terça-feira, 12 de novembro de 2024

14 de novembro – TODOS OS SANTOS DE NOSSA ORDEM

1ª Leitura (Flm 7-20):
Caríssimo: Tive grande alegria e consolação por causa da tua caridade, pois graças a ti, os cristãos sentem-se reconfortados. Por isso, embora tenha a liberdade em Cristo para te ordenar o que deves fazer, prefiro, em nome da caridade, fazer-te um pedido. Eu, Paulo, já ancião, e agora prisioneiro por amor de Cristo Jesus, rogo-te por este meu filho, Onésimo, que eu gerei na prisão. Em tempos, ele era inútil para ti, mas agora é útil para ti e para mim. Mando-o de volta para ti, como se fosse o meu próprio coração. Quisera conservá-lo junto de mim, para que me servisse, em teu lugar, enquanto estou preso por causa do Evangelho. Mas, sem o teu consentimento, nada quis fazer, para que a tua boa ação não parecesse forçada, mas feita de livre vontade. Talvez ele se tenha afastado de ti durante algum tempo, a fim de o recuperares para sempre, não já como escravo, mas muito melhor do que escravo: como irmão muito querido. É isto que ele é para mim e muito mais para ti, não só pela natureza, mas também aos olhos do Senhor. Portanto, se me consideras teu amigo, recebe-o como a mim próprio. Se ele te deu algum prejuízo ou te deve alguma coisa, põe-no na minha conta. Eu, Paulo, escrevo com a minha mão: eu pagarei; para não dizer que tu mesmo estás em dívida para comigo. Sim, irmão, dá-me esta alegria no Senhor; dá sossego ao meu coração por amor de Cristo.
 
Salmo Responsorial: 145
R. Feliz o homem que espera no Senhor.
 
O Senhor faz justiça aos oprimidos, dá pão aos que têm fome e a liberdade aos cativos.
 
O Senhor ilumina os olhos dos cegos, o Senhor levanta os abatidos, o Senhor ama os justos.
 
O Senhor protege os peregrinos, ampara o órfão e a viúva e entrava o caminho aos pecadores.
 
O Senhor reina eternamente; o teu Deus, ó Sião, é rei por todas as gerações.
 
Aleluia. Eu sou a videira, vós sois os ramos, diz o Senhor: se alguém permanece em Mim e Eu nele, dá muito fruto. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 17,20-25): Naquele tempo, os fariseus perguntaram a Jesus sobre o momento em que chegaria o Reino de Deus. Ele respondeu: «O Reino de Deus não vem ostensivamente. Nem se poderá dizer: Está aqui, ou: Está ali, pois o Reino de Deus está no meio de vós». E ele disse aos discípulos: «Dias virão em que desejareis ver um só dia do Filho do Homem e não podereis ver. Dirão: Ele está aqui ou: Ele está ali. Não deveis ir, nem correr atrás. Pois como o relâmpago de repente brilha de um lado do céu até o outro, assim também será o Filho do Homem, no seu dia. Antes, porém, ele deverá sofrer muito e ser rejeitado por esta geração»
 
«O Reino de Deus está no meio de vós»
 
Frei Josep Mª MASSANA i Mola OFM (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, os fariseus perguntam a Jesus uma coisa que interessou sempre como uma mistura de interesse, curiosidade, medo...: Quando virá o Reino de Deus? Quando será o dia definitivo, o fim do mundo, o retorno de Cristo para julgar aos vivos e aos mortos no juízo final?
 
Jesus disse que isso é imprevisível. O único que sabemos é que virá subitamente, sem avisar: «como o relâmpago»(Lc 17,24), um acontecimento repentino e ao mesmo tempo, cheio de luz e de glória. Enquanto às circunstâncias, a segunda chegada de Jesus permanece no mistério. Mas Jesus dá-nos uma pista autêntica e segura: desde agora, «o Reino de Deus está no meio de vós» (Lc 17,21). Ou: «dentro de nós».
 
O grande sucesso do último dia será um fato universal, mas também acontece no pequeno microcosmo de cada coração. É aí onde se tem que buscar o Reino. É no nosso interior onde está o Céu, onde temos de encontrar a Jesus.
 
Este Reino, que começará imprevisivelmente fora, pode começar já agora dentro de nós. O último dia configura-se já agora no interior de cada um. Se queremos entrar no Reino no dia final, temos de fazer entrar agora o Reino dentro de nós. Se queremos que Jesus naquele momento definitivo seja nosso juiz misericordioso, temos que fazer que Ele desde agora seja nosso amigo e hospede interior.
 
São Bernardo, no sermão de Advento, fala de três vindas de Jesus. A primeira vinda, quando se fez homem; a última, quando virá como juiz. Há uma vinda intermédia, que é a que tem lugar agora no coração de cada um de nós. É aí donde se fazem presentes, em relação pessoal e de experiência, a primeira e a última vinda. A sentencia que pronunciará Jesus no dia do Juízo, será a que agora ressoe no nosso coração. Aquilo que ainda não chegou, agora já é uma realidade.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Quando o dia já declinava para o pôr-do-sol, o Senhor entregou, na cruz, a alma que depois havia de recuperar, porque não a perdeu contra a sua vontade. Também estivemos representados ai!» (Santo Agostinho)
 
«Também o sofrimento, a cruz quotidiana da vida —a cruz do trabalho, da família, de fazer bem as coisas— esta pequena cruz quotidiana faz parte do Reino de Deus» (Francisco)
 
«Na Eucaristia (…) os pedidos que fazemos ao nosso Pai, diferentemente das orações da Antiga Aliança, apoiam-se no mistério da salvação já realizada, duma vez para sempre, em Cristo crucificado e ressuscitado» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.771)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
*
O evangelho de hoje traz uma discussão entre Jesus e os fariseus sobre o momento da vinda do Reino. Os evangelhos de hoje e dos próximos dias tratam da chegada do fim dos tempos.
 
