quarta-feira, 31 de julho de 2024

Sexta-feira da 17ª semana do Tempo Comum

Santa Maria, Rainha dos Anjos.
Santo Eusébio, bispo
São Pedro Julião Eymard, presbítero
 
1ª Leitura (Jer 26,1-9):
No princípio do reinado de Joaquim, filho de Josias e rei de Judá, foi dirigida a Jeremias esta palavra do Senhor: «Assim fala o Senhor: Vai colocar-te no átrio do templo do Senhor e diz a todos os habitantes das cidades de Judá, que vêm prostrar-se no templo do Senhor, todas as palavras que te mandei anunciar, sem nada omitir. Pode ser que as escutem e se arrependa cada um do seu mau caminho; e Eu desistirei do castigo que penso mandar-lhes por causa da maldade das suas ações. Vai dizer-lhes: ‘Assim fala o Senhor: Se não quiserdes escutar-Me e não seguis a lei que vos proponho, se não ouvirdes as palavras dos meus servos, os profetas, que sem cessar vos tenho enviado, mas vós não escutais, farei deste templo o que fiz de Silo e farei desta cidade um objeto de maldição para todos os povos da terra’». Os sacerdotes, os profetas e todo o povo ouviram Jeremias dizer estas palavras no templo do Senhor. E quando Jeremias acabou de anunciar o que o Senhor lhe mandara dizer a todo o povo, os sacerdotes e os profetas apoderaram-se dele, gritando: «Tu tens de morrer! Por que profetizaste em nome do Senhor que este templo teria a mesma sorte de Silo e que esta cidade ficaria em ruínas e sem habitantes?». E todo o povo se amotinou contra Jeremias no templo do Senhor.
 
Salmo Responsorial: 68
R. Pela vossa grande misericórdia, atendei-me, Senhor.
 
São mais numerosos que meus cabelos os que me odeiam sem razão; são mais fortes que meus ossos os que me detestam sem motivo.
 
Por Vós tenho suportado afrontas, cobrindo-se meu rosto de confusão. Devorou-me o zelo pela vossa casa e recaíram sobre mim os insultos contra Vós.
 
A Vós, Senhor, elevo a minha súplica, no momento propício, meu Deus. Pela vossa grande bondade, respondei-me, pela vossa fidelidade, salvai-me.
 
Aleluia. A palavra do Senhor permanece eternamente. Esta é a palavra que vos foi anunciada. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 13,54-58): Jesus foi para sua própria cidade e se pôs a ensinar na sinagoga local, de modo que ficaram admirados. Diziam: «De onde lhe vêm essa sabedoria e esses milagres? Não é ele o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs não estão todas conosco? De onde, então, lhe vem tudo isso?». E ele tornou-se para eles uma pedra de tropeço. Jesus, porém, disse: «Um profeta só não é valorizado em sua própria cidade e na sua própria casa!». E não fez ali muitos milagres, por causa da incredulidade deles.
 
«Um profeta só não é valorizado em sua própria cidade e na sua própria casa»
 
Rev. D. Jordi POU i Sabater (Sant Jordi Desvalls, Girona, Espanha)
 
Hoje, como naquele tempo, é difícil falar de Deus àqueles que nos conhecem há muito tempo. No caso de Jesus, são João Crisóstomo comenta: «Os nazarenos admiravam-se Dele, mas essa admiração não os levava a crer, mas a sentir inveja, como se dissessem: `Porque Ele, e não eu´». Jesus conhecia bem aqueles que em vez ouvi-lo, escandalizavam-se por causa Dele. Eram parentes, amigos, vizinhos pessoas que Ele apreciava, mas justamente a eles não chegará a mensagem da salvação.
 
Nós —que não podemos fazer milagres nem temos a santidade de Cristo— não provocaremos inveja (ainda se por acaso possa acontecer, se realmente nos esforçarmos por viver como cristãos). Seja como for, nos encontraremos, como Jesus, com aqueles a quem amamos ou apreciamos, são os que menos nos escutam. Neste sentido, devemos recordar, também, que as pessoas veem mais os defeitos do que as virtudes, e aqueles que estiveram ao nosso lado durante anos podem dizer interiormente —Tu que fazias (ou fazes) isto ou aquilo, o que vais me ensinar?
 
Pregar ou falar de Deus entre as pessoas do nosso povo ou família é difícil, mas é necessário. É preciso dizer que Jesus quando ia a casa estava precedido pela fama de seus milagres e sua palavra. Talvez, nós precisaremos estabelecer um pouco de fama de santidade por fora (e dentro) de casa antes de “predicar” às pessoas da casa.
 
São João Crisóstomo acrescenta no seu comentário: «Presta atenção, por favor, na amabilidade do Mestre: não lhes castiga por não ouvi-lo, mas diz com doçura: `Um profeta só não é valorizado em sua própria cidade e na sua própria casa´(Mt 13,57). Resulta evidente que Jesus iria-se triste desse lugar, mas continuaria suplicando para que sua palavra salvadora fosse bem-vinda no seu povo.
 
E nós (que nada vamos perdoar ou deixar de lado), igual temos que orar para que a palavra de Jesus chegue até aqueles que amamos, mas não querem nos ouvir.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Um pouco de fé pode muito» (São João Crisóstomo)
 
«A fé floresce quando nos deixamos “atrair” pelo Pai para Jesus, e vamos e Ele com o coração aberto. Aí nós recebemos o dom, o dom da Fé» (Francisco)
 
«Para o cristão, crer em Deus é crer inseparavelmente em Aquele que Deus enviou, “no seu Filho muito amado” em quem Ele pôs todas as suas complacências (Mc 1,11). Deus mandou-nos que O escutássemos (...) (Mc9,7)» (Catecismo da Igreja Católica, n° 151)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje conta como foi a visita de Jesus à Nazaré, sua comunidade de origem.
A passagem por Nazaré foi dolorosa para Jesus. O que antes era a sua comunidade, agora já não é mais. Alguma coisa mudou. Onde não há fé, Jesus não pode fazer milagre.
 
*  Mateus 13, 53-57ª:  Reação do povo de Nazaré frente a Jesus. É sempre bom voltar para a terra da gente. Após longa ausência, Jesus também voltou e, como de costume, no dia de sábado, foi para a reunião da comunidade. Jesus não era coordenador, mesmo assim ele tomou a palavra. Sinal de que as pessoas podiam participar e expressar sua opinião. O povo ficou admirado, não entendeu a atitude de Jesus: "De onde lhe vêm essa sabedoria e esses milagres?” Jesus, filho do lugar, que eles conheciam desde criança, como é que ele agora ficou tão diferente? O povo de Nazaré ficou escandalizado e não o aceitou: “Não é ele o filho do carpinteiro?” O povo não aceitou o mistério de Deus presente num homem comum como eles conheciam Jesus. Para poder falar de Deus ele teria de ser diferente. Como se vê, nem tudo foi bem-sucedido. As pessoas que deveriam ser as primeiras a aceitar a Boa Nova, estas eram as que se recusavam a aceitá-la. O conflito não é só com os de fora de casa, mas também com os parentes e com o povo de Nazaré. Eles recusam, porque não conseguem entender o mistério que envolve a pessoa de Jesus: “Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos não são Tiago, José, Simão e Judas? E suas irmãs, não moram aqui conosco? Então, de onde vem tudo isso?"  Não deram conta de crer.
 
* Mateus 13, 57b-58: Reação de Jesus diante da atitude do povo de Nazaré.
Jesus sabe muito bem que “santo de casa não faz milagre”. Ele diz: "Um profeta só não é honrado em sua própria pátria e em sua família". De fato, onde não existe aceitação nem fé, a gente não pode fazer nada. O preconceito o impede. Jesus, mesmo querendo, não pôde fazer nada. Ele ficou admirado da falta de fé deles.
 
* Os irmãos e as irmãs de Jesus. A expressão “irmãos de Jesus” é causa de muita polêmica entre católicos e protestantes. Baseando-se neste e em outros textos, os protestantes dizem que Jesus teve mais irmãos e irmãs e que Maria teve mais filhos! Os católicos dizem que Maria não teve outros filhos. O que pensar disso?  Em primeiro lugar, as duas posições, tanto dos católicos como dos protestantes, ambas têm argumentos tirados da Bíblia e da Tradição das suas respectivas Igrejas. Por isso, não convém brigar nem discutir esta questão com argumentos só de cabeça. Pois trata-se de convicções profundas, que têm a ver com a fé e com o sentimento de ambos. Argumento só de cabeça não consegue desfazer uma convicção do coração! Apenas irrita e afasta! Mesmo quando não concordo com a opinião do outro, devo sempre respeitá-la. Em segundo lugar, em vez de brigar em torno de textos, nós todos, católicos e protestantes, deveríamos unir-nos bem mais para lutar em defesa da vida, criada por Deus, vida tão desfigurada pela pobreza, pela injustiça, pela falta de fé. Deveríamos lembrar algumas outras frases de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância”(Jo 10,10). “Que todos sejam um, para que o mundo creia que Tu, Pai, me enviaste”(Jo 17,21). “Não o impeçam! Quem não é contra nós é a favor”(Mc 10,39.40).
 
