CASA DE OURO
ORAÇÃO INICIAL: Santíssima Virgem, eu creio e confesso a vossa santa e Imaculada
Conceição, pura e sem mancha. Ó puríssima Virgem Maria, por vossa Conceição
Imaculada e gloriosa prerrogativa de Mãe de Deus, alcançai-me de vosso Filho a
humildade, a caridade, a obediência, a castidade, a santa pureza de coração, de
corpo e espírito, a perseverança na prática do bem, uma santa vida e uma boa
morte, e a graça ... que peço com toda a confiança. Amém.
I. BEM-AVENTURADA és tu, ò Virgem Maria, morada
consagrada do Altíssimo...1 Na ladainha lauretana, chamamos a Maria
Casa de ouro, recinto de intensíssimo esplendor. Quando uma família mora numa
casa e a converte num lar, este reflete as peculiaridades, gostos e
preferências dos seus moradores. A casa e os que nela habitam constituem
uma certa unidade, como o corpo e a
roupa, comoo conhecimento e a ação. No Antigo Testamento, o primeiro
Tabernáculo, e depois o Templo, eram a Casa de Deus, onde tinha lugar o
encontro de Javé com o seu Povo. Quando Salomão decidiu construir o Templo, os
Profetas especificaram os materiais nobres que se deviam empregar, como a
madeira em abundância no seu interior, revestimento de ouro... Deveria
empregar-se na construção o melhor que tinham ao seu alcance, e deveriam
trabalhar nele os melhores artífices de que dispunham. Quando chegou a
plenitude dos tempos e Deus decretou a sua vinda ao mundo, preparou Maria como
a criatura adequada em que habitaria durante nove meses, desde a sua Encarnação
até o seu nascimento em Belém. Nela, Deus imprimiu a marca do seu poder e do
seu amor. Maria, o novo Templo de Deus, foi revestida de uma formosura tão
grande que não foi possível outra maior. A sua Imaculada Conceição e todas as
graças e dons com que Deus enriqueceu a sua alma estiveram em função da sua
Maternidade divina2. Entende-se muito bem que o Arcanjo Gabriel, ao
saudar Maria, se tenha mostrado cheio de respeito e veneração, pois compreendeu
a imensa excelência da Virgem e a sua intimidade com Deus. A graça inicial de
Maria, que a preparava para a sua Maternidade divina, foi superior à de todos
os Apóstolos, mártires, confessores e virgens juntos, superior à de todas as
almas santas e à de todos os anjos criados desde a origem do mundo3.
Deus preparou uma criatura humana de acordo com a dignidade do seu Filho.
Quando dizemos que Maria tem uma dignidade "quase infinita", queremos
indicar que é a criatura mais próxima da Santíssima Trindade e que goza de uma
honra e majestade altíssimas, inteiramente singulares. É a Filha primogênita do
Pai, a predileta, como foi chamada tantas vezes na Tradição da Igreja e o
Concílio Vaticano II repetiu4. Com Jesus Cristo, Filho de Deus,
Nossa Senhora mantém o estreito laço da consanguinidade, que a faz ter com Ele
umas relações absolutamente próprias. Maria é Templo e Sacrário do Espírito
Santo5. Que alegria podermos ver, especialmente nestes dias da
Novena, que temos uma Mãe tão próxima de Deus, tão pura e bela, e tão próxima
de nós!"Como gostam os homens de que lhes recordem o seu parentesco com
personagens da literatura, da política, do exército, da Igreja!..."- Canta
diante da Virgem Imaculada, recordando-lhe: "Ave, Maria, Filha de Deus
Pai; Ave, Maria, Mãe de Deus Filho; Ave, Maria, Esposa de Deus Espírito
Santo... Mais do que tu, só Deus!"6
II. A ALMA DE MARIA foi singularmente enriquecida
pelos dons do Espírito Santo, que são como que as joias mais preciosas que Deus
pode conceder ao ser humano. Com eles, Deus adornou em grau supremo a morada do