* Lucas 17,20-21: O Reino no meio de nós. “Os fariseus perguntaram a Jesus sobre o momento em que chegaria o Reino de Deus. Jesus respondeu: "O Reino de Deus não vem ostensivamente. Nem se poderá dizer: Está aqui ou: está ali, porque o Reino de Deus está no meio de vocês". Os fariseus achavam que o Reino só poderia vir depois que povo tivesse chegado à perfeita observância da Lei de Deus. Para eles, a vinda do Reino seria a recompensa de Deus pelo bom comportamento do povo, e o messias viria de maneira bem solene como um rei, recebido pelo seu povo. Jesus diz o contrário. A chegada do Reino não pode ser observada como se observa a chegada dos reis da terra. Para Jesus, o Reino de Deus já chegou! Já está no meio de nós, independente do nosso esforço ou mérito. Jesus tem outro modo de ver as coisas. Tem outro olhar para ler a vida. Ele prefere o samaritano que vive na gratidão aos nove que acham que merecem o bem que recebem de Deus (Lc 17,17-19).
 
* Lucas 17,22-24: Sinais para reconhecer a vinda do Filho do Homem. "Chegarão dias em que vocês desejarão ver um só dia do Filho do Homem, e não poderão ver. Dirão a vocês: 'Ele está ali' ou: 'Ele está aqui'. Não saiam para procurá-lo. Pois como o relâmpago brilha de um lado a outro do céu, assim também será o Filho do Homem”. Nesta afirmação de Jesus existem elementos que vem da visão apocalíptica da história, muito comum nos séculos antes e depois de Jesus. A visão apocalíptica da história tem a seguinte característica. Em épocas de grande perseguição e de opressão, os pobres têm a impressão de que Deus perdeu o controle da história. Eles se sentem perdidos, sem horizonte e sem esperança de libertação. Nestes momentos de aparente ausência de Deus, a profecia assume a forma de apocalipse. Os apocalípticos, procuram iluminar a situação desesperadora com a luz da fé para ajudar o povo a não perder a esperança e para continuar com coragem na caminhada. Para mostrar que Deus não perdeu o controle da história, eles descrevem as várias etapas da realização do projeto de Deus através da história. Iniciado num determinado momento significativo no passado, este projeto de Deus avança, etapa após etapa, através da situação presente vivida pelos pobres, até à vitória final no fim da história. Deste modo, os apocalípticos situam o momento presente como uma etapa já prevista dentro do conjunto mais amplo do projeto de Deus. Geralmente, a última etapa antes da chegada do fim costuma ser apresentada como um momento de sofrimento e de crise, do qual muitos tentam se aproveitar para iludir o povo dizendo: “Ele está ali' ou: 'Ele está aqui'. Não saiam para procurá-lo. Pois como o relâmpago brilha de um lado a outro do céu, assim também será o Filho do Homem”. Tendo olhar de fé que Jesus comunica, os pobres vão poder perceber que o reino já está no meio deles (Lc 17,21), como relâmpago, sem sombra de dúvida. A vinda do Reino traz consigo sua própria evidência e não depende dos palpites e prognósticos dos outros.
 
* Lucas 17,25: Pela Cruz até à Glória. “Antes, porém, ele deverá sofrer muito e ser rejeitado por esta geração”. Sempre a mesma advertência: a Cruz, escândalo para judeus e loucura para os gregos, mas para nós expressão da sabedoria e do poder de Deus (1Cor 1,18.23). O caminho para a Glória passa pela cruz. A vida de Jesus é o nosso cânon, é a norma canônica para todos nós.
 
Para um confronto pessoal
1) Jesus diz: “O reino está no meio de vós!” Você já encontrou algum sinal da presença do Reino em sua vida, na vida do seu povo ou na vida da sua comunidade?
2) A cruz na vida. O sofrimento. Como você vê o sofrimento, o que faz com ele?

segunda-feira, 11 de novembro de 2024

14 de novembro

Todos os Santos Carmelitas
 
Os Santos do Carmelo constituem uma grande multidão de irmãos que consagraram a sua vida a Deus, seguindo os ensinamentos do seu Filho e imitando a sua vida, e se entregaram ao serviço da Virgem Maria na oração, na abnegação evangélica, no amor aos irmãos, a ponto de alguns terem derramado o seu sangue. Eremitas do monte Carmelo, mendicantes da Idade Média, mestres e pregadores, missionários e mártires, religiosas que enriqueceram o povo de Deus com a misteriosa fecundidade da sua vida contemplativa, apostólica e docente, leigos que na sua vida souberam encarnar o espírito da Ordem: esta é a grande família carmelita que, enquanto peregrina, se dedicou à prática assídua da oração e que, tendo terminado a sua prova no estádio deste mundo, e tendo-nos deixado o seu exemplo, agora celebra a liturgia celeste. Unidos a esta grande família, e na esperança de nos virmos associar a ela, celebramos e antegozamos, por meio desta festa, as alegrias eternas dos santos que Deus conduziu ao seu monte para introduzi-los na sua Casa de Oração. O exemplo e a intercessão destas almas de oração é para nós um estímulo a vivermos a nossa vocação carmelita em obséquio de Jesus Cristo e na imitação da nossa Mãe e Rainha, Flor do Carmelo, Padroeira e Esperança de todos os carmelitas. Esta festa, já mencionada por Inocêncio VIII em 16 de julho de 1492, estendeu-se à Ordem em 1672.
 
