Santa Maria, Rainha dos Anjos
Salmo Responsorial: 80
R. Aclamai a Deus, nossa força.
O meu povo
não ouviu a minha voz, Israel não Me quis obedecer. Por isso os entreguei à
dureza do seu coração e eles seguiram os seus caprichos.
Ah, se o
meu povo Me escutasse, se Israel seguisse os meus caminhos, num instante
esmagaria os seus inimigos, deixaria cair a mão sobre os seus adversários.
Os inimigos
do Senhor obedeceriam ao meu povo, tal seria para sempre o seu destino.
Alimentaria o meu povo com a flor da farinha e saciá-lo-ia com o mel dos
rochedos.
Aleluia. Nem só de pão
vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. Aleluia.
Evangelho (Mt 14,13-21):
Naquele tempo, ao ser informado da morte de João, Jesus
partiu dali e foi, de barco, para um lugar deserto, a sós. Quando as multidões
o souberam, saíram das cidades e o seguiram a pé. Ao sair do barco, Jesus viu
uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam
doentes. Ao entardecer, os discípulos aproximaram-se dele e disseram: «Este
lugar é deserto e a hora já está adiantada. Despede as multidões, para que
possam ir aos povoados comprar comida!». Jesus porém lhes disse: «Eles não
precisam ir embora. Vós mesmos dai-lhes de comer!». Os discípulos responderam:
«Só temos aqui cinco pães e dois peixes». Ele disse: «Trazei-os aqui». E mandou
que as multidões se sentassem na relva. Então, tomou os cinco pães e os dois
peixes, ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção, partiu os pães e os
deu aos discípulos; e os discípulos os distribuíram às multidões. Todos comeram
e ficaram saciados, e dos pedaços que sobraram recolheram ainda doze cestos
cheios. Os que comeram foram mais ou menos cinco mil homens, sem contar mulheres
e crianças.
«Ergueu os olhos para
o céu...»
Rev. D. Xavier ROMERO i Galdeano (Cervera, Lleida,
Espanha)
Um ditado
popular diz: «Aquele que deixa Deus fora de suas contas, não sabe contar». E é
verdade, os discípulos —e nós também— não sabemos contar, porque nos esquecemos
frequentemente, de acrescentar o elemento de maior importância na soma: Deus
mesmo entre nós.
Os
discípulos fizeram bem as contas; contaram com exatidão o número de pães e
peixes, mas ao dividi-los mentalmente entre tanta gente, eles obtinham sempre
um zero periódico; por isso optaram pelo realismo prudente: «Só temos aqui
cinco pães e dois peixes» (Mt 14,17). Não percebem que eles têm a Jesus
—verdadeiro Deus e verdadeiro homem— entre eles!
Parafraseando
a São Josemaria, não nos seria mal recordar aqui que: «os empreendimentos de
apostolado, está certo —é um dever— que consideres os teus meios terrenos (2 +
2 = 4). Mas não esqueças nunca! Que tens de contar, felizmente, com outra
parcela: Deus + 2 + 2...». O otimismo cristão não é baseado na ausência de
dificuldades, de resistências e de erros pessoais, mas em Deus que nos diz:
«Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos» (Mt 28,20).
Seria bom
se você e eu, quando confrontados com as dificuldades, antes de darmos uma
sentença de morte à ousadia e ao otimismo do espírito cristão, contássemos com
Deus. Tomara que possamos dizer como São Francisco, naquela oração genial:
«Onde houver ódio que eu leve o amor», isto é, onde as contas não baterem, que
contemos com Deus.
Reflexão
• Dinâmica da narrativa. Mateus narra acuradamente o
episódio da multiplicação dos pães. O episódio está narrado entre duas
expressões de transição nas quais se diz que Jesus se retira "à
parte" das multidões, dos discípulos e da barca (vv.13-14; vv.22-23). O
versículo 13 não só serve como uma transição, mas também fornece o motivo pelo
qual Jesus está em um lugar deserto. Esta estratégia serve para especificar o
ambiente em que ocorre o milagre. O evangelista enfoca a história na multidão e
na atitude de Jesus a respeito da mesma.
• Jesus se comove em seu interior. No momento em que chega, Jesus
encontra uma multidão que o espera; ao ver as multidões se comove e cura os
seus doentes. É uma multidão "cansada e abatida como ovelhas sem
pastor" (9,36; 20,34) O verbo que expressa a compaixão de Jesus é
verdadeiramente expressivo: a Jesus "se lhe despedaça o coração",
corresponde ao verbo hebraico que expressa amor visceral da mãe. É o mesmo
sentimento que tinha Jesus diante do túmulo de Lázaro (Jo 11,38). Compaixão é o
aspecto subjetivo da experiência de Jesus, que se faz efetiva com o dom do pão.
• O dom do pão. O relato da multiplicação dos pães
se abre com uma expressão: "Caía a tarde" (v.15), que também introduz
o relato da Última Ceia (Mt 26,20) e do sepultamento de Jesus (Mt 27,57). À
tarde, então, Jesus convida os apóstolos para alimentar a multidão, em meio ao
deserto longe de vilas e cidades. Jesus e os discípulos estão diante de um
problema humano muito forte: alimentar a grande multidão que segue Jesus. Mas
eles não conseguem suprir as necessidades materiais da multidão, sem o poder de
Jesus. A resposta imediata dos discípulos é mandá-los para casa. Diante dos
limites humanos, Jesus intervém e realiza o milagre saciando a todos os que o
seguem. Dar de comer é aqui a resposta de Jesus, de seu coração que se faz em pedaços
diante de uma necessidade humana muito específica. O dom do pão não é apenas
suficiente para satisfazer a multidão, mas é tão abundante que se deve recolher
as sobras. No v. 19b parece que Mateus deu um significado eucarístico ao
episódio da multiplicação dos pães: "elevando os olhos ao céu,
abençoou-os. Partindo em seguida os pães, deu-os aos seus discípulos," o
papel da discípulos também fica muito evidente na função de mediação entre
Jesus e a multidão: "os discípulos distribuíram ao povo" (v. 19c). Os
gestos que acompanham o milagre são idênticos aos que Jesus adotará mais tarde
na "noite em que foi entregue": levanta os olhos, abençoa o pão e o
parte. Disto se deduz o valor simbólico do milagre: pode se considerar uma
antecipação da Eucaristia. Além disso, alimentar a multidão por parte de Jesus
é um "sinal" de que ele é o Messias e de que prepara um banquete de
festa para toda a humanidade. De Jesus, que distribuiu os pães, os discípulos
aprendem o valor da partilha. É um gesto simbólico que contém um fato real que
vai além do episódio mesmo e se projeta para o futuro: o dom da nossa
Eucaristia diária, em que revivemos aquele gesto do pão partido, é necessário
que seja reiterado ao longo do jornada.
Para um confronto pessoal
1. Você se esforça para fazer gestos de solidariedade com
aqueles que estão perto de você partilhando o caminho da vida? Diante dos
problemas concretos de seus amigos ou parentes, você sabe oferecer sua ajuda e
tua disponibilidade de colaborar para encontrar maneiras de resolver?
2. Jesus, antes de partir o pão, levanta os olhos para o
céu, você sabe agradecer ao Senhor pelo dom pão diário? Você sabe compartilhar
seus bens com os outros, especialmente com os pobres?