Para um confronto pessoal
1. Em Jesus algo mudou no seu relacionamento com a Comunidade de Nazaré. Desde que você começou a participar na comunidade, alguma coisa mudou no seu relacionamento com a família? Por quê?
2. A participação na comunidade tem ajudado você a acolher e a confiar mais nas pessoas, sobretudo nos mais simples e pobres?

terça-feira, 30 de julho de 2024

Quinta-feira da 17ª semana do Tempo Comum

Sto. Afonso Mª de Ligório, bispo e doutor da Igreja
 
1ª Leitura (Jer 18,1-6):
Palavra que o Senhor dirigiu ao profeta Jeremias: «Levanta-te e desce à casa do oleiro; ali te farei ouvir as minhas palavras». Eu desci à casa do oleiro e encontrei-o a trabalhar na roda. Quando o vaso que ele estava a moldar não saía bem, como acontece com o barro nas mãos do oleiro, ele começava de novo e fazia outro vaso, como lhe parecia melhor. Então o Senhor dirigiu-me a palavra, dizendo: «Não poderei Eu tratar-vos como este oleiro, ó casa de Israel? – diz o Senhor –. Como o barro nas mãos do oleiro, assim estais vós na minha mão, ó casa de Israel».
 
Salmo Responsorial: 145
R. Feliz o que tem por auxílio o Deus de Jacó.
 
Louva, minha alma, o Senhor. Louvarei o Senhor toda a minha vida, cantarei hinos ao meu Deus, enquanto viver.
 
Não ponhais a confiança nos poderosos, no homem que nem a si se pode salvar. Vai-se-lhe o espírito e volta ao pó da terra e assim ficam desfeitos os seus planos.
 
Feliz o que tem por auxílio o Deus de Jacó, o que põe a sua confiança no Senhor, seu Deus, que fez o céu e a terra, o mar e quanto neles existe.
 
Aleluia. Abri, Senhor, o nosso coração, para recebermos a palavra do vosso Filho. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 13,47-53): Naquele tempo, disse Jesus ao povo: «Reino dos Céus é ainda como uma rede lançada ao mar e que pegou peixes de todo tipo. Quando ficou cheia, os pescadores puxaram a rede para a praia, sentaram-se, recolheram os peixes bons em cestos e jogaram fora os que não prestavam. Assim acontecerá no fim do mundo: os anjos virão para separar os maus dos justos, e lançarão os maus na fornalha de fogo. Aí haverá choro e ranger de dentes. Entendestes tudo isso?» — «Sim», responderam eles. Então Ele acrescentou: «Assim, pois, todo escriba que se torna discípulo do Reino dos Céus é como um pai de família, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas». Quando Jesus terminou de contar essas parábolas, partiu dali.
 
«Recolhem em cestos o que é bom e jogam fora o que não presta»
 
Rev. D. Ferran JARABO i Carbonell (Agullana, Girona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho constitui uma chamada vital à conversão. Jesus não nos poupa da dura realidade: «Os anjos virão para separar os maus dos justos, e lançarão os maus na fornalha de fogo» (Mt 13,49-50). E a advertência é clara! Não podemos fraquejar.
 
Agora devemos optar livremente: ou buscamos a Deus e ao bem com todas as nossas forças, ou colocamos nossa vidas à beira da morte. Ou estamos com Cristo ou estamos contra Ele. Converter-se significa, nesse caso, optar totalmente por fazer parte do grupo dos justos e levar uma vida digna de filhos. Porém, temos em nosso interior a experiência do pecado: sabemos o bem que deveríamos fazer, mas fazemos o mal; como podemos dar uma verdadeira unidade às nossas vidas? Sozinhos, não podemos fazer muito. Somente se nos colocamos nas mãos de Deus podemos fazer algum bem e pertencer ao grupo dos justos.
 
«Por não sabermos quando virá nosso Juiz, devemos viver cada dia como se não houvesse o dia seguinte» (São Jerônimo). Essa frase é um convite a viver com intensidade e responsabilidade nossa vida cristã. Não se trata de ter medo, mas sim de viver com esperança esse tempo de graça, louvor e glória.
 
Cristo nos ensina o caminho para nossa própria glorificação. Cristo é o caminho, portanto, nossa salvação, nossa felicidade e tudo o que possamos imaginar passa por Ele. E se tudo o temos em Cristo, não podemos deixar de amar a Igreja que nos apresenta e é seu corpo místico. Contra as visões puramente humanas dessa realidade é necessário que recuperemos a visão divino-espiritual: nada melhor do que Cristo e o cumprimento de sua vontade!
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«As minhas palavras são espírito e são vida, e não podem ser ponderadas com base em critérios humanos. Não devem de ser usadas para satisfazer a vã complacência, mas devem ser ouvidas em silêncio e devem ser recebidas com humildade» (Thomas de Kempis)
 
«Aí onde vamos, mesmo na paróquia menor, no canto mais perdido desta terra, lá está a única Igreja. E este é um grande dom de Deus. A Igreja é uma para todos» (Francisco)
 
«(…) Para cumprir a vontade do Pai, Cristo inaugurou na terra o Reino dos céus. A Igreja é o Reino de Cristo ‘já presente em mistério’ (Concílio Vaticano II)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 763)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje traz a última parábola do Sermão das Parábolas:
a história da rede lançada ao mar. Esta parábola encontra-se só no evangelho de Mateus, sem nenhum paralelo nos outros três evangelhos.
 
* Mateus 13,47-48: A parábola da rede lançada ao mar. "O Reino do Céu é ainda como uma rede lançada ao mar. Ela apanha peixes de todo o tipo. Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e escolhem: os peixes bons vão para os cestos, os que não prestam são jogados fora”. A história contada é bem conhecida do povo da Galileia que vive ao redor do lago. É o trabalho deles. A história reflete o fim de um dia de trabalho. Os pescadores saem para o mar com esta única finalidade: jogar a rede, apanhar muito peixe, puxar a rede cheia para a praia, escolher os peixes bons para levar para casa e jogar fora os que não servem. Descreve a satisfação do pescador no fim de um dia de trabalho pesado e cansativo. Esta história deve ter provocado um sorriso de satisfação no rosto dos pescadores que escutavam Jesus. O pior é chegar na praia no fim do dia sem ter pescado nada (Jo 21,3).
 
* Mateus 13,49-50: A aplicação da parábola.  Jesus aplica a parábola, ou melhor dá uma sugestão para as pessoas poderem discutir a parábola e aplicá-la em suas vidas. “Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão para separar os homens maus dos que são bons. E lançarão os maus na fornalha de fogo. Aí eles vão chorar e ranger os dentes."  Como entender esta fornalha de fogo? São imagens fortes para descrever o destino daqueles que se separam de Deus ou não querem saber de Deus. Toda cidade tem um lixão, um lugar onde joga os detritos e o lixo. Lá existe um fogo de monturo permanente que é alimentado diariamente pelo lixo novo que nele vai sendo despejado. O lixão de Jerusalém ficava num vale perto da cidade que se chamava geena, onde, na época dos reis havia até uma fornalha para sacrificar os filhos ao falso deus Molok. Por isso, a fornalha da geena tornou-se símbolo de exclusão e de condenação. Não é Deus que exclui. Deus não quer a exclusão nem a condenação, mas que todos tenham vida e vida em abundância. Cada um de nós se exclui a si mesmo.
 
* Mateus 13,51-53: O encerramento do Sermão das Parábola. No final do Sermão das parábolas Jesus encerra com a seguinte pergunta: "Vocês compreenderam tudo isso?" Ele respondera “Sim!” E Jesus termina a explicação com uma outra comparação que descreve o resultado que ele quer obter com as parábolas: "E assim, todo doutor da Lei que se torna discípulo do Reino do Céu é como pai de família que tira do seu baú coisas novas e velhas". Dois pontos para esclarecer:
 
(1) Jesus compara o doutor da lei com o pai de família. O que faz o pai de família? Ele “tira do seu baú coisas novas e velhas".  A educação em casa se faz transmitindo aos filhos e às filhas o que eles, os pais, receberam e aprenderam ao longo dos anos. É o tesouro da sabedoria familiar onde estão encerradas a riqueza da fé, os costumes da vida e tanta outra coisa que os filhos vão aprendendo. Ora, Jesus quer que, na comunidade, as pessoas responsáveis pela transmissão da fé sejam como o pai de família. Assim como os pais entendem da vida em família, assim, estas pessoas responsáveis pelo ensino devem entender as coisas do Reino e transmiti-la aos irmãos e irmãs da comunidade.
 
