entre Jesus e os fariseus, acontecido durante a longa viagem de Jesus desde a Galileia até Jerusalém. É muito difícil de situar este fato no contexto da vida de Jesus. Existem semelhanças com um fato narrado no evangelho de Marcos (Mc 3,1-6). Provavelmente, trata-se de uma das muitas histórias transmitidas oralmente e que, na transmissão oral, foram sendo adaptadas de acordo com a situação, as necessidades e as esperanças do povo das comunidades.

* Lucas 14,1: O convite em dia de sábado
“Num dia de sábado aconteceu que Jesus foi comer em casa de um dos chefes dos fariseus, que o observavam”. Esta informação inicial sobre refeição na casa de um fariseu é o gancho para Lucas contar vários episódios que falam da refeição: cura do homem doente (Lc 14,2-6), escolha dos lugares à mesa (Lc 14,7-11), escolha dos convidados (Lc 14,12-14), convidados que recusam o convite (Lc 14,15-24). Muitas vezes Jesus é convidado pelos fariseus para participar das refeições. No convite deve ter havido também um motivo de curiosidade e um pouco de malícia. Querem observar Jesus de perto para ver se ele observa em tudo as prescrições da lei.

* Lucas 14,2: A situação que vai provocar a ação de Jesus
“Havia um homem hidrópico diante de Jesus”. Não se diz como um hidrópico pôde entrar na casa do chefe dos fariseus. Mas se ele está diante de Jesus é porque quer ser curado. Os fariseus que o observam Jesus. Era dia de sábado, e em dia de sábado é proibido curar. O que fazer? Pode ou não pode?

* Lucas 14,3: A pergunta de Jesus aos escribas e fariseus
“Tomando a palavra, Jesus falou aos especialistas em leis e aos fariseus: “A Lei permite ou não permite curar em dia de sábado”?" Com a sua pergunta Jesus explicita o problema que estava no ar: pode ou não pode curar em dia de sábado? A lei permite, sim ou não? No evangelho de Marcos, a pergunta é mais provocadora: “Em dia de sábado pode fazer o bem ou o mal, salvar ou matar?” (Mc 3,4).

* Lucas 14,4-6: A cura
Os fariseus não responderam e ficaram em silêncio. Diante do silêncio de quem não aprova nem desaprova, Jesus tomou o homem pela mão, o curou, e o despediu. Em seguida, para responder a uma possível crítica, explicitou o motivo que o levou a curar: "Se alguém de vocês tem um filho ou um boi que caiu num poço, não o tiraria logo, mesmo em dia de sábado?" Com esta pergunta Jesus mostra a incoerência dos doutores e dos fariseus. Se qualquer um deles, em dia de sábado, não vê problema nenhum em socorrer a um filho ou até a um animal, Jesus também tem o direito de ajudar e curar o hidrópico. A pergunta de Jesus evoca o salmo, onde se diz que o próprio Deus socorre a homens e animais (Sl 36,8). Os fariseus “não foram capazes de responder a isso”. Pois diante da evidência não há argumento que a negue.

Para um confronto pessoal
1) A liberdade de Jesus diante da situação. Mesmo observado por quem não o aprova, ele não perde a liberdade. Qual a liberdade que existe em mim?
2) Há momentos difíceis na vida, em que somos obrigados a escolher entre a necessidade imediata de um próximo e a letra da lei. Como agir?

Beata Maria Teresa de São José
Virgem, fundadora das Irmãs Carmelitas do Divino Coração de Jesus.


A beata Maria Teresa de São José cujo nome do batismo era Anna Maria Tauscher. Nasceu em 1855, em Sandow, então Alemanha e hoje Polônia, filha e neta de pastores luteranos. Desde muito jovem queria consagrar-se por inteiro ao serviço de Deus e da evangelização, adorava a presença de Cristo na Eucaristia, amava a são José e defendia a virgindade perpétua de Nossa Senhora antes, inclusive, de ter qualquer contato com católicos ou com a doutrina católica. Sua definitiva conversão ao catolicismo teve lugar depois de ler o Livro da Vida de santa Teresa de Jesus. Expulsa da família, pobre e enferma, incompreendida pelas autoridades religiosas, nunca desanimou. Depois de muitos sofrimentos e decepções, pode fundar uma congregação religiosa de espiritualidade carmelitana ao serviço dos necessitados: as Irmãs Carmelitas do Divino Coração de Jesus. Confiando sempre na Divina Providência, ela mesma fundou numerosas casas em vários países da Europa e América. Foi beatificada em 2006.

Salmodia, Leitura, Responsório breve e Preces do Dia Corrente.

Oração
Deus onipotente e misericordioso que inspirastes à beata Maria Teresa de São José um zelo admirável ao serviço de vosso povo, concedei-nos, por sua intercessão, a graça de trabalhar com o mesmo amor para a edificação da Igreja, mesmo em meio das dificuldades. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco, na unidade do Espírito Santo.



quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Quinta-feira da 30ª semana do Tempo Comum

Evangelho (Lc 13,31-35): Naquela hora, alguns fariseus aproximaram-se e disseram a Jesus: Sai daqui, porque Herodes quer te matar. Ele disse: Ide dizer a essa raposa: eu expulso demônios e faço curas hoje e amanhã; e no terceiro dia chegarei ao termo. Entretanto, preciso caminhar hoje, amanhã e depois de amanhã, pois não convém que um profeta morra fora de Jerusalém.  Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a galinha reúne os pintainhos debaixo das asas, mas não quiseste! Vede, vossa casa ficará abandonada. Eu vos digo: não mais me vereis, até que chegue o tempo em que digais: Bendito aquele que vem em nome do Senhor.

«Jerusalém, Jerusalém! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, mas não quiseste!»

Rev. D. Àngel Eugeni PÉREZ i Sánchez (Barcelona, Espanha).

