quinta-feira, 31 de outubro de 2024

2 de novembro: Comemoração de todos os fiéis defuntos

1ª Leitura (Sab Job 19, 1.23-27a ):
Job tomou a palavra e disse: «Quem dera que as minhas palavras fossem escritas num livro, ou gravadas em bronze com estilete de ferro, ou esculpidas em pedra para sempre! Eu sei que o meu Redentor está vivo e no último dia Se levantará sobre a terra. Revestido da minha pele, estarei de pé; na minha carne verei a Deus. Eu próprio O verei, meus olhos O hão de contemplar».
 
Salmo Responsorial: 26
R. Espero contemplar a bondade do Senhor na terra dos vivos.
 
O Senhor é minha luz e salvação: a quem hei de temer? O Senhor é o protetor da minha vida: de quem hei de ter medo?
 
Uma coisa peço ao Senhor, por ela anseio: habitar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para gozar da suavidade do Senhor e visitar o seu santuário.
 
Ouvi, Senhor, a voz da minha súplica, tende compaixão de mim e atendei-me. A vossa face, Senhor, eu procuro: não escondais de mim o vosso rosto.
 
Espero vir a contemplar a bondade do Senhor na terra dos vivos. Confia no Senhor, sê forte. Tem coragem e confia no Senhor.
 
2ª Leitura (Rom 2 Cor 4, 14 – 5, 1 ): Como sabemos, irmãos, Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos há-de ressuscitar com Jesus e nos levará convosco para junto d’Ele. Tudo isto é por vossa causa, para que uma graça mais abundante multiplique as ações de graças de um maior número de cristãos para glória de Deus. Por isso, não desanimamos. Ainda que em nós o homem exterior se vá arruinando, o homem interior vai-se renovando de dia para dia. Porque a ligeira aflição dum momento prepara-nos, para além de toda e qualquer medida, um peso eterno de glória. Não olhamos para as coisas visíveis, olhamos para as invisíveis: as coisas visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas. Bem sabemos que, se esta tenda, que é a nossa morada terrestre, for desfeita, recebemos nos Céus uma habitação eterna, que é obra de Deus e não é feita pela mão dos homens.
 
Aleluia. Bendito sejais, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque revelastes aos pequeninos os mistérios do reino. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 23,33.39-43): Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, ali crucificaram Jesus e os malfeitores: um à sua direita e outro à sua esquerda. Um dos malfeitores crucificados o insultava, dizendo: Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós! Mas o outro o repreendeu: Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma pena? Para nós, é justo sofrermos, pois estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim, quando começares a reinar. Ele lhe respondeu: Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso
 
«Construís os túmulos dos profetas! No entanto, foram vossos pais que os mataram»
 
Fr. Agustí BOADAS Llavat OFM (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho recorda o fato fundamental do Cristianismo: a morte e ressurreição de Jesus. Façamos nossa, agora, a oração do Bom Ladrão: Jesus, lembra-te de mim (Lc 23, 42). A Igreja não reza pelos santos como ora pelos defuntos, que dormem no Senhor, mas encomenda-se às orações daqueles e reza por estes, diz Sto. Agostinho num Sermão. Pelo menos uma vez por ano nós, os cristãos, questionamo-nos sobre o sentido da nossa vida e sobre o sentido da nossa morte e ressurreição. É no dia da comemoração dos fiéis defuntos, da qual Sto. Agostinho nos apontou a diferença em relação à festa de Todos os Santos.
 
Os sofrimentos da Humanidade são os sofrimentos da Igreja e têm em comum, sem dúvida, o fato de todo o sofrimento ser de algum modo privação de vida. Por isso a morte de um ser querido nos causa uma dor tão indescritível que nem a fé sozinha consegue aliviá-la. Assim, os homens sempre quiseram honrar os defuntos. Na verdade, a memória é uma forma de fazer com que os ausentes estejam presentes, de perpetuar a sua vida. Mas os mecanismos psicológicos e sociais, com o tempo, amortecem as recordações. E se, humanamente, esse fato pode levar à angústia, os cristãos, graças à ressurreição, têm paz. A vantagem de nela crermos é que nos permite confiar em que, apesar do esquecimento, voltaremos a encontrar-nos na outra vida.
 
Uma segunda vantagem de crermos consiste em que, ao recordar os defuntos, rezamos por eles. Fazemo-lo no nosso interior, na intimidade com Deus, e cada vez que rezamos juntos, na Eucaristia: não estamos sós perante o mistério da morte e da vida, antes o compartilhamos como membros do Corpo de Cristo. Mais ainda: ao ver a cruz, suspensa entre o céu e a terra, sabemos que se estabelece uma comunhão entre nós e os nossos defuntos. Por isso S. Francisco proclamou agradecido: Louvado sejas, Senhor, pela nossa irmã, a morte corporal.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Por que duvidar que os nossos sacrifícios pelos defuntos lhes levem algum consolo? Não hesitemos, pois, em socorrer os que já partiram e em oferecer as nossas orações por eles» (São João Crisóstomo)
 
«Finalmente seremos revestidos pela alegria, paz e amor de Deus de uma forma completa, sem qualquer limite, e estaremos cara a cara com Ele! É belo pensar nisto! Pensar no céu é belo. Dá força à alma» (Francisco)
 
«A comunhão com os defuntos. Reconhecendo claramente esta comunicação de todo o Corpo místico de Cristo, a Igreja dos que ainda peregrinam venerou, com muita piedade, desde os primeiros tempos do cristianismo, a memória dos defuntos; e, porque é um pensamento santo e salutar rezar pelos mortos, para que sejam livres de seus pecados, por eles ofereceu também sufrágios. A nossa oração por eles pode não só ajudá-los, mas também tornar mais eficaz a sua intercessão em nosso favor» (Catecismo da Igreja Católica, nº 958)
 
 A morte deve ser para o cristão a pedra de toque de sua vida.
 
*
Lendo o livro “Há um outro mundo” do judeu-católico convertido André Frossard encontramos uma perfeita profissão de fé na vida eterna e na transitoriedade da vida humana com luzes na eternidade da vida em Deus: “Os cemitérios não passam de vestíbulos da ressurreição. A morte é um abrir e fechar os olhos, o intervalo praticamente inexistente que separa a sombra da luz nas bem-aventuranças do Evangelho: Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados; apenas terminado o prelúdio que se passa nesta terra, realiza-se a promessa”.
 
* Celebramos hoje a festa da esperança cristã: a esperança na vida eterna, na vida em Deus. A morte não é a última palavra, mas é a primeira palavra na constância do Criador, no teatro em que monta com a presença querida da Trindade Santíssima, do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A vitória sobre a morte é o critério da esperança de todos os cristãos. Se Cristo morreu na Cruz por nossa salvação Ele pavimentou nosso acesso ao Reino dos Céus. Basta que cada um de nós faça a sua parte, colaborando no mistério da vida eterna que se inicia aqui e agora neste vale de lágrimas. Muitos incréus pensam que a morte é o fim. Pelo contrário, para o cristão a morte é o início da vida eterna: “a vida não é tirada, mas a vida é transformada”, conforme nos ensina o prefácio da liturgia de hoje: “Nele (Jesus) brilhou para nós a esperança da feliz ressurreição. E, aos que a certeza da morte entristece, a promessa da imortalidade consola!”.(Cf. Prefácio 75 do Missal Romano).
 
* Ser justo é estar na palma da mão de Deus. E o homem que foi justo em vida está preparando a sua entrada na vida em Deus. Conforme gosta sempre de lembrar o Cardeal Dom Serafim Fernandes de Araújo: “quem pratica a justiça está na palma da mão de Deus”. Quem, em vida, mesmo no último minuto, teve um gesto de arrependimento e começou a conduzir a sua vida pela justiça é digno de entrar no reino dos Justos, no reino dos Céus.
 
* Estar unido em Cristo é configurar a sua paixão, morte e ressurreição. Caminhar com Cristo pelo teatro da paixão, da morte e da ressurreição é preparar-se para ir para o céu, para estar junto daquele que irrompeu a morte anunciando a vida, não a vida transitória, mas a vida eterna.
 
* Não podemos viver com a perspectiva de sermos assumidos pelo Espírito de Deus, para ressuscitar com um corpo não carnal, mas espiritual (Cf. 1 Cor 15,44ss), se não nos acostumarmos ao Espírito desde já. O corpo espiritual de que Paulo exorta é a presença “ao modo de Deus”. Este é o nosso destino.
 
* A morte deve ser para o cristão a pedra de toque de sua vida. Dá seriedade à sua vida. Valoriza, na vida, o que ultrapassa os limites da matéria, que é só para esta vida. No Evangelho da primeira Missa de finados, Jo 11,17-27, o episódio da morte de Lázaro é muito significativo para a nossa caminhada de fé, de fé na vida eterna. Marta disse categoricamente: “Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o filho de Deus, que devia vir ao mundo”(Cf. Jo 11,27). Trocando em miúdos a declaração de Marta nada mais é do que afirmar categoricamente que Jesus é a vida eterna, Ele é o caminho para a nossa salvação, Ele é a vida que não se acaba jamais. Quem vê Jesus vê a Deus. Quem aceita a fé de Jesus, não precisa esperar a vida do além para ver Deus, já vê Deus aqui e agora na sua vida comunitária, no seu irmão excluído, nas pequenas e belas coisas do cotidiano. Deus está presente em tudo e em todos, porque “Deus é bom, é misericordioso, é a paz!”.
 
