Sta.
Teresa Margarida do Sagrado Coração de Jesus (Redi), Virgem de nossa Ordem
1ª
Leitura (Deut 4,1-2.6-8): Moisés falou ao povo, dizendo: «Agora escuta,
Israel, as leis e os preceitos que vos dou a conhecer e ponde-os em prática,
para que vivais e entreis na posse da terra que vos dá o Senhor, Deus de vossos
pais. Não acrescentareis nada ao que vos ordeno, nem suprimireis coisa alguma,
mas guardareis os mandamentos do Senhor vosso Deus, tal como eu vo-los
prescrevo. Observai-os e ponde-os em prática: eles serão a vossa sabedoria e a
vossa prudência aos olhos dos povos, que, ao ouvirem falar de todas estas leis,
dirão: ‘Que povo tão sábio e tão prudente é esta grande nação!’. Qual é, na
verdade, a grande nação que tem a divindade tão perto de si como está perto de
nós o Senhor, nosso Deus, sempre que O invocamos? E qual é a grande nação que
tem mandamentos e decretos tão justos como esta lei que hoje vos apresento?».
Salmo
Responsorial: 14
R. Quem habitará, Senhor, no
vosso santuário?
O que vive sem mancha e pratica a
justiça e diz a verdade que tem no seu coração e guarda a sua língua da
calúnia.
O que não faz mal ao seu próximo,
nem ultraja o seu semelhante; o que tem por desprezível o ímpio, mas estima os
que temem o Senhor.
O que não falta ao juramento,
mesmo em seu prejuízo, e não empresta dinheiro com usura, nem aceita presentes
para condenar o inocente. Quem assim proceder jamais será abalado.
2ª
Leitura (Tg 1,17-18.21b-22.27): Caríssimos irmãos: Toda a boa dádiva e
todo o dom perfeito vêm do alto, descem do Pai das luzes, no qual não há
variação nem sombra de mudança. Foi Ele que nos gerou pela palavra da verdade,
para sermos como primícias das suas criaturas. Acolhei docilmente a palavra em
vós plantada, que pode salvar as vossas almas. Sede cumpridores da palavra e
não apenas ouvintes, pois seria enganar-vos a vós mesmos. A religião pura e sem
mancha, aos olhos de Deus, nosso Pai, consiste em visitar os órfãos e as viúvas
nas suas tribulações e conservar-se limpo do contágio do mundo.
Aleluia. Deus Pai nos gerou
pela palavra da verdade, para sermos como primícias das suas criaturas.
Aleluia.
Evangelho
(Mc 7,1-8.14-15.21-23): Os fariseus e alguns escribas vindos de
Jerusalém ajuntaram-se em torno de Jesus. Eles perceberam que alguns dos seus
discípulos comiam com as mãos impuras, isto é, sem lavá-las. Ora, os fariseus e
os judeus em geral, apegados à tradição dos antigos, não comem sem terem lavado
as mãos até o cotovelo. Bem assim, chegando da praça, eles não comem nada sem a
lavação ritual. E seguem ainda outros costumes que receberam por tradição: a
maneira certa de lavar copos, jarras, vasilhas de metal, camas. Os fariseus e
os escribas perguntaram a Jesus: «Por que os teus discípulos não seguem a
tradição dos antigos, mas tomam a refeição com as mãos impuras?». Ele disse: «O
profeta Isaías bem profetizou a vosso respeito, hipócritas, como está escrito:
'Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. É
inútil o culto que me prestam, as doutrinas que ensinam não passam de preceitos
humanos'. Vós abandonais o mandamento de Deus e vos apegais à tradição humana».
Chamando outra vez a multidão, dizia: «Escutai-me, vós todos, e compreendei!.
Nada que, de fora, entra na pessoa pode torná-la impura. O que sai da pessoa é
que a torna impura. Pois é de dentro, do coração humano, que saem as más
intenções: imoralidade sexual, roubos, homicídios, adultérios, ambições
desmedidas, perversidades, fraude, devassidão, inveja, calúnia, orgulho e
insensatez. Todas essas coisas saem de dentro, e são elas que tornam alguém
impuro».