Hoje podemos admirar a firmeza de Jesus no cumprimento da missão encomendada pelo Pai do céu. Ele não se deteve por nada: Eu expulso demônios e faço curas hoje e amanhã (Lc 13,32). Com esta atitude, o Senhor marcou a pauta de conduta que ao longo dos séculos seguiriam os mensageiros do Evangelho ante as persecuções: não dobrar-se ante o poder temporário. Santo Agostinho disse que, em tempo de persecuções, os pastores não devem abandonar os fiéis: nem os que sofrerão o martírio nem os que sobreviverão como o Bom Pastor, que quando vê que vem o lobo, não abandona o rebanho, senão que o defende. Mas visto o fervor com que todos os pastores da Igreja se dispunham a derramar o seu sangue, indica que o melhor será jogar a sorte quem dos clérigos se entregarão ao martírio e quais se porão a salvo para logo cuidarem dos sobreviventes.

Na nossa época, com frequência, nos chegam notícias de persecuções religiosas, violências tribais ou revoltas étnicas em países do Terceiro Mundo. As embaixadas ocidentais aconselham aos seus concidadãos que abandonem a região e repatriem o seu pessoal. Os únicos que permanecem são os missioneiros e as organizações de voluntários, porque para eles pareceria uma traição abandonar os seus em momentos difíceis.

Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a galinha reúne os pintainhos debaixo das asas, mas não quiseste! (Lc 13,34-35). Esse lamento do Senhor produz em nós, os cristãos do século XXI, uma tristeza especial, devido ao sangrento conflito entre judeus e palestinos. Para nós, essa região do Próximo Oriente é a Terra Santa, a terra de Jesus e de Maria. E o clamor pela paz em todos os países deve ser mais intenso e sentido pela paz em Israel e Palestina.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje nos faz sentir o contexto ameaçador e perigoso no qual Jesus vivia e trabalhava. Herodes, o mesmo que tinha matado João Batista, quer matar Jesus.

* Lucas 13,31: O aviso dos fariseus a Jesus
“Nesse momento, alguns fariseus se aproximaram, e disseram a Jesus: "Deves ir embora daqui, porque Herodes quer te matar". É importante notar que Jesus recebeu o aviso da parte dos fariseus. Algumas vezes, os fariseus estão juntos com o grupo de Herodes querendo matar Jesus (Mc 3,6; 12,13). Mas aqui, eles são solidários com Jesus e querem evitar a morte dele. Naquele tempo, o poder do rei era absoluto. Ele não prestava conta a ninguém da sua maneira de governar. Herodes já tinha matado a João Batista e agora está querendo acabar também com Jesus.

* Lucas 13,32-33: A resposta de Jesus
“Jesus disse: "Vão dizer a essa raposa: eu expulso demônios, e faço curas hoje e amanhã; e no terceiro dia terminarei o meu trabalho”. A resposta de Jesus é muito clara e corajosa. Ele chama Herodes de raposa. Para anunciar o Reino Jesus não depende da licença das autoridades políticas. Ele até manda um recado informando que vai continuar seu trabalho hoje e amanhã e que só vai embora depois de amanhã, isto é, no terceiro dia. Nesta resposta transparece a liberdade de Jesus frente ao poder que queria impedi-lo da realizar a missão recebida do Pai. Pois quem determina os prazos e a hora é Deus e não Herodes! Ao mesmo tempo, na resposta transparece certo simbolismo relacionado com a morte e a ressurreição ao terceiro dia em Jerusalém. E para dizer que não vai ser morto na Galileia, mas sim em Jerusalém, capital do seu povo, e que vai ressuscitar no terceiro dia.

* Lucas 13,34-35: Lamento de Jesus sobre Jerusalém
"Jerusalém, Jerusalém, você que mata os profetas e apedreja os que lhe foram enviados! Quantas vezes eu quis reunir seus filhos, como a galinha reúne os pintinhos debaixo das asas, mas você não quis!” Este lamento de Jesus sobre a capital do seu povo evoca a longa e triste história da resistência das autoridades aos apelos de Deus que chegavam a elas através de tantos profetas e sábios. Em outro lugar Jesus fala dos profetas perseguidos e mortos desde Abel até Zacarias (Lc 11,51). Chegando a Jerusalém pouco antes da sua morte, olhando a cidade do alto do Monte das Oliveiras, Jesus chora sobre ela, porque ela não reconheceu o tempo em que Deus veio para visitá-la." (Lc 19,44).

Para um confronto pessoal
1) Jesus qualifica o poder político como raposa. O poder político do seu país merece esta qualificação?
2) Jesus tentou muitas vezes converter o povo de Jerusalém, mas as autoridades religiosas resistiram. E eu, quanto vezes resisti?

terça-feira, 27 de outubro de 2015

28 de outubro: São Simão e São Judas, apóstolos.

Evangelho (Lc 6,12-19): Naqueles dias, Jesus foi à montanha para orar. Passou a noite toda em oração a Deus. Ao amanhecer, chamou os discípulos e escolheu doze entre eles, aos quais deu o nome de apóstolos: Simão, a quem chamou Pedro, e seu irmão André; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado zelote; Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que se tornou o traidor. Jesus desceu com eles da montanha e parou num lugar plano. Ali estavam muitos dos seus discípulos e uma grande multidão de gente de toda a Judéia e de Jerusalém, e do litoral de Tiro e Sidônia. Vieram para ouvi-lo e serem curados de suas doenças. Também os atormentados por espíritos impuros eram curados. A multidão toda tentava tocar nele, porque dele saía uma força que curava a todos.

«Jesus foi à montanha para orar»

+ Rev. D. Albert TAULÉ i Viñas (Barcelona, Espanha).

Hoje contemplamos um dia inteiro da vida de Jesus. Uma vida que tem duas vertentes claras: a oração e a ação. Se a vida do cristão há de imitar a vida de Jesus, não podemos prescindir de ambas as dimensões. Todos os cristãos, inclusive aqueles que têm se consagrado à vida contemplativa, temos de dedicar uns momentos à oração e outros à ação, ainda que varie o tempo que dediquemos a cada uma. Até os monges e as freiras de clausura dedicam bastante tempo de sua jornada a um trabalho. Em contrapartida, os que somos mais seculares, se desejamos imitar Jesus, não deveríamos nos mover numa ação desenfreada sem ungi-la com a oração. Ensina-nos São Jerônimo: «Embora o Apóstolo mandou-nos que orássemos sempre, (...) convém que destinemos umas horas determinadas a esse exercício».

