sábado, 31 de julho de 2021

Segunda-feira da 18ª semana do Tempo Comum

 Santa Maria, Rainha dos Anjos

1ª Leitura (Num 11,4b-15): Naqueles dias, disseram os filhos de Israel: «Quem nos dará carne para comer? Temos saudades do peixe que no Egito comíamos de graça e dos pepinos, melões, bolbos, cebolas e alhos. Agora temos a garganta seca; falta-nos tudo. Não vemos senão o maná». – O maná era como a semente do coentro e tinha o aspecto da goma-resina. O povo dispersava-se para o apanhar; depois passava-o pelo moinho ou pisava-o no almofariz; por fim cozia-o na panela e fazia bolos. Tinha o sabor dos bolos de azeite. Quando, à noite, o orvalho caía sobre o acampamento, caía também o maná. Moisés ouviu chorar o povo, agrupado por famílias, cada qual à entrada da sua tenda. A ira do Senhor inflamou-se fortemente e Moisés sentiu um grande desgosto. Dirigiu-se então ao Senhor, dizendo: «Porque tratais mal o vosso servo e não encontrei graça a vossos olhos? Porque me destes o encargo de todo este povo? Porventura fui eu que concebi este povo? Fui eu que o dei à luz, para que me digais: ‘Toma este povo nos braços, como a ama leva a criança ao colo, e leva-o para a terra que Eu jurei dar a seus pais’? Onde poderei encontrar carne para dar a todo este povo, que vem chorar para junto de mim, dizendo: ‘Dá-nos carne para comer’? Não posso sozinho ter o encargo de todo este povo: é excessivamente pesado para mim. Se quereis tratar-me desta forma, dai-me antes a morte. Se encontrei graça a vossos olhos, que eu não veja mais esta desventura!».

Salmo Responsorial: 80

R. Aclamai a Deus, nossa força.

O meu povo não ouviu a minha voz, Israel não Me quis obedecer. Por isso os entreguei à dureza do seu coração e eles seguiram os seus caprichos.

Ah, se o meu povo Me escutasse, se Israel seguisse os meus caminhos, num instante esmagaria os seus inimigos, deixaria cair a mão sobre os seus adversários.

Os inimigos do Senhor obedeceriam ao meu povo, tal seria para sempre o seu destino. Alimentaria o meu povo com a flor da farinha e saciá-lo-ia com o mel dos rochedos.

Aleluia. Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. Aleluia.

Evangelho (Mt 14,13-21): Naquele tempo, ao ser informado da morte de João, Jesus partiu dali e foi, de barco, para um lugar deserto, a sós. Quando as multidões o souberam, saíram das cidades e o seguiram a pé. Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes. Ao entardecer, os discípulos aproximaram-se dele e disseram: «Este lugar é deserto e a hora já está adiantada. Despede as multidões, para que possam ir aos povoados comprar comida!». Jesus porém lhes disse: «Eles não precisam ir embora. Vós mesmos dai-lhes de comer!». Os discípulos responderam: «Só temos aqui cinco pães e dois peixes». Ele disse: «Trazei-os aqui». E mandou que as multidões se sentassem na relva. Então, tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção, partiu os pães e os deu aos discípulos; e os discípulos os distribuíram às multidões. Todos comeram e ficaram saciados, e dos pedaços que sobraram recolheram ainda doze cestos cheios. Os que comeram foram mais ou menos cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças.

«Ergueu os olhos para o céu...»

Rev. D. Xavier ROMERO i Galdeano (Cervera, Lleida, Espanha)

Hoje, o Evangelho toca nossos "esquemas mentais"... Por isso, hoje, como nos tempos de Jesus, podem surgir as vozes dos prudentes para sopesar se vale a pena determinado assunto. Os discípulos, ao ver que se fazia tarde e, como não sabiam como atender àquelas pessoas reunidas em torno de Jesus, encontraram uma saída honrosa: «Que possam ir aos povoados comprar comida!» (Mt 14,15). Não podiam esperar que seu Mestre e Senhor contrariasse esse raciocínio, aparentemente tão prudente, dizendo-lhes: «Vós mesmos dai-lhes de comer!» (Mt 14,16).

Um ditado popular diz: «Aquele que deixa Deus fora de suas contas, não sabe contar». E é verdade, os discípulos —e nós também— não sabemos contar, porque nos esquecemos frequentemente, de acrescentar o elemento de maior importância na soma: Deus mesmo entre nós.

Os discípulos fizeram bem as contas; contaram com exatidão o número de pães e peixes, mas ao dividi-los mentalmente entre tanta gente, eles obtinham sempre um zero periódico; por isso optaram pelo realismo prudente: «Só temos aqui cinco pães e dois peixes» (Mt 14,17). Não percebem que eles têm a Jesus —verdadeiro Deus e verdadeiro homem— entre eles!

Parafraseando a São Josemaria, não nos seria mal recordar aqui que: «os empreendimentos de apostolado, está certo —é um dever— que consideres os teus meios terrenos (2 + 2 = 4). Mas não esqueças nunca! Que tens de contar, felizmente, com outra parcela: Deus + 2 + 2...». O otimismo cristão não é baseado na ausência de dificuldades, de resistências e de erros pessoais, mas em Deus que nos diz: «Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos» (Mt 28,20).

Seria bom se você e eu, quando confrontados com as dificuldades, antes de darmos uma sentença de morte à ousadia e ao otimismo do espírito cristão, contássemos com Deus. Tomara que possamos dizer como São Francisco, naquela oração genial: «Onde houver ódio que eu leve o amor», isto é, onde as contas não baterem, que contemos com Deus.

Reflexão

• O capítulo 14 de Mateus, que inclui a história da multiplicação dos pães, propõe um itinerário que leva o leitor à descoberta progressiva da fé em Jesus: desde a falta de fé dos conterrâneos de Jesus até o reconhecimento do Filho de Deus passando pelo dom do pão. Os concidadãos de Jesus estão surpreendidos com a sua sabedoria, mas não compreendem que ela age através de suas obras. Tendo até mesmo um conhecimento direto da família de Jesus, de sua mãe, irmãos e irmãs, não conseguem aceitar a Jesus, a não ser apenas sua condição humana: é o filho do carpinteiro. Incompreendido em sua terra natal, a partir de agora Jesus viverá entre o povo ao qual dedicará toda a sua atenção e solidariedade, curando e alimentando as multidões.

• Dinâmica da narrativa. Mateus narra acuradamente o episódio da multiplicação dos pães. O episódio está narrado entre duas expressões de transição nas quais se diz que Jesus se retira "à parte" das multidões, dos discípulos e da barca (vv.13-14; vv.22-23). O versículo 13 não só serve como uma transição, mas também fornece o motivo pelo qual Jesus está em um lugar deserto. Esta estratégia serve para especificar o ambiente em que ocorre o milagre. O evangelista enfoca a história na multidão e na atitude de Jesus a respeito da mesma.

• Jesus se comove em seu interior. No momento em que chega, Jesus encontra uma multidão que o espera; ao ver as multidões se comove e cura os seus doentes. É uma multidão "cansada e abatida como ovelhas sem pastor" (9,36; 20,34) O verbo que expressa a compaixão de Jesus é verdadeiramente expressivo: a Jesus "se lhe despedaça o coração", corresponde ao verbo hebraico que expressa amor visceral da mãe. É o mesmo sentimento que tinha Jesus diante do túmulo de Lázaro (Jo 11,38). Compaixão é o aspecto subjetivo da experiência de Jesus, que se faz efetiva com o dom do pão.