«Vós abandonais o mandamento
de Deus e vos apegais à tradição humana»
Rev. D. Josep Lluís SOCÍAS i
Bruguera (Badalona, Barcelona, Espanha)
Hoje, a palavra do Senhor
ajuda-nos a perceber que acima dos costumes humanos estão os Mandamentos de
Deus. De facto, com o passar do tempo, é fácil nós distorcermos os conselhos
evangélicos e, dando-nos ou não conta, substituir os Mandamentos ou então afogá-los
com uma exagerada meticulosidade: «chegando da praça, eles não comem nada sem a
lavação ritual. E seguem ainda outros costumes que receberam por tradição: a
maneira certa de lavar copos, jarras, vasilhas de metal?» (Mc 7,4). É por isso
que a gente simples, com um sentimento popular comum, não fez caso dos doutores
da lei nem dos fariseus, que sobrepunham especulações humanas à Palavra de
Deus. Jesus aplica a denúncia profética de Isaías contra os religiosamente
hipócritas («O profeta Isaías bem profetizou a vosso respeito, hipócritas, como
está escrito: «Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe
de mim»: (Mc 7,6)).
São João Paulo II, ao pedir
perdão em nome da Igreja por todas as coisas negativas que os seus filhos
tinham feito ao longo da história, manifestou-o no sentido de que «nos tínhamos
separado do Evangelho».
«Nada que, de fora, entra na
pessoa pode torná-la impura. O que sai da pessoa é que a torna impura» (Mc
7,15), diz-nos Jesus. Só o que sai do coração do homem, desde a interioridade
consciente da pessoa humana, nos pode fazer mal. Esta malícia é que causa dano
a toda a Humanidade e a cada um. A religiosidade não consiste precisamente em
lavar as mãos (recordemos Pilatos que entrega Jesus Cristo à morte!), mas em
manter puro o coração.
Dito de uma maneira positiva, é o
que nos diz santa Teresa do Menino Jesus nos seus Manuscritos biográficos:
«Quando contemplava o corpo místico de Cristo (?) compreendi que a Igreja tem
um coração (?) entusiasmado de amor». De um coração que ama surgem as obras bem-feitas
que ajudam em concreto a quem precisa («Porque tive fome, e me destes de
comer?»: Mt 25,35).
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Inutilmente lavam as mãos e se
purificam exteriormente enquanto o não fizermos na fonte do Salvador» (São
Beda, o Venerável)
« O amor dá impulso e fecundidade
à vida e ao caminho da fé: sem amor, tanto a vida como a fé permanecem
estéreis» (Francisco)
« As paixões são componentes
naturais do psiquismo humano, constituem o lugar de passagem e garantem a
ligação entre a vida sensível e a vida do espírito. Nosso Senhor designa o
coração do homem como fonte de onde brota o movimento das paixões (cf. Mc 7,21)»
(Catecismo da Igreja Católica, nº 1.764)
“Nada há fora do homem que,
entrando nele, o possa tornar impuro. Mas o que sai do homem, isso é que o
torna impuro.”
Do site da Ordem do Carmo em
Portugal.
* O Evangelho do 22º Domingo
do Tempo Comum fala dos costumes religiosos da época de Jesus, dos fariseus que
ensinavam ao povo estes costumes e das instruções de Jesus referentes ao tema.
Muitos destes usos e costumes tinham já perdido o seu significado e tornavam
muito difícil a vida do povo. Os fariseus viam pecado em tudo e ameaçavam com o
castigo do inferno. Por exemplo, comer sem lavar as mãos era considerado
pecado. Estes usos e costumes continuavam a ser transmitidos e ensinados ou por
medo ou por superstição. Conheces algum uso religioso de hoje que tenha perdido
o seu significado mas que continua a ser ensinado? No decorrer da leitura do
texto procuraremos colocar a atenção na conduta de Jesus, no que ele diz a
respeito dos fariseus e no que ensina
relativamente aos usos e costumes ensinados pelos fariseus.
* Marcos 7, 1-2: Controle dos
fariseus e liberdade dos discípulos. Os fariseus e alguns escribas, vindos
de Jerusalém, observavam que os discípulos de Jesus comiam o pão com as mãos
impuras. Há aqui três pontos que merecem ser realçados: 1) – Os escribas são de Jerusalém, da capital!