SOMOS DESCENDENTES DE SANTOS
"Por AMOR de Nosso Senhor lhes peço: lembrem-se quão depressa tudo se acaba, e da mercê que Nosso Senhor nos fez trazendo-nos a esta Ordem e das grandes penas que terá quem nela introduzir algum relaxamento. Mas que ponham sempre os olhos na Casta de onde vimos, naqueles Santos Profetas. Quantos SANTOS temos no Céu que trouxeram este hábito! Tenhamos a santa presunção, com a ajuda de DEUS, de ser como Eles. Pouco durará a batalha e o fim será eterno." (Das obras de Sta. Teresa de Jesus, virgem e doutora da Igreja)
 
INVITATÓRIO
R. Ao Senhor Jesus, Filho de Maria, e fonte de toda santidade, vinde adoremos
 
LAUDES
Hino
Salve, falange florida do Carmelo,
nosso modelo, nossa glória, nossa alegria,
porque de Elias perpetuaste o zelo,
e a oração silenciosa de Maria.
 
Com um total desprendimento e pobreza
a alma virgem conservaste para o Amor:
fielmente o serviste com presteza,
amando a Igreja, povo eleito do Senhor.
 
Da solidão saindo, já bem transformados
em mártires fortes e testemunhas da paz,
embora ocultos nesses claustros sagrados,
fizestes no mundo o que o fermento faz.
 
Dai-nos a mão para também nos elevarmos
à contemplação daquele que é nosso encanto,
e convosco pra sempre glorificarmos
o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
 
Ant.1 Os vossos fiéis, Senhor, procuraram-vos na oração e viram o vosso poder e a vossa glória.
 
Salmos e cântico do domingo da I Semana.
 
Ant. 2 Santos e Santas do Senhor, bendizei para sempre o Senhor.
 
Ant. 3 Nem os olhos viram nem os ouvidos ouviram o que Deus tem preparado para aqueles que o amam!
 
Leitura breve - Sr 44,1-2.3b-4  
Vamos fazer o elogio dos homens gloriosos, nossos antepassados através das gerações! O Senhor concedeu-lhes a glória e com eles desde sempre repartiu a grandeza. Homens de grande virtude e dotados de prudência. Pelas suas predições adquiriram a grande dignidade de profetas. Com o poder da sua sabedoria deram ao povo instruções muito santas.
 
Responsório breve
R. Vi a grande multidão dos Santos * revestidos de branco.
R. Vi a grande.
V. Estes são os santos, os amigos de Deus. R. * Revestidos
Glória ao Pai. R. Vi a grande.
 
Cântico evangélico - cf. Hb 12,1
Ant. Rodeados de uma nuvem tão grande de testemunhas, corramos com persistência de encontro ao combate, que nos é proposto, com os olhos fixos em Jesus, que em nós começa e completa a obra da nossa fé.
 
Preces
Demos graças a Deus Pai, que nos concede a alegria de celebrarmos a festa dos Santos Carmelitas, nossos irmãos e irmãs; com os sentimentos da Virgem Maria, Flor do Carmelo, digamos:
 
R. As nossas almas vos glorifiquem, Senhor!
 
Vós, que conduzistes o vosso povo ao deserto, para estabelecerdes com ele uma aliança de amor,
- renovai em Cristo a nossa Aliança convosco. R.
 
Vós, que nos escolhestes como irmãos de Maria, para recebermos e guardarmos a vossa Palavra, animados pelo espírito da nossa Mãe,
- fazei que, servindo a Jesus e ao seu Evangelho, sejamos no mundo a sua imagem. R.
 
Vós, que nos convidastes para uma vida de intimidade convosco,
-fazei que, como Elias, nosso pai, vivamos sempre na vossa presença e nos abrasemos de um zelo ardente na vossa presença e pela vossa Glória. R.
 
Vós que suscitastes na Igreja a nossa Família do Carmelo, para que viva santamente para vós e aspire a mística união convosco pela oração e contemplação,
- fazei que, a exemplo dos nossos Santos, procuremos sempre a vossa face e possamos indicar a todos os irmãos o caminho da divina intimidade convosco. R.
 
Vós, que concedestes aos nossos Santos tal zelo apostólico e amor divino que os levaram a oferecer a sua vida pelos irmãos,
- fazei que, levando em nosso corpo a morte de Cristo, colaboremos generosamente na obra da Redenção com a doação da nossa vida aos irmãos. R.
 
(intenções livres)
 
Pai Nosso ...
 
Oração
Senhor, nosso Deus e nosso Pai, nós vos pedimos que sempre nos assistam com a sua proteção a Virgem Maria, nossa Mãe, e todos os Santos e Santas do Carmelo, para que, seguindo fielmente os seus exemplos, sirvamos à vossa Igreja com a oração e com obras dignas de Vós. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo.
 
VÉSPERAS
Hino
Oh! Admirável visão!
A fé nos faz contemplar
uma imensa multidão,
que ninguém pode contar.
 