* Na primeira leitura(cf. Jó 19,1.23-27a) os amigos de Jó tentam consolá-lo, recorrendo a uma sabedoria superficial, expressa em frases feitas e lugares comuns. É o que tantas vezes acontece quando pretendemos confortar alguém que sofre. As palavras de Jó são muito diferentes. No meio do sofrimento, vendo-se às portas da morte e trespassado pela solidão, compreende que Deus é o seu redentor, aquele parente próximo que, segundo os costumes hebreus, deve comprometer-se a resgatar, à sua própria custa, ou a vingar, o seu familiar em caso de escravidão, de pobreza, de assassínio. Jó sente Deus como o seu último e definitivo defensor, como alguém que está vivo e se compromete em favor do homem que morre, porque entre Deus e o homem há uma espécie de parentesco, um vínculo indissolúvel. Jó afirma-o com vigor: os seus olhos contemplarão a Deus com a familiaridade de quem não é estranho à sua vida.
 
* São Paulo encoraja-nos a vivermos positivamente o mistério da morte, confrontando-nos com ela todos os dias, aceitando-a como lei de natureza e de graça, para sermos progressivamente despojados do que deve perecer até nos vermos milagrosamente transformados no que devemos ser. Deste modo, a “morte quotidiana” revela-se um nascimento: o lento declínio e o pôr-do-sol tornam-se aurora luminosa. Todos os sofrimentos, canseiras e tribulações da vida fazem parte desta “morte quotidiana” que nos levará à vida imortal. Havemos de viver fixando os olhos na bem-aventurada esperança, confiando na fidelidade do Senhor, que nos prometeu a eternidade. Vivendo assim, quando chegar ao termo desta vida, não veremos descer as trevas da noite, mas veremos erguer-se a aurora da eternidade, onde teremos a alegria de nos sentir uma só coisa com o Senhor. Depois de muitas tribulações, seremos completamente seus, e essa pertença será plena bem-aventurança na visão do seu rosto. Para o cristão, o sofrimento é um tempo de “disponibilidade pura”, de “pura oblação” e, ao mesmo tempo, uma forma eminente de apostolado, em união a Cristo vítima, na comunhão dos santos, para salvação do mundo. Vivendo assim, prepara-se, assim, para o supremo ato de oblação, para o último apostolado, o da morte: configurados “a Cristo na morte” (Fil 3, 10) (Cf. Cst n. 69).Se a morte de Cristo na Cruz é o ato de apostolado mais eficaz, que remiu o mundo, o mesmo se pode dizer da morte do cristão em união com a morte de Cristo. Não se quer com isto dizer que, sob o ponto de vista humano, a morte do cristão deva ser uma “morte bonita”, tal como não foi bonita, com certeza, a morte de Cristo aos olhos dos homens. Foi, pelo contrário, uma “liturgia esquálida”, de abandono e de desolação. O importante é que seja uma morte “para Cristo e em Cristo” (S. Inácio de Antioquia, SC 10, 132). Imolados com Ele, com Ele ressuscitaremos.
 
* No dia de finados nós vamos aos cemitérios visitar os túmulos de nossos entes queridos, daqueles que nos precederam no chamado de Deus.
No cemitério repousam pessoas que tiveram um determinante significado na nossa existência. Muitos de nós têm nos cemitérios, talvez, parentes muito próximos, possivelmente os próprios pais de quem recebestes a vida. Por isso voltam neste momento à memória de cada um, emergindo do passado, como com o desejo de reencetar um diálogo que a morte interrompeu bruscamente. Deste modo, no cemitério — como ocorre hoje, dia dos Defuntos, nos outros cemitérios cristãos de qualquer parte do mundo — forma-se uma admirável assembleia, na qual os vivos se encontram com os seus defuntos, e com eles consolidam os vínculos de uma comunhão que a morte não pôde romper. Comunhão real, não ilusória. Garantida por Cristo, que quis viver na sua carne a experiência da nossa morte, para triunfar sobre ela, inclusivamente com proveito para nós, com o prodigioso acontecimento da ressurreição. “Por que buscais entre os mortos Aquele que vive? Não está aqui, ressuscitou” (Lc 24, 5-6). O anúncio dos Anjos, proclamado naquela manhã de Páscoa, junto do sepulcro vazio, chegou através dos séculos até nós. Esse anúncio propõe-nos, também nesta assembleia litúrgica, o motivo essencial da nossa esperança. De fato, “se morrermos em Cristo — recorda-nos São Paulo ao aludir ao que foi realizado no batismo — com Ele também havemos de viver” (Rom 6, 8). Corroborados nesta certeza, elevamos ao céu — embora entre os sepulcros de um cemitério — o canto do Aleluia, que é o canto da vitória. Os nossos defuntos “vivem com Cristo”, depois de terem sido sepultados com Ele na morte” (cf. Rom 6, 4). Para eles o tempo da prova terminou, cedendo o lugar ao tempo da recompensa. Por isso — apesar da sombra de tristeza provocada pela nostalgia da sua presença visível — alegramo-nos ao saber que chegaram já à serenidade da “pátria”.
 
* Festa de finados é festa de todos os que morreram em Deus, daqueles que foram testemunhas da fé cristã. Eles nos precederam na fé. Aparecem como luzes a indicar o caminho, como exemplos de fé, de amor e de fidelidade. Brota, então, o desejo de imitá-los, de segui-los no mesmo caminho. A comunidade eclesial, portanto, intercede a Deus para que manifeste a sua bondade e misericórdia para com os que já terminaram a sua carreira nesta terra. A Santa Igreja vive, então, a realidade do Corpo místico de Cristo, manifestado na Igreja peregrina, na Igreja padecente e na Igreja Triunfante. A Igreja Santa reza pelos falecidos, pedindo que Deus lhes conceda o repouso eterno, a participação do convívio eterno com Ele.
 
* Não peçamos a vida terrena. Peçamos a Deus o dom de aceitar e viver a realidade da morte como a vida em Deus, para que superando a mortalidade desta vida e contemplando eternamente a Cristo Redentor de todos possamos cantar: “Não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim!” Amém!
 
REZEMOS PELOS FALECIDOS
Deus de amor, de bondade e de compaixão, / marcados pela saudade daqueles que se foram, / voltamos para vós nosso coração, repleto de tristeza, mas também de esperança. / Sabemos que a morte não tem a última palavra sobre nós. / Vosso Filho Jesus, ressurgindo dos mortos, deu a vida a todo ser humano. / Nós cremos na vida e não na morte. / Por isso, Pai Santo, queremos agradecer por tudo de bom que nos destes neles. / Que sua memória permaneça entre nós como uma bênção. / Perdoai-lhes os pecados, / acolhei-os junto a vós / e consolai nosso coração com a esperança da vida que não se acaba. / Amém.

quarta-feira, 30 de outubro de 2024

1º de novembro: Todos os Santos

1ª Leitura (Ap 7,2-4.9-14):
Leitura do Apocalipse de São João Eu, João, vi um Anjo que subia do Nascente, trazendo o selo do Deus vivo. Ele clamou em alta voz aos quatro Anjos a quem foi dado o poder de causar dano à terra e ao mar: «Não causeis dano à terra, nem ao mar, nem às árvores, até que tenhamos marcado na fronte os servos do nosso Deus». E ouvi o número dos que foram marcados: cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel. Depois disto, vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas. Estavam de pé, diante do trono e na presença do Cordeiro, vestidos com túnicas brancas e de palmas na mão. E clamavam em alta voz: «A salvação ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro». Todos os Anjos formavam círculo em volta do trono, dos Anciãos e dos quatro Seres Vivos. Prostraram-se diante do trono, de rosto por terra, e adoraram a Deus, dizendo: «Amém! A bênção e a glória, a sabedoria e a ação de graças, a honra, o poder e a força ao nosso Deus, pelos séculos dos séculos. Amém!». Um dos Anciãos tomou a palavra e disse-me: «Esses que estão vestidos de túnicas brancas, quem são e de onde vieram?». Eu respondi-lhe: «Meu Senhor, vós é que o sabeis». Ele disse-me: «São os que vieram da grande tribulação, os que lavaram as túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro».
 
Salmo Responsorial: 23
R. Esta é a geração dos que procuram o Senhor.
 
Do Senhor é a terra e o que nela existe, o mundo e quantos nele habitam. Ele a fundou sobre os mares e a consolidou sobre as águas.
 
Quem poderá subir à montanha do Senhor? Quem habitará no seu santuário? O que tem as mãos inocentes e o coração puro, o que não invocou o seu nome em vão.
 
Este será abençoado pelo Senhor e recompensado por Deus, seu Salvador. Esta é a geração dos que O procuram, que procuram a face de Deus.
 
2ª Leitura (1Jo 3,1-3): Caríssimos: Vede que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamar filhos de Deus. E somo-lo de facto. Se o mundo não nos conhece, é porque não O conheceu a Ele. Caríssimos, agora somos filhos de Deus e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Mas sabemos que, na altura em que se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porque O veremos tal como Ele é. Todo aquele que tem n’Ele esta esperança purifica-se a si mesmo, para ser puro, como Ele é puro.
 