(2) Trata-se de um doutor da Lei que se torna discípulo do Reino. Havia portanto doutores da lei que aceitavam Jesus como revelador do Reino. O que acontece com um doutor na hora em que descobre em Jesus o Messias, o filho de Deus? Tudo aquilo que ele estudou para poder ser doutor da lei continua válido, mas recebe uma dimensão mais profunda e uma finalidade mais ampla. Uma comparação para esclarecer o que acabamos de dizer. Numa roda de amigos alguém mostrou uma fotografia, onde se via um homem de rosto severo, com o dedo levantado, quase agredindo o público. Todos ficaram com a ideia de se tratar de uma pessoa inflexível, exigente, que não permitia intimidade. Nesse momento, chegou um jovem, viu a fotografia e exclamou: "É meu pai!" Os outros olharam para ele e, apontando a fotografia, comentaram: "Pai severo, hein!" Ele respondeu: "Não é não! Ele é muito carinhoso. Meu pai é advogado. Aquela fotografia foi tirada no tribunal, na hora em que ele denunciava o crime de um latifundiário que queria despejar uma família pobre que estava morando num terreno baldio da prefeitura há vários anos! Meu pai ganhou a causa. Os pobres não foram despejados!” Todos olharam de novo e disseram: "Que pessoa simpática!” Como por um milagre, a fotografia se iluminou por dentro e tomou um outro aspecto. Aquele rosto, tão severo adquiriu os traços de uma grande ternura! As palavras do filho, mudaram tudo, sem mudar nada! As palavras e gestos de Jesus, nascidas da sua experiência de filho, sem mudar uma letra ou vírgula sequer, iluminaram o sentido do Antigo Testamento pelo lado de dentro (Mt 5,17-18) e iluminaram por dentro toda a sabedoria acumulada do doutor da Lei. O mesmo Deus, que parecia tão distante e severo, adquiriu os traços de um Pai bondoso de grande ternura!
 
Para um confronto pessoal
1) A experiência do Filho já entrou em você para mudar os olhos e descobrir as coisas de Deus de outro modo?
2) O que te revelou o Sermão das Parábolas sobre o Reino?

segunda-feira, 29 de julho de 2024

Quarta-feira da 17ª semana do Tempo Comum

Santo Inácio de Loyola, presbítero
 
1ª Leitura (Jer 15,10.16-21):
Como sou infeliz, minha mãe! Por que me trouxestes ao mundo? Sou um homem contestado e perseguido em toda a terra! Ninguém me deve e eu não devo nada a ninguém; e no entanto sou amaldiçoado por todos. Quando apareciam as vossas palavras, Senhor, eu tomava-as como alimento. A vossa palavra era o encanto e a alegria do meu coração, porque sobre mim foi invocado o vosso nome, Senhor, Deus do Universo. Nunca me sentei com os folgazões para me divertir; sob o peso da vossa mão sentei-me solitário, porque a vossa indignação enchia a minha alma. Porque não tem fim a minha dor, por que não tem cura a minha ferida? Vós sois para mim como o ribeiro enganador, em cujas águas não se pode confiar. Então o Senhor falou-me, dizendo: «Se quiseres voltar, Eu farei que voltes, para estares na minha presença. Se separares o metal das impurezas, tu serás como a minha boca. São eles que virão ter contigo e não tu a ir ao seu encontro. Farei de ti para este povo uma forte muralha de bronze: lutarão contra ti, mas não poderão vencer-te, porque Eu estou contigo para te proteger e salvar. Eu te livrarei das mãos dos malvados, Eu te salvarei do poder dos violentos».
 
Salmo Responsorial: 58
R. Sois o meu refúgio, Senhor, no dia da minha tribulação.
 
Meu Deus, livrai-me dos inimigos, protegei-me contra os meus agressores. Defendei-me dos que praticam a iniquidade, salvai-me dos homens sanguinários.
 
Armam ciladas para me tirar a vida, conspiram contra mim homens poderosos. Senhor, em mim não há crime nem pecado, sem culpa minha correm a atacar-me.
 
Senhor, minha força, é para Vós que eu me volto, sois Vós, ó Deus, o meu refúgio. A bondade do meu Deus venha em meu auxílio e me faça ver a derrota dos meus inimigos.
 
Eu cantarei, Senhor, a força do vosso poder, de manhã louvarei a vossa bondade, porque sois a minha fortaleza, o meu refúgio no dia da tribulação.
 
Aleluia. Eu chamo-vos amigos, diz o Senhor, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 13,44-46): Naquele tempo, Jesus disse às pessoas: «O Reino dos Céus é como um tesouro escondido num campo. Alguém o encontra, deixa-o lá bem escondido e, cheio de alegria, vai vender todos os seus bens e compra aquele campo. O Reino dos Céus é também como um negociante que procura pérolas preciosas. Ao encontrar uma de grande valor, ele vai, vende todos os bens e compra aquela pérola».
 
«Vai vender todos os seus bens e compra aquele campo»
 
Rev. D. Enric CASES i Martín (Barcelona, Espanha)

Hoje, Mateus põe à nossa consideração duas parábolas sobre o Reino dos Céus. O anúncio do Reino é essencial na prédica de Jesus e na esperança do povo eleito. Mas é notório que a natureza desse Reino não era entendida pela maioria. Não a entendia o sinédrio que o condenaram à morte, não a entendiam Pilatos, nem Herodes, também não a entenderam de início os próprios discípulos. Só se encontra uma compreensão como a que Jesus pede ao bom ladrão, cravado junto dele na Cruz, quando lhe diz: «Jesus, Lembra-te de mim quando estiveres no teu Reino» (Lc 23,42). Ambos tinham sido acusados como malfeitores e estavam quase a morrer; mas, por um motivo que desconhecemos, o bom ladrão reconhece Jesus como Rei de um Reino que virá depois daquela terrível morte. Só podia ser um Reino espiritual.
 
Jesus, na sua primeira prédica, fala do Reino como um tesouro escondido cuja descoberta causa alegria e estimula à compra do campo para poder gozar dele para sempre: «cheio de alegria, vai vender todos os seus bens e compra aquele campo» (Mt 13,44). Mas, ao mesmo tempo, alcançar o Reino requer procurá-lo com interesse e esforço, ao ponto de vender tudo o que se possui: «Ao encontrar uma de grande valor, ele vai vende todos os bens e compra aquela pérola» (Mt 13,46). «A propósito de que se diz buscai e quem busca. Encontra? Arrisco a ideia de que se trata das pérolas e a pérola, pérola que adquire o que deu tudo e aceitou perder tudo» (Orígenes).
 
O Reino é de paz, amor justiça e liberdade. Alcançá-lo é, por um lado, dom de Deus e por outro lado, responsabilidade humana. Diante da grandeza do dom divino constatamos a imperfeição e instabilidade dos nossos esforços, que às vezes ficam destruídos pelo pecado, as guerras e a malicia que parecem insuperáveis. Não obstante, devemos ter confiança, pois o que parece impossível para o homem é possível para Deus.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Nesta santa Igreja Católica, instruídos com esclarecidos preceitos e ensinamentos, alcançaremos o reino dos céus e herdaremos a vida eterna, pela qual tudo toleramos, para que possamos obtê-la do Senhor» (São Cirilo de Jerusalém)
 
«Vale a pena deixar tudo por este Reino. É o tesouro enterrado no campo: quem o encontra o enterra novamente e vende tudo o que tem para comprar o campo e assim ficar com o tesouro» (Bento XVI)
 
«(…) Este tesouro [a Boa Nova], recebido dos Apóstolos, foi fielmente guardado pelos seus sucessores. Todos os fiéis de Cristo são chamados a transmiti-lo de geração em geração, anunciando a fé, vivendo-a em partilha fraterna e celebrando-a na liturgia e na oração» (Catecismo da Igreja Católica, nº 3)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje traz mais duas pequenas parábolas do Sermão das Parábolas.
As duas são semelhantes entre si, mas com diferenças significativas para esclarecer melhor determinados aspectos do Mistério do Reino que está sendo revelado através destas parábolas.
 
* Mateus 13,44: A parábola do tesouro escondido no campo. Jesus conta uma história bem simples e bem curta que poderia acontecer na vida de qualquer um de nós. Ele diz: “O Reino do Céu é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra, e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens, e compra esse campo”. Jesus não explica. Ele só diz: O Reino do Céu é como um tesouro escondido no campo”. Assim, ele provoca os ouvintes a partilhar com os outros o que esta história nele suscitou. Partilho alguns pontos que descobri: (1) O tesouro, o Reino, já está no campo, já está na vida. Está escondida. Passamos e pisamos por cima sem nos dar conta. (2) O homem encontrou o tesouro. Foi puro acaso. Ele não esperava encontrá-lo, pois não estava procurando. (3) Ao descobrir que se trata de um tesouro muito importante, o que ele faz? Faz o que todo mundo faria para ter o direito de poder apropriar-se do tesouro. Ele vai, vende tudo que tem e compra o campo. Assim, junto com o campo adquiriu o tesouro, o Reino. A condição é vender tudo! (4) Se o tesouro, o Reino, já estava na vida, então é um aspecto importante da vida que começa a ter um novo valor. (5) Nesta história, o que predomina é a gratuidade. O tesouro é encontrado por acaso, para além das programações nossas. O Reino acontece! E se acontece, você ou eu temos que tirar as consequências e não permitir que este momento de graça passe sem dar fruto.
 