Donde vêm e quem são
os que em triunfo nos céus,
com belas palmas na mão,
cantam a glória de Deus?
 
Estes são os que vieram
da grande tribulação:
do Cordeiro receberam
a graça da Salvação.
 
Não mais choro nem dor:
tudo é alegria e luz;
às fontes vivas do amor
o próprio Deus os conduz.
 
Tributemos ao Senhor
com a Corte Celestial
honra, poder e louvor:
"Glória ao Deus Imortal!"
 
Ant. 1 "Em casa do meu Pai há muitas moradas!" - diz o Senhor.
 
Salmos e Cântico da Solenidade de Todos os Santos
 
Ant. 2 Já não vos chamo servos, mas amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi do meu Pai.
 
Ant. 3 Depois ouvi como que a voz de uma multidão, que dizia no Céu: “Aleluia! Ao nosso Deus a salvação, a honra, a glória e o poder! ”
 
Leitura breve - Rm 8,28-30
Sabemos que tudo contribui para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação, de acordo com o projeto de Deus, pois aqueles que Deus contemplou com o seu amor desde sempre, a esses ele predestinou a serem conformes à imagem do seu Filho, para que este seja o Primogênito numa multidão de irmãos. E aqueles que Deus predestinou, também os chamou. E aos que chamou, também os tornou justos; e aos que tornou justos, também os glorificou.
 
Responsório breve
R. Eis a verdadeira fraternidade: * nenhuma dificuldade a destruirá.
R. Eis a verdadeira.
V. Seguindo a Cristo, chegaram ao Reino dos Céus.
* Nenhuma dificuldade. Glória ao Pai.
R. Eis a verdadeira.
 
Cântico evangélico
Ant.1 Vós, que tudo deixastes e me seguistes, cem vezes mais recebereis e, no mundo futuro, herdareis a vida eterna.
ou
Ant.2 Gloriosos companheiros de arma, através da vida religiosa alcançastes a felicidade dos Anjos: agora lembrai-vos de nós e socorrei-nos, para que nos alegremos com a vossa proteção e juntos nos gloriemos com a nossa vitória.
 
Preces
Invoquemos o Senhor Jesus, Nosso Redentor, e confiados na ajuda da Virgem Maria, nossa Mãe, e na intercessão dos nossos irmãos, os Santos Carmelitas, peçamos:
 
R. Santificai-nos na verdade, Senhor!
 
Vós, que chamastes muitos fiéis ao Carmelo para vos seguirem mais de perto pelos caminhos do amor,
- fazei que caminhemos na verdade por meio da prática da virtude do amor. R.
 
Vós, que concedestes aos nossos Santos a força da perseverança no amor fraterno,
- conservai as nossas comunidades na vossa Paz e fazei que tenhamos um só coração e uma só alma. R.
 
Vós, que chamastes os nossos Santos ao serviço e imitação da Virgem Maria,
- fazei que, sob a proteção da vossa e nossa Mãe, caminhemos numa vida nova e permaneçamos fiéis até o fim. R.
 
Vós, que suscitastes na Igreja a família do Carmelo, para cultivar a ciência da íntima união convosco por meio da oração,
- ensinai-nos a partilhar com os nossos irmãos os tesouros da contemplação. R.

 (intenções livres)
 
Vós, que sois a coroa eterna e a alegria perene de nossos Santos.
- pela intercessão de Nossa Senhora do Carmo, Mãe e Protetora dos que morreram, concedei aos irmãos e irmãs falecidos da nossa Família Carmelitana a alegria da vossa presença no Sábado eterno dos Céus.   R.
 
Pai Nosso ...
 
Oração
Senhor, nosso Deus e nosso Pai, nós vos pedimos que sempre nos assistam com a sua proteção a Virgem Maria, nossa Mãe, e todos os Santos e Santas do Carmelo, para que, seguindo fielmente os seus exemplos, sirvamos à vossa Igreja com a oração e com obras dignas de Vós. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e convosco vive e reina, na unidade do Espírito Santo.

Quarta-feira da 32ª semana do Tempo Comum

Bta Maria Teresa de Jesus Scrilli, virgem de nossa Ordem e Fundadora da Congregação das Irmãs de N. Sra do Monte Carmelo
São Diego de Acalá, religioso
 
1ª Leitura (Tit 3,1-7):
Caríssimo: Recorda a todos os irmãos que devem ser submissos aos governantes e às autoridades, que devem obedecer-lhes e estar prontos para toda a boa obra. Não digam mal de ninguém, não sejam conflituosos, mas pacíficos, mostrando-se sempre atenciosos para com todos. Também nós, antigamente, éramos insensatos, rebeldes, transviados, escravos de toda a espécie de paixões e prazeres, vivendo na perversidade e na inveja, odiados e odiando-nos uns aos outros. Mas, ao manifestar-se a bondade de Deus nosso Salvador e o seu amor para com os homens, Ele salvou-nos, não pelas obras justas que praticámos, mas em virtude da sua misericórdia, pelo baptismo da regeneração e renovação do Espírito Santo, que Ele derramou abundantemente sobre nós, por meio de Jesus Cristo nosso Salvador, para que, justificados pela sua graça, nos tornássemos, em esperança, herdeiros da vida eterna.
 
Salmo Responsorial: 22
R. O Senhor é meu pastor: nada me faltará.
 