Aleluia. Vinde a Mim, vós todos os que andais cansados e oprimidos e Eu vos aliviarei, diz o Senhor. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 5,1-12a): Naquele tempo, Vendo as multidões, Jesus subiu à montanha e sentou-se. Os discípulos aproximaram-se, e ele começou a ensinar: Felizes os pobres no espírito, porque deles é o Reino dos Céus. Felizes os que choram, porque serão consolados. Felizes os mansos, porque receberão a terra em herança. Felizes os que têm fome e sede da justiça, porque serão saciados. Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia. Felizes os puros de coração, porque verão a Deus. Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus. Felizes sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus. Pois foi deste modo que perseguiram os profetas que vieram antes de vós.
 
«Alegrai-vos e exultai»
 
Mons. F. Xavier CIURANETA i Aymí Bispo Emérito de Lleida (Lleida, Espanha)
 
Hoje, celebramos a realidade de um mistério salvador, expresso no credo, que se torna muito consolador: Creio na comunhão dos santos. Todos os santos que já passaram para a vida eterna, a começar pela Virgem Maria, formam uma unidade: Felizes os puros de coração, porque verão a Deus (Mt 5,8). E também estão, ao mesmo tempo, em comunhão conosco. A fé e a esperança não podem unir-nos, porque eles já gozam da visão eterna de Deus; mas une-nos, por outro lado, o amor que não passa nunca (1Cor 13,13); esse amor que nos une, juntamente com eles, ao mesmo Pai, ao mesmo Cristo Redentor e ao mesmo Espírito Santo. O amor que os torna solidários e solícitos para conosco. Portanto, não veneramos os santos somente pela sua exemplaridade, mas sobretudo pela unidade no Espírito de toda a Igreja, que se fortalece com a prática do amor fraterno.
 
Por esta profunda unidade, devemos sentir-nos perto de todos os santos que, antes de nós, acreditaram e esperaram o mesmo que nós cremos e esperamos e, acima de tudo, amaram Deus Pai e os seus irmãos, os homens, procurando imitar o amor de Cristo.
 
Os santos apóstolos, os santos mártires, os santos confessores que viveram ao longo da história são, portanto, nossos irmãos e intercessores; neles se cumpriram as palavras proféticas de Jesus: Felizes sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus, (Mt 5,11-12). Os tesouros da sua santidade são bens de família, com que podemos contar. São estes os tesouros do céu, que Jesus convida a juntar (cf. Mt 6,20). Como afirma o Concílio Vaticano II, A nossa fraqueza é assim grandemente ajudada pela sua solicitude de irmãos (Lumen gentium, 49). Esta solenidade traz-nos uma notícia reconfortante, que nos convida à alegria e à festa.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«A divindade é pureza, é libertação das paixões e remoção de todo mal: se tudo isso está em você, então Deus está realmente em você» (São Gregório de Nissa)
 
«Não estamos sozinhos; estamos rodeados por uma grande nuvem de testemunhas: com elas formamos o Corpo de Cristo» (Bento XVI)
 
«A sexta bem-aventurança proclama: ‘Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus’ (Mt 5, 8). Os ‘puros de coração’ são os que puseram a sua inteligência e a sua vontade de acordo com as exigências da santidade de Deus, principalmente em três domínios: a caridade; a castidade ou retidão sexual; o amor da verdade e a ortodoxia da fé. Existe um nexo entre a pureza do coração, do corpo e da fé» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.518)
 
"Bem-aventurados”
 
Fr. Pedro Bravo, O.Carm
 
*
Mateus apresenta Jesus como o novo Moisés, o Filho de Deus, o único que conhece o Pai e, por isso, o único que sabe que o Pai realmente quer e que no-lo pode ensinar (11,27). E assim como a Lei tem cinco rolos, também Mateus reúne cinco discursos de Jesus, começando aqui o primeiro, o Sermão da Montanha (Mt 5-7).
 
* v. 1(vv. 1-12: Lc 6,20-26). Ao dizer que Jesus “vê”, Mateus evoca Deus que “viu” a escravidão e conhece o sofrimento do seu povo (Ex 3,7). Anota também o alcance universal da obra e da mensagem de Jesus que se destina a todos, judeus ou não-judeus, “as multidões” (no plural: 9,36; cf. Lc 6,17). E assim como Moisés subiu por duas vezes o Sinai para receber a Lei e a dar ao seu povo (Ex 19,3;24,15.18; 34,4), também Jesus sobe “ao monte” a fim de nos dar a nova Lei. Aí “senta-se” para falar como a Sabedoria (Jo 6,3; Pv 9,14). “Os discípulos aproximaram-se dele”: Mateus alude a Moisés quando este desceu pela segunda vez do Sinai, trazendo as tábuas da Lei, e “todos os filhos de Israel se aproximaram e ele transmitiu-lhes todos os mandamentos que o Senhor lhe tinha dito no monte” (Ex 34,32).
 
* O fato, porém, de Jesus ter subido ao monte com os discípulos e não sozinho (como Moisés, as duas vezes que subiu ao Sinai: Ex 19,12s; 34,3), evoca antes Moisés a subir ao Monte Nebo para daí contemplar a Terra prometida que Deus lhe mostra (Nm 27,12), depois de lhe anunciar que, após a sua morte, será Josué (gr. “Jesus”) a introduzir nela o seu povo, para lha dar como herança e aí o apascentar (Nm 27,15-23; Dt 31,7). Jesus é o Salvador enviado por Deus para libertar a humanidade do sofrimento da escravidão da morte, que mostra aos seus discípulos, logo no início, o Reino onde os introduzirá, após a sua morte e ressurreição, para aí os apascentar com a sua Palavra.
 
v. 2.Como a sabedoria (v. 1), Jesus “abre a boca” (Sr 24,2) e “ensina”, como rabbi (23,8), mas com autoridade (7,29), explicando o verdadeiro sentido da Palavra de Deus (22,16) e mostrando como praticá-la, de modo que todo o povo possa compreender (cf. Ne 8,8).
É com as bem-aventuranças, a mais sublime expressão da espiritualidade humana, que se abre o Sermão da Montanha. A “bem-aventurança” é uma felicitação que aparece nas exortações a uma vida sábia (Pv 3,13; 8,34; Sl 1,1), em ações de graças (Sl 32,1s; 33,9; 84,6.13) e nos anúncios proféticos da alegria messiânica futura, dada por Deus (Is 30,18; 32,20). São “oito”, o número da eternidade, rematadas por uma nona, que as recapitula (cf. Sr 25,7-10). Formam quatro pares, tocando uma mais o amor a Deus e a outra o amor ao próximo, rematadas pela última. Cada uma começa pela afirmação, seguindo-se uma promessa sinónima do Reino, o dom de Deus por excelência. As Bem-aventuranças são nove janelas através das quais já se vislumbra aqui na terra a meta: o Reino dos céus; são as portas que nele introduzem, as vias para nele avançar. Não há outro meio para entrar no Reino e nele caminhar, seguindo Jesus, senão identificando-se com alguma delas.
 
v. 3. Bem-aventurados os pobres em espírito. Não são felizes os ricos, nem os pobres com mentalidade de ricos, mas os que, como Jesus, vivem pobres (8,18; Sf 3,12), acreditam nos pobres (11,25s) e neles veem os primeiros destinatários da Boa Nova (Lc 4,18). Pobres em espírito são os que reconhecem que nada é seu, mas tudo é dom de Deus (1Co 4,7; Tg 1,17) e que, por isso, nada reservam para si, sendo capazes de partilhar. São aqueles que, por livre escolha, deixam tudo, inclusive a si mesmos, para totalmente se darem a Deus e aos irmãos. Deles é o Reino dos céus (v. 10; 18,3s; 23,8-12; Mc 10,14; Lc 18,16s; Tg 2,5). O verbo está no presente, indicando que eles já entram no Reino aqui na terra.
 
v. 4. Bem-aventurados os que choram. Os que “choram” são os que, sem casa para habitar e campos para cultivar, são obrigados a servir senhores sem escrúpulos, sofrendo prepotências e humilhações (Is 61,7). São os que choram com os que sofrem; os que choram o seu pecado e o pecado do seu povo, porque sabem que ele é a verdadeira causa da sua ruína (Is 22,4; Tb 13,14). “Porque serão consolados” (Sl 126,5s; Sr 48,24) por Deus (Is 51,12; 66,13; 2 Cor 1,3-7; 2Ts 2,16s), através de Cristo (Is 40,2; 61,1ss).
 
v. 5.Bem-aventurados os mansos. “Mansos” (Sl 37,11) são os que foram privados dos seus direitos e bens, e que, embora não se resignando, sofrem e suportam a injustiça, sem recorrer à violência. São os humildes que não se deixam levar pela ira, nem cultivam sentimentos de ódio ou de vingança (11,29; Nm 12,3). “Porque herdarão a terra” (Sl 37,22.29; 44,4; Is 57,13; 60,21; 61,7), não a terrena, prometida a Abraão e à sua descendência (Gn 15,7; Lv 20,24; dir-se-ia “possuirão”), mas a herança definitiva do Reino dos céus, para onde peregrinam como estrangeiros sobre a terra (Lv 25,23; 1Cor 6,9 s; Gl 5,21; Fl 3,20; Hb 11,13-16).
 