• O dom do pão. O relato da multiplicação dos pães se abre com uma expressão: "Caía a tarde" (v.15), que também introduz o relato da Última Ceia (Mt 26,20) e do sepultamento de Jesus (Mt 27,57). À tarde, então, Jesus convida os apóstolos para alimentar a multidão, em meio ao deserto longe de vilas e cidades. Jesus e os discípulos estão diante de um problema humano muito forte: alimentar a grande multidão que segue Jesus. Mas eles não conseguem suprir as necessidades materiais da multidão, sem o poder de Jesus. A resposta imediata dos discípulos é mandá-los para casa. Diante dos limites humanos, Jesus intervém e realiza o milagre saciando a todos os que o seguem. Dar de comer é aqui a resposta de Jesus, de seu coração que se faz em pedaços diante de uma necessidade humana muito específica. O dom do pão não é apenas suficiente para satisfazer a multidão, mas é tão abundante que se deve recolher as sobras. No v. 19b parece que Mateus deu um significado eucarístico ao episódio da multiplicação dos pães: "elevando os olhos ao céu, abençoou-os. Partindo em seguida os pães, deu-os aos seus discípulos," o papel da discípulos também fica muito evidente na função de mediação entre Jesus e a multidão: "os discípulos distribuíram ao povo" (v. 19c). Os gestos que acompanham o milagre são idênticos aos que Jesus adotará mais tarde na "noite em que foi entregue": levanta os olhos, abençoa o pão e o parte. Disto se deduz o valor simbólico do milagre: pode se considerar uma antecipação da Eucaristia. Além disso, alimentar a multidão por parte de Jesus é um "sinal" de que ele é o Messias e de que prepara um banquete de festa para toda a humanidade. De Jesus, que distribuiu os pães, os discípulos aprendem o valor da partilha. É um gesto simbólico que contém um fato real que vai além do episódio mesmo e se projeta para o futuro: o dom da nossa Eucaristia diária, em que revivemos aquele gesto do pão partido, é necessário que seja reiterado ao longo do jornada.

Para um confronto pessoal

1. Você se esforça para fazer gestos de solidariedade com aqueles que estão perto de você partilhando o caminho da vida? Diante dos problemas concretos de seus amigos ou parentes, você sabe oferecer sua ajuda e tua disponibilidade de colaborar para encontrar maneiras de resolver?

2. Jesus, antes de partir o pão, levanta os olhos para o céu, você sabe agradecer ao Senhor pelo dom pão diário? Você sabe compartilhar seus bens com os outros, especialmente com os pobres?

sexta-feira, 30 de julho de 2021

Domingo XVIII do Tempo Comum

S. Afonso Maria de Ligório, Bispo e Doutor da Igreja

1ª Leitura (Ex 16,2-4.12-15): Naqueles dias, toda a comunidade dos filhos de Israel começou a murmurar no deserto contra Moisés e Aarão. Disseram-lhes os filhos de Israel: «Antes tivéssemos morrido às mãos do Senhor na terra do Egito, quando estávamos sentados ao pé das panelas de carne e comíamos pão até nos saciarmos. Trouxestes-nos a este deserto, para deixar morrer à fome toda esta multidão». Então o Senhor disse a Moisés: «Vou fazer que chova para vós pão do céu. O povo sairá para apanhar a quantidade necessária para cada dia. Vou assim pô-lo à prova, para ver se segue ou não a minha lei. Eu ouvi as murmurações dos filhos de Israel. Vai dizer-lhes: ‘Ao cair da noite comereis carne e de manhã saciar-vos-eis de pão. Então reconhecereis que Eu sou o Senhor, vosso Deus’». Nessa tarde apareceram codornizes, que cobriram o acampamento, e na manhã seguinte havia uma camada de orvalho em volta do acampamento. Quando essa camada de orvalho se evaporou, apareceu à superfície do deserto uma substância granulosa, fina como a geada sobre a terra. Quando a viram, os filhos de Israel perguntaram uns aos outros: «Man-hu?», quer dizer: «Que é isto?», pois não sabiam o que era. Disse-lhes então Moisés: «É o pão que o Senhor vos dá em alimento».

Salmo Responsorial: 77

R. O Senhor deu-lhes o pão do céu.

Nós ouvimos e aprendemos, os nossos pais nos contaram os louvores do Senhor e o seu poder e as maravilhas que Ele realizou.

Deu suas ordens às nuvens do alto e abriu as portas do céu; para alimento fez chover o maná, deu-lhes o pão do céu.

O homem comeu o pão dos fortes! Mandou-lhes comida com abundância e introduziu-os na sua terra santa, na montanha que a sua direita conquistou.

2ª Leitura (Ef 4,17.20-24): Irmãos: Eis o que vos digo e aconselho em nome do Senhor: Não torneis a proceder como os pagãos, que vivem na futilidade dos seus pensamentos. Não foi assim que aprendestes a conhecer a Cristo, se é que d’Ele ouvistes pregar e sobre Ele fostes instruídos, conforme a verdade que está em Jesus. É necessário abandonar a vida de outrora e pôr de parte o homem velho, corrompido por desejos enganadores. Renovai-vos pela transformação espiritual da vossa inteligência e revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus na justiça e santidade verdadeiras.

Aleluia. Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. Aleluia.

Evangelho (Jo 6,24-35): Naquele tempo, quando a multidão percebeu que Jesus não estava aí, nem os seus discípulos, entraram nos barcos e foram procurar Jesus em Cafarnaum. Encontrando-o do outro lado do mar, perguntaram-lhe: «Rabi, quando chegaste aqui?». Jesus respondeu: «Em verdade, em verdade, vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes saciados. Trabalhai não pelo alimento que perece, mas pelo alimento que permanece até à vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará. Pois a este, Deus Pai o assinalou com seu selo». Perguntaram então: «Que devemos fazer para praticar as obras de Deus?». Jesus respondeu: «A obra de Deus é que acrediteis naquele que Ele enviou». Eles perguntaram: «Que sinais realizas para que possamos ver e acreditar em ti? Que obras fazes? Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: ‘Deu-lhes a comer o pão do céu’». Jesus respondeu: «Em verdade, em verdade, vos digo: não foi Moisés quem vos deu o pão do céu.É meu Pai quem vos dá o verdadeiro pão do céu. Pois o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo». Eles então pediram: «Senhor, dá-nos sempre desse pão!». Jesus lhes disse: «Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome, e quem crê em mim nunca mais terá sede».

«Senhor, dá-nos sempre desse pão (...) Eu sou o pão da vida»

+ Rev. D. Joaquim FONT i Gassol (Igualada, Barcelona, Espanha)

Hoje vemos diferentes atitudes nas pessoas que buscam a Jesus: uns comeram o pão material, outros pedem um sinal mesmo quando o Senhor acaba de fazer um prodígio, outros se apressam para encontrá-lo e fazem de boa fé — poderíamos dizer — uma comunhão espiritual: «Senhor, dá-nos sempre desse pão» (Jo 6,34).

Jesus deveria estar muito contente com o esforço por buscá-Lo e segui-Lo. Ensinava a todos e os interpelava de vários modos. A uns dizia: «Trabalhai não pelo alimento que perece, mas pelo alimento que permanece até à vida eterna» (Jo 6,27). Aqueles que perguntaram: «Que devemos fazer para praticar as obras de Deus?» (Jo 6,28), receberão um conselho prático, naquela sinagoga de Cafarnaum, onde o Senhor promete a Sagrada Comunhão: «Crede».

Você e eu, que tentamos nos meter nas páginas deste Evangelho, vemos refletida nossa atitude? A nós que queremos reviver esta cena, que expressões nos tocam mais? Estamos prontos para o esforço de buscar a Jesus depois de tantas graças, doutrina, exemplos e lições que temos recebido? Sabemos fazer uma boa comunhão espiritual: ‘Senhor dá-nos sempre deste pão que acalma toda a nossa fome’?