O Senhor é meu pastor: nada me falta. Leva-me a descansar em verdes prados, conduz-me às águas refrescantes e reconforta a minha alma.
 
Ele me guia por sendas direitas por amor do seu nome. Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos, não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo: o vosso cajado e o vosso báculo me enchem de confiança.
 
Para mim preparais a mesa à vista dos meus adversários; com óleo me perfumais a cabeça e o meu cálice transborda.
 
A bondade e a graça hão de acompanhar-me todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor para todo o sempre.
 
Aleluia. Em todo o tempo e lugar dai graças a Deus, porque esta é a sua vontade a vosso respeito em Cristo Jesus. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 17,11-19): Um dia, caminhando para Jerusalém, Jesus passava entre a Samaria e a Galileia. Estava para entrar num povoado, quando dez leprosos vieram ao seu encontro. Pararam a certa distância e gritaram: «Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!» Ao vê-los, Jesus disse: «Ide apresentar-vos aos sacerdotes». Enquanto estavam a caminho, aconteceu que ficaram curados. Um deles, ao perceber que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz; prostrou-se aos pés de Jesus e lhe agradeceu. E este era um samaritano. Então Jesus lhe perguntou: «Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?» E disse-lhe: «Levanta-te e vai! Tua fé te salvou».
 
«Prostrou-se aos pés de Jesus e lhe agradeceu»
 
P. Conrad J. MARTÍ i Martí OFM (Valldoreix, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, Jesus passa perto de nós para nos fazer viver a cena mencionada mais acima, com um ar realista, na pessoa de tantos marginalizados como há na nossa sociedade, os quais se fixam nos cristãos para encontrar neles a bondade e o amor de Jesus. Nos tempos do Senhor, os leprosos formavam parte do estamento dos marginalizados. De fato, aqueles dez leprosos foram ao encontro de Jesus na entrada de um povoado (cf. Lc 17,12), pois eles não podiam entrar nos povoados, nem lhes estava permitido aproximar-se das pessoas («pararam a certa distância»).
 
Com um pouco de imaginação, pode cada um de nós reproduzir a imagem dos marginalizados da sociedade, que têm nome como nós: imigrantes, drogados, delinquentes, doentes de aids, desempregados, pobres... Jesus quer restabelecê-los, remediar os seus sofrimentos, resolver os seus problemas; e pede-nos colaboração de forma desinteressada, gratuita, eficaz... por amor.
 
Além disso, tornamos mais presente em cada um de nós a lição que dá Jesus. Somos pecadores e necessitados de perdão, somos pobres que todo o esperam dele. Seríamos capazes de dizer como o leproso «Jesus, Mestre, tem compaixão de mim» (cf. Lc 17, 13) Sabemos recorrer a Jesus com uma oração profunda e confiante?
 
Imitamos o leproso curado, que volta a Jesus para lhe agradecer? De fato, só «Um deles, ao perceber que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz» (Lc 17,15). Jesus sente a falta dos outros nove: «Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão?» (Lc 17,17). Santo Agostinho deixou a seguinte sentença: «Graças a Deus`: não há nada que alguém possa dizer com maior brevidade (...) nem fazer com maior utilidade que estas palavras». Portanto. nós, como agradecemos a Jesus o grande dom da vida, a nossa e a da família; a graça da fé, a santa Eucaristia, o perdão dos pecados...? Não acontece alguma vez que não lhe agradecemos pela Eucaristia, apesar de participar frequentemente nela? A Eucaristia é —não duvidemos— a nossa maior vivência de cada dia.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Como pagaremos ao Senhor todo o bem que nos fez? Deus é tão bom que a única paga que exige é que o amemos por tudo o que nos tem dado» (São Basílio Magno)
 
«É preciso que o homem dê honor ao Criador oferecendo, numa ação de graças e de louvor, tudo o que de Ele tem recebido. O homem não pode perder o sentido desta dívida, que somente ele pode reconhecer e saldar como criatura feita a imagem e semelhança de Deus» (São João Paulo II)
 
«Uma vez que Cristo em pessoa está presente no Sacramento do Altar; devemos honrá-Lo com culto de adoração. “A visita ao Santíssimo Sacramento é uma prova de gratidão, um sinal de amor e um dever de adoração para com Cristo nosso Senhor» (Catecismo da Igreja Católica, n° 1418)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* No Evangelho de hoje, Lucas conta como Jesus curou dez leprosos, mas um só veio agradecer.
E este era um samaritano! A gratidão é um outro tema muito próprio de Lucas: viver em gratidão e louvar a Deus por tudo que dele recebemos. Por isso, Lucas fala tantas vezes que o povo ficava admirado e louvava a Deus pelas coisas que Jesus realizava (Lc 2,28.38; 5,25.26; 7,16; 13,13; 17,15.18; 18,43; 19,37; etc). O Evangelho de Lucas traz vários cânticos e hinos que expressam esta experiência de gratidão e de reconhecimento (Lc 1,46-55; 1,68-79; 2,29-32).
 
* Lucas 17,11: Jesus em viagem para Jerusalém. Lucas lembra que Jesus estava de viagem para Jerusalém, passando da Samaria para a Galileia. Desde o começo da viagem (Lc 9,52) até agora (Lc 17,11), Jesus andou pela Samaria. Só agora está saindo da Samaria, passando pela Galileia para poder chegar em Jerusalém. Isto significa que os importantes ensinamentos, dados nestes capítulos todos de 9 até 17, foram todos dados em território que não era judeu. Ouvir isto deve ter sido motivo de muita alegria para as comunidades de Lucas, vindas do paganismo. Jesus, o peregrino, continua a sua viagem até Jerusalém. Continua tirando as desigualdades que os homens criaram. Continua a longa e dolorosa caminhada da periferia para a capital, de uma religião fechada sobre si mesma para a religião aberta que sabe acolher os outros como irmãos e irmãs, filhos e filhas do mesmo Pai. Esta abertura vai aparecer no acolhimento dado aos dez leprosos.
 