v. 6. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça. Jesus não fala aqui da justiça humana, mas da justiça de Deus, isto é, da Sua vontade que tem o seu fundamento no amor a Ele e se traduz em relações fraternas de amor ao próximo. Deus não é justo porque retribui segundo os méritos, mas porque, com o seu amor, “torna justos” os maus. É justo porque não faz acepção de pessoas e “quer que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). Para nós, a “justiça foi feita” quando o culpado foi punido e recebeu o castigo merecido; para Deus, a “justiça foi feita” quando o pecador se tornou justo, o pequeno foi ouvido, o necessitado ajudado; o oprimido libertado. A justiça de Deus é sempre vida e salvação. “Porque serão saciados” (Sl 4,8; 63,2.6; 107,8s; Is 41,17-20; 44,3; 49,9-10; 55,1-3; 66,11; Lc 1,53; Jo 6,35).
 
v. 7. Bem-aventurados os misericordiosos. Misericordioso não é só o filantropo que distribui esmolas, mas o que imita a Deus, tendo entranhas de misericórdia para com aquele que sofre (Ex 34,6s). Na Bíblia, mais que um sentimento de compaixão, a misericórdia é uma ação em favor de quem necessita de ajuda (Ex 22,26; Sl 112,4; Lc 1,54.72). “Misericórdia” é ter um coração que vê a miséria do outro e age para diminuir a sua dor (Lc 10,29-37). Misericordioso é quem perdoa as ofensas, ama e faz o bem, mesmo aos inimigos (Lc 6,35-38). “Porque alcançarão misericórdia” (Tg 2,13; 1Pd 2,10; 1Tm 1,13.16; cf. Sl 37,26).
 
v. 8. Bem-aventurados os puros de coração. Puros de coração são os que agem com intenção reta e leal, sem maldade (15,17-20; 23,25s; Is 1,16.25), nem duplicidade ou segundas intenções, para enganar os outros, mas com simplicidade (Gn 20,5; Sl 24,4), procurando ter uma atitude e um comportamento em tudo conforme à vontade de Deus. É o que rejeita os ídolos (Ez 36,25), mesmo o próprio eu e o dinheiro, para amar a Deus de coração indiviso, não tendo dois senhores; é o que não julga ou guardando rancor ao outro (Rm 2,1ss), mas dá o que possuiu (Lc 11,41) e faz o bem, sem acepção de pessoas (Tt 1,15). “Porque verão a Deus” (Hb 12,14), ou seja, “verão”, nesta terra, o Reino de Deus (Jo 3,3) e o Seu amor em ação (1Jo 3,1ss; cf. Ex 34,6s).
 
v. 9. Bem-aventurados os artífices da paz. Na Bíblia, “paz” não é a mera ausência da guerra; é a plenitude de todos os bens prometidos por Deus: a harmonia com Ele, com os outros, consigo mesmo e com a criação. Implica a justiça, a boa convivência entre as pessoas e as nações; a casa, o trabalho, a educação, a saúde, a prosperidade, a alegria de estar juntos. “Artífice da paz” é o que se empenha para que isto seja cada vez mais possível para cada pessoa. “Bem-aventurado” é o que o faz sem recorrer à opressão ou à violência; o que promove o diálogo, o entendimento e a reconciliação; que perdoa de coração e faz o bem a quem lhe fez mal; o que não busca o próprio interesse, mas o bem, a concórdia e a união fraternas (Ef 4,3). “Porque serão chamados filhos de Deus”, porque imitam Cristo, nossa paz (Mq 5,4; Is 9,6; Ef 2,14).
 
v. 11: Lc 6,22. Jesus acrescenta uma última bem-aventurança, a nona, que é o desdobramento da anterior e a síntese de todas as outras. Nela, Jesus passa da terceira pessoa, para a segunda pessoa do plural, dirigindo-se apenas aos discípulos, advertindo-os que serão odiados, rejeitados e sofrerão perseguições (10,22s; 23,34; 24,9; Mc 10,30; 13,13; 21,12.16s; Lc 11,49; Jo 15,20; At 9,16; 14,22; 2Tm 3,12; cf. Mt 13,21). Num mundo construído e organizado a partir do egoísmo, do poder, dos interesses pessoais ou de grupos, aqueles que desejam viver de verdade o amor desinteressado do Pai, serão insultados, perseguidos, ridicularizados, difamados (Is 51,7; At 8,1; 13,50; Rm 8,35; 2Cor 4,9), podendo mesmo chegar a pagar com a própria vida o seu empenho.
 
v. 12: Lc 6,23. A perseguição não é, porém, para Jesus, sinal de desaire, mas de sucesso, sendo mesmo um motivo de alegria desde já (1Pd 3,14; Ap 19,7; cf. At 5,41; 2Cor 12,10; Fl 1,29; Cl 1,24; Hb 10,34; Tg 1,2) porque mostra que se fez a escolha certa, aquela que está do lado de Deus, identificando-se com Jesus. Os seus discípulos serão como os profetas que, apesar de perseguidos (At 7,52; Hb 11,33-38; Tg 5,10s), serviram a Deus de forma desinteressada, não à espera de uma recompensa pessoal, mas apenas por amor a Ele e ao Seu povo, confiando sempre nele, sem nada mais querer do que a glória de Deus e a salvação dos homens. A sua recompensa é grande (Gn 15,1; 2Cor 4,17; Hb 10,35; cf. Sr 2,8), porque é o próprio Deus (cf. Is 62,11; 49,4). 
 
Que me diz Deus nesta Palavra?
1. É possível ser pobre e feliz ao mesmo tempo? Que tipo de felicidade buscam as pessoas do nosso tempo?
3. Procure recordar os momentos em que se sentiu feliz na sua vida. A sua visão de felicidade é a mesma de Jesus? Como alcançá-la?
4. Com que bem-aventurança se identifica mais? E menos?
5. Como viveu Jesus as bem-aventuranças? Como as vivo eu no meu dia a dia? De que maneira Maria me pode inspirar?

terça-feira, 29 de outubro de 2024

Quinta-feira da 30ª semana do Tempo Comum

Sto. Afonso Rodríguez, religioso
 
1ª Leitura (Ef 6,10-20):
Irmãos: Fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos da armadura de Deus, para poderdes resistir às ciladas do demónio. Porque nós não temos de lutar contra adversários de carne e osso, mas contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo de trevas, contra os espíritos do mal que habitam as regiões celestes. Portanto, irmãos, tomai a armadura de Deus, para poderdes resistir no dia mau e perseverar firmes, superando todas as provas. Permanecei bem firmes, de rins cingidos com o cinturão da verdade, revestidos com a couraça da justiça, de pés calçados com o zelo de anunciar o Evangelho da paz. Tende sempre nas mãos o escudo da fé, com o qual podereis apagar as setas inflamadas do Maligno. Tomai o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus. Orai em todo o tempo, movidos pelo Espírito Santo, com toda a espécie de orações e súplicas. Perseverai nas vossas vigílias, com preces por todos os cristãos. Orai também por mim, para que, ao falar, me seja concedida a palavra, a fim de anunciar com firmeza o mistério do Evangelho, do qual sou embaixador nas minhas algemas. Possa eu de facto anunciá-lo com firmeza, como é meu dever.
 
Salmo Responsorial: 143
R. Bendito seja o Senhor, rochedo do meu refúgio.
 
Bendito seja o Senhor, o rochedo do meu refúgio, que adestra as minhas mãos para a luta e os meus dedos para o combate.
 
O Senhor é meu amparo e minha cidadela, meu baluarte e meu libertador. Ele é meu escudo e meu abrigo e submete os povos ao meu poder.
 
Hei de cantar-Vos, meu Deus, um cântico novo, hei de celebrar-Vos ao som da harpa, a Vós que dais aos reis a vitória e salvastes David, vosso servo.
 
Aleluia. Bendito o que vem em nome do Senhor: Paz no céu e glória nas alturas. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 13,31-35): Naquela hora, alguns fariseus aproximaram-se e disseram a Jesus: Sai daqui, porque Herodes quer te matar. Ele disse: Ide dizer a essa raposa: eu expulso demônios e faço curas hoje e amanhã; e no terceiro dia chegarei ao termo. Entretanto, preciso caminhar hoje, amanhã e depois de amanhã, pois não convém que um profeta morra fora de Jerusalém. Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a galinha reúne os pintainhos debaixo das asas, mas não quiseste! Vede, vossa casa ficará abandonada. Eu vos digo: não mais me vereis, até que chegue o tempo em que digais: Bendito aquele que vem em nome do Senhor.
 
«Jerusalém, Jerusalém! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, mas não quiseste!»
 