O melhor atalho para encontrar a Jesus é Maria. Ela é a Mãe de Família que reparte o pão para os filhos no calor do lar paterno. É a Mãe da Igreja que quer alimentar os seus filhos para que cresçam, tenham forças, sejam felizes, levem a cabo o seu trabalho santamente e sejam comunicativos. Santo Ambrósio, em seu tratado sobre os mistérios, escreve: «E o sacramento que realizamos é o corpo nascido da Virgem Maria. Acaso aqui, a nível da natureza, podemos pedir o corpo de Cristo, se o mesmo Jesus nasceu de Maria por cima das leis naturais?».

A Igreja, mãe e mestra, nos ensina que a Sagrada Eucaristia é «o sacramento da piedade, sinal da unidade, vínculo da caridade, convite Pascal, no qual se recebe a Cristo, e a alma se enche de graça e nos é dada a prenda da glória futura» (Concílio Vaticano II).

Reflexão

No evangelho de hoje iniciamos a reflexão sobre o Discurso do Pão da Vida (Jo 6, 22-71). Depois da multiplicação dos pães, o povo foi atrás de Jesus. Viu o milagre, comeu até se saciar e queria mais! Não se preocupou em procurar o sinal ou o chamamento de Deus que havia em tudo isto. Quando as pessoas encontraram Jesus na sinagoga de Cafarnaum, tiveram com ele uma longa conversa, chamada o Discurso do Pão da Vida. Não é propriamente um discurso mas um conjunto de sete breves diálogos que explicam o significado da multiplicação dos pães como símbolo do novo Êxodo e da Ceia Eucarística.

O diálogo de Jesus com o povo, com os judeus e com os discípulos é um diálogo bonito mas exigente. Jesus procura abrir os olhos das pessoas para que aprendam a ler os acontecimentos e descubram neles o rumo que devem tomar na vida. Não basta ir atrás dos sinais milagrosos que multiplicam o pão para o corpo. Nem só de pão vive o homem. A luta pela vida sem uma mística não alcança a raiz. Na medida que vão conversando com Jesus, as pessoas sentem-se cada vez mais contrariada pelas palavras dele, pois não cede nem altera as suas exigências. O discurso parece desenvolver-se em espiral. Na medida em que o diálogo avança, há cada vez menos gente que fica com Jesus. No final ficam somente os Doze, e Jesus nem sequer pode confiar neles. Hoje acontece o mesmo. Quando o evangelho exige um compromisso muita gente afasta-se.

João 6, 24-27: As pessoas procuram Jesus porque querem mais pão e por isso vão atrás dele. Constatam que não entrou na barca com os discípulos e não entendem como fez para chegar a Cafarnaum. Tampouco entendem o milagre da multiplicação dos pães. A gente vê o que acontece mas não consegue ver em tudo isto um sinal de algo mais profundo. Fica na superfície: na fartura de comida. Procuram pão e vida mas só para o corpo. Segundo as pessoas, Jesus fez o que Moisés fizera no passado: alimentar todos no deserto, até à saciedade. Seguindo Jesus, queriam que o passado se repetisse. Mas Jesus pede-lhe que dêem um passo mais. Além do trabalho pelo pão que perece, deve-se trabalhar pelo pão que não perece. O Filho do Homem dará este alimento. Ele dá-nos a vida que dura para sempre. Ele abre-nos um novo horizonte sobre o sentido da vida e sobre Deus.

João 6, 28-29: “Qual é a obra de Deus?”. As pessoas perguntam: que devemos fazer para realizar este trabalho (obras) de Deus? Jesus responde que a grande obra que Deus nos pede “é crer naquele que Deus enviou”, ou seja, crer em Jesus! O discurso do Pão da Vida não é um texto para discutir ou dissecar, mas um texto que se deve meditar e ruminar. Se não se entende tudo, não nos devemos preocupar. O texto do Pão da Vida exige toda uma vida para ser meditado e aprofundado. Um texto deste tipo, as pessoas devem lê-lo, meditá-lo, rezá-lo, pensá-lo, lê-lo novamente, repeti-lo, ruminá-lo, como se faz com um bom rebuçado na boca, ao qual se dá voltas até que se dissolva. Quem lê superficialmente o quarto evangelho pode ficar com a impressão de que João repete sempre a mesma coisa. Lendo com mais atenção, é possível perceber que não se trata de repetições. O autor do quarto evangelho tem a sua própria maneira de repetir o mesmo assunto, mas a um nível cada vez mais profundo. Parece uma escada de caracol.

João 6, 30-33: “Que sinal realizas para que acreditemos?”. As pessoas perguntaram: “Que devemos fazer para realizar a obra de Deus?”. Jesus responde: “A obra de Deus é crer naquele que Ele enviou”, isto é, crer em Jesus. As pessoas formulam uma nova pergunta: “Que sinal realizas para que possamos ver e acreditar em ti? Qual é a tua obra?”. Isto significa que não entenderam a multiplicação dos pães como um sinal vindo de Deus para legitimar Jesus perante o povo como um enviado de Deus. E continuam a argumentar: “Os nossos pais comeram o maná no deserto, conforme está escrito: Ele deu-lhes a comer o pão vindo do Céu”, ou seja, “pão de Deus”. Moisés continua a ser um grande líder em quem eles acreditam. Se Jesus quer que eles acreditem nele tem que fazer um sinal maior do que o de Moisés. “Qual é a tua obra?”. Jesus responde que o pão dado por Moisés não era o verdadeiro pão do céu. Vinha do alto, sim, mas não era o pão de Deus, visto não ter garantido a vida a ninguém. Todos morreram no deserto (Jo 6, 49). O verdadeiro pão do céu, o pão de Deus, é o pão que vence a morte e traz a vida. É o que desce do céu e dá a vida ao mundo. É Jesus! Jesus procura ajudar as pessoas a libertarem-se dos esquemas do passado. Para ele, fidelidade ao passado não significa encerrar-se nas coisas antigas e não aceitar a renovação. Fidelidade ao passado é aceitar a novidade que chega como fruto da semente plantada no passado.

João 6, 34-35: “Senhor, dá-nos sempre deste pão!”. Jesus responde claramente: “Eu sou o pão da vida!”. Comer o pão da vida é o mesmo que acreditar em Jesus e aceitar o caminho que ele nos ensinou, a saber: “O meu alimento é fazer a vontade do Pai que está no céu!” (Jo 4, 34). Este é o alimento verdadeiro que sustenta a pessoa, que dá um rumo à vida e que traz vida nova.

Palavra para o caminho

O caminho que percorremos nesta terra é sempre um caminho marcado pela procura da nossa realização, da nossa felicidade, da vida plena e verdadeira. Temos fome de vida, de amor, de felicidade, de justiça, de paz, de esperança, de transcendência e procuramos, de mil formas, saciar essa fome; mas continuamos sempre insatisfeitos, tropeçando na nossa finitude, em respostas parciais, em tentativas falhadas de realização, em esquemas equívocos, em falsas miragens de felicidade e de realização, em valores efémeros, em propostas que parecem sedutoras mas que só geram escravidão e dependência. Na verdade, o dinheiro, o poder, a realização profissional, o êxito, o reconhecimento social, os prazeres, os amigos são valores efémeros que não chegam para “encher” totalmente a nossa vida e para lhe dar um sentido pleno. Jesus de Nazaré é o “pão de Deus que desce do céu para dar a vida ao mundo”. É esta a questão central que o Evangelho deste Domingo nos propõe.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Sábado XVII do Tempo Comum

