Bto Charles de Foucauld, presbíteo |
«Nem todo aquele que me
diz: ‘Senhor! Senhor! ’, entrará no Reino dos Céus»
Abbé Jean-Charles TISSOT (Freiburg, Sua)
Hoje, o
Senhor pronuncia estas palavras no final do Seu “Sermão da Montanha”, no qual
dá um sentido novo e mais profundo aos Preceitos do Antigo Testamento, a
“palavra” de Deus aos homens. Manifesta-se como Filho de Deus, e como tal
pede-nos que recebamos o que nos diz como palavras de suma importância;
palavras de vida eterna que devem ser postas em prática, e não são só para
serem ouvidas, mas sem implicação pessoal – com o risco de serem esquecidas ou
de nos contentarmos em admirá-las ou em admirar o seu autor.
«Construir
uma casa sobre a areia» (cf. Mt 7,26) é uma imagem para descrever um comportamento
insensato, que não leva a nenhum resultado e acaba no fracasso de uma vida,
depois de um esforço longo e penoso para construir algo. “Bene curris, sed
extra viam”, dizia Sto. Agostinho: corres bem, mas fora do trajeto aprovado,
podemos traduzir assim. Que pena só chegar até aí: o momento da prova, das
tempestades e das inundações que a nossa vida necessariamente contém!
O Senhor quer
ensinar-nos a usar um fundamento sólido, cujo crescimento deriva do esforço
para pôr em prática os seus ensinamentos, vivendo-os dia a dia no meio dos
pequenos problemas que Ele tratará de resolver. A nossa resolução diária de
viver os ensinamentos de Cristo deve terminar em propósitos concretos, se não
definitivos, mas dos quais possamos tirar alegria e reconhecimento na hora do
nosso exame de consciência, à noite. A alegria de ter conseguido uma pequena
vitória sobre nós próprios é uma preparação para outras batalhas, e – com a
graça de Deus – não nos faltará a força para perseverar até ao fim.
«Entrará no Reino dos Céus(...)aquele
que põe em prática a vontade de meu Pai que está nos céus»
+ Rev. D. Antoni ORIOL i Tataret (Vic, Barcelona,
Espanha)
Hoje, a
palavra do Evangelho convida-nos a meditar com seriedade sobre a infinita
distância que há entre o mero “escutar-invocar” e o “fazer” quando se trata da
mensagem e da pessoa de Jesus. E dizemos “mero” porque não podemos esquecer que
há modos de escutar e de invocar que não comportam o fazer. De fato, todos os
que —tendo escutado o anúncio evangélico— acreditam, não serão confundidos; e
todos os que, tendo acreditado, invocam o nome do Senhor, se salvarão ensina-o
São Paulo na Carta aos Romanos (ver 10,9-13). Trata-se, neste caso, dos que
acreditam com fé autêntica, aquela que «atua mediante a caridade», como escreve
também o Apóstolo.
Mas é um fato
que muitos acreditam e não fazem. A carta do apóstolo Santiago denuncia-o de
uma maneira impressionante: «Sede, pois executores da palavra e não vos
conformeis com ouvi-la somente, enganando-vos a vós mesmos» (1,22); «a fé, se
não tem obras, está verdadeiramente morta» (2,17); «como o corpo sem alma está
morto, assim também a fé sem obras está morta» (2,26). É o que rejeita, também
inolvidavelmente, São Mateus quando afirma: «Nem todo aquele que me diz:
‘Senhor! Senhor!’, entrará no Reino dos Céus, mas só aquele que põe em prática
a vontade de meu Pai que está nos céus» (7,21).
É necessário,
portanto, escutar e cumprir; é assim que construímos sobre a rocha e não em
cima da areia. Como cumprir? Perguntemo-nos: Deus e o próximo enchem-me a
cabeça —sou crente por convicção? E quanto ao bolso, compartilho os meus bens
com critério de solidariedade? No que se refere à cultura, contribuo para
consolidar os valores humanos no meu país? No aumento do bem, fujo do pecado de
omissão? Na conduta apostólica, procuro a salvação eterna dos que me rodeiam?
Numa palavra: sou uma pessoa sensata que, com obras, edifico a casa da minha
vida sobre a rocha de Cristo?
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm
O evangelho
de hoje traz a parte final do Sermão da Montanha. O Sermão da Montanha é uma
nova leitura da Lei de Deus. Começa com as bem-aventuranças (Mt 5,1-12) e
termina aqui com a casa na rocha.
* Trata-se de adquirir a verdadeira
sabedoria. A fonte da
sabedoria é a Palavra de Deus expressa na Lei de Deus. A verdadeira sabedoria
consiste em ouvir e praticar a Palavra de Deus (Lc 11,28). Não basta dizer
“Senhor, Senhor!” O importante não é falar bonito sobre Deus, mas sim fazer a
vontade do Pai e, desse modo, ser uma revelação do seu amor e da sua presença
no mundo.
* Quem ouve e pratica a palavra
constrói a casa sobre a rocha.
A firmeza da casa não vem da casa em si, mas vem do terreno, da rocha. O que
significa a rocha? É a experiência do amor de Deus que se revelou em Jesus (Rom
8,31-39). Tem gente que pratica a palavra para poder merecer o amor de Deus.
Mas amor não se compra nem se merece (Ct 8,7). O amor de Deus se recebe de
graça. Praticamos a Palavra não para merecer, mas para agradecer o amor
recebido. Este é o terreno bom, a rocha, que dá segurança à casa. A segurança
verdadeira vem da certeza do amor de Deus! É a rocha que nos sustenta na hora
das dificuldades e das tempestades.
* O evangelista encerra o Sermão da Montanha (Mt 7,27-28)
dizendo que a multidão ficou admirada com o ensinamento de Jesus, pois
"ele ensinava com autoridade, e não como os escribas". O resultado do
ensino de Jesus é a consciência crítica do povo com relação às autoridades
religiosas da época. Admirado e agradecido, o povo aprovava os ensinamentos tão
bonitos e tão diferentes de Jesus.
Para um confronto pessoal
1. Sou dos que dizem “Senhor, Senhor”, ou dos que praticam
a palavra?
2. Observo a lei para merecer o amor e a salvação ou para
agradecer o amor e a salvação de Deus?