Rev. D. Àngel Eugeni PÉREZ i Sánchez (Barcelona, Espanha)
 
Hoje podemos admirar a firmeza de Jesus no cumprimento da missão encomendada pelo Pai do céu. Ele não se deteve por nada: Eu expulso demônios e faço curas hoje e amanhã (Lc 13,32). Com esta atitude, o Senhor marcou a pauta de conduta que ao longo dos séculos seguiriam os mensageiros do Evangelho ante as persecuções: não se dobrar ante o poder temporário. Santo Agostinho disse que, em tempo de persecuções, os pastores não devem abandonar os fiéis: nem os que sofrerão o martírio nem os que sobreviverão como o Bom Pastor, que quando vê que vem o lobo, não abandona o rebanho, senão que o defende. Mas visto o fervor com que todos os pastores da Igreja se dispunham a derramar o seu sangue, indica que o melhor será jogar a sorte quem dos clérigos se entregarão ao martírio e quais se porão a salvo para logo cuidarem dos sobreviventes.
 
Na nossa época, com frequência, nos chegam notícias de persecuções religiosas, violências tribais ou revoltas étnicas em países do Terceiro Mundo. As embaixadas ocidentais aconselham aos seus concidadãos que abandonem a região e repatriem o seu pessoal. Os únicos que permanecem são os missioneiros e as organizações de voluntários, porque para eles pareceria uma traição abandonar os seus em momentos difíceis.
 
Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes eu quis reunir teus filhos, como a galinha reúne os pintainhos debaixo das asas, mas não quiseste! (Lc 13,34-35). Esse lamento do Senhor produz em nós, os cristãos do século XXI, uma tristeza especial, devido ao sangrento conflito entre judeus e palestinos. Para nós, essa região do Próximo Oriente é a Terra Santa, a terra de Jesus e de Maria. E o clamor pela paz em todos os países deve ser mais intenso e sentido pela paz em Israel e Palestina.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Deus pede-te fé, não quer a tua morte; Ele anseia pela tua entrega, não pelo teu sangue; é apaziguado, não com a tua morte; mas com a tua boa vontade» (São Pedro Crisólogo)
 
«Jerusalém é a esposa, é a noiva do Senhor: Ele a amava muito! Mas ela não percebe as visitas do Senhor e faz o Senhor chorar. Jerusalém cai por distração, por não receber o Senhor que vem salvá-la» (Francisco)
 
«(…) nas vésperas da sua paixão, Jesus anunciou a ruína deste esplêndido edifício, do qual não ficaria pedra sobre pedra (381). Há aqui o anúncio dum sinal dos últimos tempos, que vão iniciar-se com a sua própria Páscoa (382) (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 585)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
*
O evangelho de hoje nos faz sentir o contexto ameaçador e perigoso no qual Jesus vivia e trabalhava. Herodes, o mesmo que tinha matado João Batista, quer matar Jesus.
 
* Lucas 13,31: O aviso dos fariseus a Jesus. “Nesse momento, alguns fariseus se aproximaram, e disseram a Jesus: "Deves ir embora daqui, porque Herodes quer te matar". É importante notar que Jesus recebeu o aviso da parte dos fariseus. Algumas vezes, os fariseus estão juntos com o grupo de Herodes querendo matar Jesus (Mc 3,6; 12,13). Mas aqui, eles são solidários com Jesus e querem evitar a morte dele. Naquele tempo, o poder do rei era absoluto. Ele não prestava conta a ninguém da sua maneira de governar. Herodes já tinha matado a João Batista e agora está querendo acabar também com Jesus.
 
* Lucas 13,32-33: A resposta de Jesus. “Jesus disse: "Vão dizer a essa raposa: eu expulso demônios, e faço curas hoje e amanhã; e no terceiro dia terminarei o meu trabalho”. A resposta de Jesus é muito clara e corajosa. Ele chama Herodes de raposa. Para anunciar o Reino Jesus não depende da licença das autoridades políticas. Ele até manda um recado informando que vai continuar seu trabalho hoje e amanhã e que só vai embora depois de amanhã, isto é, no terceiro dia. Nesta resposta transparece a liberdade de Jesus frente ao poder que queria impedi-lo da realizar a missão recebida do Pai. Pois quem determina os prazos e a hora é Deus e não Herodes! Ao mesmo tempo, na resposta transparece um certo simbolismo relacionado com a morte e a ressurreição ao terceiro dia em Jerusalém. E para dizer que não vai ser morto na Galileia, mas sim em Jerusalém, capital do seu povo, e que vai ressuscitar no terceiro dia.
 
* Lucas 13,34-35: Lamento de Jesus sobre Jerusalém. "Jerusalém, Jerusalém, você que mata os profetas e apedreja os que lhe foram enviados! Quantas vezes eu quis reunir seus filhos, como a galinha reúne os pintinhos debaixo das asas, mas você não quis!”   Este lamento de Jesus sobre a capital do seu povo evoca a longa e triste história da resistência das autoridades aos apelos de Deus que chegavam a elas através de tantos profetas e sábios. Em outro lugar Jesus fala dos profetas perseguidos e mortos desde Abel até Zacarias (Lc 11,51). Chegando em Jerusalém pouco antes da sua morte, olhando a cidade do alto do Monte das Oliveiras, Jesus chora sobre ela, porque ela não reconheceu o tempo em que Deus veio para visitá-la." (Lc 19,44).
 
Para um confronto pessoal
1) Jesus qualifica o poder político como raposa. O poder político do seu país merece esta qualificação?
2) Jesus tentou muitas vezes converter o povo de Jerusalém, mas as autoridades religiosas resistiram. E eu, quanto vezes resisti?

segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Quarta-feira da 30ª semana do Tempo Comum

Bta Maria Teresa de São José, virgem, fundadora das Irmãs Carmelitas do Divino Coração de Jesus.

1ª Leitura (Ef 6,1-9):
Filhos, obedecei aos vossos pais, no Senhor, como é justo: «Honra pai e mãe» é o primeiro mandamento acompanhado de uma promessa: «para que sejas feliz e tenhas vida longa sobre a terra». Pais, não exaspereis os vossos filhos, mas educai-os com a disciplina e os conselhos inspirados pelo Senhor. Servos, obedecei aos vossos senhores terrenos, como a Cristo, com temor e respeito e na simplicidade de coração; não com a submissão aparente de quem pretende agradar aos homens, mas como servos de Cristo, que com toda a alma fazem a vontade de Deus. Servi de bom grado, como se servísseis ao Senhor e não a homens, pois sabeis que cada um receberá do Senhor a recompensa do bem que tiver praticado, quer seja escravo ou homem livre. E vós, senhores, tratai os vossos servos do mesmo modo; evitai as ameaças, pois sabeis que tanto eles como vós tendes o mesmo Senhor, que está no Céu e não faz distinção de pessoas.
 
Salmo Responsorial: 144
R. O Senhor é fiel em todas as suas palavras.
 
Graças Vos deem, Senhor, todas as criaturas e bendigam-Vos os vossos fiéis. Proclamem a glória do vosso reino e anunciem os vossos feitos gloriosos;
 
Para darem a conhecer aos homens o vosso poder, a glória e o esplendor do vosso reino. O vosso reino é um reino eterno, o vosso domínio estende-se por todas as gerações.
 
O Senhor é fiel à sua palavra e perfeito em todas as suas obras. O Senhor ampara os que vacilam e levanta todos os oprimidos.
 
Aleluia. Deus chamou-nos por meio do Evangelho, para alcançarmos a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 13,22-30): Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o caminho para Jerusalém. Alguém lhe perguntou: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” Ele respondeu: ”Esforçai-vos por entrar pela porta estreita. Pois eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta! ’. Ele responderá: ‘Não sei de onde sois’. Então começareis a dizer: ‘Comemos e bebemos na tua presença, e tu ensinaste em nossas praças! ’. Ele, porém, responderá: ‘Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim, todos vós que praticais a iniquidade! ’ E ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac e Jacó, junto com todos os profetas, no Reino de Deus, enquanto vós mesmos sereis lançados fora. Virão muitos do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. E assim há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão último».
 
”Esforçai-vos por entrar pela porta estreita.”
 
Rev. D. Lluís RAVENTÓS i Artés (Tarragona, Espanha)
 
Hoje, a caminho de Jerusalém, Jesus se detém um momento e alguém aproveita para perguntar: «Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?» (Lc 13,23). Talvez, ao escutar a Jesus, aquele homem se inquietou. Realmente, o que Jesus ensina é maravilhoso e atrativo, mas as exigências que admite já não são tão de seu agrado. Mas, e se vivesse o Evangelho à sua vontade, com una “moral a la carte”?, que probabilidades teria de se salvar?
 
Assim pois, pergunta: «Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?» Jesus não aceita esta sugestão. A salvação é uma questão muito séria como para ser resolvida mediante um cálculo de probabilidades. DEUS «não quer que ninguém se perca, e sim que todos se convertam» (2Pe 3,9).
 
Jesus responde: «Esforçai-vos por entrar pela porta estreita. Pois eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. ‘Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta! ’. Ele responderá: ‘Não sei de onde sois’.» (Lc 13,24-25). Como podem ser ovelhas de seu rebanho se não seguem ao Bom Pastor, nem aceitam o Magistério da Igreja? «Ele, porém, responderá: ‘Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim, todos vós que praticais a iniquidade! E ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac e Jacó, junto com todos os profetas, no Reino de Deus, enquanto vós mesmos sereis lançados fora.» (Lc 13,27-28).
 