 Santo Inácio de Loyola, presbítero

1ª Leitura (Lev 25,1.8-17): O Senhor falou a Moisés, dizendo: «Contareis sete semanas de anos, isto, é, sete vezes sete anos; de maneira que, durante esse período de tempo, serão quarenta e nove anos. No dia dez do sétimo mês, mandarás fazer uma proclamação ao som da trombeta. É o dia das Expiações: tocareis a trombeta por toda a vossa terra. De cinquenta em cinquenta anos promulgareis um ano santo e proclamareis no país a liberdade de todos os habitantes da terra. Será para vós um jubileu: cada um tornará a possuir a sua propriedade e cada um voltará à sua família. O quinquagésimo ano será para vós um ano jubilar: não semeareis, nem ceifareis as espigas que tiverem nascido espontaneamente, nem vindimareis as vinhas não podadas. É um jubileu, que será para vós sagrado: comereis do que os campos forem produzindo. Nesse ano jubilar, cada um tornará a possuir a sua propriedade. Se venderes alguma coisa ao teu próximo, ou se lhe comprares alguma coisa, nenhum de vós prejudique o seu irmão. Comprarás ao teu próximo, tendo em conta o número de anos depois do jubileu; e ele te venderá segundo o número de anos de colheita. Quanto maior for o número de anos, maior será o preço; quanto menor for o número de anos, menor será o preço, pois o que ele te vende é um certo número de colheitas. Nenhum de vós prejudique o seu próximo. Temerás o teu Deus, porque Eu sou o Senhor, vosso Deus».

Salmo Responsorial: 66

R. Louvado sejais, Senhor, pelos povos de toda a terra.

Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção, resplandeça sobre nós a luz do seu rosto. Na terra se conhecerão os vossos caminhos e entre os povos a vossa salvação.

Alegrem-se e exultem as nações, porque julgais os povos com justiça e governais as nações sobre a terra.

A terra produziu os seus frutos, o Senhor nosso Deus nos abençoa. Deus nos dê a sua bênção e chegue o seu louvor aos confins da terra.

Aleluia. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino dos Céus. Aleluia.

Evangelho (Mt 14,1-12): Naquele tempo, a fama de Jesus chegou aos ouvidos do rei Herodes. Ele disse aos seus cortesãos: «É João Batista! ele ressuscitou dos mortos; por isso, as forças milagrosas atuam nele”. De fato, Herodes tinha mandado prender João, acorrentá-lo e colocá-lo na prisão, por causa de Herodíades, a mulher de seu irmão Filipe. Pois João vivia dizendo a Herodes: «Não te é permitido viver com ela». Herodes queria matá-lo, mas ficava com medo do povo, que o tinha em conta de profeta. Por ocasião do aniversário de Herodes, a filha de Herodíades dançou diante de todos, e agradou tanto a Herodes que ele prometeu, com juramento, dar a ela tudo o que pedisse. Instigada pela mãe, ela pediu: «Dá-me aqui, num prato, a cabeça de João Batista». O rei ficou triste, mas, por causa do juramento e dos convidados, ordenou que atendessem o pedido dela. E mandou cortar a cabeça de João, na prisão. A cabeça foi trazida num prato, entregue à moça, e esta a levou para a sua mãe. Os discípulos de João foram buscar o corpo e o enterraram. Depois vieram contar tudo a Jesus.

«A fama de Jesus chegou aos ouvidos do rei Herodes»

Rev. D. Joan Pere PULIDO i Gutiérrez (Sant Feliu de Llobregat, Espanha)

Hoje, a liturgia convida-nos a contemplar uma injustiça: A morte de João Batista; e, também, descobrir na Palavra de Deus a necessidade de um testemunho claro e concreto de nossa fé para encher o mundo de esperança.

Convido-os a focalizar nossa reflexão na personagem do tetrarca Herodes. Realmente, para nós, não é um verdadeiro testemunho, mas nos ajudará a destacar alguns aspectos importantes para a nossa declaração de fé em meio do mundo. «Naquele tempo, a fama de Jesus chegou aos ouvidos do rei Herodes» (Mt 14,1). Esta afirmação distingue uma atitude aparentemente correta, mas pouco sincera. É a realidade que hoje podemos achar em muitas pessoas e, talvez também em nós mesmos. Muitas pessoas têm ouvido falar de Jesus, mas, quem é Ele realmente? que implicância pessoal nos une a Ele?

Em primeiro lugar, é necessário dar uma resposta correta; a do tetrarca Herodes não passa de ser uma vaga informação: «É João Batista! Ele ressuscitou dos mortos» (Mt 14,2). Com certeza sentimos falta da afirmação de Pedro diante da pergunta de Jesus: «E vós, quem dizeis que eu sou? Simão Pedro respondeu: ‘Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo’» (Mt 16,15-16). E esta afirmação não dá lugar para o medo ou para a indiferença, e sim abre a porta a um testemunho fundamentado no Evangelho da esperança. Assim o definia São João Paulo II na sua Exortação apostólica A Igreja na Europa: «Junto à Igreja toda, convido aos meus irmãos e irmãs na fé a se abrirem constante e confiadamente a Cristo e, a se deixar renovar por Ele, anunciando com o vigor da paz e o amor a todas as pessoas de boa vontade que, quem encontra ao Senhor conhece a Verdade, descobre a Vida e, reconhece o Caminho que conduz a ela».

Que, hoje sábado, a Virgem Maria, a Mãe da esperança, nos ajude de verdade a encontrar Jesus e, a dar um bom testemunho Dele aos nossos irmãos.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje descreve como João Batista foi vítima da corrupção e da prepotência do governo de Herodes. Foi morto sem processo, durante um banquete do rei com os grandes do reino. O texto traz muitas informações sobre o tempo em que Jesus vivia e sobre a maneira como era exercido o poder pelos poderosos da época.

* Mateus 14,1-2. Quem é Jesus para Herodes. O texto começa informando a opinião de Herodes a respeito de Jesus: "Ele é João Batista, que ressuscitou dos mortos. É por isso que os poderes agem nesse homem". Herodes procurava compreender Jesus a partir dos medos que o assaltavam após o assassinato de João. Herodes era um grande supersticioso que escondia o medo atrás da ostentação da sua riqueza e do seu poder.

* Mateus 14,3-5: A causa escondida do assassinato de João. Galileia, terra de Jesus, era governada por Herodes Antipas, filho do rei Herodes, o Grande, desde 4 antes de Cristo até 39 depois de Cristo. Ao todo, 43 anos! Durante todo o tempo que Jesus viveu, não houve mudança de governo na Galileia! Herodes era dono absoluto de tudo, não prestava conta a ninguém, fazia o que bem entendia. Prepotência, falta de ética, poder absoluto, sem controle por parte do povo! Mas quem mandava mesmo na Palestina, desde 63 antes de Cristo, era o Império Romano. Herodes, lá na Galileia, para não ser deposto, procurava agradar a Roma em tudo. Insistia sobretudo numa administração eficiente que desse lucro ao Império. A preocupação dele era a sua própria promoção e segurança. Por isso, reprimia qualquer tipo de subversão. Mateus informa que o motivo do assassinato de João foi a denúncia que o Batista fez a Herodes por ele ter casado com Herodíades, mulher do seu irmão Filipe. Flávio José, escritor judeu daquela época, informa que o motivo real da prisão de João Batista era o medo que Herodes tinha de um levante popular. Herodes gostava de ser chamado de benfeitor do povo, mas na realidade era um tirano (Lc 22,25). A denúncia de João contra Herodes foi a gota que fez transbordar o copo: "Não te é permitido casar com ela”.  E João foi preso.