Isto quer dizer que vieram para observar e controlar os passos de Jesus. 2) – Os discípulos não lavam as mãos antes de
comer, o que quer dizer que a convivência com Jesus dá-lhes coragem para
transgredir as normas impostas pela tradição mas que não têm sentido para a
vida. 3) – O costume de lavar as
mãos, que continua hoje a ser uma importante norma de higiene, tomou para eles
um significado religioso que servia para controlar e discriminar as pessoas.
* Marcos 7, 3-4: Explicação de
Marcos sobre a tradição dos antigos. “As tradições dos antigos” transmitia
as normas que deveriam ser observadas pelo povo para poder obter a pureza legal
requerida pela lei. A observância da pureza era um tema muito sério. Pensava-se
que uma pessoa impura não podia receber a bênção prometida por Deus a Abraão.
As normas da pureza eram ensinadas de modo que as pessoas as cumprindo pudessem
ter um caminho para Deus, fonte de paz. Na realidade, em vez de serem uma fonte
de paz, eram uma prisão, uma escravatura. Para os pobres era praticamente
impossível observá-las. Trava-se de centenas e centenas de normas e leis. Por
isso os pobres eram desprezados e considerados ignorantes e malditos pelos que
conheciam a lei (Jo 7, 49).
* Marcos 7, 5: Escribas e
fariseus criticam o comportamento dos discípulos de Jesus. Os escribas e
fariseus perguntam a Jesus: “Porque é que os teus discípulos não obedecem à
tradição dos antigos e tomam alimento com as mãos impuras?”. Eles fingem estar
interessados em conhecer o porquê da conduta dos discípulos! Na realidade,
criticam Jesus por permitir que os discípulos transgridam as normas da pureza.
Os escribas e doutores da lei eram os encarregados da doutrina. Dedicavam a sua
vida ao estudo da Lei de Deus, sobretudo às normas referentes à pureza. Os
fariseus formavam uma espécie de irmandade, cuja preocupação principal era a de
observar todas as leis relativas à pureza. A palavra fariseu significa
separado. Eles lutavam para que através da observância perfeita das leis da
pureza, o povo conseguisse ser puro, separado e santo como exigia a Lei e a
Tradição. Graças ao testemunho exemplar das suas vidas que observavam as normas
da época, eles tinham muita autoridade nas aldeias da Galileia.
* Marcos 7, 6-8: Resposta dura
de Jesus perante a falta de coerência dos fariseus. Jesus responde citando
Isaías: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.
Vazio é o culto que me prestam e as doutrinas que ensinam não passam de
preceitos humanos” (Is 29, 13). Porque os fariseus, insistindo nas normas da pureza,
esvaziavam a consistência dos mandamentos da lei de Deus. Jesus apresenta em
seguida um exemplo concreto de como tornam insignificante o preceito de Deus.
* Marcos 7, 9-13: Exemplo
concreto de como os fariseus tornavam inconsistente o mandamento de Deus. A
“tradição dos antigos” ensinava: o filho que consagra os seus bens ao Templo
não poderá já usar estes bens para ajudar os pais necessitados. E assim, em
nome da tradição, eles esvaziavam o quarto mandamento que manda amar o pai e a
mãe. Hoje em dia encontramos pessoas que actuam do mesmo modo. Parecem muito
observantes mas só o são exteriormente. Interiormente, o coração está longe de
Deus. No tempo de Jesus, o povo, na sua sabedoria, não estava de acordo com
tudo o que era ensinado. Esperava que um dia o Messias viesse indicar outro
caminho para ser puro. Esta esperança realiza-se em Jesus.
* Marcos 7, 14-16:
Esclarecimento feito por Jesus às pessoas: um novo caminho para chegar a Deus.
Jesus diz: “Não há nada fora do homem que, entrando nele, o possa tornar
impuro” (Mc 7, 15). Jesus inverte as coisas: o que é impuro não vem de fora
para dentro, como ensinam os doutores da lei, mas de dentro para fora. Deste
modo, ninguém tem necessidade de perguntar a si mesmo se determinado alimento
ou bebida são puros ou não. Jesus coloca o que é puro ou impuro noutro nível,
no nível do comportamento ético. Abre um caminho para chegar a Deus e, assim,
realiza o desejo mais profundo das pessoas. E Jesus termina o seu
esclarecimento com uma expressão que gosta muito de usar: “Se alguém tem
ouvidos para ouvir, ouça!”. Ou seja: é isto! Vós ouvistes! Agora procurai
entender! Dito com outras palavras: usai a cabeça e o bom senso e analisai as
coisas partindo da experiência que tendes da vida.