Nem Jesus, nem a Igreja temem que a imagem de Deus Pai seja manchada ao revelar o mistério do inferno. Como afirma o Catecismo da Igreja, «as afirmações da Sagrada Escritura e os ensinamentos da Igreja a propósito do inferno são um chamado à responsabilidade com a qual o homem deve usar sua liberdade em relação com seu destino eterno. Constituem ao mesmo tempo um rápido chamado à conversão» (n. 1036).
 
“Deixemos de brincar de espertos” e de fazer cálculos. Preocupemo-nos por entrar pela porta estreita, voltando a começar tantas vezes quantas sejam necessárias, confiados em sua misericórdia «Todo isso, que te preocupa de momento — diz são Josemaria — importa más o menos — O que importa absolutamente é que seja feliz, que te salves».
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Ó Jesus escondido, Amor eterno, a nossa Vida, Divino Insensato que se esqueceu de Si próprio e só a nós nos vês: por que é tão pequeno o número daqueles que Te conhecem? Por que não encontras reciprocidade? Ó Amor Divino, por que escondes a Tua beleza?» (Santa Faustina Kowalska)
 
«A passagem à vida eterna está aberta a todos, mas é 'estreita' porque é exigente, requer esforço, abnegação, mortificação do próprio egoísmo» (Bento XVI)
 
«As afirmações da Sagrada Escritura e os ensinamentos da Igreja a respeito do Inferno são um apelo ao sentido de responsabilidade com que o homem deve usar da sua liberdade, tendo em vista o destino eterno. Constituem, ao mesmo tempo, um apelo urgente à conversão (...)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.036)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
*
O evangelho de hoje traz mais um episódio acontecido durante a longa caminhada de Jesus desde a Galileia até Jerusalém, cuja descrição ocupa mais de uma terça parte do evangelho de Lucas (Lc 9,51 a 19,28).
 
* Lucas 13,22: A caminho de Jerusalém. “Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo caminho para Jerusalém”.  Mais uma vez Lucas menciona que Jesus está a caminho de Jerusalém. Durante os dez capítulos que descrevem a viagem até Jerusalém (Lc 9,51 a 19,28), Lucas, constantemente, lembra que Jesus está a caminho de Jerusalém (Lc 9,51.53.57; 10,1.38; 11,1; 13,22.33; 14,25; 17,11; 18,31; 18,37; 19,1.11.28). O que é claro e definido, desde o começo, é o destino da viagem: Jerusalém, a capital, onde Jesus será preso e morto (Lc 9,31.51). Raramente, informa o percurso e os lugares por onde Jesus passava. Só no começo da viagem (Lc 9,51), no meio (Lc 17,11) e no fim (Lc 18,35; 19,1), ficamos sabendo algo a respeito do lugar por onde Jesus estava passando. Deste modo, Lucas sugere o seguinte ensinamento: temos que ter claro o objetivo da nossa vida, e assumi-lo decididamente como Jesus fez. Devemos caminhar. Não podemos parar. Nem sempre, porém, é claro e definido por onde passamos. O que é certo é o objetivo: Jerusalém, onde nos aguarda o “êxodo” (Lc 9,31), a paixão, morte e ressurreição.
 
* Lucas 13,23: A pergunta sobre os número dos que se salvam. Nesta caminhada para Jerusalém acontece de tudo: informações sobre massacres e desastres (Lc 13,1-5), parábolas (Lc 13,6-9.18-21), discussões (Lc 13,10-13) e, no evangelho de hoje, perguntas do povo: "Senhor, é verdade que são poucos aqueles que se salvam?"  Sempre a mesma pergunta em torno da  salvação!
 
* Lucas 13,24-25: A porta estreita. Jesus diz que a porta é estreita: "Façam todo o esforço possível para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo: muitos tentarão entrar, e não conseguirão”.  Será que Jesus diz isto só para encher-nos de medo e obrigar-nos a observar a lei como ensinavam os fariseus? O que significa esta porta estreita? De que porta se trata? No Sermão da Montanha Jesus sugere que a entrada para o Reino tem oito portas. São as oito categorias de pessoas das bem-aventuranças: (1) pobres em espírito, (2) mansos, (3) aflitos, (4) famintos e sedentos de justiça, (5) misericordiosos, (6) puros de coração, (7) construtores da paz e (8) perseguidos por causa da justiça (Mt 5,3-10). Lucas as reduziu para quatro: (1) pobres, (2) famintos, (3) tristes e (4) perseguidos (Lc 6,20-22). Só entra no Reino quem pertence a uma destas categorias enumeradas nas bem-aventuranças. Esta é a porta estreita. É o novo olhar sobre a salvação que Jesus nos comunica. Não há outra porta! Trata-se da conversão que Jesus pede de nós. Ele insiste: "Façam todo o esforço possível para entrar pela porta estreita, porque eu lhes digo: muitos tentarão entrar, e não conseguirão. Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vocês vão ficar do lado de fora. E começarão a bater na porta, dizendo: Senhor, abre a porta para nós! E ele responderá: Não sei de onde são vocês”. Enquanto a hora do julgamento não chegar, é tempo favorável para a conversão, para mudar nossa visão sobre a salvação e entrar em uma das oito categorias.
 
* Lucas 13,26-28: O trágico mal-entendido. Deus responde aos que batem na porta: “Não sei de onde são vocês”. Mas eles insistem e argumentam: Nós comíamos e bebíamos diante de ti, e tu ensinavas em nossas praças! Não basta ter convivido com Jesus, de ter participado da multiplicação dos pães e de ter escutado seus ensinamentos nas praças das cidades e povoados. Não basta ter ido à igreja e de ter participado das instruções do catecismo. Deus responderá: Não sei de onde são vocês. Afastem-se de mim, todos vocês que praticam injustiça!”. Mal-entendido trágico e falta total de conversão, de compreensão. Jesus declara injustiça aquilo que os outros consideram ser coisa justa e agradável a Deus. É uma visão totalmente nova sobre a salvação. A porta é realmente estreita.
 
* Lucas 13,29-30: A chave que explica o mal-entendido. “Muita gente virá do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. Vejam: há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos".  Trata-se da grande mudança que se operou com a vinda de Deus até nós em Jesus. A salvação é universal e não só do povo judeu. Todos os povos terão acesso e poderão passar pela porta estreita.
 
Para um confronto pessoal
1) Ter o objetivo claro e caminhar para Jerusalém: Será que tenho objetivos claros na minha vida  ou deixo-me levar pelo vento do momento da opinião pública?
2) A porta é estreita. Qual a visão que tenho da Deus, da vida, da salvação?

domingo, 27 de outubro de 2024

30 de outubro

 Beata Maria Teresa de São José
Virgem, fundadora das Irmãs Carmelitas do Divino Coração de Jesus.
 
A beata Maria Teresa de São José cujo nome do batismo era Anna Maria Tauscher. Nasceu em 1855, em Sandow, então Alemanha e hoje Polônia, filha e neta de pastores luteranos. Desde muito jovem queria consagrar-se por inteiro ao serviço de Deus e da evangelização, adorava a presença de Cristo na Eucaristia, amava a são José e defendia a virgindade perpétua de Nossa Senhora antes, inclusive, de ter qualquer contato com católicos ou com a doutrina católica. Sua definitiva conversão ao catolicismo teve lugar depois de ler o Livro da Vida de santa Teresa de Jesus. Expulsa da família, pobre e enferma, incompreendida pelas autoridades religiosas, nunca desanimou. Depois de muitos sofrimentos e decepções, pode fundar uma congregação religiosa de espiritualidade carmelitana ao serviço dos necessitados: as Irmãs Carmelitas do Divino Coração de Jesus. Confiando sempre na Divina Providência, ela mesma fundou numerosas casas em vários países da Europa e América. Foi beatificada em 2006.
 
Salmodia, Leitura, Responsório breve e Preces do Dia Corrente.
 
Oração
Deus onipotente e misericordioso que inspirastes à beata Maria Teresa de São José um zelo admirável ao serviço de vosso povo, concedei-nos, por sua intercessão, a graça de trabalhar com o mesmo amor para a edificação da Igreja, mesmo em meio das dificuldades. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco, na unidade do Espírito Santo.

 

Terça-feira da 30ª semana do Tempo Comum

1ª Leitura (Ef 5,21-33):
Irmãos: Sede submissos uns aos outros no temor de Cristo. As mulheres submetam-se aos maridos como ao Senhor, porque o marido é a cabeça da mulher, como Cristo é a cabeça da Igreja, seu Corpo, do qual é o Salvador. Ora, como a Igreja se submete a Cristo, assim também as mulheres se devem submeter em tudo aos maridos. Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela. Ele quis santificá-la, purificando-a no baptismo da água pela palavra da vida, para a apresentar a Si mesmo como Igreja cheia de glória, sem mancha nem ruga, nem coisa alguma semelhante, mas santa e imaculada. Assim devem os maridos amar as suas mulheres, como os seus corpos. Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo. Ninguém, de facto, odiou jamais o seu corpo, antes o alimenta e lhe presta cuidados, como Cristo à Igreja; porque nós somos membros do seu Corpo. Por isso, o homem deixará pai e mãe, para se unir à sua mulher, e serão dois numa só carne. É grande este mistério, digo-o em relação a Cristo e à Igreja. Portanto, cada um de vós ame a sua mulher como a si mesmo e a mulher respeite o marido.
 