seu Filho. Pelo dom do entendimento, que teve num grau superior ao de qualquer
criatura, Maria teve conhecimento com uma fé pura, radicada na autoridade
divina, de que a sua virgindade era sumamente grata ao Senhor. O seu olhar
penetrou com a maior profundidade no sentido oculto das Escrituras, e
compreendeu imediatamente que a saudação do Anjo era estritamente messiânica e
que a Santíssima Trindade a tinha designado como Mãe do Messias esperado há
tanto tempo. Depois teria sucessivas iluminações que confirmariam o cumprimento
das promessas divinas de salvação e compreenderia que "deveria viver no
sofrimento a sua obediência de fé ao lado do Salvador que sofre, e que a sua
maternidade seria obscura e dolorosa"7. O dom do entendimento
está intimamente ligado à pureza de alma, e é por isso que se relaciona com a
bem-aventurança dos limpos de coração, que verão a Deus8. A alma de
Maria, a Puríssima, gozou de especiais iluminações que a levaram a descobrir o
querer de Deus em todos os acontecimentos. Ninguém soube melhor do que Ela o
que Deus espera de cada homem; por isso, é a nossa melhor aliada nos pedidos
que dirigimos a Deus nas nossas necessidades. O dom da ciência ampliou ainda
mais o olhar da fé de Maria. Por meio dele, a Virgem contemplava nas realidades
cotidianas as marcas de Deus no mundo, como pistas para chegar até o Criador, e
julgava retamente a relação de todas as coisas e acontecimentos com a salvação.
Influenciada por esse dom, tudo lhe falava de Deus, todas as coisas a levavam a
Deus9. Entendeu melhor do que ninguém a terrível realidade do
pecado, e por isso sofreu, como nenhuma outra criatura, pelos pecados dos
homens. Intimamente associada à dor do seu Filho, padeceu com Ele "quando
morria na Cruz, cooperando de forma totalmente singular na restauração da vida
sobrenatural das almas"10. O dom da sabedoria aperfeiçoou a sua
caridade e levou-a a ter um conhecimento gozoso e experimental do divino e a
saborear na sua intimidade os mistérios que sereferiam especialmente ao
Messias, seu Filho. A sua sabedoria era amorosa, infinitamente superior à que
se pode obter dos mais profundos tratados de Teologia. Via, contemplava, amava
e ordenava todas as coisas de acordo com essa experiência divina; julgava-as
com a luz poderosa e amorosa que inundava o seu coração. Se lho pedirmos com
insistência, Ela no-lo alcançará, pois "entre os dons do Espírito Santo,
diria que há um de que todos nós, cristãos, necessitamos especialmente: o dom
da sabedoria, que nos faz conhecer e saborear Deus, e nos coloca assimem
condições de podermos avaliar com verdade as situações e as coisas desta
vida"11.
III. O DOM DE CONSELHO aperfeiçoou a virtude da
prudência na Virgem e fez com que sempre descobrisse prontamente a Vontade de
Deus nas situações correntes da vida. Agiu como que sob o ditado de Deus12
e deixou-se guiar docilmente, quer nas grandes coisas que Deus lhe pediu, quer
nos pormenores corriqueiros do dia-a-dia. O Evangelho mostra-nos como a nossa
Mãe Santa Maria se deixou conduzir continuamente por essa luz do Espírito
Santo. Viveu a maior parte da sua vida no retiro de Nazaré, mas quando a sua
presença se fez necessária junto da sua prima Isabel, foi com pressa13
às montanhas para estar ao lado dela. Ocupa um lugar discreto nos episódios
narrados pelo Evangelho, mas está com os discípulos quando eles precisam dela
depois da morte de Jesus, e a seguir espera com eles a vinda do Espírito Santo.