É que Jesus precisava de longos momentos de oração em solitário quando todos dormiam? Os teólogos estudam qual era a psicologia de Jesus homem: até que ponto tinha acesso direto à divindade e até que ponto era «homem semelhante em tudo a nós, menos no pecado» (He 4,5). Na medida em que o consideremos mais próximo, sua prática de oração será um exemplo evidente para nós.

Assegurada já a oração, só nos fica imitá-lo na ação. No fragmento de hoje, vemo-lo organizando a Igreja, quer dizer, escolhendo os que serão os futuros evangelizadores, chamados a continuar sua missão no mundo. «Ao amanhecer, chamou os discípulos e escolheu doze entre eles, aos quais deu o nome de apóstolos» (Lc 6,13). Depois encontramo-lo curando todo tipo de doença. «A multidão toda tentava tocar nele porque dele saía uma força que curava a todos» (Lc 6,19), diz-nos o evangelista. Para que nossa identificação com Ele seja total, unicamente nos falta que também saia de nós uma força que cure a todos, o que só será possível se estamos inseridos Nele, para que demos muitos frutos (cf. Jo 15,4).

Reflexão de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

São Judas Tadeu, apóstolo
* O evangelho de hoje traz dois assuntos: (1) descreve a escolha dos doze apóstolos (Lc 6,12-16) e (2) informa que uma multidão imensa de gente queria encontrar-se com Jesus para ouvi-lo, tocar nele e ser curada (Lc 6,17-19).

* Lucas 6,12-13: Jesus passa noite em oração e escolhe os doze apóstolos
Antes de fazer a escolha definitiva dos doze apóstolos, Jesus subiu a uma montanha e passou uma noite inteira em oração. Rezou para saber a quem escolher e escolheu os Doze, cujos nomes estão registrados nos evangelhos. A eles deu o título de apóstolo. Apóstolo significa enviado, missionário. Eles foram chamados para realizar uma missão, a mesma que Jesus recebeu do Pai (Jo 20,21). Marcos concretiza mais a missão e diz que Jesus os chamou para estar com ele e enviá-los em missão (Mc 3,14).

* Lucas 6,14-16: Os nomes dos doze apóstolos
Com pequenas diferenças os nomes dos Doze são iguais nos evangelhos de Mateus (Mt 10,2-4), Marcos (Mc 3,16-19) e Lucas (Lc 6,14-16). Grande parte destes nomes vem do Antigo Testamento: Simeão é o nome de um dos filhos do patriarca Jacó (Gn 29,33). Tiago é o mesmo que o nome de Jacó (Gn 25,26). Judas é o nome de outro filho de Jacó (Gn 35,23). Mateus também se chamava Levi (Mc 2,14), que foi outro filho de Jacó (Gn 35,23). Dos doze apóstolos sete tem nome que vem do tempo dos patriarcas: duas vezes Simão, duas vezes Tiago, duas vezes Judas, e uma vez Levi! Isto revela a sabedoria do povo. Através dos nomes dos patriarcas e das matriarcas, dados aos filhos e filhas, eles mantinham viva a tradição dos antigos e ajudavam seus filhos a não perder a identidade. Quais os nomes que nós damos hoje para os nossos filhos e filhas?

* Lucas 6,17-19: Jesus desce da montanha e a multidão o procura
Ao descer da montanha com os doze, Jesus encontrou uma multidão imensa de gente que o procurava para ouvir sua palavra e tocá-lo, porque dele saía uma força de vida. Nesta multidão havia judeus e estrangeiros, pois vinham da Judéia e também lá de Tiro e Sidônia. É o povo abandonado, desorientado. Jesus acolhe a todos que o procuram. Judeus e pagãos! Aqui transparece o ecumenismo, a abertura universal da missão, tema preferido de Lucas que escreve para pagãos convertidos.

* As pessoas chamadas por Jesus, consolo para nós.
   Os primeiros cristãos lembraram e registraram os nomes dos Doze apóstolos e de outros homens e mulheres que seguiram Jesus de perto. Os Doze, chamadas por Jesus para formar com ele a primeira comunidade, não eram santos. Eram pessoas comuns, como todos nós, com suas virtudes e seus defeitos. Os evangelhos informam muito pouco sobre o jeito e o caráter de cada um deles. Mas o pouco que informam é motivo de consolo para nós.

* Pedro era uma pessoa generosa e entusiasta (Mc 14,29.31; Mt 14,28-29), mas na hora do perigo e da decisão, o coração dele encolhia e voltava atrás (Mt 14,30; Mc 14,66-72). Chegou a ser satanás (Mc 8,33) e pedra de tropeço (Mt 16,23). Negou Jesus na hora do perigo (Lc 22,56-62). Jesus deu a ele o apelido de Pedra. Pedro, ele por si mesmo, não era Pedra. Tornou-se pedra (rocha), porque Jesus rezou por ele (Lc 22,31-32).

* Tiago e João estavam dispostos a sofrer com e por Jesus (Mc 10,39), mas eram muito violentos (Lc 9, 54). Jesus os chamou “filhos do trovão” (Mc 3,17). João parecia ter certo ciúme, pois queria Jesus só para o grupo dele e proibiu os outros usar o nome de Jesus para expulsar demônios (Mc 9,38).

* Filipe tinha um jeito acolhedor. Sabia colocar os outros em contato com Jesus (Jo 1,45-46), mas não era muito prático em resolver os problemas (Jo 12,20-22; 6,7). Às vezes, era meio ingênuo. Teve hora em que Jesus perdeu a paciência com ele: “Mas Filipe, tanto tempo que estou com vocês, e ainda não me conhece?” (Jo 14,8-9).

* André, irmão de Pedro e amigo de Filipe, era mais prático. Filipe recorre a ele para resolver os problemas (Jo 12,21-22). Foi André que chamou Pedro (Jo 1,40-41), e foi André que encontrou o menino com cinco pãezinhos e dois peixes (Jo 6,8-9).

* Bartolomeu parece ter sido o mesmo que Natanael. Este era bairrista e não podia admitir que algo de bom pudesse vir de Nazaré (Jo 1,46).