* Mateus 14,6-12: A trama do assassinato. Aniversário e banquete de festa, com danças e orgias! Marcos informa que a festa contava com a presença “dos grandes da corte, dos oficiais e das pessoas importantes da Galileia” (Mc 6,21). É nesse ambiente que se trama o assassinato de João Batista. João, o profeta, era uma denúncia viva desse sistema corrupto. Por isso foi eliminado sob pretexto de um problema de vingança pessoal. Tudo isto revela a fraqueza moral de Herodes. Tanto poder acumulado na mão de um homem sem controle de si! No entusiasmo da festa e do vinho, Herodes fez um juramento leviano a Salomé, a jovem dançarina, filha de Herodíades. Supersticioso como era, pensava que devia manter esse juramento, atendeu ao capricho da menina e mandou o soldado trazer a cabeça de João num prato e dar à dançarina, que o entregou à sua mãe. Para Herodes, a vida dos súditos não valia nada. Dispunha deles como dispunha da posição das cadeiras na sala.

As três marcas do governo de Herodes: a nova Capital, o latifúndio e a classe dos funcionários:

1. A Nova Capital.  Tiberíades foi inaugurada quando Jesus tinha seus 20 anos. Era chamada assim para agradar a Tibério, o imperador de Roma. Lá moravam os donos das terras, os soldados, a polícia, os juízes muitas vezes insensíveis (Lc 18,1-4). Para lá eram levados os impostos e o produto do povo. Era lá que Herodes fazia suas orgias de morte (Mc 6,21-29). Tiberíades era a cidade dos palácios do Rei, onde vivia o pessoal de roupa fina (cf Mt 11,8). Não consta nos evangelhos que Jesus tenha entrado nessa cidade.

2. O Latifúndio.  Os estudiosos informam que, durante o longo governo de Herodes, cresceu o latifúndio em prejuízo das propriedades comunitárias. O Livro de Enoque denuncia os donos das terras e expressa a esperança dos pequenos: “Então, os poderosos e os grandes já não serão mais os donos da terra!” (Hen 38,4). O ideal dos tempos antigos era este: “Cada um debaixo da sua vinha e da sua figueira, sem que haja quem lhes cause medo” (1 Mac 14,12; Miq 4,4; Zac 3,10). Mas a política do governo de Herodes tornava impossível a realização deste ideal.

3. A Classe dos funcionários. Herodes criou toda uma classe de funcionários fieis ao projeto do rei: escribas, comerciantes, donos de terras, fiscais do mercado, coletores de impostos, militares, policiais, juízes, promotores, chefes locais. Em cada aldeia ou cidade havia um grupo de pessoas que apoiavam o governo. Nos evangelhos, alguns fariseus aparecem junto com os herodianos (Mc 3,6; 8,15; 12,13), o que reflete a aliança entre o poder religioso e poder civil. A vida do povo nas aldeias era muito controlada, tanto pelo governo como pela religião. Era necessária muita coragem para começar algo novo, como fizeram João e Jesus! Era o mesmo que atrair sobre si a raiva dos privilegiados, tanto do poder religioso como do poder civil.

Perguntas para a reflexão:

1. Conhece casos de pessoas que morreram vítimas da corrupção e da dominação dos poderosos? E aqui entre nós, na nossa comunidade e na igreja, há vítimas de desmando e de autoritarismo?

2. Herodes, o poderoso, que pensava ser o dono da vida e da morte do povo, era um covarde diante dos grandes e um bajulador corrupto diante da moça. Covardia e corrupção marcavam o exercício do poder de Herodes. Compare com o exercício do poder religioso e civil hoje nos vários níveis da sociedade e da Igreja.

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Sexta-feira da 17ª semana do Tempo Comum

 São Pedro Crisólogo, Bispo e Doutor da Igreja

1ª Leitra (Lev 23, 1.4-11.15-16.27.34b-37): O Senhor falou a Moisés, dizendo: «São estas as solenidades do Senhor, as assembleias sagradas, para as quais, no tempo devido, convocareis os filhos de Israel: No dia catorze do primeiro mês, ao entardecer, é a Páscoa do Senhor; e no dia quinze desse mês, é a Festa dos Pães Ázimos em honra do Senhor. Durante sete dias comereis pães ázimos. No primeiro dia reunireis uma assembleia sagrada: não fareis qualquer trabalho servil. Durante sete dias apresentareis ao Senhor oferendas passadas pelo fogo. No sétimo dia reunireis uma assembleia sagrada: Não fareis qualquer trabalho servil». O Senhor falou ainda a Moisés, dizendo: «Fala aos filhos de Israel e diz-lhes: ‘Quando tiverdes entrado na terra que vos darei e aí ceifardes as searas, levareis ao sacerdote um molho de espigas, como primícias da vossa colheita. O sacerdote oferecê-lo-á ao Senhor com o gesto da apresentação, para que Ele vos seja favorável. Esta apresentação será feita no dia a seguir ao sábado. A partir do dia a seguir ao sábado, em que tiverdes trazido o molho de espigas para a apresentação, contareis sete semanas completas. Até ao dia a seguir ao sétimo sábado, contareis cinquenta dias e apresentareis ao Senhor uma oferenda da nova colheita. No dia dez do sétimo mês, é o dia das Expiações. Reunireis uma assembleia sagrada: fareis penitência e apresentareis ao Senhor oferendas passadas pelo fogo. A partir do dia quinze deste sétimo mês, durante sete dias, é a Festa das Tendas em honra do Senhor. No primeiro dia reunireis uma assembleia sagrada: não fareis qualquer trabalho servil. Durante sete dias, apresentareis ao Senhor oferendas passadas pelo fogo. No oitavo dia reunireis uma assembleia sagrada: apresentareis ao Senhor oferendas passadas pelo fogo. É o dia da última assembleia: não fareis qualquer trabalho servil. São estas as solenidades do Senhor, nas quais reunireis assembleias sagradas, para oferecer ao Senhor oferendas passadas pelo fogo, holocaustos, oblações, sacrifícios e libações, segundo o ritual próprio de cada dia’».

Salmo Responsorial: 80

R. Aclamai a Deus, nossa força.

Aclamai a Deus, nossa força, aplaudi ao Deus de Jacob. Fazei ressoar a trombeta na lua nova e na lua cheia, dia da nossa festa.

É uma obrigação para Israel, é um preceito do Deus de Jacob, lei que Ele impôs a José, quando saiu da terra do Egito.

«Não terás contigo um deus alheio, nem adorarás divindades estranhas. Eu, o Senhor, sou o teu Deus, que te fiz sair da terra do Egito».

Aleluia. A palavra do Senhor permanece eternamente. Esta é a palavra que vos foi anunciada. Aleluia.

Evangelho (Mt 13,54-58): Jesus foi para sua própria cidade e se pôs a ensinar na sinagoga local, de modo que ficaram admirados. Diziam: «De onde lhe vêm essa sabedoria e esses milagres? Não é ele o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs não estão todas conosco? De onde, então, lhe vem tudo isso?». E ele tornou-se para eles uma pedra de tropeço. Jesus, porém, disse: «Um profeta só não é valorizado em sua própria cidade e na sua própria casa!». E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles.

«Um profeta só não é valorizado em sua própria cidade e na sua própria casa»

Rev. D. Jordi POU i Sabater (Sant Jordi Desvalls, Girona, Espanha)

Hoje, como naquele tempo, é difícil falar de Deus àqueles que nos conhecem há muito tempo. No caso de Jesus, são João Crisóstomo comenta: «Os nazarenos admiravam-se Dele, mas essa admiração não os levava a crer, mas a sentir inveja, como se dissessem: `Porque Ele, e não eu´». Jesus conhecia bem aqueles que em vez ouvi-lo, escandalizavam-se por causa Dele. Eram parentes, amigos, vizinhos pessoas que Ele apreciava, mas justamente a eles não chegará a mensagem da salvação.