* Mateus 13,45-46: A parábola do comprador de pedras preciosas. A segunda parábola é semelhante à primeira, mas tem uma diferença importante. Tente descobri-la. A história é a seguinte: “O Reino do Céu é também como um comprador que procura pérolas preciosas. Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens, e compra essa pérola”.  Partilho alguns pontos que descobri: (1) Trata-se de um comerciante de pérolas. A profissão dele é buscar pérolas. Ele só faz isso na vida: buscar e encontrar pérolas. Buscando, ele encontra uma pérola de grande valor. Aqui a descoberta do Reino não é puro acaso, mas fruto de longa busca. (2) Comerciante de pérola entende do valor das pérolas, pois muitas pessoas querem vender para ele as pérolas que encontraram. Mas o comerciante não se deixar enganar. Ele conhece o valor da sua mercadoria. (3) Quando ele encontra uma pérola de grande valor, ele vai e vende tudo que tem e compra essa pérola. O Reino é o valor maior.
 
* Resumindo o ensinamento das duas parábolas. As duas tem o mesmo objetivo: revelar a presença do Reino, mas cada uma revela uma maneira diferente de o Reino mostrar a sua presença: através de descoberta da gratuidade da ação de Deus em nós, e através do esforço e da busca que todo ser humano faz para ir descobrindo cada vez melhor o sentido da sua vida.
 
Para um confronto pessoal
1) Tesouro escondido: já encontrou alguma vez? Já vendeu tudo para poder adquiri-la?
2) Buscar pérolas: qual a pérola que você busca e ainda não encontrou?

domingo, 28 de julho de 2024

Terça-feira da 17ª semana do Tempo Comum

São Pedro Crisólogo, bispo e doutor da Igreja
 
1ª Leitura (Jer 14,17-22):
Chorem meus olhos, noite e dia, lágrimas sem fim, porque uma grande ruína, uma chaga atroz, tortura a virgem, filha do meu povo. Se saio para o campo, eis os mortos à espada; se entro na cidade, eis as vítimas da fome. Tanto o profeta como o sacerdote percorrem o país e não compreendem. Acaso rejeitastes inteiramente Judá? Por que Vos desgostastes com Sião? Por que nos feristes sem esperança de remédio? Esperávamos a paz e nada vemos de bom, uma era de restauração e surgiu a angústia. Reconhecemos, Senhor, a nossa impiedade e a culpa dos nossos pais, porque pecámos contra Vós. Não nos rejeiteis, por amor do vosso nome, não deixeis profanar o vosso trono de glória. Recordai e não revogueis a vossa aliança conosco. Pode algum dos falsos deuses das nações fazer que chova? Ou é o céu que nos dá sozinho os aguaceiros? Não sois Vós, Senhor, nosso Deus, em quem esperamos? Na verdade, sois Vós que realizais tudo isto.
 
Salmo Responsorial: 78
R. Salvai-nos, Senhor, para glória do vosso nome.
 
Não recordeis, Senhor, contra nós as culpas dos nossos pais. Corra ao nosso encontro a vossa misericórdia, porque somos tão miseráveis.
 
Ajudai-nos, ó Deus, nosso salvador, para glória do vosso nome. Salvai-nos e perdoai os nossos pecados, para glória do vosso nome.
 
Chegue à vossa presença, Senhor, o gemido dos cativos; pela omnipotência do vosso braço, libertai os condenados à morte.
 
E nós, vosso povo, ovelhas do vosso rebanho, louvar-Vos-emos para sempre e de geração em geração cantaremos a vossa glória.
 
Aleluia. A semente é a palavra de Deus e o semeador é Cristo: quem O encontra permanece para sempre. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 13,36-43): Naquele tempo, Jesus deixou as multidões e foi para casa. Seus discípulos aproximaram-se dele e disseram: «Explica-nos a parábola do joio». Ele respondeu: «Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem. O campo é o mundo. A boa semente são os que pertencem ao Reino. O joio são os que pertencem ao Maligno. O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o fim dos tempos. Os que cortam o trigo são os anjos. Como o joio é retirado e queimado no fogo, assim também acontecerá no fim dos tempos: o Filho do Homem enviará seus anjos e eles retirarão do seu Reino toda causa de pecado e os que praticam o mal; depois, serão jogados na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes. Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça».
 
«Explica-nos a parábola do joio»
 
Rev. D. Iñaki BALLBÉ i Turu (Terrassa, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, com a parábola do joio e do trigo, a Igreja nos convida a meditar sobre a convivência do bem e do mal. O bem e o mal dentro do nosso coração; o bem e o mal que vemos em outros, que vemos existir neste mundo.
 
«Explica-nos a parábola» (Mt 13,36), pedem os discípulos a Jesus. E nós, hoje, podemos fazer o propósito de ter mais cuidado com a nossa oração pessoal, com o nosso trato cotidiano com Deus. Senhor, podemos dizer-lhe, explique-me por que não avanço suficientemente em minha vida interior. Explique-me como posso lhe ser mais fiel, como posso buscar-lhe em meu trabalho, ou através dessa circunstância que não entendo, ou não quero. Como posso ser um apóstolo qualificado. A oração é isso, pedir explicações a Deus. Como é minha oração? É sincera? É constante? É confiante?
 
Jesus Cristo nos convida a ter os olhos fixos no céu, nossa morada eterna. Frequentemente, vivemos enlouquecidos pela pressa, e quase nunca nos detemos para pensar que um dia próximo ou não, não o sabemos deveremos prestar contas a Deus de nossa vida, de como temos feito frutificar as qualidades que Ele nos tem dado. E o Senhor nos diz que no fim dos tempos haverá uma triagem. Devemos ganhar o Céu na terra, no dia a dia, sem esperar situações que possivelmente nunca virão. Devemos viver heroicamente o que é ordinário, o que aparentemente não possui nenhuma transcendência. Viver pensando na eternidade e ajudar os outros a pensar nela!: paradoxalmente, «esforça-se para não morrer o homem que há de morrer; e não se esforça para não pecar o homem que há de viver eternamente» (São João de Toledo).
 
Colheremos o que houvermos semeado. Devemos lutar para dar 100% hoje. Para que quando Deus nos chame a sua presença Lhe apresentemos as mãos cheias: de atos de fé, de esperança, de amor. Que se concretizam em coisas muito pequenas e em pequenos vencimentos que, vividos diariamente, nos fazem mais cristãos, mais santos, mais humanos.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Esforça-se por não morrer o homem que morrerá; e não se esforça por não pecar, o homem que viverá eternamente» (São Julião de Toledo)
 
«Devemos estar preparados para protegermos a graça recebida no dia do nosso Baptismo, alimentando a fé em Nosso Senhor impedindo assim que o mal lance as suas raízes» (Bento XVI)
 
«(...) Jesus fala muitas vezes da «gehena» do «fogo que não se apaga» reservada aos que recusam, até ao fim da vida, acreditar e converter-se, e na qual podem perder-se, ao mesmo tempo, a alma e o corpo. Jesus anuncia, em termos muitos severos, que «enviará os seus anjos que tirarão do seu Reino [...] todos os que praticaram a iniquidade, e hão de lançá-los na fornalha ardente» (Mt 13, 41-42), e sobre eles pronunciará a sentença: «afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno» (Mt 25, 41)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1034)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje traz a explicação que Jesus, a pedido dos discípulos, deu da parábola do joio e do trigo.
Alguns estudiosos acham que esta explicação, dada por Jesus aos discípulos, não seja de Jesus, mas sim da comunidade. É possível e provável, pois uma parábola, por sua própria natureza, pede o envolvimento e a participação das pessoas na descoberta do sentido. Assim como a planta já está dentro da sua semente, assim, de certo modo, a explicação da comunidade já está dentro da parábola. É exatamente este o objetivo que Jesus queria e ainda quer alcançar com a parábola. O sentido que nós hoje vamos descobrindo na parábola que Jesus contou dois mil anos atrás já estava implicado na história que Jesus contou, como a flor já está dentro da sua semente.
 
* Mateus 13,36: O pedido dos discípulos para explicar a parábola do joio e do trigo. Os discípulos, em casa conversam com Jesus e pedem uma explicação da parábola do joio e do trigo (Mt 13,24-30). Várias vezes se informa que Jesus, em casa, continuava o seu ensinamento aos discípulos (Mc 7,17; 9,28.33; 10,10). Naquele tempo não havia televisão e nas longas horas das noites do inverno o povo reunia para conversar e tratar dos assuntos da vida. Jesus fazia o mesmo. Era nestas ocasiões que ele completava o ensinamento e a formação dos discípulos.
 