* Tomé foi capaz de sustentar sua opinião, uma semana inteira, contra o testemunho de todos os outros (Jo 20,24-25). Mas quando viu que estava equivocado, não teve medo de reconhecer seu erro (Jo 20,26-28). Era generoso, disposto a morrer com Jesus (Jo 11,16).

* Mateus ou Levi era publicano, cobrador de impostos, como Zaqueu (Mt 9,9; Lc 19,2). Os publicanos eram pessoas comprometidas com o sistema opressor da época.

* Simão, ao contrário, parece ter sido do movimento que se opunha radicalmente ao sistema que o império romano impunha ao povo judeu. Por isso tinha o apelido de Zelota (Lc 6,15). O grupo dos Zelotas chegou a provocar uma revolta armada contra os romanos.

* Judas era o que tomava conta do dinheiro do grupo (Jo 13,29). Ele chegou a trair Jesus.

* Tiago de Alfeu e Judas Tadeu, destes dois os evangelhos nada informam a não ser o nome.

Para um confronto pessoal
1) Jesus passou a noite inteira em oração para saber a quem escolher, e escolheu estes doze! Qual a lição que você tira deste gesto de Jesus?
2) Os primeiros cristãos lembravam os nomes dos doze apóstolos que estavam na origem das suas comunidades. Você lembra os nomes das pessoas que estão na origem da comunidade a que você pertence? Você lembra o nome de alguma catequista ou professora que foi significativa para a sua formação cristã. O que mais se lembra delas: o conteúdo que lhe ensinaram ou o testemunho que deram?

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Terça-feira da 30ª semana do Tempo Comum

Evangelho (Lc 13,18-21): Naquele tempo, Jesus dizia: A que é semelhante o Reino de Deus, e com que poderei compará-lo? É como um grão de mostarda que alguém pegou e semeou no seu jardim: cresceu, tornou-se um arbusto, e os pássaros do céu foram fazer ninhos nos seus ramos. Jesus disse ainda: Com que mais poderei comparar o Reino de Deus? É como o fermento que uma mulher pegou e escondeu em três porções de farinha, até tudo ficar fermentado.

«A que é semelhante o Reino de Deus»

+ Rev. D. Francisco Lucas MATEO Seco (Pamplona, Navarra, Espanha)

Hoje, os textos da liturgia, mediante duas parábolas, põem diante de nossos olhos uma das características próprias do Reino de Deus: é algo que cresce lentamente - como um grão de mostarda - mas que chega a ser grande ao ponto de oferecer refúgio às aves do céu. Assim o manifestava Tertuliano: Somos de ontem e enchemos tudo!. Com essa parábola, Nosso Senhor exorta à paciência, à fortaleza e à esperança. Essas virtudes são particularmente necessárias a aqueles que se dedicam à propagação do Reino de Deus. É necessário saber esperar a que a semente plantada, com a graça de Deus e com a cooperação humana, vá crescendo, aprofundando suas raízes na boa terra y elevando-se pouco a pouco até converter-se em árvore. Faz falta, em primeiro lugar, ter fé na virtualidade – fecundidade - contida na semente do Reino de Deus. Essa semente é a Palavra; é também a Eucaristia, que se semeia em nós mediante a comunhão. Nosso Senhor Jesus Cristo se comparou a si mesmo com : verdade, em verdade vos digo; se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer produz muito fruto;(Jn 12,24).

O Reino de Deus prossegue Nosso Senhor, é semelhante, é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e misturou em três medidas de farinha e toda a massa ficou levedada (Lc 13,21). Também aqui se fala da capacidade que tem a levedura de fazer fermentar toda a massa. Assim sucede com o resto de Israel, de que se fala no Antigo Testamento: o resto salvará e fermentará a todo o povo. Seguindo com a parábola, só é necessário que o fermento esteja dentro da massa, que chegue ao povo, que seja como o sal capaz de preservar da corrupção e de dar bom sabor a todo alimento (cf. Mt 5,13). Também é necessário dar tempo para que a levedura realize seu labor.

Parábolas que animam a paciência e a esperança; parábolas que se referem ao Reino de Deus e à Igreja, e que se aplicam também ao crescimento deste mesmo Reino em cada um de nós.

Ser fermento na massa

S. João Crisóstomo (cerca 345-407) - Homília 20 sobre os Atos dos Apóstolos

Há algo mais irrisório do que um cristão que não se preocupa com os outros? Não tomes como pretexto a tua pobreza: a viúva que pôs duas pequenas moedas na arca do tesouro (Mc 12,42) levantar-se-ia contra ti; Pedro também, ele que dizia ao coxo: “Não tenho ouro nem prata” (Ac 3,6), e Paulo, tão pobre que tinha muitas vezes fome. Não uses a tua condição social, pois os apóstolos também eram humildes e de baixa condição. Não invoques a tua ignorância, porque eles eram homens iletrados. Mesmo se tu eras escravo ou fugitivo, tu podias sempre fazer o que dependia de ti. Assim era Onésimo que Paulo elogiou. Serás tu de saúde frágil? Timóteo também o era. Sim, seja o que for que sejamos, não importa quem pode ser útil ao seu próximo, se ele quer verdadeiramente fazer o que ele pode.

Vês quantas árvores da floresta são vigorosas, belas, esbeltas? E contudo, nos jardins, preferimos árvores de fruto ou oliveiras cobertas de frutos. Belas árvores estéreis..., assim são os homens que apena s consideram o seu próprio interesse...

Se o fermento não levedasse a massa, não seria um verdadeiro fermento. Se um perfume não perfumasse os que estão perto, poderíamos chamá-lo de perfume? Não digas pois que é impossível teres uma boa influência sobre os outros, porque se és verdadeiramente cristão, é impossível que não se passe nada; isso faz parte da essência própria do cristão... Será tão contraditório dizer que um cristão não pode ser útil ao seu próximo como negar ao sol a possibilidade de iluminar e aquecer.