Permanece ao pé da Cruz, mas não vai ao sepulcro com as outras santas mulheres:
na intimidade da sua alma, sabia que elas não encontrariam o corpo amado do seu
Filho, porque já tinha ressuscitado. Viveu totalmente entregue aos pequenos
afazeres de uma mãe que cuida da família, e percebeu antes que ninguém que ia
faltar vinho nas bodas de Caná: a sua vida contemplativa fê-la estar atenta às
pequenas coisas que aconteciam à sua volta. Ela é a Mãe do Bom Conselho, que
nos ajudará, nos mil pequenos episódios de cada dia, a descobrir e secundar o
querer de Deus. O dom da piedade deu à Virgem uma espécie de instinto filial
que afetava profundamente todas as suas relações com Jesus: na oração, à hora de
pedir, na maneira como enfrentava os diversos acontecimentos, nem sempre
agradáveis...Maria sentiu-se sempre Filha de Deus, e esse sentimento profundo
foi crescendo continuamente até o fim da sua vida mortal. Mas, ao mesmo tempo,
sentia-se Mãe de Deus e Mãe dos homens. Tanto a sua filiação como a sua
Maternidade estavam profundamente saturadas de piedade. Ela sempre nos amará,
porque somos seus filhos. E uma mãe está mais perto do filho doente, daquele
que mais precisa dela. A graça divina derramou-se sobre Nossa Senhora de modo
abundantíssimo, e encontrou nela uma cooperação e docilidade excepcionais:
viveu com heroísmo a fidelidade aos pequenos deveres de todos os dias e nas
grandes provas. Teve uma vida simples, como a das outras mulheres da sua terra
e da sua época, mas também passou pelas maiores amarguras que uma criatura pode
experimentar, à exceção do seu Filho, que foi o Varão de dores anunciado pelo
profeta Isaías14. Pelo dom da fortaleza, que recebeu em grau máximo,
pôde acolher com paciência as contradições diárias, as mudanças de planos...
Enfrentou silenciosamente as dificuldades, mas com firmeza e valentia. Por essa
fortaleza, esteve de pé junto da Cruz15. A piedade cristã, venerando
essa sua atitude de dor e de fortaleza, invoca-a como Rainha dos mártires,
Consoladora dos aflitos... Finalmente, o Espírito Santo adornou-a com o santo
temor de Deus, que nela foi apenas uma reverência filial de altíssima
intimidade com o Senhor, que a levou a uma atitude de adoração contínua perante
o Deus infinito, de quem recebera todas as coisas. Por isso chamou-se a si
mesma a Escrava do Senhor.
Ave Maria
Ó Maria
concebida sem pecado,
Rogai por
nós que recorremos a vós
Oração final - Ó
Deus, que pela Imaculada Conceição da Virgem Maria preparastes a Vosso Filho
digna habitação, nós Vos rogamos que, como a preservastes de toda a mancha pela
previsão da morte de seu mesmo Filho, nos concedais por sua intercessão que
também puros cheguemos até Vós. Pelo mesmo Cristo, Senhor Nosso. Amém.
(1)Cfr. Missas da Virgem Maria, A Virgem, templo do
Senhor, Antífona da Comunhão; (2) cfr. São Tomás, Summa theologica, III, q. 27,
a. 5 ad 2; (3) cfr. R. Garrigou-Lagrange, A Mãe do Salvador, pág. 411; (4) cfr.
Conc. Vat. II, Const. Lumengentium, 53; (5) cfr. João Paulo II, Enc.
Redemptoris Mater, 25-III-1987, 9; (6) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 496; (7)
João Paulo II, Enc. Redemptoris Mater,16; (8) Mt 5, 8; (9) cfr. J. Polo, Maria
y la Santísima Trinidad, Madrid, 1987,MC n. 460, pág. 29; (10) Conc. Vat. II,
Const. Lumen gentium, 61; (11) Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 133;
(12) cfr. J. Polo, op. cit., pág. 39; (13) Lc 1, 39; (14) Is 53, 3; (15) cfr.
Jo 19, 25.
LEIA, ABAIXO, A LECTIO DIVINA DO SÁBADO
DA 34ª SEMANA DO TEMPO COMUM