Mártires do Rio Grande do Norte |
«Mestre, que devo
fazer para herdar a vida eterna?»
Rev. Pe.
Ivan LEVYTSKYY CSsR (Lviv, Ucrnia)
Hoje, a
mensagem evangélica assinala o caminho da vida: «Amarás o Senhor, teu Deus, de
todo o teu coração (...) e teu próximo como a ti mesmo!» (Lc 10,27) E porque
Deus nos amou primeiro, nos leva à união com Ele. A beata Teresa de Calcutá
disse: «Nós necessitamos essa união íntima com Deus na nossa vida quotidiana.
Mas, como podemos consegui-la? Através da oração». Estando em união com Deus
empeçamos a experimentar que tudo é possível com Ele, inclusive amar teu
próximo.
Alguém
dizia que o cristão entra na Igreja para amar a Deus e sai para amar ao
próximo. O Papa Bento ressalta que o programa cristão — o programa do bom
samaritano, o programa de Jesus — é «um coração que vê». Ver e parar! Na
parábola, duas pessoas vêm ao necessitado, mas não param. Por isso Cristo
reprende os fariseus dizendo: «Tendo olhos, não enxergais, e tendo ouvidos, não
ouvis?» (Mc 8,18) Pelo contrário, o samaritano vê e para, tem compaixão e assim
salva a vida do necessitado e si mesmo.
Quando o
famoso arquiteto catalão Antonio Gaudí foi atropelado por um veículo, algumas
pessoas que passavam não pararam para ajudar aquele ancião ferido. Não levava
nenhum documento e pelo aspecto parecia um mendigo. Se tivessem sabido quem era
aquele próximo, seguramente tivessem feito fila para ajuda-lo.
Quando
praticamos o bem, pensamos que o fazemos pelo próximo, mas realmente também o
fazemos por Cristo: «Em verdade, vos digo: todas as vezes que fizestes isso a
um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes!» (Mt
25,40) E meu próximo, disse Bento XVI, é qualquer que tenha necessidade de mim
e que eu possa ajudar. Se cada um, ao ver ao próximo em necessidade, parasse e
se compadecesse dele uma vez ao dia ou à semana, a crise diminuiria e o mundo
seria melhor. «Nada nos faz tão semelhantes a Deus como as boas obras» (São
Gregório de Nissa).
«Aquele que usou de
misericórdia para com ele»
Ir. Lluís SERRA i Llançana (Roma, Itália).
Hoje, um
mestre da Lei faz a Jesus uma pergunta que talvez nos tenhamos feito mais de
uma vez: «Que hei de fazer para ter como herança a vida eterna?» (Lc 10,25).
Era uma pergunta feita com segundas intenções, pois queria pôr Jesus à prova. O
mestre responde sabiamente o que diz a Lei, isto é, amar a Deus e ao próximo
como a si mesmo (cf. Lc 10,27). A chave é amar. Se buscarmos a vida eterna,
sabemos que «a fé e a esperança passarão, enquanto que o amor não passará
nunca» (cf. 1Cor 13,13). Qualquer projeto de vida e qualquer espiritualidade
cujo centro não seja o amor nos distancia do sentido da existência. Um ponto de
referência importante é o amor a si mesmo, frequentemente esquecido. Somente
podemos amar a Deus e ao próximo desde nossa própria identidade.
O mestre da
Lei vai mais longe ainda e pergunta a Jesus: «E quem é o meu próximo?» (Lc
10,29). A resposta chega através de um conto, de uma parábola, de historia
curta, sem formulações teóricas complicadas, mas com um grande conteúdo. O
modelo de próximo é um samaritano, quer dizer um marginado, um excluído do povo
de Deus. Um sacerdote e um levita passam de longe ao ver o homem espancado e
mal ferido. Os que parecem estar mais perto de Deus (o sacerdote e o levita)
são os que estão mais distantes do próximo. O mestre da Lei evita pronunciar a
palavra samaritano para indicar a quem se comportou como próximo do homem mal
ferido e diz: «Aquele que usou de misericórdia para com ele» (Lc 10,37).