“Se o grão de trigo, lançado na terra, não morrer, fica só, como é; mas, se morrer, produz abundante fruto” (Jo 12,24)

S. Máximo de Turim (? - cerca 420), bispo - Sermão 25

“Um homem tomou um grão de mostarda e lançou-a no seu jardim; ela desenvolveu-se e tornou-se uma árvore, e os pássaros do céu abrigam-se nos seus ramos”. Procuremos a quem se aplica tudo isto… Penso que a comparação se aplica muito justamente a Cristo nosso Senhor que, nascendo na humildade da condição humana, como um grão, sobe finalmente ao céu como uma árvore. Ele é grão, o Cristo esmagado na Paixão; ele torna-se uma árvore na ressurreição. Sim, ele é uma semente quando, esfomeado, ele sofre por faltar o alimento; ele é uma árvore quando, com cinco pães, sacia cinco mil pessoas (Mt 14,13s). Lá ele sofre a carência da sua condição de homem, aqui ele derrama a saciedade pela força da sua divindade.

Eu diria que o Senhor é grão assim que ele é batido, desprezado, injuriado; ele é árvore quando dá a vista aos cegos, quando ressuscita os mortos e perdoa os pecados. Ele próprio reconhece que é grão: “Se o grão de trigo lançado na terra não morrer…”(Jo 12,24).

O Reino de Deus

S. Simeão o Jovem Teólogo, (Cerca de 949-1022) - Hino 17

Vou mostrar-te claramente que é aqui em baixo que tens de acolher o Reino dos céus, todo inteiro, se nele quiseres entrar também após a tua morte. Escuta Deus que te fala em parábolas: “A que compararei então o Reino dos céus? Ele assemelha-se, escuta bem, ao grão de mostarda que um homem tomou e lançou no seu jardim; e ele germinou e, na verdade, tornou-se uma grande árvore”. Esse grão é o Reino dos céus, é a graça do Espírito divino, e o jardim é o coração de cada homem, o sítio onde quem o recebeu esconde o Espírito no fundo de si mesmo, nas pregas das suas entranhas, para que ninguém o possa ver. E guarda-o com todo o cuidado, para que germine, para que se torne uma árvore e se eleve para o céu.

Se, então, disseres: “Não é aqui em baixo, mas só após a morte que acederão ao Reino todos os que o tiverem desejado com fervor”, estás a alterar o sentido das parábolas do Salvador nosso Deus. E, se não tomares o grão, esse grão de mostarda, como ele to disse, se não o lançares no teu jardim, ficarás totalmente estéril. Em que outro momento, se não for agora, receberás tu a semente?

“Aqui em baixo, recebe o penhor, diz o Mestre; aqui em baixo, recebe o selo. Já aqui, ilumina a tua lâmpada. Se fores sensato, é aqui em baixo que me tornarei para ti a pérola (Mt 13,45), é aqui em baixo que serei o teu trigo, bem como o teu grão de mostarda. É aqui em baixo que serei fermento e farei levedar a massa. É aqui que serei para ti como água e me tornarei fogo abrasador. É aqui que me tornarei a tua veste e o teu alimento e toda a tua bebida, se o desejares”. Eis o que diz o Mestre: “Se assim, pois, já aqui em baixo, me reconheceres como tal, também no céu me possuirás inefavelmente e eu tornar-me-ei tudo para ti”.

domingo, 25 de outubro de 2015

As características das almas tíbias

“Há uma doença mortífera ameaçando a Igreja, sem que ninguém se dê conta: são as almas retardatárias. Vários autores espirituais apontam este fenômeno como causa da grande decadência de seminários, congregações religiosas, paróquias e movimentos eclesiais. Em que consiste este câncer que vai, silenciosa e sorrateiramente, tirando a vida da Igreja?

A maior parte dos cristãos experimentou uma “primeira conversão”: antes, vivia uma vida mundana, entregue ao egoísmo; encontrando-se com Cristo, no entanto, rompeu com o pecado como projeto de vida. O problema é que, por falta de formação espiritual, uma multidão parou nesse estágio. Ao invés de crescer na caridade, acomodou-se, tornando-se uma espécie de “anão espiritual”. O padre Reginald Garrigou-Lagrange, no livro “As Três Idades da Vida Interior”, escreve que:

“Certas almas, como consequência de sua negligência ou preguiça espiritual, nunca saem da idade dos principiantes para continuar na dos proficientes; elas são almas retardatárias, algo parecido com esses meninos, mais ou menos anormais, que não atravessam com sucesso a crise da adolescência e que, ainda não sejam crianças, não chegam nunca ao completo desenvolvimento da idade adulta. Da mesma maneira, essas almas retardatárias ficam sem poder ser catalogadas nem entre os principiantes nem entre os adiantados. E são, por desgraça, muito numerosas.”

Na mesma obra, o pe. Garrigou-Lagrange cita o trecho de um livro do padre jesuíta Lallemant, no qual ele explica que “uma Ordem religiosa vai até a decadência quando o número de tíbios começa a ser tão grande como o de fervorosos”. A tibieza é uma mornidão na qual a pessoa, apesar de ter rompido com os pecados graves, passa a viver a vida tão somente para si, fazendo das “coisas de Deus” desculpas para empreender coisas para si. O pe. Lagrange compara um sacerdote que assim se comporta a “uma espécie de funcionário de Deus”: a religião torna-se mais um “negócio” que uma ocasião genuína para a conversão e para o crescimento interior.

Quais são as características da alma tíbia?

Primeiro, ela começa com a negligência nas pequenas coisas. Deus chama a pessoa a amá-Lo mais, mas ela cede à preguiça e se torna indiferente à Sua voz. – Mas, preocupar-se até com essas coisas não é “moralismo”? – Não. Combater os pecados veniais e os próprios defeitos não é uma questão de “moralismo”, mas de amor: não se para de ofender a quem se ama por cálculos frios e matemáticos, mas pura e simplesmente porque se ama.

Segundo, a pessoa passa a fugir dos sacrifícios. Com uma visão do “justo”, a pessoa oferece a Deus o seu “mínimo”, a sua obrigação. Ignora – ou finge ignorar – que, deste modo, sem generosidade, não haverá para ela nenhum crescimento espiritual.