* Mateus 13,38-39: O significado de cada um dos elementos da parábola. Jesus responde retomando cada um dos seis elementos da parábola e lhes dá um sentido: o campo é o mundo; a boa semente são os membros do Reino; o joio são os membros do adversário (maligno); o inimigo é o diabo; a colheita é o fim dos tempos; os ceifadores são os anjos. Experimente você agora ler de novo a parábola (Mt 13,24-30) colocando o sentido certo em cada um dos seis elementos: campo, boa semente, joio, inimigo, colheita e ceifadores. Aí, a história toma um sentido totalmente diferente e você alcança o objetivo que Jesus tinha em mente ao contar esta história do joio e do trigo ao povo. Alguns acham que esta parábola que deve ser entendida como uma alegoria e não como uma parábola propriamente dita.
 
* Mateus 13,40-43: A aplicação da parábola ou da alegoria. Com estas informações dadas por Jesus você entenderá a aplicação que ele dá: Assim como o joio é recolhido e queimado no fogo, o mesmo também acontecerá no fim dos tempos: o Filho do Homem enviará os seus anjos, e eles recolherão todos os que levam os outros a pecar e os que praticam o mal, e depois os lançarão na fornalha de fogo. Aí eles vão chorar e ranger os dentes. Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai”. O destino do joio é a fornalha, o destino do trigo bom é o brilho do sol no Reino do Pai. Por de trás destas duas imagens está a experiência das pessoas. Depois que elas escutaram Jesus e o aceitaram em suas vidas, tudo mudou para elas. O fim chegou. Ou seja, em Jesus chegou aquilo que, no fundo, todos esperavam: a realização das promessas. A vida agora se divide em antes e depois que escutaram e aceitaram Jesus em suas vidas. A nova vida começou como o brilho do sol. Se tivessem continuado a viver como antes, seriam como o joio jogado na fornalha, vida sem sentido e sem serventia para nada.
 
*  Parábola e Alegoria. Existe a parábola. Existe a alegoria. Existe a mistura das duas que é a forma mais comum. Geralmente tudo é chamado de parábola. No evangelho de hoje temos o exemplo de uma alegoria. Uma alegoria é uma história que a pessoa conta, mas enquanto conta, ela não pensa nos elementos da história, mas sim no assunto que deve ser esclarecido. Ao ler uma alegoria não é necessário olhar primeiro a história como um todo, pois numa alegoria a história não se constrói em torno de um ponto central que depois serve como meio de comparação, mas cada elementos tem a sua função independente a partir do sentido que recebe. Trata-se de descobrir o que cada elemento das duas histórias nos tem a dizer sobre o Reino como fez a explicação que Jesus deu da parábola: campo, boa semente, joio, inimigo, colheita e ceifadores. Geralmente, as parábolas são alegorizantes. Mistura das duas.
 
Para um confronto pessoal
1) No campo existe tudo misturado: joio e trigo. No campo da minha vida, o que prevalece: o joio ou o trigo?
2) Você já tentou conversar com outras pessoas para descobrir o sentido de alguma parábola?

sábado, 27 de julho de 2024

29 de julho - SS. Marta, Maria e Lázaro

1ª Leitura (Ex 32,15-24.30-34):
Naqueles dias, Moisés desceu do monte Sinai, trazendo na mão as duas tábuas da Lei, escritas de ambos os lados, em uma e outra face. As tábuas eram obra de Deus; a escritura era letra de Deus gravada nas tábuas. Josué ouviu a vozearia do povo e disse a Moisés: «Há gritos de guerra no acampamento». Moisés respondeu-lhe: «Não são gritos de vitória, nem lamentos de derrota; o que eu ouço são vozes de gente a cantar». Ao aproximar-se do acampamento, viu o bezerro e as danças. Então Moisés, inflamado em cólera, arremessou as tábuas e fê-las em pedaços no sopé do monte. Pegou no bezerro que eles tinham fabricado, queimou-o e triturou-o até o reduzir a pó; espalhou-o na água e deu-a a beber aos filhos de Israel. Moisés perguntou a Aarão: «Que te fez este povo, para o induzires a pecado tão grave?». Aarão respondeu-lhe: «Não se acenda a cólera do meu senhor. Bem sabes como este povo é inclinado para o mal. Foram eles que me disseram: ‘Faz-nos um deus que vá à nossa frente, porque a esse Moisés, o homem que nos fez sair da terra do Egipto, não sabemos o que lhe aconteceu’. Então eu disse-lhes: ‘Quem tem ouro?’ Eles desfizeram-se do ouro que tinham e deram-mo. Depois eu lancei-o ao fogo e saiu este bezerro». No dia seguinte, Moisés disse ao povo: «Vós cometestes um grande pecado. Mas agora vou subir à presença do Senhor, para ver se posso obter o perdão do vosso pecado». Moisés voltou à presença do Senhor e disse-Lhe: «Este povo cometeu um grande pecado, fabricando um deus de ouro. Se quisésseis ainda perdoar-lhe este pecado... Se não, peço que me risqueis do livro que escrevestes». O Senhor respondeu a Moisés: «Riscarei do meu livro aquele que pecou contra Mim. Agora vai e conduz o povo para onde Eu te disse, que o meu Anjo irá à tua frente. Mas no dia em que Eu tiver de intervir, castigarei o seu pecado».
 
Salmo Responsorial: 105
R. Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom.
 
Fizeram um bezerro no Horeb e adoraram um ídolo de metal fundido. Trocaram a sua glória pela figura de um boi que come feno.
 
Esqueceram a Deus que os salvara, que realizara prodígios no Egipto, maravilhas na terra de Cam, feitos gloriosos no Mar Vermelho.
 
E pensava já em exterminá-los, se Moisés, o seu eleito, não intercedesse junto d’Ele e aplacasse a sua ira para os não destruir.
 
Aleluia. Deus Pai nos gerou pela palavra da verdade, para sermos as primícias das suas criaturas. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 10,38-42): Naquele tempo, Jesus entrou num povoado, e uma mulher, de nome Marta, o recebeu em sua casa. Ela tinha uma irmã, Maria, a qual se sentou aos pés do Senhor e escutava a sua palavra. Marta, porém, estava ocupada com os muitos afazeres da casa. Ela aproximou-se e disse: «Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda pois que ela venha me ajudar!». O Senhor, porém, lhe respondeu: «Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada».
 
«Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária»
 
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)

Hoje, também nós que estamos ocupados com muitas coisas devemos ouvir o que o Senhor nos recorda: «No entanto, uma só é necessária» (Lc 10,42): o amor, a santidade. Este é o objetivo, o horizonte que não podemos perder nunca de vista no meio de nossas ocupações cotidianas.
 
Porque ocupados estaremos sempre se obedecermos à indicação do Criador: «Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a!» (Gn 1,28). A Terra! O mundo: é aqui o nosso lugar de encontro com o Senhor. «Eu não rogo que os tires do mundo, mas que os guardes do maligno» (Jo 17,15). Sim, o mundo é o altar para nós e para nossa entrega a Deus e aos outros.
 
Somos do mundo, mas não podemos ser mundanos. Muito pelo contrário, somos chamados a ser como a bela expressão de João Paulo II sacerdotes da criação, sacerdotes do nosso mundo, de um mundo que amamos apaixonadamente.
 
Eis aqui a questão: o mundo e a santidade, o trabalho diário e a única coisa necessária. Não são duas realidades opostas: temos que procurar a confluência de ambas. E essa confluência se produz em primeiro lugar e sobretudo em nosso coração, que é onde se pode unir o céu e a terra. Porque no coração humano é onde pode nascer o diálogo entre o Criador e a criatura.
 
É necessário, portanto, a oração. «O nosso tempo é um tempo em constante movimento, que frequentemente desemboca no ativismo, com o risco fácil de acabar fazendo por fazer. Temos que resistir a essa tentação, procurando ser antes de fazer. Recordamos a este respeito a reprovação de Jesus a Marta: «Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária (Lc 10,41-42)» (João Paulo II).
 
Não há oposição entre o ser e o fazer, mas sim há uma ordem de prioridade, de precedência: «Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada» (Lc 10,42).
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«A vida de Marta, é nosso mundo; a vida de Maria é o mundo que esperamos. Vivamos a de aqui com retitude para obter plenamente a outra» (Santo Agostinho)
 
«A palavra de Cristo é muito clara: não desprecia a vida ativa, e muito menos a generosa hospitalidade; mas lembra o fato de que a única coisa verdadeiramente necessária é outra: escutar a Palavra do Senhor» (Bento XVI)
 
«É tão grande a força e a virtude de Palavra de Deus, que ela se torna para a Igreja apoio e vigor e, para os filhos da Igreja, solidez da fé, alimento da alma, fonte pura e perene de vida espiritual» (Catecismo da Igreja Católica, n° 131)
 
Santos Marta, Maria e Lázaro,  amigos de Jesus
 
do site da Opus Dei

JESUS não pode se aproximar da aldeia onde vivem os seus amigos sem os visitar. A espontaneidade com que o evangelista Lucas narra a cena enfatiza a profunda confiança que existia entre o Senhor e os três irmãos de Betânia: Marta, Maria e Lázaro. Não era preciso que Ele anunciasse a sua chegada; nem sequer era necessário que Ele se preocupasse com levar um presente. Sabia que que era sempre bem-vindo e que os seus amigos ficavam sempre contentes com a sua presença e com a possibilidade de manifestar o seu carinho. O Evangelho diz-nos que Marta recebeu Jesus quando chegou à sua casa. É fácil imaginar a emoção que ela deve ter sentido quando viu o Mestre chegar. Mas essa alegria foi acompanhada de um certo nervosismo. Como boa dona de casa, ela quer que a estadia do seu amigo seja o mais agradável possível e, por isso, rapidamente coloca mãos à obra. Enquanto Ele fala, Marta segue os costumes de qualquer anfitriã: oferece a água para purificar as mãos, um pouco de óleo para a ungir a cabeça... Ao mesmo tempo, garante que os pratos cheguem na hora certa e que não falte nada. É a sua maneira de exprimir o seu amor pelo Senhor.
 