* Marcos 7, 17-23:
Esclarecimento de Jesus aos discípulos. Os discípulos não entenderam o que
Jesus queria dizer com aquela afirmação. Quando chegaram a casa pediram-lhe uma
explicação. Este pedido deixou Jesus admirado. Pensava que ao menos eles
tivessem compreendido. A explicação vai ao fundo da questão da pureza. Declara
puros todos os alimentos. Ou seja, nenhum alimento que desde fora entre no ser
humano pode torná-lo impuro, porque não vai para o coração, mas para o estômago
e é expelido em lugar próprio. O que torna impuro, diz Jesus, é o que desde
dentro, desde o coração, sai para envenenar as relações humanas: os maus
pensamentos, as prostituições, roubos, assassínios, adultérios, ambições,
perversidade, má fé, devassidão, inveja, maledicência, orgulho, desvarios.
Assim, de muitos modos, por meio da palavra, do gesto ou da convivência, Jesus
ajudava as pessoas a serem puras. Por meio da palavra purificava os leprosos
(Mc 1, 40-44), afastava os espíritos imundos (Mc 1, 26-39; 3, 15.22, etc.) e
vencia a morte, fonte de todas as impurezas. Por meio do gesto, a mulher
considerada impura volta a ficar limpa (Mc 5, 25-34). Por meio da convivência
com Jesus, os discípulos animam-se a imitá-lo ele que, sem medo de ficar
contaminado, come com as pessoas consideradas impuras (Mc 2, 15-17).
* As leis da pureza e da
impureza no tempo de Jesus. As pessoas daquela época tinham uma grande
preocupação com a questão da pureza. As normas acerca dela indicavam as
condições necessárias para poder colocar-se na presença de Deus e sentir-se bem
diante dele. Não se podia estar diante de Deus de qualquer modo, porque Deus é
santo. A Lei dizia: “Sede santos, porque Deus é Santo!” (Lv 19, 2). Quem não
estivesse puro não podia colocar-se diante de Deus para receber a bênção
prometida a Abraão. Para entender a seriedade e a gravidade destas leis acerca
da pureza convém recordar o que acontecia nas nossas igrejas faz agora uns
cinquenta anos. Antes do Concílio Vaticano II, para poder comungar pela manhã
era necessário estar em jejum desde a meia-noite anterior. Quem comungasse sem
ter jejuado cometia pecado mortal chamado sacrilégio. Pensava-se que algum
alimento ou bebida tornava-nos impuros para receber a hóstia consagrada. Também
no tempo de Jesus havia muitas coisas e atividades que tornavam as pessoas
impuras, impossibilitando-as de colocarem-se diante de Deus: tocar um leproso,
comer com publicanos, comer sem lavar as mãos, tocar o sangue ou um cadáver
etc. Por tudo isto as pessoas “impuras” deviam ser evitadas. O povo vivia
apartado, sempre ameaçado com tantas coisas impuras que ameaçavam a sua vida.
Todos viviam debaixo do medo, temerosos de tudo e de todos. Agora, com a vinda
de Jesus, tudo muda. Pela fé em Jesus, era possível alcançar a pureza e
sentir-se comodamente diante de Deus, sem que fosse necessário observar todas
aquelas leis e normas da “tradição dos antigos”. Foi uma autêntica revolução! A
Boa Nova anunciada por Jesus faz sair o povo da posição defensiva e
restitui-lhe o gosto de viver, a alegria de ser filhos de Deus, sem medo de ser
feliz.
Algumas perguntas para ajudar
na meditação e na oração
1) O que é que mais
gostaste e mais te chamou a atenção no texto? Por quê?
2) Segundo o texto, quais
os costumes que os fariseus ensinavam ao povo? Que crítica faz Jesus aos
fariseus?
3) No texto qual é o novo
caminho ensinado por Jesus às pessoas para chegarem a Deus?
4) Em nome da “tradição
dos antigos” não observavam os mandamentos. Acontece ainda hoje o mesmo? Onde?
5) Os fariseus eram judeus
praticantes mas a sua fé estava separada da vida do povo e por isso Jesus
critica-os. Hoje, Jesus criticar-nos-ia? Em quê?