Terceiro: não podendo pecar mortalmente, a pessoa se entrega a “pequenos pecados”, a murmurações e zombarias. Santo Tomás de Aquino, ao falar sobre o pecado da zombaria e do escárnio, cita o salmista: “Qui habitat in cælis irridebit eos – O que habita nos céus rirá deles”. Quem faz gozações com os outros será, ele mesmo, objeto de piada.

A triste consequência da pessoa que está neste estado é que, cedendo pouco a pouco aos pecados veniais, ela se vê atada de tal modo a ponto de tornar-se prisioneira de seus pecados. Com razão diz São Bernardo – citado por Garrigou-Lagrange – que “é mais fácil ver um grande número de pessoas do mundo renunciar ao vício e abraçar a virtude do que um só religioso passar da vida tíbia à vida fervorosa”.

O que está por trás da alma retardatária? “[Está] que em tudo, e a propósito de tudo, se busca a si mesmo, ao invés de buscar a Deus”, conclui o pe. Lagrange.

Como remédio para este lamentável estado, é preciso amar mais e esquecer-se de si mesmo. Urge que vivamos para Cristo, que tudo deu e tudo entregou por amor a nós. Como não amarmos de volta um amor tão grande?”

(Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Júnior, A Tragédia das Almas Retardatárias)

Segunda-feira da 30ª semana do Tempo Comum

Evangelho (Lc 13,10-17): Naquele tempo, Jesus estava ensinando numa sinagoga, num dia de sábado. Havia aí uma mulher que, dezoito anos já, estava com um espírito que a tornava doente. Era encurvada e totalmente incapaz de olhar para cima. Vendo-a, Jesus a chamou e lhe disse: «Mulher, estás livre da tua doença». Ele impôs as mãos sobre ela, que imediatamente se endireitou e começou a louvar a Deus.  O chefe da sinagoga, porém, furioso porque Jesus tinha feito uma cura em dia de sábado, se pôs a dizer à multidão: Há seis dias para trabalhar. Vinde, pois, nesses dias para serdes curados, mas não em dia de sábado. O Senhor respondeu-lhe: «Hipócritas! Não solta cada um de vós seu boi ou o jumento do curral, para dar-lhe de beber, mesmo que seja em dia de sábado? Esta filha de Abraão, que Satanás amarrou durante dezoito anos, não devia ser libertada dessa prisão, mesmo em dia de sábado?». Essa resposta envergonhou todos os inimigos de Jesus. E a multidão inteira se alegrava com as maravilhas que ele fazia.

«O chefe da sinagoga, porém, furioso porque Jesus tinha feito uma cura em dia de sábado»

Rev. D. Francesc JORDANA i Soler (Mirasol, Barcelona, Espanha).

Hoje, vemos a Jesus realizar uma ação que proclama seu messianismo. E ante ela o chefe da sinagoga se indigna e repreende as pessoas para que não venham curar-se em dia de sábado: Mas o chefe da sinagoga, indignado de ver que Jesus curava no sábado, disse ao povo: «São seis os dias em que se deve trabalhar; vinde, pois, nestes dias para vos curar, mas não em dia de sábado» (Lc 13,14).

Eu gostaria que nos concentrássemos na atitude deste personagem. Sempre me surpreendeu que, diante de um milagre evidente, alguém seja capaz de fechar-se de tal modo que o que Ele viu, não lhe afeta no mais mínimo. É como se não tivesse visto o que acabava de ocorrer e o que isso significa. O motivo está na vivência equivocada das mediações que muitos judeus tinham naquele tempo. Por diferentes motivos - antropológicos, culturais, desígnio divino - é inevitável que entre Deus e o homem haja umas mediações. O problema é que alguns judeus fazem da mediação um absoluto. De maneira que a mediação não lhes põe em comunicação com Deus, e sim, ficam na sua própria mediação. Esquecem que são os últimos e ficam no meio. Dessa maneira não pode comunicar-lhes suas graças, seus dons, seu amor e, portanto sua experiência religiosa não enriquecerá sua vida.

Tudo isso lhes conduz a uma vivência rigorosa da religião, a encerrar seu deus em uns meios. Fazem um deus sob medida e não o deixam entrar em suas vidas. Na sua religiosidade acham que tudo está solucionado se cumprem com algumas normas. Compreende-se assim a reação de Jesus: «Hipócritas! disse-lhes o Senhor. Não desamarra cada um de vós no sábado o seu boi ou o seu jumento da manjedoura, para os levar a beber?» (Lc 13,15). Jesus descobre a falta de sentido dessa equivocada vivência do sabath.

Esta palavra de Deus deveria nos ajudar a examinar nossa vivência religiosa e descobrir se realmente as mediações que utilizamos nos põe em comunicação com Deus e com a vida. Somente desde a correta vivência das mediações podemos entender a frase de Santo Agostinho: «Ama e faz o que queiras».

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje descreve a cura da mulher encurvada. Trata-se de um dos muitos episódios que Lucas vai narrando, sem muita ordem, ao descrever a longa caminhada de Jesus para Jerusalém (Lc 9,51 a 19,28).

* Lucas 13,10-11: A situação que vai provocar a ação de Jesus
Jesus está na sinagoga num dia do repouso. Ele cumpre a lei, guardando o sábado e participando da celebração com seu povo. Lucas informa que Jesus estava ensinando. Havia na sinagoga uma mulher encurvada. Lucas diz que um espírito de fraqueza a impedia de tomar posição reta. Era a maneira do povo daquele tempo explicar as doenças. Já fazia dezoito anos que a mulher estava nessa situação. Ela não fala, não tem nome, não pede para ser curada, não toma nenhuma iniciativa. Sua passividade chama a atenção.

* Lucas 13,12-13: Jesus cura a mulher
Vendo a mulher, Jesus a chama e lhe diz: “Mulher, você está livre da sua doença!”. A ação de libertar é realizada pela palavra, dirigida diretamente à mulher, e pelo toque da imposição das mãos. Imediatamente, ela fica de pé e começa a louvar o Senhor. Há uma relação entre o colocar-se de pé e dar glória a Deus. Jesus faz a mulher ficar de pé, para que ela possa louvar a Deus no meio do povo reunido em assembleia. A sogra de Pedro, quando curada, levantou-se e se pôs a servir (Mc 1,31). Louvar a Deus e servir aos irmãos!