Mas a agitação do trabalho pode estar começando a ser maior do que a esperado. O seu estado de ânimo piora pouco a pouco. Enquanto continua a executar os serviços, vai raciocinando interiormente. Sente-se angustiada por não conseguir cuidar de tudo e, num cálculo fácil, chega à conclusão de que, se a sua irmã Maria a ajudasse, as coisas mudariam. Maria, por sua vez, está sentada aos pés do Senhor. Por isso, diante da sua aparente indiferença, Marta coloca-se diante de Jesus: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha, com todo o serviço? Manda que ela me venha ajudar” (Lc 10, 40). Marta podia ter disfarçado a sua angústia, a sua ansiedade; podia ter-se aproximado discretamente da irmã, procurando que ninguém percebesse, e pedido ajuda. Em vez disso, optou por se dirigir abertamente ao Mestre e se sente “até no direito de criticar Jesus”[Bento XVI, Audiência geral, 18/07/2010]. Mas, no final de contas, esta também é uma manifestação de proximidade com o Senhor, pois na presença de um bom amigo não precisamos disfarçar o que pensamos. Podemos pedir a Santa Marta que nos ajude a ter a mesma familiaridade com Jesus, a nos mostrarmos como somos quando falamos com Ele, mesmo que, às vezes, essa seja a oportunidade de o Mestre nos mostrar uma maneira melhor de ordenar a nossa vida.
 
* Trabalhar sabendo que Deus está em nossa casa
 
JESUS não responde à frustração de Marta com palavras duras. Conhece a sua boa intenção. Por isso, em sinal de especial afeto, refere-se a ela repetindo o seu nome: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada” (Lc 10, 41). Em nenhum momento o Senhor censura Marta por não ter feito o que era correto. Nem a convida a sentar-se aos seus pés, como Maria, e a esquecer os deveres da casa. Como é que os outros companheiros de viagem poderiam ter comido e descansado da viagem? A mudança que Ele pede é sobretudo interior: convida-a a viver as suas tarefas com uma atitude diferente. Marta fazia muitas coisas, mas tinha esquecido o mais importante: Jesus estava em casa e talvez não estivesse ouvindo as suas palavras.
 
Muitas vezes, durante o dia, podemos sentir-nos sobrecarregados como Marta. Talvez pensemos que as nossas obrigações profissionais ou familiares tornam impossível encontrar o tempo que gostaríamos para estar com Deus. No entanto, Jesus não nos propõe que deixemos de lado os nossos deveres. Como a Marta, convida-nos precisamente a encontrar o Senhor nessas ocupações, a realizar cada tarefa sabendo que o Senhor está sempre em casa na nossa alma. Deste modo, o trabalho torna-se um ato de amor constante, um contínuo “eu te amo” que vai além do que podemos repetir com os nossos lábios ou com os pensamentos. “Sobram as palavras - dizia São Josemaria -  porque a língua não consegue expressar-se; começa a serenar-se a inteligência. Não se raciocina, fita-se! E a alma rompe outra vez a cantar com um cântico novo, porque se sente e se sabe também fitada amorosamente por Deus, em todos os momentos” [São Josemaria, Amigos de Deus, n. 307].
 
* Encher de amor o nosso trabalho
 
NÃO FORAM as obras em si que distraíram Marta de Jesus. O desejo santo de lhe proporcionar um acolhimento bom e reparador, acabou em tensão e angústia, porque ela não conseguiu fazer tudo o que tinha planejado. Tinha perdido de vista a finalidade de todas as suas ações. Talvez estivesse fazendo todos estes pormenores de serviço por inércia, como faria com qualquer outro hóspede. Mas Jesus a incentiva a não esquecer o que é realmente importante: Deus estava em sua casa. Ela não estava simplesmente cumprindo o seu papel de anfitriã: estava fazendo tudo para que o Senhor descansasse. “O problema nem sempre é o excesso de atividades, mas sobretudo as atividades mal vividas, sem as motivações certas, sem uma espiritualidade que impregne a ação e a torne desejável. Daí que as tarefas sejam mais cansativas do que o razoável e, por vezes, nos façam adoecer. Não se trata de um cansaço feliz, mas de um cansaço tenso, pesado, insatisfeito e, em suma, não aceito”[Papa Francisco, Evangelii Gaudium, n. 82].
 
Todos nós, que desejamos encontrar Deus no meio do mundo, podemos ser como Marta. Temos muitas coisas a fazer que exigem a nossa atenção e esforço constantes. Isso, naturalmente, leva ao cansaço. No entanto, quando sabemos que todo esse trabalho tem um significado maior do que podemos perceber à primeira vista, é mais difícil que esse cansaço nos tire a paz, porque sabemos que nosso sucesso não pode ser medido através de cálculos humanos. No diálogo pessoal com Deus, podemos redescobrir que tudo o que fazemos tem o objetivo de amá-lo; que cuidamos deste mundo porque é d'Ele. Assim, não seremos movidos apenas pela inércia ou pelo que as circunstâncias exigem, mas pelo desejo de encontrar o Deus escondido em tudo o que fazemos. “Sem amor, mesmo as atividades mais importantes perdem valor e não dão alegria. Sem um sentido profundo, toda a nossa ação se reduz a um ativismo estéril e desordenado. E quem nos dá o amor e a verdade senão Jesus Cristo?” [Bento XVI, Ângelus, 18/07/2010]. E a quem podemos pedir que interceda por nós nesta missão de amar a Deus no nosso trabalho cotidiano senão a Santa Maria?

XVII Domingo do Tempo Comum

S. Pedro Poveda Castroverde, presbítero e mártir
 
1ª Leitura (2Re 4,42-44):
Naqueles dias, veio um homem da povoação de Baal-Salisa e trouxe a Eliseu, o homem de Deus, pão feito com os primeiros frutos da colheita. Eram vinte pães de cevada e trigo novo no seu alforge. Eliseu disse: «Dá-os a comer a essa gente». O servo respondeu: «Como posso com isto dar de comer a cem pessoas?». Eliseu insistiu: «Dá-os a comer a essa gente, porque assim fala o Senhor: ‘Comerão e ainda há-de sobrar’». Deu-lhos e eles comeram, e ainda sobrou, segundo a palavra do Senhor.
 
Salmo Responsorial: 144
R. Abris, Senhor, as vossas mãos e saciais a nossa fome.
 
Graças Vos deem, Senhor, todas as criaturas e bendigam-Vos os vossos fiéis. Proclamem a glória do vosso reino e anunciem os vossos feitos gloriosos.
 
Todos têm os olhos postos em Vós, e a seu tempo lhes dais o alimento. Abris as vossas mãos
e todos saciais generosamente.
 
O Senhor é justo em todos os seus caminhos e perfeito em todas as suas obras. O Senhor está perto de quantos O invocam, de quantos O invocam em verdade.
 
2ª Leitura (Ef 4,1-6): Irmãos: Eu, prisioneiro pela causa do Senhor, recomendo-vos que vos comporteis segundo a maneira de viver a que fostes chamados: procedei com toda a humildade, mansidão e paciência; suportai-vos uns aos outros com caridade; empenhai-vos em manter a unidade de espírito pelo vínculo da paz. Há um só Corpo e um só Espírito, como há uma só esperança na vida a que fostes chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só Baptismo. Há um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, atua em todos e em todos Se encontra.
 
Apareceu entre nós um grande profeta: Deus visitou o seu povo. Aleluia.
 
Evangelho (Jo 6,1-15): Naquele tempo Jesus foi para o outro lado do mar da Galileia, ou seja, de Tiberíades. Uma grande multidão o seguia, vendo os sinais que ele fazia a favor dos doentes. Jesus subiu a montanha e sentou-se lá com os seus discípulos. Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus. Levantando os olhos e vendo uma grande multidão que vinha a ele, Jesus disse a Filipe: «Onde vamos comprar pão para que estes possam comer?». Disse isso para testar Filipe, pois ele sabia muito bem o que ia fazer. Filipe respondeu: «Nem duzentos denários de pão bastariam para dar um pouquinho a cada um». Um dos discípulos, André, irmão de Simão Pedro, disse: «Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes. Mas, que é isso para tanta gente?». Jesus disse: «Fazei as pessoas sentarem-se». Naquele lugar havia muita relva, e lá se sentaram os homens em número de aproximadamente cinco mil. Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu aos que estavam sentados, tanto quanto queriam. E fez o mesmo com os peixes. Depois que se fartaram, disse aos discípulos: «Juntai os pedaços que sobraram, para que nada se perca!». Eles juntaram e encheram doze cestos, com os pedaços que sobraram dos cinco pães de cevada que comeram. À vista do sinal que Jesus tinha realizado, as pessoas exclamavam: «Este é verdadeiramente o profeta, aquele que deve vir ao mundo». Quando Jesus percebeu que queriam levá-lo para proclamá-lo rei, novamente se retirou sozinho para a montanha.
 