Salmo Responsorial: 18
R. Felizes os que esperam no Senhor.
 
Feliz de ti, que temes o Senhor e andas nos seus caminhos. Comerás do trabalho das tuas mãos, serás feliz e tudo te correrá bem.
 
Tua esposa será como videira fecunda no íntimo do teu lar; teus filhos serão como ramos de oliveira ao redor da tua mesa.
 
Assim será abençoado o homem que teme o Senhor. De Sião te abençoe o Senhor: vejas a prosperidade de Jerusalém todos os dias da tua vida.
 
Aleluia. Bendito sejais, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque revelastes aos pequeninos os mistérios do reino. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 13,18-21): Naquele tempo, Jesus dizia: A que é semelhante o Reino de Deus, e com que poderei compará-lo? É como um grão de mostarda que alguém pegou e semeou no seu jardim: cresceu, tornou-se um arbusto, e os pássaros do céu foram fazer ninhos nos seus ramos. Jesus disse ainda: Com que mais poderei comparar o Reino de Deus? É como o fermento que uma mulher pegou e escondeu em três porções de farinha, até tudo ficar fermentado.
 
«A que é semelhante o Reino de Deus»
 
Rev. D. Francisco Lucas MATEO Seco (Pamplona, Navarra, Espanha)
 
Hoje, os textos da liturgia, mediante duas parábolas, põem diante de nossos olhos uma das características próprias do Reino de Deus: é algo que cresce lentamente - como um grão de mostarda - mas que chega a ser grande ao ponto de oferecer refúgio às aves do céu. Assim o manifestava Tertuliano: Somos de ontem e enchemos tudo!. Com essa parábola, Nosso Senhor exorta à paciência, à fortaleza e à esperança. Essas virtudes são particularmente necessárias a aqueles que se dedicam à propagação do Reino de Deus. É necessário saber esperar a que a semente plantada, com a graça de Deus e com a cooperação humana, vá crescendo, aprofundando suas raízes na boa terra y elevando-se pouco a pouco até converter-se em árvore. Faz falta, em primeiro lugar, ter fé na virtualidade -fecundidade-contida na semente do Reino de Deus. Essa semente é a Palavra; é também a Eucaristia, que se semeia em nós mediante a comunhão. Nosso Senhor Jesus Cristo se comparou a si mesmo com : verdade, em verdade vos digo; se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer produz muito fruto;(Jo 12,24).
 
O Reino de Deus prossegue Nosso Senhor, é semelhante, é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e misturou em três medidas de farinha e toda a massa ficou levedada (Lc 13,21). Também aqui se fala da capacidade que tem a levedura de fazer fermentar toda a massa. Assim sucede com : o resto de Israel, de que se fala no Antigo Testamento: o resto salvará e fermentará a todo o povo. Seguindo com a parábola, só é necessário que o fermento esteja dentro da massa, que chegue ao povo, que seja como o sal capaz de preservar da corrupção e de dar bom sabor a todo alimento (cf. Mt 5,13). Também é necessário dar tempo para que a levedura realize seu labor.
 
Parábolas que animam a paciência e a esperança; parábolas que se referem ao Reino de Deus e à Igreja, e que se aplicam também ao crescimento deste mesmo Reino em cada um de nós.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Confiança e fé viva guardam a alma, pois quem acredita e espera alcançará todas as coisas» (Santa Teresinha do Menino Jesus)
 
«A vitória do Senhor é certa, o seu amor fará crescer cada semente do bem presente na terra» (Francisco)
 
«(...) É justo e bom orar para que a vinda do Reino da justiça e da paz influencie a marcha da história; mas também é importante levedar pela oração a massa das humildes situações quotidianas (...)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.660)
 
Reflexão
 
Do Portal Dehonianos
 
* Depois de se ter manifestado como senhor do tempo, ao curar a mulher curvada em dia de sábado, Jesus manifesta-se como o «hoje» da salvação que se realiza no amor.
O reino de Deus está no meio de nós. As duas parábolas do texto evangélico que escutamos hoje revelam-nos duas características desse reino: a sua grande expansão e a sua força transformadora.
 
* Entre as várias narrativas parabólicas que Lucas coloca ao narrar a caminhada de Jesus para Jerusalém, apenas estas duas se referem ao reino de Deus. Esse reino tem uma grande expansão no mundo, graças à pregação dos discípulos. Os modestos começos do ministério de Jesus têm um grande desenvolvimento: a sua palavra que ecoa no mundo inteiro e da qual todos recebem vida, é comparável à árvore cósmica de Daniel (4,7a-9), cuja imagem é evocada no crescimento do arbusto de mostarda (vv. 18s.).
 
* Outra característica do reino de Deus é a sua força intrínseca, que realiza um crescimento qualitativo no mundo. Como um pouco de fermento escondido na massa inerte de farinha provoca o seu crescimento, assim o reino de Deus, pela evangelização animada pelo poder do Espírito Santo, transforma todo o mundo, sem qualquer discriminação.
 
* As parábolas sobre o Reino animam-nos à confiança e à paciência. À confiança, porque o Senhor nos revela que o reino de Deus cresce em nós. É semelhante a uma pequena semente, mas tem uma grande força, semelhante à de um pouco de fermento que faz levedar três medidas de farinha. O fermento não se vê, mas atua em segredo, tal como a semente está escondida na terra, mas está viva e pode dar origem a uma grande árvore.
 
* O Reino tem, pois, uma grande força dinâmica. Ora, esta força está em nós, porque Deus está em nós, atua em nós para transformar a nossa vida. Por enquanto não vemos o que faz: está escondido, é segredo, mas certamente faz grandes coisas.
 
* A única condição é misturar o fermento em todas as medidas de farinha, como faz a mulher ao amassar. Fora de comparações: devemos guardar em nós este fermento e misturá-lo na nossa vida na oração, na reflexão, na decisão firme; devemos amassar sempre em nós o bom trigo do Evangelho com a nossa vida, não separar a nossa vida da palavra do Senhor, confrontar-nos em todas as situações com as propostas de Jesus, com a sua presença em nós.
 
* O fermento é, também, o pão eucarístico que cada dia nos é oferecido. Recebendo o Corpo real de Cristo, podemos deixar-nos transformar em cada vez mais, e mais profundamente, no Corpo Místico de Cristo.
 
* Acolhendo em nós o Palavra e o Pão, podemos caminhar com confiança e paciência rumo à santidade e pôr-nos ao serviço do Senhor, «contribuir para instaurar o reino da justiça e da caridade cristã no mundo» (Cst. 32), para que, «a comunidade humana, santificada pelo Espírito Santo, se torne uma oblação agradável a Deus (cf. Rm 15,16)» (Cst. 31). Assim seremos fermento, luz, sal, testemunhas da «presença de Cristo» entre os homens e do «Reino de Deus que vem» (Cst. 50) ou, «com a graça de Deus, pela nossa vida religiosa, dar um testemunho profético, empenhando-nos sem reserva, no advento da nova humanidade em Jesus Cristo» (Cst n. 39).                                                   
 
Para um confronto pessoal
1) Estou ciente de que o Reino de Deus está presente entre nós e que cresce misteriosamente e se espalha na história de cada homem, na igreja?
2) Percebi das duas parábolas que o Reino não pode ser vislumbrado por si se eu não tomar uma atitude de escuta humilde e silenciosa?

sábado, 26 de outubro de 2024

28 de outubro: São Simão e São Judas, apóstolos

1ª Leitura (Ef 2,19-22):
Irmãos: Já não sois estrangeiros nem hóspedes, mas sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o alicerce dos Apóstolos e dos Profetas, que tem Cristo como pedra angular. Em Cristo, toda a construção, bem ajustada, cresce para formar um templo santo do Senhor; e em união com Ele, também vós sois integrados na construção, para vos tornardes, no Espírito Santo, morada de Deus.
 
Salmo Responsorial: 18
R. A sua mensagem ressoou por toda a terra.
 
Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. O dia transmite ao outro esta mensagem e a noite a dá a conhecer à outra noite.
 
Não são palavras nem linguagem cujo sentido se não perceba. O seu eco ressoou por toda a terra e a sua notícia até aos confins do mundo.
 
Aleluia. Nós Vos louvamos, ó Deus; nós Vos bendizemos, Senhor. O coro glorioso dos Apóstolos canta os vossos louvores. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 6,12-19): Naqueles dias, Jesus foi à montanha para orar. Passou a noite toda em oração a Deus. Ao amanhecer, chamou os discípulos e escolheu doze entre eles, aos quais deu o nome de apóstolos: Simão, a quem chamou Pedro, e seu irmão André; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado zelote; Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que se tornou o traidor. Jesus desceu com eles da montanha e parou num lugar plano. Ali estavam muitos dos seus discípulos e uma grande multidão de gente de toda a Judéia e de Jerusalém, e do litoral de Tiro e Sidônia. Vieram para ouvi-lo e serem curados de suas doenças. Também os atormentados por espíritos impuros eram curados. A multidão toda tentava tocar nele, porque dele saía uma força que curava a todos.
 