A proposta
de Jesus é clara: «Vai e faze tu o mesmo». Não é a conclusão teórica do debate,
e sim o convite a viver a realidade de amor, o qual é muito mais do que um
sentimento etéreo, pois se trata de um comportamento que vence as
descriminações sociais e que surge do coração da pessoa. São João da Cruz nos
recorda que «ao entardecer da vida te examinarão o amor».
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm.
* O evangelho de hoje traz a parábola do Bom Samaritano.
Meditar uma parábola é o mesmo que aprofundar a vida, a fim de descobrir dentro
dela os apelos de Deus. Ao descrever a longa viagem de Jesus a Jerusalém (Lc
9,51 a 19,28), Lucas ajuda as comunidades a entender melhor em que consiste a
Boa Nova do Reino. Ele faz isto apresentando pessoas que vêm falar com Jesus e
lhe fazem perguntas. Eram perguntas reais do povo do tempo de Jesus e eram
também perguntas reais das comunidades do tempo de Lucas. Assim, no evangelho
de hoje, um doutor da lei pergunta: "O que devo fazer para obter a vida
eterna?" A resposta, tanto do doutor como de Jesus, ajuda a entender
melhor o objetivo da Lei de Deus.
* Lucas 10,25-26: "O que devo
fazer para herdar a vida eterna?"
Um doutor, conhecedor da lei, quer provocar
Jesus e pergunta: "O que devo fazer para herdar a vida eterna?" O
doutor acha que deve fazer algo para poder herdar. Ele quer garantir a herança
pelo seu próprio esforço. Mas uma herança não se merece. Herança, nós a
recebemos pelo simples fato de sermos filho ou filha. ”Você já não é escravo,
mas filho; e se é filho, é também herdeiro por vontade de Deus”. (Gal 4,7).
Como filhos e filhas não podemos fazer nada para merecer a herança. Podemos é
perdê-la!
* Lucas 10,27-28: A resposta do
doutor
Jesus responde com uma nova pergunta: "O
que diz a lei?" O doutor responde corretamente. Juntando duas frases da
Lei, ele diz: "Amar a Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, com
toda a tua força e com todo o teu entendimento e ao próximo como a ti
mesmo!" A frase vem do Deuteronômio (Dt 6,5) e do Levítico (Lv 19,18).
Jesus aprova a resposta e diz: "Faz isto e viverás!" O importante, o
principal, é amar a Deus! Mas Deus vem até mim no próximo. O próximo é a
revelação de Deus para mim. Por isso, devo amar também o próximo de todo o meu
coração, de toda a minha alma, com toda a minha força e com todo o meu
entendimento!
* Lucas 10,29: "E quem é o meu
próximo?"
Querendo justificar-se, o doutor pergunta:
"E quem é o meu próximo?" Ele quer saber para si mesmo: "Em que
próximo Deus vem até mim?" Ou seja, qual é a pessoa humana próxima de mim
que é revelação de Deus para mim? Para os judeus, a expressão - próximo - estava
ligada ao clã. Quem não era do clã, não era próximo. Conforme o Deuteronômio,
eles podiam explorar ao “estrangeiro”, mas não ao “próximo” (Dt 15,1-3). A
proximidade era baseada nos laços de raça e de sangue. Jesus tem outra maneira
de ver, que ele expressa na parábola do Bom Samaritano.
4. Lucas 10,30-36: A parábola
1. Lucas 10,30: O assalto na estrada
de Jerusalém para Jericó
Entre
Jerusalém e Jericó encontra-se o deserto de Judá, refúgio de revoltosos,
marginais e assaltantes. Jesus conta um caso real que deve ter acontecido
muitas vezes. “Um homem ia descendo de Jerusalém para Jericó, e caiu na mão de
assaltantes, que lhe arrancaram tudo, e o espancaram. Depois foram embora, e o
deixaram quase morto”.