«Uma grande multidão o seguia»
 
Rev. D. Pere CALMELL i Turet (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, podemos contemplar como se forja no nosso interior tanto o amor humano como o amor sobrenatural, já que temos um mesmo coração para amar a Deus e aos outros.
 
Geralmente, o amor vai abrindo passo no coração humano quando se descobre o atrativo do outro: sua simpatia, sua bondade. É o caso do «rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixes» (Jn 6,9). Dá a Jesus tudo o que leva, os pães e os peixes, porque se deixou conquistar pelo atrativo de Jesus. —Descobri o atrativo do Senhor?
 
A continuação, o enamoramento, fruto de sentir-se correspondido. Disse que «muita gente o seguia porque viam os sinais que ele realizava nos enfermos» (Jn 6,2). Jesus os escutava, os obedecia, porque sabia o que eles necessitavam.
 
Jesus Cristo sente um poderoso atrativo por mim e quer minha realização humana y sobrenatural. Ama-me tal como sou, com minhas misérias, porque peço perdão e, com sua ajuda, continuo esforçando-me.
 
«Jesus percebendo que tentavam vir tomá-lo pela força para proclamá-lo rei, fugiu novamente ao monte Ele só» (Jn 6,15). E lhes dirá no dia seguinte: «Em verdade, em verdade vos digo: vós me buscais, não porque hás visto sinais, e sim porque hás comido dos pães e vos hás saciado» (Jn 6,26). Santo Agostinho escreve: «Quantos há que procuram Jesus, guiados somente por interesses temporais! (...) apenas se procura a Jesus por Jesus».
 
A plenitude do amor é o amor de doação; quando se quer o bem do ser amado, sem esperar nada em troca, mesmo que seja ao preço do sacrifício pessoal.
 
Hoje, eu posso lhe dizer: «Senhor, que nos fazes participar do milagre da Eucaristia: pedimos que não te escondas, que vivas conosco, que te vejamos, que te toquemos, que te sintamos, que queiramos estar sempre ao teu lado, que sejas o Rei de nossas vidas e de nossos trabalhos» (São Josemaria).
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Senhor, satisfeitos com a tua Eucaristia, desenvolve em nós o desejo e a vontade de te seguir para que sejamos dignos de receber de ti a sabedoria e a experiência do teu alimento espiritual» (Santo Alberto Magno)
 
«Certamente temos algum talento, alguma habilidade... Quem de nós não tem os seus 'cinco pães e dois peixes'? Deus é capaz de multiplicar os nossos pequenos gestos de solidariedade e de nos tornar participantes do seu dom» (Francisco)
 
«Numerosos judeus, e mesmo alguns pagãos (…) reconheceram em Jesus os traços fundamentais do messiânico ‘filho de David’ prometido por Deus a Israel (36). Jesus aceitou o título de Messias (…), mas não sem reservas, uma vez que esse título era compreendido, por numerosos dos seus contemporâneos, segundo um conceito demasiado humano (38), essencialmente político (39)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 439)
 
“Então, Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os pelos que estavam sentados.”
 
Do site da Ordem do Carmo em Portugal.
 
* O “livro dos sinais” do quarto evangelho:
esta passagem encontra-se na parte do evangelho chamada “livro dos sinais” (desde 1, 19 até 12, 50) no qual são descritos e comentados os sete grandes “sinais” de autorrevelação (semeion, milagre ou ação simbólica) realizados por Jesus neste evangelho. Os discursos e os sinais estão estreitamente relacionados: os “sinais” são explicados com discursos teológicos e nos “sinais” apresenta-se plasticamente os conteúdos do discurso, num progressivo aprofundamento da revelação divina e na consequente crescente hostilidade para com Jesus.
 
* O capítulo 6 de João: alguns, para procurar esclarecer as particularidades geográficas e cronológicas do capítulo 6, propõem a inversão com o capítulo 5, mas isto não resolve todos os problemas. É melhor manter e respeitar o que a tradição nos transmitiu, mesmo tendo presente os problemas de tipo histórico-redacional, para não “acentuar indevidamente algo que parece não ter tido muita importância para o evangelista” (R. Brown).
 
* Jesus foi à outra margem do mar da Galileia, isto é, de Tiberíades: o lago é identificado com uma dupla denominação: a primeira é tradicional, a segunda é adoptada somente por João no Novo Testamento (também em 2, 1), talvez porque tenha aparecido recentemente na vida de Jesus e, portanto, tornou-se comum este nome no período posterior à sua morte, sobretudo no mundo helenístico.
 
* A multidão seguia-o porque via os sinais que realizava nos enfermos: anteriormente (2, 23-25) encontramos uma situação semelhante na qual muitos acreditaram em Jesus porque tinham visto os “sinais” que realizava. Nas duas ocasiões Jesus desaprova tais motivações (2, 24-25; 6, 5.26). Os “sinais” nos enfermos, isto é, os milagres, que Jesus realizou na Galileia não são narrados por João, com excepção da cura do filho do funcionário real (4, 46-54). O mesmo evangelista, contudo, deixa entender com estas palavras que não narrou todos os acontecimentos e que fez uma seleção de entre as muitas coisas que poderia ter narrado aos leitores (21, 25).
 
* Jesus subiu ao monte sentou-se em companhia dos seus discípulos: não é possível situar este monte. Jesus, como Moisés, senta-se rodeado pelos seus discípulos, é um tema que aparece também nos outros evangelhos (cf. Mc 4, 1; Mt 5, 1; Lc 4, 20). O gesto de sentar-se para ensinar era próprio dos rabinos mas João, ao contrário de Marcos 6, 34, não assinala que Jesus tenha ensinado nesta circunstância.
 
* Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus: no quarto evangelho faz-se referência a três celebrações da Páscoa de Jesus durante a sua vida pública. Esta seria a segunda (a primeira: 2, 13; a terceira: 11, 55) e faz compreender o ambiente religioso e teológico de tudo o que acontece no capítulo 6: o “pão dado” por Deus, como o maná, a subida de Jesus ao monte, como Moisés, a passagem do mar, como aconteceu no Êxodo (no episódio seguinte: 6, 16-21), o sermão centrado no pão que vem de Deus. A propósito da relação do maná dado no deserto e a multiplicação dos pães, encontramos vários paralelos que fazem referência ao livro dos Números 11 (vv 1.7-9.13.22). Alguns gestos de Jesus (por exemplo partir e distribuir o pão) como outros temas teológicos que serão tocados no discurso seguinte, são referências concretas ao seder pascal e às leituras litúrgicas da sinagoga na referida festa. A Páscoa é uma festa da Primavera e, de facto, João refere que havia muita erva naquele lugar (6, 10; cf. Mt 14, 19; Mc 6, 39).
 
* Jesus viu que uma grande multidão viera ter com ele: no princípio da narração parece que a multidão o seguia já de antemão, enquanto João diz que a multidão vinha até ele. Talvez aqui haja um dos temas teológicos preferidos por João e muito realçado neste capítulo: o vir até Jesus, expressão correspondente à adesão total da fé (3, 21; 5, 40; 6, 35.37.45; 7, 37 e outros).
 
* Disse a Filipe... André, irmão de Simão Pedro: são dois, de entre os doze, que neste evangelho jogam um papel importante (1, 44; 12, 21-22) enquanto nos outros evangelhos ficam na sombra. Parece que eram venerados de modo especial na Ásia Menor, lugar onde teve origem o evangelho de João.
 
* “Onde havemos de comprar pão para esta gente comer?”: a pergunta de Filipe justifica-se talvez porque fosse daquela zona geográfica. Se interpretarmos esta pergunta à luz de outras semelhantes no evangelho (1, 48; 2, 9; 4, 11; 7, 27-28; 8, 14; 9, 29-30; 19, 9), descobrimos o valor cristológico: perguntar de onde provém o dom é perguntar quem é o dador que, neste caso, é Jesus; portanto, a pergunta dirige-se à origem divina de Jesus.
 
* Dizia isto para o pôr à prova, pois ele bem sabia o que ia fazer: O “pôr à prova” a reação do discípulo é expressa com o verbo (peirazein) que tem normalmente um significado negativo, de tentação, verificação ou engano. Esta frase é colocada para fazer realçar a dúvida que a pergunta precedente de Jesus tinha suscitado, como uma expressão de ignorância.
 