«Jesus foi à montanha para orar»
 
Rev. D. Albert TAULÉ i Viñas (Barcelona, Espanha)
 
Hoje contemplamos um dia inteiro da vida de Jesus. Uma vida que tem duas vertentes claras: a oração e a ação. Se a vida do cristão há de imitar a vida de Jesus, não podemos prescindir de ambas as dimensões. Todos os cristãos, inclusive aqueles que têm se consagrado à vida contemplativa, temos de dedicar uns momentos à oração e outros à ação, ainda que varie o tempo que dediquemos a cada uma. Até os monges e as freiras de clausura dedicam bastante tempo de sua jornada a um trabalho. Em contrapartida, os que somos mais seculares, se desejamos imitar Jesus, não deveríamos nos mover numa ação desenfreada sem ungi-la com a oração. Ensina-nos São Jerónimo: «Embora o Apóstolo mandou-nos que orássemos sempre, (...) convém que destinemos umas horas determinadas a esse exercício».
 
É que Jesus precisava de longos momentos de oração em solitário quando todos dormiam? Os teólogos estudam qual era a psicologia de Jesus homem: até que ponto tinha acesso direto à divindade e até que ponto era «homem semelhante em tudo a nós, menos no pecado» (He 4,5). Na medida que o consideremos mais próximo, sua prática de oração será um exemplo evidente para nós.
 
Assegurada já a oração, só nos fica imitá-lo na ação. No fragmento de hoje, vemo-lo organizando a Igreja, quer dizer, escolhendo os que serão os futuros evangelizadores, chamados a continuar sua missão no mundo. «Ao amanhecer, chamou os discípulos e escolheu doze entre eles, aos quais deu o nome de apóstolos» (Lc 6,13). Depois encontramo-lo curando todo tipo de doença. «A multidão toda tentava tocar nele porque dele saía uma força que curava a todos» (Lc 6,19), diz-nos o evangelista. Para que nossa identificação com Ele seja total, unicamente nos falta que também saia de nós uma força que cure a todos, o que só será possível se estamos inseridos Nele, para que demos muitos frutos (cf. Jo 15,4)
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Cada alma humana é um templo de Deus: isto abre-nos uma perspectiva ampla e inteiramente nova. A vida de oração de Jesus é a chave para compreender a oração da Igreja» (Santa Teresa Benedita da Cruz)
 
«Tanto Simão, o cananeu, como Judas Tadeu, ajudem-nos a sempre redescobrir e viver incansavelmente a beleza da fé cristã, sabendo testemunhá-la com coragem e ao mesmo tempo com serenidade» (Bento XVI)
 
«(…) [Jesus] ora perante os momentos decisivos que vão comprometer a missão dos seus Apóstolos: antes de escolher e chamar os Doze (cf. Lc 6,12),, antes de Pedro O confessar como o ‘Cristo de Deus’ (Lc 9,18-20) e para que a fé do chefe dos Apóstolos não desfaleça na tentação (cf. Lc 22,32) (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.600)
 
Reflexão de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje traz dois assuntos:
(1) descreve a escolha dos doze apóstolos (Lc 6,12-16) e (2) informa que uma multidão imensa de gente queria encontrar-se com Jesus para ouvi-lo, tocar nele e ser curada (Lc 6,17-19).
 
Lucas 6,12-13: Jesus passa noite em oração e escolhe os doze apóstolos. Antes de fazer a escolha definitiva dos doze apóstolos, Jesus subiu a uma montanha e passou uma noite inteira em oração. Rezou para saber a quem escolher e escolheu os Doze, cujos nomes estão registrados nos evangelhos. A eles deu o título de apóstolo. Apóstolo significa enviado, missionário. Eles foram chamados para realizar uma missão, a mesma que Jesus recebeu do Pai (Jo 20,21). Marcos concretiza mais a missão e diz que Jesus os chamou para estar com ele e enviá-los em missão (Mc 3,14).
 
Lucas 6,14-16: Os nomes dos doze apóstolos. Com pequenas diferenças os nomes dos Doze são iguais nos evangelhos de Mateus (Mt 10,2-4), Marcos (Mc 3,16-19) e Lucas (Lc 6,14-16). Grande parte destes nomes vem do Antigo Testamento: Simeão é o nome de um dos filhos do patriarca Jacó (Gn 29,33). Tiago é o mesmo que o nome de Jacó (Gn 25,26). Judas é o nome de outro filho de Jacó (Gn 35,23). Mateus também se chamava Levi (Mc 2,14), que foi outro filho de Jacó (Gn 35,23). Dos doze apóstolos sete tem nome que vem do tempo dos patriarcas: duas vezes Simão, duas vezes Tiago, duas vezes Judas, e uma vez Levi! Isto revela a sabedoria do povo. Através dos nomes dos patriarcas e das matriarcas, dados aos filhos e filhas, eles mantinham viva a tradição dos antigos e ajudavam seus filhos a não perder a identidade. Quais os nomes que nós damos hoje para os nossos filhos e filhas?
 
*  Lucas 6,17-19: Jesus desce da montanha e a multidão o procura. Ao descer da montanha com os doze, Jesus encontrou uma multidão imensa de gente que o procurava para ouvir sua palavra e tocá-lo, porque dele saía uma força de vida. Nesta multidão havia judeus e estrangeiros, pois vinham da Judéia e também lá de Tiro e Sidônia. É o povo abandonado, desorientado. Jesus acolhe a todos que o procuram. Judeus e pagãos! Aqui transparece o ecumenismo, a abertura universal da missão, tema preferido de Lucas que escreve para pagãos convertidos.
 
As pessoas chamadas por Jesus, consolo para nós. Os primeiros cristãos lembraram e registraram os nomes dos Doze apóstolos e de outros homens e mulheres que seguiram Jesus de perto. Os Doze, chamados por Jesus para formar com ele a primeira comunidade, não eram santos. Eram pessoas comuns, como todos nós, com suas virtudes e seus defeitos. Os evangelhos informam muito pouco sobre o jeito e o caráter de cada um deles. Mas o pouco que informam é motivo de consolo para nós. 
* Pedro era uma pessoa generosa e entusiasta (Mc 14,29.31; Mt 14,28-29), mas na hora do perigo e da decisão, o coração dele encolhia e voltava atrás (Mt 14,30; Mc 14,66-72). Chegou a ser satanás (Mc 8,33) e pedra de tropeço (Mt 16,23). Negou Jesus na hora do perigo (Lc 22,56-62). Jesus deu a ele o apelido de Pedra . Pedro, ele por si mesmo, não era Pedra. Tornou-se pedra (rocha), porque Jesus rezou por ele (Lc 22,31-32).
Tiago João estavam dispostos a sofrer com e por Jesus (Mc 10,39), mas eram muito violentos (Lc 9, 54). Jesus os chamou “filhos do trovão” (Mc 3,17). João parecia ter um certo ciúme, pois queria Jesus só para o grupo dele e proibiu os outros usar o nome de Jesus para expulsar demônios (Mc 9,38).
* Filipe tinha um jeito acolhedor. Sabia colocar os outros em contato com Jesus (Jo 1,45-46), mas não era muito prático em resolver os problemas (Jo 12,20-22; 6,7). Às vezes, era meio ingênuo. Teve hora em que Jesus perdeu a paciência com ele: “Mas Filipe, tanto tempo que estou com vocês, e ainda não me conhece?” (Jo 14,8-9)
* André, irmão de Pedro e amigo de Filipe, era mais prático. Filipe recorre a ele para resolver os problemas (Jo 12,21-22). Foi André que chamou Pedro (Jo 1,40-41), e foi André que encontrou o menino com cinco pãezinhos e dois peixes (Jo 6,8-9).
* Bartolomeu parece ter sido o mesmo que Natanael. Este era bairrista e não podia admitir que algo de bom pudesse vir de Nazaré (Jo 1,46).
* Tomé foi capaz de sustentar sua opinião, uma semana inteira, contra o testemunho de todos os outros (Jo 20,24-25). Mas quando viu que estava equivocado, não teve medo de reconhecer seu erro (Jo 20,26-28). Era generoso, disposto a morrer com Jesus (Jo 11,16).
* Mateus ou Levi era publicano, cobrador de impostos, como Zaqueu (Mt 9,9; Lc 19,2). Os publicanos eram pessoas comprometidas com o sistema opressor da época.
* Simão, ao contrário, parece ter sido do movimento que se opunha radicalmente ao sistema que o império romano impunha ao povo judeu. Por isso tinha o apelido de Zelota (Lc 6,15). O grupo dos Zelotas chegou a provocar uma revolta armada contra os romanos.
* Judas era o que tomava conta do dinheiro do grupo (Jo 13,29). Ele chegou a trair Jesus.
* Tiago de Alfeu Judas Tadeu, destes dois os evangelhos nada informam a não ser o nome.
 
Para um confronto pessoal
1) Jesus passou a noite inteira em oração para saber a quem escolher, e escolheu estes doze! Qual a lição que você tira deste gesto de Jesus?
2) Os primeiros cristãos lembravam os nomes dos doze apóstolos que estavam na origem das suas comunidades. Você lembra dos nomes das pessoas que estão na origem da comunidade a que você pertence? Você lembra o nome de alguma catequista ou professora que foi significativa para a sua formação cristã. O que mais lembra delas: o conteúdo que lhe ensinaram ou o testemunho que deram?