* Lucas 17,12-13: O grito dos leprosos. Dez leprosos aproximam-se de Jesus, param de longe e gritam: "Jesus, mestre, tem piedade de nós!" O leproso era uma pessoa excluída. Era marginalizado e desprezado, sem o direito de conviver com suas famílias. Segundo a lei da pureza, os leprosos deviam andar com roupa rasgada e cabelos desgrenhados, gritando: “Impuro! Impuro!” (Lv 13,45-46). Para os leprosos, a busca da cura significava o mesmo que buscar a pureza para poder ser reintegrados na comunidade. Não podiam aproximar-se dos outros (Lv 13,45-46). Qualquer toque num leproso causava impureza e criava um impedimento para a pessoa poder dirigir-se a Deus. Através do grito, eles expressam a fé de que Jesus pode curá-los e devolver-lhes a pureza. Obter a pureza significava sentir-se, novamente, acolhido por Deus, e poder dirigir-se a Ele para receber a bênção prometida a Abraão.
 
* Lucas 17,14: A resposta de Jesus e a cura. Jesus reponde: "Vão mostrar-se aos sacerdotes!" (cf. Mc 1,44). Era o sacerdote que devia verificar a cura e dar o atestado de pureza (Lv 14,1-32). A resposta de Jesus exigia muita fé da parte dos leprosos. Devem ir ao sacerdote como se já estivessem curados, quando, na realidade, o corpo deles continuava coberto de lepra. Mas eles acreditaram na palavra de Jesus e foram em direção ao sacerdote. E aconteceu que, enquanto iam caminhando, manifestou-se a cura. Ficaram purificados. Esta cura evoca a história da purificação de Naaman da Síria (2Rs 5,9-10). O profeta Eliseu mandou o homem lavar-se no Jordão. Naaman tinha de crer na palavra do profeta. Jesus mandou os dez apresentar-se aos sacerdotes. Eles tinham de crer na palavra de Jesus.
 
* Lucas 17,15-16: Reação do samaritano. “Ao perceber que estava curado, um deles voltou atrás dando glória a Deus em alta voz. Jogou-se no chão, aos pés de Jesus, e lhe agradeceu. E este era um samaritano.” Por que os outros não voltaram? Por que só o samaritano? Na opinião dos judeus de Jerusalém, o samaritano não observava a lei como devia. Entre os judeus havia a tendência de observar a lei para poder merecer ou conquistar a justiça. Pela observância, eles iam acumulando méritos e créditos diante de Deus. Gratidão e gratuidade não fazem parte do vocabulário de pessoas que vivem assim o seu relacionamento com Deus. Talvez seja por isso que não agradeceram o benefício recebido. Na parábola do evangelho de ontem, Jesus tinha formulado a pergunta sobre a gratidão: “Será que vai agradecer ao empregado, porque este fez o que lhe havia mandado?” (Lc 17,9) E a resposta era: “Não!” O samaritano representa as pessoas que têm consciência clara de que nós, seres humanos, não temos mérito, nem crédito diante de Deus. Tudo é graça, a começar pelo dom da própria vida!
 
* Lucas 17,17-19: A observação final de Jesus. Jesus estranhou: “Os dez não ficaram purificados? Onde estão os outros nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro!” Para Jesus, agradecer os outros pelo benefício recebido é uma maneira de dar a Deus o louvor que lhe é devido. Neste ponto, os samaritanos davam lição aos judeus. Hoje são os pobres, que fazem o papel de samaritano e nos ajudam a redescobrir esta dimensão da gratuidade da vida. Tudo que recebemos deve ser visto como um dom de Deus que vem até nós através do irmão e da irmã.
 
* A acolhida dada aos samaritanos no evangelho de Lucas.  Para Lucas, o lugar que Jesus dava aos samaritanos é o mesmo que as comunidades deviam reservar aos pagãos. Jesus apresenta um samaritano como modelo de gratidão (Lc 17,17-19) e de amor ao próximo (Lc 10,30-33). Isto devia ser muito chocante, pois, para os judeus, samaritano ou pagão era a mesma coisa. Não podiam ter acesso aos átrios interiores do Templo de Jerusalém, nem participar do culto. Eram considerados portadores de impureza, impuros desde o berço. Para Lucas, porém, a Boa Nova de Jesus dirige-se, em primeiro lugar, às pessoas e grupos considerados indignos de recebê-la. A salvação de Deus que chega até nós em Jesus é puro dom. Não depende dos méritos de ninguém.
 
Para um confronto pessoal
1. E você, costuma agradecer às pessoas? Agradece por convicção ou por mero costume? E na oração: agradece ou esquece?
2. Viver na gratidão é um sinal da presença do Reino no meio de nós. Como transmitir para os outros a importância de viver na gratidão e na gratuidade?