Nós — que não podemos fazer milagres nem temos a santidade de Cristo — não provocaremos inveja (ainda se por acaso possa acontecer, se realmente nos esforçarmos por viver como cristãos). Seja como for, nos encontraremos, como Jesus, com aqueles a quem amamos ou apreciamos, são os que menos nos escutam. Neste sentido, devemos recordar, também, que as pessoas veem mais os defeitos do que as virtudes, e aqueles que estiveram ao nosso lado durante anos podem dizer interiormente — Tu que fazias (ou fazes) isto ou aquilo, o que vais me ensinar?

Pregar ou falar de Deus entre as pessoas do nosso povo ou família é difícil, mas é necessário. É preciso dizer que Jesus quando ia a casa estava precedido pela fama de seus milagres e sua palavra. Talvez, nós precisaremos estabelecer um pouco de fama de santidade por fora (e dentro) de casa antes de “predicar” às pessoas da casa.

São João Crisóstomo acrescenta no seu comentário: «Presta atenção, por favor, na amabilidade do Mestre: não lhes castiga por não ouvi-lo, mas diz com doçura: `Um profeta só não é valorizado em sua própria cidade e na sua própria casa´ (Mt 13,57). Resulta evidente que Jesus iria-se triste desse lugar, mas continuaria suplicando para que sua palavra salvadora fosse bem-vinda no seu povo.

E nós (que nada vamos perdoar ou deixar de lado), igual temos que orar para que a palavra de Jesus chegue até aqueles que amamos, mas não querem nos ouvir.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje conta como foi a visita de Jesus à Nazaré, sua comunidade de origem. A passagem por Nazaré foi dolorosa para Jesus. O que antes era a sua comunidade, agora já não é mais. Alguma coisa mudou. Onde não há fé, Jesus não pode fazer milagre.

* Mateus 13, 53-57ª:  Reação do povo de Nazaré frente a Jesus. É sempre bom voltar para a terra da gente. Após longa ausência, Jesus também voltou e, como de costume, no dia de sábado, foi para a reunião da comunidade. Jesus não era coordenador, mesmo assim ele tomou a palavra. Sinal de que as pessoas podiam participar e expressar sua opinião. O povo ficou admirado, não entendeu a atitude de Jesus: "De onde lhe vêm essa sabedoria e esses milagres?” Jesus, filho do lugar, que eles conheciam desde criança, como é que ele agora ficou tão diferente? O povo de Nazaré ficou escandalizado e não o aceitou: “Não é ele o filho do carpinteiro?” O povo não aceitou o mistério de Deus presente num homem comum como eles conheciam Jesus. Para poder falar de Deus ele teria de ser diferente. Como se vê, nem tudo foi bem sucedido. As pessoas que deveriam ser as primeiras a aceitar a Boa Nova, estas eram as que se recusavam a aceitá-la. O conflito não é só com os de fora de casa, mas também com os parentes e com o povo de Nazaré. Eles recusam, porque não conseguem entender o mistério que envolve a pessoa de Jesus: “Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs, não moram aqui conosco? Então, de onde vem tudo isso?"  Não deram conta de crer.

* Mateus 13, 57b-58: Reação de Jesus diante da atitude do povo de Nazaré. Jesus sabe muito bem que “santo de casa não faz milagre”. Ele diz: "Um profeta só não é honrado em sua própria pátria e em sua família". De fato, onde não existe aceitação nem fé, a gente não pode fazer nada. O preconceito o impede. Jesus, mesmo querendo, não pôde fazer nada. Ele ficou admirado da falta de fé deles.

* Os irmãos e as irmãs de Jesus. A expressão “irmãos de Jesus” é causa de muita polêmica entre católicos e protestantes. Baseando-se neste e em outros textos, os protestantes dizem que Jesus teve mais irmãos e irmãs e que Maria teve mais filhos! Os católicos dizem que Maria não teve outros filhos. O que pensar disso?  Em primeiro lugar, as duas posições, tanto dos católicos como dos protestantes, ambas têm argumentos tirados da Bíblia e da Tradição das suas respectivas Igrejas. Por isso, não convém brigar nem discutir esta questão com argumentos só de cabeça. Pois trata-se de convicções profundas, que têm a ver com a fé e com o sentimento de ambos. Argumento só de cabeça não consegue desfazer uma convicção do coração! Apenas irrita e afasta! Mesmo quando não concordo com a opinião do outro, devo sempre respeitá-la. Em segundo lugar, em vez de brigar em torno de textos, nós todos, católicos e protestantes, deveríamos unir-nos bem mais para lutar em defesa da vida, criada por Deus, vida tão desfigurada pela pobreza, pela injustiça, pela falta de fé. Deveríamos lembrar algumas outras frases de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10). “Que todos sejam um, para que o mundo creia que Tu, Pai, me enviaste” (Jo 17,21). “Não o impeçam! Quem não é contra nós é a favor” (Mc 10,39.40).

Para um confronto pessoal

1. Em Jesus algo mudou no seu relacionamento com a Comunidade de Nazaré. Desde que você começou a participar na comunidade, alguma coisa mudou no seu relacionamento com a família? Por que?

2. A participação na comunidade tem ajudado você a acolher e a confiar mais nas pessoas, sobretudo nos mais simples e pobres?

terça-feira, 27 de julho de 2021

29 de julho, SS. Marta, Maria e Lázaro, Hospedeiros do Senhor

1ª leitura (1Jo 4,7-16): Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo aquele que ama nasceu de Deus e chega ao conhecimento de Deus. Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor. E o amor de Deus manifestou-se desta forma no meio de nós: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que, por Ele, tenhamos a vida. É nisto que está o amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele mesmo que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados. Caríssimos, se Deus nos amou assim, também nós devemos amar-nos uns aos outros. A Deus nunca ninguém o viu; se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu amor chegou à perfeição em nós. Damos conta de que permanecemos nele, e Ele em nós, por nos ter feito participar do seu Espírito. Nós o contemplámos e damos testemunho de que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo. Quem confessar que Jesus Cristo é o Filho de Deus, Deus permanece nele e ele em Deus. Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele. Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele.

Salmo Responsorial: 102

R. O Senhor é indulgente, é favorável.

— O Senhor realiza obras de justiça e garante o direito aos oprimidos; revelou os seus caminhos a Moisés, e aos filhos de Israel, seus grandes feitos.

— O Senhor é indulgente, é favorável, é paciente, é bondoso e compassivo. Não fica sempre repetindo as suas queixas, nem guarda eternamente o seu rancor. Não nos trata como exigem nossas faltas, nem nos pune em proporção às nossas culpas. Quanto os céus por sobre a terra se elevam, tanto é grande o seu amor aos que o temem;

— Quanto dista o nascente do poente, tanto afasta para longe nossos crimes. Como um pai se compadece de seus filhos, o Senhor tem compaixão dos que o temem.

Aleluia. Deus Pai nos gerou pela palavra da verdade, para sermos as primícias das suas criaturas. Aleluia.

Evangelho (Lc 10,38-42): Naquele tempo, Jesus entrou num povoado, e uma mulher, de nome Marta, o recebeu em sua casa. Ela tinha uma irmã, Maria, a qual se sentou aos pés do Senhor e escutava a sua palavra. Marta, porém, estava ocupada com os muitos afazeres da casa. Ela aproximou-se e disse: «Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda pois que ela venha me ajudar!». O Senhor, porém, lhe respondeu: «Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada».

«Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária»

Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)

Hoje, também nós que estamos ocupados com muitas coisas devemos ouvir o que o Senhor nos recorda: «No entanto, uma só é necessária» (Lc 10,42): o amor, a santidade. Este é o objetivo, o horizonte que não podemos perder nunca de vista no meio de nossas ocupações cotidianas.

Porque ocupados estaremos sempre se obedecermos à indicação do Criador: «Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a!» (Gn 1,28). A Terra! O mundo: é aqui o nosso lugar de encontro com o Senhor. «Eu não rogo que os tires do mundo, mas que os guardes do maligno» (Jo 17,15). Sim, o mundo é o altar para nós e para nossa entrega a Deus e aos outros.