* Lucas 13,14: A reação do chefe da sinagoga
O chefe da sinagoga ficou furioso com a ação de Jesus, por ele ter feito a cura num dia de sábado: “Há seis dias para o trabalho! Portanto, venham num destes dias para serem curados e não no dia de sábado!”. Na crítica do chefe da sinagoga ao povo ressoa a palavra da Lei de Deus que dizia: “Lembre-se do dia de sábado, para santificá-lo. Trabalhe durante seis dias e faça todas as suas tarefas. O sétimo dia, porém, é o sábado de Javé seu Deus. Não faça nenhum trabalho”. (Ex 20,8-10). Nesta reação autoritária do chefe temos uma chave para entender por que motivo o povo estava tão oprimido e por que a mulher não podia participar naquele tempo. A dominação das consciências através da manipulação da lei de Deus era muito forte. Era esta a maneira de eles manterem o povo submisso e encurvado.

* Lucas 13,15-16: A resposta de Jesus ao chefe da sinagoga
O chefe condenou as pessoas porque ele queria que observassem a Lei de Deus. Aquilo que para o chefe da sinagoga é observância da lei de Deus, é hipocrisia para Jesus: "Hipócritas! Cada um de vocês não solta do curral o boi ou o jumento para dar-lhe de beber, mesmo que seja dia de sábado? Aqui está uma filha de Abraão que Satanás amarrou durante dezoito anos. Será que não deveria ser libertada dessa prisão, em dia de sábado?" Com este exemplo tirado da vida diária, Jesus mostra a incoerência desse tipo de observância da lei de Deus. Se é permitido desamarrar um boi e um jumento em dia de sábado só para dar-lhes de beber, muito mais é permitido desamarrar uma filha de Abraão para liberta-la do poder do mal. O verdadeiro sentido da observância da Lei que agrada a Deus é este: libertar as pessoas do poder do mal e colocá-las de pé, para que possam glorificar a Deus e render-lhe homenagem. Jesus imita Deus que endireita os encurvados (Sl 145,14; 146,8).

* Lucas 13,17: A reação do povo diante da ação de Jesus
O ensinamento de Jesus deixa confusos os seus adversários, mas a multidão se enche de alegria pelas coisas maravilhosas que Jesus está realizando: “Toda a multidão se alegrava com as maravilhas que Jesus fazia”. Na Palestina do tempo de Jesus, a mulher vivia encurvada, submissa ao marido, aos pais e aos chefes religiosos do seu povo. Esta situação de submissão era justificada pela religião. Mas Jesus não quer que ela fique encurvada. Desatar e libertar as pessoas não tem dia marcado. É todos os dias, mesmo em dia de sábado!

Para um confronto pessoal
1. Será que a situação da mulher mudou muito de lá para cá? Qual a situação da mulher hoje na sociedade e na igreja? Tem alguma relação entre religião e opressão da mulher?
2. A multidão se alegrou com a ação de Jesus. Qual a libertação que está acontecendo hoje e que está levando a multidão a se alegrar e dar graças a Deus?

sábado, 24 de outubro de 2015

XXX Domingo do Tempo Ordinário

Textos: Jer 31, 7-9; Heb 5, 1-6; Mc 10, 46-52

Evangelho (Mc 10,46-52): Naquele tempo, chegaram a Jericó. Quando Jesus estava saindo da cidade, acompanhavam-no os discípulos e uma grande multidão. O mendigo cego, Bartimeu, filho de Timeu, estava sentado à beira do caminho. Ouvindo que era Jesus Nazareno, começou a gritar: Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim. Muitos o repreendiam para que se calasse. Mas ele gritava ainda mais alto: Filho de Davi, tem compaixão de mim. Jesus parou e disse: Chamai-o! Eles o chamaram, dizendo: Coragem, levanta-te! Ele te chama! O cego jogou o manto fora, deu um pulo e se aproximou de Jesus. Este lhe perguntou: Que queres que eu te faça? O cego respondeu: Rabûni, meu Mestre, que eu veja. Jesus disse: Vai, tua fé te salvou. No mesmo instante, ele recuperou a vista e foi seguindo Jesus pelo caminho.

«Que queres que eu te faça? O cego respondeu: Rabûni, meu Mestre, que eu veja».

Rev. D. Pere CAMPANYÀ i Ribó (Barcelona, Espanha)

Hoje, contemplamos um homem que, na sua desgraça, encontra a verdadeira felicidade graças a Jesus Cristo. Trata-se de uma pessoa com duas carências: falta de visão corporal e incapacidade de ganhar a vida, o que o obriga a mendigar. Precisa de ajuda e fica junto do caminho, à saída de Jericó, onde passam muitos caminhantes.

Por sorte dele, naquela ocasião quem passa é Jesus, acompanhado dos seus discípulos e outras pessoas. Sem dúvida, o cego já tinha ouvido falar de Jesus; haviam-lhe comentado que fazia prodígios e, ao saber que passa perto dele, começa a gritar: Filho de Davi, tem compaixão de mim!(Mc 10,47). Os acompanhantes do Mestre ficam incomodados com os gritos do cego, não pensam na triste situação daquele homem, são egoístas. Porém Jesus quer responder ao mendigo e faz com que o chamem. Imediatamente o cego se encontra perante o Filho de Davi e o diálogo começa com uma pergunta e uma resposta: Jesus, dirigindo-se a ele, disse: Que queres que eu te faça? O cego respondeu: Rabûni, que eu veja!(Mc 10,51). E Jesus concede-lhe a dupla visão: a física e a mais importante, a fé, que é a visão interior de Deus. São Clemente de Alexandria diz: Ponhamos fim ao esquecimento da verdade; despojemo-nos da ignorância e da obscuridade que, como uma nuvem, ofuscam os nossos olhos, e contemplemos Aquele que é realmente Deus.

Queixamo-nos frequentemente e dizemos: Não sei rezar. Sigamos, então, o exemplo do cego do Evangelho: Insiste em chamar Jesus e, com três palavras, diz-lhe do que necessita. Falta-nos fé? Digamos-lhe: Senhor, aumenta a minha fé. Temos familiares ou amigos que deixaram de praticar? Então, rezemos assim: Senhor Jesus, faz que vejam. A fé é assim tão importante? Se a compararmos com a visão física, que diremos? A situação do cego é triste, mas muito mais triste é a daqueles que não creem. Digamos-lhes: O Mestre lhe chama, apresenta-lhe as suas necessidades e Jesus responderá com generosidade.