13 de novembro

 Beata Maria Teresa de Jesus Scrilli
Virgem de nossa Ordem e Fundadora da Congregação das Irmãs de N. Sra do Monte Carmelo
 
Maria Scrilli nasceu no dia 15 de maio de 1825 em Montevarchi, na Toscana. Aos 21 anos ingressou no mosteiro de Santa Maria dos Anjos, em Florença, mas não prospera em seu propósito. Da experiência carmelitana adquire base para toda sua espiritualidade futura. Do Carmelo de Florença sai com uma decisão: será contemplativa, porém “contemplativa em ação”. Seu amor ao sofrimento e o desejo de reparar as ofensas que se faziam ao Senhor, eram sustentados pela contínua meditação sobre a Paixão de Cristo. Maria Scrilli consciente que a falta de cultura e a ignorância degrada especialmente a mulher, começou em sua própria casa de Montevarchi a ensinar um grupo de meninas que encontra pela rua. Logo se juntaram a ela outras companheiras. Às suas filhas, pediu para fazerem, além dos três votos habituais de castidade, obediência e pobreza, um quarto voto, ou seja, o de "apresentar-se para a utilidade do próximo por meio da instrução moral cristã e civil a dar ao sexo feminino". Em 1854 nasceu o Pio Instituto das Irmãzinhas Pobres do Coração de Maria, aprovado pelo Bispo de Fiésole. Morreu no dia 14 de novembro de 1889. Foi beatificada em 8 de outubro de 2006.
 
Salmodia, leitura, responsório breve e preces do dia corrente.
 
Oração
Deus eterno e todo-poderoso que nos destes um modelo de santidade e de caridade na Beata Maria Teresa Scrilli, totalmente entregue à oração e ao cuidado dos jovens e dos pobres, concedei-nos por sua intercessão trabalhar por vós neste mundo, para descansar convosco no Céu.  Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo

domingo, 10 de novembro de 2024

Terça-feira da 32ª semana do Tempo Comum

São Josafat, bispo e mártir
 
1ª Leitura (Tit 2,1-8.11-14):
Caríssimo: Ensina o que é conforme à sã doutrina. Os homens idosos devem ser sóbrios, dignos, ponderados, fortes na fé, na caridade e na perseverança. De maneira semelhante, as mulheres idosas devem ter um procedimento digno de pessoas santas: Não devem ser maldizentes nem dadas ao vinho; pelo contrário, sejam capazes de dar bons conselhos, ensinando as jovens a amar os seus maridos e filhos e a serem prudentes e honestas, bondosas, dóceis aos maridos, para que a palavra de Deus não seja desacreditada. Aconselha igualmente os jovens a serem ponderados em tudo. E apresenta-te a ti mesmo como exemplo de boas obras, na pureza de doutrina, dignidade, linguagem sã e irrepreensível, para que os nossos adversários fiquem confundidos, não tendo nenhum mal a dizer de vós. Na verdade, manifestou-se a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos para vivermos, no tempo presente, com temperança, justiça e piedade, aguardando a ditosa esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo, que Se entregou por nós, para nos resgatar de toda a iniquidade e preparar para Si mesmo um povo purificado, zeloso das boas obras.
 
Salmo Responsorial: 36
R. A salvação dos justos vem do Senhor.
 
Confia no Senhor e pratica o bem, possuirás a terra e viverás tranquilo. Põe no Senhor as tuas delícias e Ele satisfará os anseios do teu coração.
 
O Senhor conhece os dias dos bons e a herança deles será eterna. O Senhor consolida os passos do homem e aprova os seus caminhos.
 
Afasta-te do mal e pratica o bem e permanecerás para sempre. Os justos possuirão a terra e nela habitarão para sempre.
 
Aleluia. Se alguém Me ama, guardará a minha palavra, diz o Senhor; meu Pai o amará e faremos nele a nossa morada. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 17,7-10): Naquele tempo, o Senhor disse: «Se alguém de vós tem um servo que trabalha a terra ou cuida dos animais, quando ele volta da roça, lhe dirá: Vem depressa para a mesa. Não dirá antes: Prepara-me o jantar, arruma-te e serve-me, enquanto eu como e bebo. Depois disso, tu poderás comer e beber. Será que o senhor vai agradecer o servo porque fez o que lhe havia mandado. Assim também vós: quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: Somos simples servos; fizemos o que devíamos fazer».
 
«Fizemos o que devíamos fazer»
 
Rev. D. Jaume AYMAR i Ragolta (Badalona, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, a atenção do Evangelho não se dirige à atitude do senhor, mas à dos servos. Jesus convida os seus apóstolos, através do exemplo de uma parábola a considerar a atitude de serviço: o servo tem que cumprir o seu dever sem esperar recompensa: «Será que o senhor vai agradecer o servo porque fez o que lhe havia mandado?» (Lc 17,9). Não obstante, esta não é a única lição do Mestre acerca do serviço. Jesus dirá mais adiante aos seus discípulos: «Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu Senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai.» (Jo 15,15). Os amigos não passam contas. Se os servos têm que cumprir o seu dever, muito mais os apóstolos de Jesus, seus amigos, devemos cumprir com a missão encomendada por Deus, sabendo que o nosso trabalho não merece nenhuma recompensa, porque o fazemos por gosto e porque tudo quanto temos e somos é um dom de Deus.
 
Para o crente tudo é sinal, para o que ama tudo é dom. Trabalhar para o Reino de Deus é a nossa recompensa; por isso não devemos dizer com tristeza nem desânimo: «Somos simples servos; fizemos o que devíamos fazer» (Lc 17,19), mas com a alegria daquele que foi chamado a transmitir o Evangelho.
 