2. Lucas
10,31-32: Passa um sacerdote, passa um levita
Casualmente,
passa um sacerdote e, em seguida, um levita. São funcionários do Templo, da
religião oficial. Os dois viram o assaltado, mas passaram adiante. Não fizeram
nada. Por que não fizeram nada? Jesus não o diz. Ele deixa você supor ou se
identificar. Deve ter acontecido muitas vezes, tanto no tempo de Jesus como no
tempo de Lucas. Acontece também hoje: uma pessoa de igreja passa perto de um
pobre sem dar-lhe ajuda. Pode até ser que o sacerdote e o levita tenham tido a
justificativa: "Ele não é meu próximo!" ou: "Ele está impuro e
se eu tocar nele, ficarei impuro também!" E hoje: "Se eu ajudar,
perco a missa do domingo e faço pecado mortal!"
3. Lucas 10,33-35: Passa um
samaritano
Em seguida,
chega um samaritano que estava de viagem. Ele vê, move-se de compaixão,
aproxima-se, cuida das chagas, coloca o homem no seu próprio animal, leva-o até
a hospedaria, cuida dele durante a noite e, no dia seguinte, dá ao dono da
hospedaria dois denários, o salário de dois dias, dizendo: "Cuida dele e o
que gastares a mais no meu regresso te pago!" É ação concreta e eficiente.
É ação progressiva: chegar, ver, mover-se de compaixão, aproximar-se e partir
para a ação. A parábola diz "um samaritano que estava de viagem".
Jesus também estava em viagem até Jerusalém. Jesus é o bom samaritano. As
comunidades devem ser o bom samaritano.
* Lucas 10,36-37: Quem dos três foi
o próximo do homem assaltado?
No início, o doutor tinha perguntado:
"Quem é o meu próximo?" Por de trás da pergunta estava a preocupação
consigo mesmo. Ele queria saber: "A quem Deus me manda amar, para que eu
possa ter a consciência em paz e dizer: Fiz tudo que Deus pede de mim!"
Jesus faz outra pergunta: "Quem dos três foi o próximo do homem assaltado?"
A condição de próximo não depende da raça, do parentesco, da simpatia, da
vizinhança ou da religião. A humanidade não está dividida em próximos e
não-próximos. Para você saber quem é o seu próximo, isto depende de você
chegar, ver, mover-se de compaixão e se aproximar. Se você se aproximar, o
outro será o seu próximo! Depende de você e não do outro! Jesus inverteu tudo e
tirou a segurança que a observância da lei poderia dar ao doutor.
* Os Samaritanos.
A palavra
samaritano vem de Samaria, capital do reino de Israel no Norte. Depois da morte
de Salomão, em 931 antes de Cristo, as dez tribos do Norte se separaram do
reino de Judá no Sul e formaram um reino independente (1 Rs 12,1-33). O Reino
do Norte sobreviveu durante uns 200 anos. Em 722, o seu território foi invadido
pela Assíria. Grande parte da sua população foi deportada (2 Rs 17,5-6) e gente
de outros povos foram trazidos para Samaria (2 Rs 17,24). Houve mistura de raça
e de religião (2Rs 17,25-33). Desta mistura nasceram os samaritanos. Os judeus
do Sul desprezavam os samaritanos como infiéis e adoradores de falsos deuses (2Rs
17,34-41). Havia muito preconceito contra os samaritanos. Eles eram mal vistos.
Dizia-se deles que tinham uma doutrina errada e que não faziam parte do povo de
Deus. Alguns chegaram ao ponto de dizer que ser samaritano era coisa do diabo
(Jo 8,48). Muito provavelmente, a causa deste ódio não era só a raça e a
religião. Era também um problema político-econômico, ligado à posse da terra.
Esta rivalidade perdurava ate o tempo de Jesus. Mesmo assim Jesus coloca os
samaritanos como exemplo e modelo para os outros.
Para um confronto pessoal
1. O samaritano da parábola não era do povo judeu, mas
era ele que fazia o que Jesus pede. Isto acontece hoje? Você conhece gente que
não frequenta a igreja mas vive o que evangelho pede? Quem são hoje o
sacerdote, o levita e o samaritano?
2. O doutor perguntou: “Quem é o meu próximo?” Jesus perguntou: “Quem foi próximo
do homem assaltado?” São duas perspectivas diferentes: o doutor pergunta a
partir de si mesmo. Jesus pergunta a partir das necessidades do outro. Qual é a
minha perspectiva?