Somos do mundo, mas não podemos ser mundanos. Muito pelo contrário, somos chamados a ser como a bela expressão de João Paulo II sacerdotes da criação, sacerdotes do nosso mundo, de um mundo que amamos apaixonadamente.

Eis aqui a questão: o mundo e a santidade, o trabalho diário e a única coisa necessária. Não são duas realidades opostas: temos que procurar a confluência de ambas. E essa confluência se produz em primeiro lugar e sobre tudo em nosso coração, que é onde se pode unir o céu e a terra. Porque no coração humano é onde pode nascer o diálogo entre o Criador e a criatura.

É necessário, portanto, a oração. «O nosso tempo é um tempo em constante movimento, que frequentemente desemboca no ativismo, com o risco fácil de acabar fazendo por fazer. Temos que resistir a essa tentação, procurando ser antes de fazer. Recordamos a este respeito a reprovação de Jesus a Marta: «Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária (Lc 10,41-42)» (S. João Paulo II).

Não há oposição entre o ser e o fazer, mas sim há uma ordem de prioridade, de precedência: «Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada» (Lc 10,42).

Reflexão  

* O evangelho de hoje traz o episódio de Marta e Maria, as duas irmãs de Lázaro. Maria, sentada aos pés de Jesus escutava a sua palavra. Marta, na cozinha, ocupada nos afazeres domésticos. Esta família amiga de Jesus é mencionada somente nos evangelhos de Lucas (Lc 10,38-41) e de João (Jo 11,1-39; 12,2).

* Lucas 10,38: A casa amiga em Betânia  “Enquanto caminhavam, Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de nome Marta, o recebeu em sua casa”.  Jesus está a caminho para Jerusalém, onde será preso e morto. Ele chega na casa de Marta que o recebe. Lucas não diz que a casa de Marta ficava em Betânia. É João que nos faz saber que a casa de Marta ficava em Betânia, perto de Jerusalém. A palavra Betânia significa Casa da Pobreza. Era um povoado pobre no alto do Monte das Oliveiras, perto de Jerusalém. Quando ia a Jerusalém Jesus costumava passar na casa de Marta, Maria e Lázaro (Jo 12,2)

* É impressionante verificar como Jesus entrava e vivia nas casas do povo: na casa de Pedro (Mt 8,14), de Mateus (Mt 9,10), de Jairo (Mt 9,23), de Simão o fariseu (Lc 7,36), de Simão o leproso (Mc 14,3), de Zaqueu (Lc 19,5). O oficial reconhece: “Não sou digno de que entres em minha casa” (Mt 8,8). O povo procurava Jesus na casa dele (Mt 9,28; Mc 1,33; 2,1; 3,20). Os quatro amigos do paralítico tiram o telhado para fazer baixar o doente dentro da casa onde Jesus estava ensinando o povo (Mc 2,4). Quando ia a Jerusalém, Jesus parava em Betânia na casa de Marta, Maria e Lázaro (12,2). No envio dos discípulos e discípulas a missão deles é entrar nas casas do povo e levar a paz (Mt 10,12-14; Mc 6,10; Lc 10,1-9).

* Lucas 10,39-40: A atitude das duas irmãs. “Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e ficou escutando a sua palavra. Marta estava ocupada com muitos afazeres”. Duas atitudes importantes, sempre presentes na vida dos cristãos: estar atenta à Palavra de Deus e estar atenta às necessidades das pessoas. Cada uma destas duas atitudes exige atenção total. Por isso, as duas vivem em tensão contínua que se expressa na reação de Marta: "Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda que ela venha ajudar-me!". Expressa-se também na reação dos apóstolos diante do problema que surgiu na comunidade de Jerusalém. O serviço à mesa das viúvas estava tomando todo o tempo deles e já não podiam dedicar-se inteiramente ao anúncio da Palavra. Por isso, eles reuniram a comunidade e disseram: “Não é correto que deixemos a pregação da palavra de Deus para servir às mesas” (At 6,2).

* Lucas 10,41-42: A resposta de Jesus. "Marta, Marta! Você se preocupa e anda agitada com muitas coisas; porém, uma só coisa é necessária, Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada."  Marta queria que Maria sacrificasse sua atenção à palavra para ajudá-la no serviço da mesa. Mas não se pode sacrificar uma atitude em favor da outra. O que é preciso é alcançar o equilíbrio. Não se trata de escolher entre vida contemplativa e vida ativa, como se aquela fosse melhor que esta. Trata-se de encontrar a justa distribuição das tarefas apostólicas e dos ministérios dentro da comunidade. Baseando-se nesta palavra de Jesus, os apóstolos pediram à comunidade que escolhesse sete diáconos (servidores). O serviço das mesas foi entregue aos diáconos e assim os apóstolos podiam continuar a sua atividade pastoral: “dedicar-se inteiramente à oração e ao serviço da Palavra” (At 6,4). Não se trata de encontrar nesta palavra de Jesus um argumento para dizer que a vida contemplativa nos mosteiros é superior à vida ativa dos que labutam na pastoral. As duas atividades tem a ver com o anúncio da Palavra de Deus. Marta não pode exigir que Maria sacrifique a atenção à palavra.  Bonita é a interpretação do místico medieval, o frade dominicano Mestre Eckart que dizia: Marta já sabia trabalhar e servir às mesas sem prejudicar em nada sua atenção à presença e à palavra de Deus. Maria, assim ele diz, ainda estava aprendendo junto de Jesus. Por isso, ela não podia ser interrompida. Maria escolheu o que para ela era a melhor parte. A descrição da atitude de Maria diante de Jesus evoca a outra Maria, da qual Jesus dizia: “Felizes os que ouvem a Palavra e a colocam em prática” (Lc 11,27).

Para um confronto pessoal

1) Como você equilibra na sua vida o desejo de Maria e a preocupação de Marta?

2) À luz da resposta de Jesus para Marta, os apóstolos souberam encontrar uma solução para o problema da comunidade de Jerusalém. A meditação das palavras e gestos de Jesus me ajuda a iluminar os problemas da minha vida?

 

28 de julho

 São Pedro Poveda Castroverde
Presbítero e mártir - Fundador da Instituição Teresiana
 
Pedro Poveda Castroverde nasceu em Linhares (Jaén) em 3 de dezembro de 1874. Desde criança sentiu atração pelo sacerdócio. Ingressou no seminário de Jaén e concluiu os estudos no de Guadix, diocese na qual recebeu a ordenação em 1897. Começou seu ministério no Seminário e no atendimento pastoral aos que viviam nas margens da população, criando uma escola para eles. Nomeado canônico de Covadonga ocupou-se da formação cristã dos peregrinos e começou a escrever livros sobre educação e a relação entre a fé e a ciência. A partir de 1911, com algumas jovens colaboradoras, começou a fundação de Academias e Centros pedagógicos que dariam início à Instituição Teresiana. Transferiu-se para Jaén para consolidar a mesma Instituição que receberia ali aprovação diocesana e depois, estando ele já em Madri como capelão real, a aprovação pontifícia. Sacerdote prudente e audaz, pacífico e aberto ao diálogo, entregou sua vida por causa da fé na madrugada de 28 de julho de 1936, identificando-se: "Sou sacerdote de Cristo" perante aqueles que o conduziriam ao martírio.
 
Salmodia, leitura, responsório breve e preces do dia corrente.

Oração
Senhor nosso Deus, que concedestes a são Pedro Poveda, fundador da Instituição Teresiana, impulsionar a ação evangelizadora dos cristãos mediante a educação e a cultura, e entregar a sua vida no martírio como «sacerdote de Jesus Cristo»; concedei-nos que saibamos, como ele, participar fielmente da missão da Igreja com o testemunho de nossa vida cristã e a entrega generosa ao anúncio de vosso Reino. Por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.