Nestes dias temos também presente a festa de um grande santo, de um grande amigo de Jesus, muito popular na Catalunha, São Martinho de Tours, que dedicou a sua vida ao serviço do Evangelho de Cristo. Dele escreveu Suplicio Severo: «Homem extraordinário, que não foi dobrado pelo trabalho nem vencido pela própria morte, não teve preferência por nenhuma das partes, não temeu a morte, não recusou a vida! Levantados os seus olhos e as suas mãos para o céu, seu espírito invicto não deixava de orar». Na oração, no diálogo com o Amigo, encontramos, efetivamente, o segredo e a força do nosso serviço.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Reconheçamos a graça sem esquecer a nossa natureza; não seja vaidoso se você serviu bem, porque você cumpriu o que tinha que fazer. O sol faz seu trabalho, a lua obedece; os anjos cumprem a sua missão» (Santo Ambrósio)
 
«Se fizermos a vontade de Deus todos os dias, com humildade, sem exigir nada Dele, será o próprio Jesus que nos serve, que nos ajuda, que nos encoraja, que nos dá força e serenidade» (Bento XVI)
 
«Na medida em que o homem faz mais bem, também se torna mais livre. Não há verdadeira liberdade a não ser a serviço do bem e da justiça. A escolha da desobediência e do mal é um abuso da liberdade e leva à "escravidão do pecado"» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.733)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje traz uma parábola que só se encontra no evangelho de Lucas, sem paralelo nos outros evangelhos.
A parábola quer ensinar que nossa vida deve caracterizar-se pela atitude de serviço. Ela começa com três perguntas e, no fim, Jesus mesmo dá a resposta.
 
*  Lucas 17,7-9: As três perguntas de Jesus. Trata-se de três perguntas tiradas da vida de cada dia, para as quais os ouvintes já adivinhavam a resposta. As perguntas são formuladas de tal maneira que elas reenviam cada ouvinte a consultar sua própria experiência e, a partir dela, dar a sua resposta. A primeira pergunta: “Se alguém de vocês tem um empregado que trabalha a terra ou cuida dos animais, por acaso vai dizer-lhe, quando ele volta do campo: Venha depressa para a mesa?” Todo mundo responderá: “Não!” Segunda pergunta: “Pelo contrário, não vai dizer ao empregado: Prepare-me o jantar, cinja-se e sirva-me, enquanto eu como e bebo; depois disso você vai comer e beber?” Todo mundo responderá: “Sim! Claro!” Terceira pergunta: “Será que vai agradecer ao empregado, porque este fez o que lhe havia mandado?” Todo mundo responderá: “Não!”  Pela maneira de Jesus fazer as perguntas, a gente já percebe em que direção ele quer orientar nosso pensamento. Ele quer que sejamos servidores uns dos outros.
 
* Lucas 17,10: A resposta de Jesus. No fim, Jesus mesmo tira a conclusão que já estava implícita nas perguntas: “Assim também vocês: quando tiverem cumprido tudo o que lhes mandarem fazer, digam: Somos empregados inúteis; fizemos o que devíamos fazer". Jesus, ele mesmo, deu o exemplo quando disse: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45). O serviço é um tema do agrado de Lucas. O serviço representa a forma como os pobres do tempo de Jesus, os anawim, esperavam o Messias: não como Messias glorioso rei, sumo sacerdote ou juiz, mas como o Servo de Javé, anunciado por Isaías (Is 42,1-9). Maria, a mãe de Jesus, se apresentou ao anjo: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1,38). Em Nazaré, Jesus se apresenta como o Servo, descrito por Isaías (Lc 4,18-19 e Is 61,1-2). No batismo e no transfiguração, ele foi confirmado pelo Pai que cita as palavras dirigidas por Deus ao mesmo Servo (Lc 3,22; 9,35 e Is 42,1). Aos seus seguidores Jesus pede: “Quem quer ser o primeiro seja o servo de todos” (Mt 20,27). Servos inúteis! É a definição do cristão. Paulo fala disso aos membros da comunidade de Corinto quando escreve: “Eu plantei, Apolo regou, mas era Deus que fazia crescer. Assim, aquele que planta não é nada, e aquele que rega também não é nada: só Deus é que conta, pois é ele quem faz crescer” (1Cor 1,6-7). Paulo e Apolo nada são; são apenas instrumentos, “servidores”. O que vale é o próprio Deus, só Ele! (1Cor 3,7).
 
*  Servir e ser servido. Aqui, neste texto, o servo serve ao senhor, e não, o senhor ao servo. Mas em outro texto de Jesus se diz o contrário: “Felizes dos empregados que o senhor encontra acordados quando chega. Eu garanto a vocês: ele mesmo se cingirá, os fará sentar à mesa, e, passando, os servirá” (Lc 12,37). Neste texto, é o senhor que serve ao servo, e não o servo ao senhor. No primeiro texto, Jesus falava do presente. No segundo texto, Jesus estava falando do futuro. Este contraste é uma outra maneira para dizer: ganha a vida que está disposto a perdê-la por amor a Jesus e ao Evangelho (Mt 10,39; 16,25. Quem serve a Deus nesta vida presente, Deus servirá a ele na vida futura!
 
Para um confronto pessoal
1) Como defino minha vida?
2) Faça para você as mesmas três perguntas de Jesus? Será que vivo como um servo inútil?