Processo de fé e iluminação deste cego até chegar a Jesus, encontrar-se com Ele, receber a cura e segui-lo.

Pe. Antonio Rivero L.C.

Sto Antônio de Sant'Ana Galvão, ofm
Presbítero
A dinâmica da fé é a essência do discipulado, porque só a adesão total- a comunhão estreita com o Mestre- faz possível o seguimento Dele em todos os aspectos da vida. Este homem cego e pobre é o modelo do que sabe responder o chamado de Jesus: “Anda, levanta, Ele te chama!” (10,49), passando do estar “sentado na beira do caminho” (10,46) para “segui-lo pelo caminho” (10,52).

Em primeiro lugar, vejamos a situação deste cego. Na beira do caminho, aparece Bartimeu, humilde cego e mendigo, quem foi para se acomodar no justo lugar por onde deviam passar os peregrinos. Excluído da vida religiosa por causa da sua doença, e estava sozinho. Nesta época do ano, época em que as pessoas eram mais generosas, o cego espera captar mais esmolas. Ele já sabe a estratégia para consegui-las, por isso está ali no seu “lugar de trabalho”. Certas doenças- neste caso a cegueira- eram consideradas castigo de Deus. Assim, a situação de cegueira de Bartimeu, aparecia no preconceito social. Os cegos, da mesma forma que outros doentes e mulheres, estavam eximidos de participar nas festas religiosas. Dado que “A fé não é própria dos soberbos, mas sim dos humildes” (santo Agostinho, Catena Aurea, VI, p. 297), este humilde cego recebeu o prêmio: a luz da fé em Cristo Jesus. E com a fé o milagre da mudança de vida: tirou o manto sujo da sua vida passada e seguiu Jesus, único caminho de salvação.

Em segundo lugar, vejamos o caminho do cego até Jesus. A rotina do mendigo é quebrada, e quebrada para sempre, quando recebe a informação e se dá conta de que bem perto dele passa Jesus. Processo:
Primeiro, escuta o passo de Jesus; a fé vem através do ouvido; e da cegueira passa à visão e da marginalidade no caminho passa a ser o seu ativo peregrino.
Segundo, o grito da fé: Bartimeu, reconhecendo-o como Messias, clama misericórdia. A sua oração tem como transfundo a oração penitencial do salmo 51 (“miserere”, tende piedade), mas também a promessa messiânica de Isaias 35, 2-5: “abrir-se-ão os olhos dos cegos”.

Terceiro, superação dos obstáculos: ademais das suas duas primeiras limitações, a sua cegueira e a sua pobreza, repreendem-no para calar-se; ele é a imagem do que entra no Reino despojado, abandonado com absoluta confiança na presença de Jesus. O despojo é ainda mais radical quando faz dois gestos: joga o manto e, pulando, vai até Jesus. O mando é o maior bem de um pobre, a única coisa que lhe pertence (cf. Êxodo 22, 25-26), é a sua coberta para a noite, o seu abrigo para o frio, o seu recipiente para a esmola. O seu pulo (inaudito para um cego!) é um gesto de confiança total, expressão de apoio na palavra de Jesus. Resultado? O cego consegue o seu objetivo: Jesus para diante dele e o chama. O encontro pessoal começa com um pergunta de Jesus: “o que queres que eu faça por ti?”. E termina com a cura. Bartimeu mudou completamente de situação: era cego e agora vê, estava sentado na beira do caminho e agora está no caminho, estava sozinho e agora está com Jesus e com o seu grupo. Também podemos supor que ao recobrar a vista e incorporar-se à comunidade terá deixado de mendigar. E tudo termina com o seguimento a Jesus. Agora Jesus tem um novo discípulo, que recebeu o dom da vista e se caracteriza pela sua fé.

Finalmente, e vocês que? Regozija-me saber que Jesus se deixa mudar de rumo diante do meu pedido, que vai, detém-se para me escutar, como fez com este cego Bartimeu. Mas também penso que às vezes as reclamações dos necessitados que me perturbam e procuro calá-los ou prefiro não escutar. Quero ter Bartimeu como mestre de oração, que sabia o que pedir, como pedir, onde pedir e não se deixava tapar a boca nem sequer pelos que estavam perto de Jesus. Bartimeu pedia esmola, mas quando Jesus passou, pediu o que realmente queria, que era ver. Quero ter essa franqueza e essa liberdade diante de Deus, e lhe pedir o que realmente necessito para a minha vida. Sem muitas palavras nem orações floridas nem fórmulas de outros, com a minha necessidade.

Para refletir: Meditemos este texto de São Gregório Magno: “Quem ignora o esplendor da luz eterna, é cego. Contudo, se há crê no Redentor, então já está sentado à beira do caminho. Isto, porém, não é suficiente. Se deixar de orar para receber a fé e abandona as implorações, é um cego sentado à beira do caminho mas sem pedir esmola. Somente se crê e, convencido das trevas que escurecem o coração, pede ser iluminado, então será como o cego que estava sentado à beira do caminho pedindo esmola. Seja que for que reconhecer as trevas da sua cegueira, seja que for que compreender o que é esta luz da eternidade que lhe faz falta, invoque desde o mais íntimo do seu coração, grite com todas as energias da sua alma, dizendo: “Jesus, Filho de Davi, tende compaixão de mim”” (Homil. In Ev. 2,2.8).

Para rezar: Meu Senhor, que eu veja com os vossos olhos, que eu veja o bem e a sua fecundidade no meio de tantas trevas. Que os meus olhos de fé provoquem o vosso agir misericordioso em beneficio dos pobres pecadores, das almas. Meu Pai, que a minha alma se enriqueça com a luz da fé que brota de uns olhos de fé... que eu veja...que eu vos veja em tudo e em todos...que a minha fé me leve com audácia a confiar cegamente esperando TUDO de Vós...

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org