Quarta-feira da 17ª semana do Tempo Comum

 São Pedro Poveda Castroverde, Presbítero e mártir - Fundador da Instituição Teresiana

1ª Leitura (Ex 34,29-35): Quando Moisés descia do monte Sinai, trazendo nas mãos as duas tábuas da Lei, não sabia que o seu rosto irradiava luz, depois de se encontrar com o Senhor. Aarão e todos os filhos de Israel, ao olharem para Moisés, viram que o seu rosto irradiava luz e temeram aproximar-se dele. Então Moisés chamou-os. Aarão e todos os chefes da comunidade aproximaram-se e Moisés falou com eles. Depois todos os filhos de Israel se aproximaram e ele transmitiu-lhes todas as ordens que tinha recebido do Senhor no monte Sinai. Quando Moisés acabou de lhes falar, cobriu o rosto com um véu. Sempre que Moisés comparecia na presença do Senhor para falar com Ele, tirava o véu até sair de lá. Então comunicava aos filhos de Israel as ordens que recebera. Mas como os filhos de Israel viam que o rosto de Moisés irradiava luz, ele voltava a cobrir o rosto com o véu, até voltar a entrar de novo na Tenda para falar com o Senhor.

Salmo Responsorial: 98

R. Vós sois santo, Senhor, nosso Deus.

Aclamai o Senhor, nosso Deus, prostrai-vos a seus pés: Ele é santo.

Moisés e Aarão estão entre os seus sacerdotes e Samuel entre os que invocam o seu nome; invocavam o Senhor e Ele os atendia.

Falava-lhes da coluna de nuvem; eles observavam os seus mandamentos e os preceitos que lhes dera.

Aclamai o Senhor, nosso Deus e prostrai-vos diante da sua montanha santa: é santo o Senhor, nosso Deus.

Aleluia. Eu chamo-vos amigos, diz o Senhor, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai. Aleluia.

Evangelho (Mt 13,44-46): Naquele tempo, Jesus disse às pessoas: «O Reino dos Céus é como um tesouro escondido num campo. Alguém o encontra, deixa-o lá bem escondido e, cheio de alegria, vai vender todos os seus bens e compra aquele campo. O Reino dos Céus é também como um negociante que procura pérolas preciosas. Ao encontrar uma de grande valor, ele vai, vende todos os bens e compra aquela pérola».

«Vai vender todos os seus bens e compra aquele campo»

Rev. D. Enric CASES i Martín (Barcelona, Espanha)

Hoje, Mateus põe à nossa consideração duas parábolas sobre o Reino dos Céus. O anúncio do Reino é essencial na prédica de Jesus e na esperança do povo eleito. Mas é notório que a natureza desse Reino não era entendida pela maioria. Não a entendia o sinédrio que o condenaram à morte, não a entendiam Pilatos, nem Herodes, também não a entenderam de início os próprios discípulos. Só se encontra uma compreensão como a que Jesus pede ao bom ladrão, cravado junto dele na Cruz, quando lhe diz: «Jesus, Lembra-te de mim quando estiveres no teu Reino» (Lc 23,42). Ambos tinham sido acusados como malfeitores e estavam quase a morrer; mas, por um motivo que desconhecemos, o bom ladrão reconhece Jesus como Rei de um Reino que virá depois daquela terrível morte. Só podia ser um Reino espiritual.

Jesus, na sua primeira prédica, fala do Reino como um tesouro escondido cuja descoberta causa alegria e estimula à compra do campo para poder gozar dele para sempre: «cheio de alegria, vai vender todos os seus bens e compra aquele campo» (Mt 13,44). Mas, ao mesmo tempo, alcançar o Reino requer procurá-lo com interesse e esforço, ao ponto de vender tudo o que se possui: «Ao encontrar uma de grande valor, ele vai vende todos os bens e compra aquela pérola» (Mt 13,46). «A propósito de que se diz buscai e quem busca. Encontra? Arrisco a ideia de que se trata das pérolas e a pérola, pérola que adquire o que deu tudo e aceitou perder tudo» (Orígenes).

O Reino é de paz, amor justiça e liberdade. Alcançá-lo é, por um lado, dom de Deus e por outro lado, responsabilidade humana. Diante da grandeza do dom divino constatamos a imperfeição e instabilidade dos nossos esforços, que às vezes ficam destruídos pelo pecado, as guerras e a malicia que parecem insuperáveis. Não obstante, devemos ter confiança, pois o que parece impossível para o homem é possível para Deus.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje traz mais duas pequenas parábolas do Sermão das Parábolas. As duas são semelhantes entre si, mas com diferenças significativas para esclarecer melhor determinados aspectos do Mistério do Reino que está sendo revelado através destas parábolas.

* Mateus 13,44: A parábola do tesouro escondido no campo. Jesus conta uma história bem simples e bem curta que poderia acontecer na vida de qualquer um de nós. Ele diz: “O Reino do Céu é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra, e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens, e compra esse campo”. Jesus não explica. Ele só diz: O Reino do Céu é como um tesouro escondido no campo”. Assim, ele provoca os ouvintes a partilhar com os outros o que esta história nele suscitou. Partilho alguns pontos que descobri: (1) O tesouro, o Reino, já está no campo, já está na vida. Está escondida. Passamos e pisamos por cima sem nos dar conta. (2) O homem encontrou o tesouro. Foi puro acaso. Ele não esperava encontrá-lo, pois não estava procurando. (3) Ao descobrir que se trata de um tesouro muito importante, o que ele faz? Faz o que todo mundo faria para ter o direito de poder apropriar-se do tesouro. Ele vai, vende tudo que tem e compra o campo. Assim, junto com o campo adquiriu o tesouro, o Reino. A condição é vender tudo! (4) Se o tesouro, o Reino, já estava na vida, então é um aspecto importante da vida que começa a ter um novo valor. (5) Nesta história, o que predomina é a gratuidade. O tesouro é encontrado por acaso, para além das programações nossas. O Reino acontece! E se acontece, você ou eu temos que tirar as consequências e não permitir que este momento de graça passe sem dar fruto.

* Mateus 13,45-46: A parábola do comprador de pedras preciosas. A segunda parábola é semelhante à primeira mas tem uma diferença importante. Tente descobri-la. A história é a seguinte: “O Reino do Céu é também como um comprador que procura pérolas preciosas. Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens, e compra essa pérola”.  Partilho alguns pontos que descobri: (1) Trata-se de um comerciante de pérolas. A profissão dele é buscar pérolas. Ele só faz isso na vida: buscar e encontrar pérolas. Buscando, ele encontra uma pérola de grande valor. Aqui a descoberta do Reino não é puro acaso, mas fruto de longa busca. (2) Comerciante de pérola entende do valor das pérolas, pois muitas pessoas querem vender para ele as pérolas que encontraram. Mas o comerciante não se deixa enganar. Ele conhece o valor da sua mercadoria. (3) Quando ele encontra uma pérola de grande valor, ele vai e vende tudo que tem e compra essa pérola. O Reino é o valor maior.

* Resumindo o ensinamento das duas parábolas. As duas tem o mesmo objetivo: revelar a presença do Reino, mas cada uma revela uma maneira diferente de o Reino mostrar a sua presença: através de descoberta da gratuidade da ação de Deus em nós, e através do esforço e da busca que todo ser humano faz para ir descobrindo cada vez melhor o sentido da sua vida.

Para um confronto pessoal

1) Tesouro escondido: já encontrou alguma vez? Já vendeu tudo para poder adquiri-la?

2) Buscar pérolas: qual a pérola que você busca e ainda não encontrou?