* “Duzentos denários de pão não chegam para cada um comer um bocadinho”: o número corresponde ao salário de duzentos dias de trabalho de um operário (cf. Mt 20, 13; 22, 2). Marcos (6, 37) expressa-se de maneira que faz pensar que essa quantidade é suficiente para cobrir a necessidade, mas o que João pretende sublinhar é a grandiosidade da obra divina e a desproporção dos recursos humanos. A isto responde a pergunta imediata de André: “Mas que é isso para tanta gente?”.
 
* “Há aqui um rapazinho que tem cinco pães de cevada e dois peixes”: o rapaz, a julgar pelas palavra, duplamente diminutivas usadas no texto grego (paidarion) é justamente um “rapazinho”: uma pessoa sem nenhuma importância social. O mesmo termo é usado em 2Re 4, 12.14.25; 5, 20 para Giezi, servo de Eliseu. O pão de cevada, ao contrário do de trigo, era um alimento barato usado pelos pobres. Parece (Lc 11, 5) que o alimento normal para uma pessoa eram três pães. O peixe seco era o alimento que se consumia normalmente com o pão.
 
* “Fazei sentar as pessoas”… Os homens sentaram-se, pois, em número de uns cinco mil: na realidade, segundo o costume da época, Jesus fá-los “recostar” ou “tombar-se”: a comida devia ser tomada comodamente, da mesma forma que no ritual da Páscoa e como era obrigação nos banquetes. Todas as narrações evangélicas assinalam o número de homens.
 
* Então, Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, distribuiu-os pelos que estavam sentados, tal como os peixes: estas palavras de Jesus estão muito próximas do rito eucarístico, ainda que não se possa dizer que um provenha do outro. “Deu graças” traduz-se aqui por eucharistein que se usava de modo distinto de eulogein, bendizer, que é o verbo utilizado pelos evangelhos sinópticos nesta passagem; o primeiro era comum no ambiente grego e o segundo provém do ambiente hebraico. Se considerarmos a linguagem usada na época em que foram escritos os evangelhos, podemos dizer que entre as duas expressões não há muita diferença de conteúdo, apesar da expressão de João ser, para aqueles que estão habituados à linguagem litúrgica cristã, uma evocação mais direta do sacramento da Eucaristia. Tanto é assim que o quarto evangelista usa o mesmo verbo em 11, 41, onde não encontramos nenhuma referência ao sacramento. Do mesmo modo que o presidente da mesa da Páscoa, o próprio Jesus parte o pão e distribui-o diretamente pela multidão. Fará o mesmo na Última Ceia. Provavelmente, contudo, os factos aconteceram como são narrados pelos evangelhos sinópticos. Jesus deu o pão já partido para que os apóstolos o distribuíssem visto que a multidão era muito grande para que só ele o pudesse fazer. João quer chamar a atenção dos seus leitores para a pessoa de Jesus, único e verdadeiro dador do “pão do céu”. Observemos como os factos se deram: a multiplicação acontece depois da divisão do pão e a divisão ocorre depois que um “pequeno” coloca à disposição de todos os seus irrisórios recursos. Aqueles pobres e pequenos pães multiplicam-se à medida que são divididos! Jesus multiplica o que nós aceitamos, um pouco cegamente, para compartilhar com ele e com os outros.
 
* E eles comeram quanto quiseram:
é a abundância prometidas pelos profetas no tempo do shalom e para o alegre banquete escatológico (Is 25, 6; 30, 23; 49, 9: 56, 7-9; Os 11, 4; Sl 37, 19; 81, 17; 132, 15). A multidão não se equivoca quando diz que Jesus “é o verdadeiro profeta que tinha que vir a este mundo”: profeta que realiza a promessa divina de enviar um profeta “igual a Moisés” (Dt 18, 15-18) e que inaugura os tempos messiânicos com um banquete abundante como tinham prometido os profetas antigos.
 
* “Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca”: os apóstolos entram em cena para recolher os pedaços deste pão precioso. Este pão, contudo, é um “pão que perece” e não se pode comparar com o verdadeiro “pão do céu” (6, 24). O mandato de recolher (synagein) o que sobra é uma referência ao que estava prescrito sobre o maná (Ex 16, 15ss).
 
* “Recolheram-nos, então, e encheram doze cestos de pedaços dos cinco pães de cevada que sobejaram”: não se pode estabelecer com certeza se o número de cestos faz referência ao número dos discípulos. A frase quer salientar a grande abundância que resulta dos pães abençoados por Jesus. João parece que não dá importância aos dois peixes que tinham sido dados com os pães talvez porque o discurso que se segue está todo centrado no pão.
 
* Aquela gente, ao ver o sinal milagroso: o motivo que João dá para o milagre que tinha acabado de acontecer não é a compaixão pela multidão; isto teria sido bem entendido pelos discípulos presentes, que, contudo, de acordo com Marcos (6, 52 e 8, 14-21), não compreenderam o significado do que tinha acabado de acontecer. O quarto evangelho põe em relevo o significado do “sinal” do milagre.
 
* “Jesus, sabendo que viriam arrebatá-lo para o fazerem rei, retirou-se de novo, sozinho, para o monte”: contrariamente aos outros evangelhos, João narra o rápido desaparecimento de Jesus depois do milagre; queria evitar que o seu papel como Messias fosse “manipulado” por manifestações políticas por parte da multidão. Jesus confirma de novo a sua eleição (Mc 4, 1-10), a que realizará até ao fim, diante de Pilatos (19, 33-37).
 
Algumas perguntas para orientar a reflexão e a actualização
1 - O pão é multiplicado porque alguém “muito pequeno” renuncia a conservar para si as suas próprias seguranças (mesmo quando são pequeniníssimas, como as “cebolas do Egipto”) arriscando fazer-se passar por ridículo e fracassar. O “rapazinho” da narração evangélica fia-se em Jesus, mesmo quando ele nada tinha prometido. E nós, faríamos o mesmo?
2 - O rapazinho é uma pessoa insignificante, os pães são poucos e os peixes ainda menos. Passando pelas mãos de Jesus tudo se converte em grande e belo. Há uma desproporção entre o que somos e o que Deus nos faz chegar a ser, se nos pusermos nas suas mãos. “Nada é impossível para Deus”: nem converter os corações mais endurecidos, nem mudar o mal em instrumento de bem... Deus preenche toda a desproporção entre ele e nós. Creio, mesmo quando tudo parece que está contra?
3 - O pão material que nos é dado por Deus recorda-nos que devemos compartilhar com tantos homens e mulheres que na terra estão com falta de recursos e que lutam desesperadamente por um pouco de pão. Quando rezamos “o pão nosso de cada dia nos dai hoje”, dirigimos o pensamento para aqueles a quem lhes falta este pão e procuramos ir ao seu encontro?
4 - A fome física e o pão material recordam-nos também a “fome de Deus” e o banquete escatológico. São realidades que muito frequentemente afastamos do nosso pensamento e que consideramos como distantes de nós. No entanto, tê-las presentes, ajudar-nos-ia a relativizar tantos problemas que nos parecem maiores do que nós e a viver mais serenamente, preocupando-nos unicamente por aquilo que é o essencial. Quando durante a celebração eucarística aclamamos “Vem, Senhor Jesus!”, estamos realmente à espera da vinda gloriosa daquele que nos ama e que até hoje cuida de nós?

quinta-feira, 25 de julho de 2024

28 de julho

 São Pedro Poveda Castroverde
Presbítero e mártir - Fundador da Instituição Teresiana
 
Pedro Poveda Castroverde nasceu em Linhares (Jaén) em 3 de dezembro de 1874. Desde criança sentiu atração pelo sacerdócio. Ingressou no seminário de Jaén e concluiu os estudos no de Guadix, diocese na qual recebeu a ordenação em 1897. Começou seu ministério no Seminário e no atendimento pastoral aos que viviam nas margens da população, criando uma escola para eles. Nomeado canônico de Covadonga ocupou-se da formação cristã dos peregrinos e começou a escrever livros sobre educação e a relação entre a fé e a ciência. A partir de 1911, com algumas jovens colaboradoras, começou a fundação de Academias e Centros pedagógicos que dariam início à Instituição Teresiana. Transferiu-se para Jaén para consolidar a mesma Instituição que receberia ali aprovação diocesana e depois, estando ele já em Madri como capelão real, a aprovação pontifícia. Sacerdote prudente e audaz, pacífico e aberto ao diálogo, entregou sua vida por causa da fé na madrugada de 28 de julho de 1936, identificando-se: "Sou sacerdote de Cristo" perante aqueles que o conduziriam ao martírio.
 
Salmodia, leitura, responsório breve e preces do dia corrente.
Oração
Senhor nosso Deus, que concedestes a são Pedro Poveda, fundador da Instituição Teresiana, impulsionar a ação evangelizadora dos cristãos mediante a educação e a cultura, e entregar a sua vida no martírio como «sacerdote de Jesus Cristo»; concedei-nos que saibamos, como ele, participar fielmente da missão da Igreja com o testemunho de nossa vida cristã e a entrega generosa ao anúncio de vosso Reino. Por Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém.