quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

2 de fevereiro: Apresentação do Senhor

1ª Leitura (Mal 3,1-4):
Assim fala o Senhor Deus: «Vou enviar o meu mensageiro, para preparar o caminho diante de Mim. Imediatamente entrará no seu templo o Senhor a quem buscais, o Anjo da Aliança por quem suspirais. Ele aí vem – diz o Senhor do Universo –. Mas quem poderá suportar o dia da sua vinda, quem resistirá quando Ele aparecer? Ele é como o fogo do fundidor e como a lixívia dos lavandeiros. Sentar-Se-á para fundir e purificar: purificará os filhos de Levi, como se purifica o ouro e a prata, e eles serão para o Senhor os que apresentam a oblação segundo a justiça. Então a oblação de Judá e de Jerusalém será agradável ao Senhor, como nos dias antigos, como nos anos de outrora.
 
Salmo Responsorial: 23
R. O Senhor do Universo é o Rei da glória.
 
Levantai, ó portas, os vossos umbrais, alteai-vos, pórticos antigos, e entrará o Rei da glória.
 
Quem é esse Rei da glória? O Senhor forte e poderoso, o Senhor poderoso nas batalhas.
 
Levantai, ó portas, os vossos umbrais, alteai-vos, pórticos antigos, e entrará o Rei da glória.
 
Quem é esse Rei da glória? O Senhor dos Exércitos, é Ele o Rei da glória.
 
2ª Leitura (Hb 2,14-18): Uma vez que os filhos dos homens têm o mesmo sangue e a mesma carne, também Jesus participou igualmente da mesma natureza, para destruir, pela sua morte, aquele que tinha poder sobre a morte, isto é, o diabo, e libertar aqueles que estavam a vida inteira sujeitos à servidão, pelo temor da morte. Porque Ele não veio em auxílio dos Anjos, mas dos descendentes de Abraão. Por isso devia tornar-Se semelhante em tudo aos seus irmãos, para ser um sumo sacerdote misericordioso e fiel no serviço de Deus, e assim expiar os pecados do povo. De facto, porque Ele próprio foi provado pelo sofrimento, pode socorrer aqueles que sofrem provação.
 
Aleluia. Luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 2,22-40): E quando se completaram os dias da purificação, segundo a lei de Moisés, levaram o menino a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor, conforme está escrito na Lei do Senhor: «Todo primogênito do sexo masculino será consagrado ao Senhor”. Para tanto, deviam oferecer em sacrifício um par de rolas ou dois pombinhos, como está escrito na Lei do Senhor. Ora, em Jerusalém vivia um homem piedoso e justo, chamado Simeão, que esperava a consolação de Israel. O Espírito do Senhor estava com ele. Pelo próprio Espírito Santo, ele teve uma revelação divina de que não morreria sem ver o Ungido do Senhor. Movido pelo Espírito, foi ao templo. Quando os pais levaram o menino Jesus ao templo para cumprirem as disposições da Lei, Simeão tomou-o nos braços e louvou a Deus, dizendo: «Agora, Senhor, segundo a tua promessa, deixas teu servo ir em paz, porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória de Israel, teu povo». O pai e a mãe ficavam admirados com aquilo que diziam do menino. Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe: «Este menino será causa de queda e de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição — e a ti, uma espada traspassará tua alma! — e assim serão revelados os pensamentos de muitos corações». Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Ela era de idade avançada. Quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido. Depois ficara viúva e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do templo; dia e noite servia a Deus com jejuns e orações. Naquela hora, Ana chegou e se pôs a louvar Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. Depois de cumprirem tudo conforme a Lei do Senhor, eles voltaram para Nazaré, sua cidade, na Galileia. O menino foi crescendo, ficando forte e cheio de sabedoria. A graça de Deus estava com ele».
 
«Agora, Senhor, segundo a tua promessa, deixas teu servo ir em paz, porque meus olhos viram a tua salvação»
 
Rev. D. Lluís RAVENTÓS i Artés (Tarragona, Espanha)
 
Hoje, aguentando o frio do inverno, Simeão aguarda a chegada do Messias. Há quinhentos anos, quando se começava a levantar o Templo, houve uma penúria tão grande que os construtores se desanimaram. Foi então quando Ageo profetizou: «O esplendor desta casa sobrepujará o da primeira - oráculo do Senhor dos exércitos» (Ag 2,9); e completou que «sacudirei todas as nações, afluirão riquezas de todos os povos e encherei de minha glória esta casa, diz o Senhor dos exércitos» (Ag 2,7). Frase que admite diversos significados: «o mais apreciado», dirão alguns, «o desejado de todas as nações», afirmará são Jerônimo.
 
A Simeão «Fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que não morreria sem primeiro ver o Cristo do Senhor» (Lc 2,26), e hoje, «movido pelo Espírito», subiu ao Templo. Ele não é levita, nem escriba, nem doutor da Lei, é somente um homem «Ora, havia em Jerusalém um homem chamado Simeão. Este homem, justo e piedoso, esperava a consolação de Israel, e o Espírito Santo estava nele» (Lc 2,25) O vento sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim é também todo aquele que nasceu do Espírito”. (cf. Jo 3,8).
 
Agora comprova com desconcerto que não se tem feito nenhum preparativo, não se veem bandeiras, nem grinaldas, nem escudos em nenhum lugar. José e Maria cruzam a esplanada levando o Menino nos braços. «Levantai, ó portas, os vossos frontões, erguei-vos, portas antigas, para que entre o rei da glória» (Sal 24,7), clama o salmista.
 
Simeão avança para saudar a Mãe com os braços estendidos, recebe ao Menino e abençoa a Deus, dizendo: «Agora, Senhor, deixai o vosso servo ir em paz, segundo a vossa palavra. Porque os meus olhos viram a vossa salvação. Que preparastes diante de todos os povos, como luz para iluminar as nações, e para a glória de vosso povo de Israel» (Lc 2,29-32).
 
Depois diz a Maria: «E uma espada traspassará a tua alma!» (Lc 2,35). Mãe! —digo-lhe— quando chegue o momento de ir à casa do Pai, leva-me nos braços como Jesus, que também eu sou teu filho e menino.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Chegou já aquela luz verdadeira que vindo para este mundo ilumina todo homem. Deixemos, irmãos, que esta luz nos penetre e nos transforme. Nenhum de nós ponha obstáculos para esta luz. Imitemos a alegria de Simeão e, como ele, cantemos um hino de ação de graças» (São Sofrônio)
 
«O anúncio de Simeão parece como um segundo anúncio para Maria, porque lhe indica a concreta dimensão histórica na qual o Filho vai cumprir sua missão, em outras palavras, na incompreensão e na dor» (São João Paulo II)
 
«Com Simeão e Ana, é toda a espera de Israel que vem ao encontro de seu Salvador. Jesus é reconhecido como o Messias tão esperado, “luz das nações” e “gloria de Israel”, mas é também “sinal de contradição”. A espada de dor predita a Maria anuncia esta outra oblação, perfeita e única, da cruz, que dará a salvação que Deus “preparou diante de todos os povos”» (Catecismo da Igreja Católica, n°529)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* Os primeiros dois capítulos do Evangelho de Lucas, escrito na metade dos anos 80, não são história no sentido em que nós hoje entendemos a história.
Funcionam muito mais como espelho, onde os cristãos convertidos do paganismo descobriam que Jesus tinha vindo realizar as profecias do Antigo Testamento e atender às mais profundas aspirações do coração humano. São também símbolo e espelho do que estava acontecendo entre os cristãos do tempo de Lucas. As comunidades vindas do paganismo tinham nascido das comunidades dos judeus convertidos, mas eram diferentes. O Novo não correspondia ao que o Antigo imaginava e esperava. Era "sinal de contradição" (Lc 2,34), causava tensões e era fonte de muita dor. Na atitude de Maria, imagem do Povo de Deus, Lucas apresenta um modelo de como perseverar no Novo, sem ser infiel ao Antigo.
 
* Nestes dois primeiros capítulos do evangelho de Lucas tudo gira em torno do nascimento de duas crianças: João e Jesus. Os dois capítulos nos fazem sentir o perfume do Evangelho de Lucas. Neles, o ambiente é de ternura e de louvor. Do começo ao fim, se louva e se canta, pois, finalmente, a misericórdia de Deus se revelou e, em Jesus, ele cumpriu as promessas feitas aos pais. E Deus as cumpriu em favor dos pobres, dos anawim, como Isabel e Zacarias, Maria e José, Ana e Simeão, os pastores. Estes souberam esperar pela sua vinda.
 
* Os capítulos 1 e 2 do Evangelho de Lucas são muito conhecidos, mas pouco aprofundados. Lucas escreve imitando os escritos do AT. É como se os primeiros dois capítulos do seu evangelho fossem o último capítulo do AT que abre a porta para a chegada do Novo. Estes dois capítulos são a dobradiça entre o AT e o NT. Lucas quer mostrar como as profecias estão se realizando. João e Jesus cumprem o Antigo e iniciam o Novo.
 
* A insistência de Lucas em dizer que Maria e José cumpriram tudo aquilo que a Lei prescreve evoca o que Paulo escreveu na carta aos Gálatas: “Quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou o seu Filho. Ele nasceu de uma mulher, submetido à Lei para resgatar aqueles que estavam submetidos à Lei, a fim de que fôssemos adotados como filhos” (Gal 4,4-5).
 
* A história do velho Simeão ensina que a esperança, mesmo demorada, um dia se realiza. Ela não se frustra nem se desfaz. Mas a forma de ela realizar-se nem sempre corresponde à maneira como a imaginamos. Simeão esperava o Messias glorioso de Israel. Chegando ao templo, no meio de tantos casais que trazem seus meninos ao templo, ele vê um casal pobre lá de Nazaré. É neste casal pobre com seu menino ele vê a realização da sua esperança e da esperança do povo: “Meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo, Israel."
 
* No texto do evangelho deste dia, aparecem os temas preferidos de Lucas, a saber, uma grande insistência na ação do Espírito Santo, na oração e no ambiente orante, uma atenção contínua à ação e à participação das mulheres, e uma preocupação constante com os pobres e com a mensagem a ser dada aos pobres.
 
* Lucas 2,36-37: A vida da profetisa Ana. “Havia também uma profetisa chamada Ana, de idade muito avançada. Ela era filha de Fanuel, da tribo de Aser. Tinha-se casado bem jovem, e vivera sete anos com o marido. Depois ficou viúva, e viveu assim até os oitenta e quatro anos. Nunca deixava o Templo, servindo a Deus noite e dia, com jejuns e orações”. Como Judite (Jd 8,1-6), Ana é viúva. Como Débora (Jz 4,4), ela é profetisa. Isto é, pessoa que comunica algo de Deus e que tem uma abertura especial para as coisas da fé a ponto de poder comunicá-las aos outros. Ana se casou jovem, viveu em casamento durante sete anos, ficou viúva e continuou dedicada a Deus até oitenta e quatro anos. Hoje, em quase todas as nossas comunidades, no mundo inteiro, você encontra um grupo de senhoras de idade, muitas delas viúvas, cuja vida se resume em rezar e marcar presença nas celebrações e em servir ao próximo.
 
* Lucas 2,38: Ana e o menino Jesus. “Ela chegou nesse instante, louvava a Deus, e falava do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém”. Chegou ao templo no momento em que Simeão abraçava o menino e conversava com Maria sobre o futuro do menino (Lc 2,25-35). Lucas sugere que Ana participou neste gesto. O olhar de Ana é um olhar de fé. Ela vê um menino nos braços de sua mãe, e descobre nele o Salvador do mundo.
 
* Lucas 2,39-40: A vida de Jesus em Nazaré. ”Quando acabaram de cumprir todas as coisas, conforme a Lei do Senhor, voltaram para Nazaré, sua cidade, que ficava na Galileia. O menino crescia e ficava forte, cheio de sabedoria. E a graça de Deus estava com ele”. Nestas poucas palavras, Lucas comunica algo do mistério da encarnação. “A Palavra de fez carne e veio morar entre nós” (Jo 1,14). O Filho de Deus tornou-se igual a nós em tudo e assumiu a condição de servo (Fl 2,7). Foi obediente até a morte e morte de cruz (Fl 2,8). Dos trinta e três anos que viveu entre nós, trinta foram vividos em Nazaré. Se você quiser saber como foi a vida do Filho de Deus durante os anos que ele viveu em Nazaré, procure conhecer a vida de qualquer nazareno daquele época, mude o nome, coloque Jesus e você terá a vida do Filho de Deus durante trinta dos trinta e três anos da sua vida, igual a nós em tudo, menos no pecado (Hb 4,15). Nestes trinta anos da sua vida, “o menino crescia e ficava forte, cheio de sabedoria. E a graça de Deus estava com ele”. Em outro lugar Lucas afirma a mesma coisa com outras palavras. Ele diz que o menino “crescia em sabedoria, idade e tamanho diante de Deus e dos homens” (Lc 2,52). Crescer em Sabedoria significa assimilar os conhecimentos, a experiência humana acumulada ao longo dos séculos: os tempos, as festas, os remédios, as plantas, as orações, os costumes, etc. Isto se aprende vivendo e convivendo na comunidade natural do povoado. Crescer em Tamanho significa nascer pequeno, crescer aos poucos e ficar adulto. É o processo de cada ser humano com suas alegrias e tristezas, descobertas e frustrações, raivas e amores. Isto se aprende vivendo e convivendo na família com os pais, os irmãos e irmãs, os tios, os parentes. Crescer em Graça significa: descobrir a presença de Deus na vida, a sua ação em tudo que acontece, a vocação, o chamado dele. A carta aos hebreus diz que: “Embora fosse filho de Deus, Jesus teve que aprender a ser obediente através dos seus sofrimentos” (Hb 4,8).
 
Para um confronto pessoal
1. Você seria capaz de perceber numa criança pobre a luz para iluminar as nações?
2. Você seria capaz de aguentar uma vida inteira esperando a realização da sua esperança?
3. Conhece pessoas como Ana, que tem um olhar de fé sobre as coisas da vida?
4. Crescer em sabedoria, tamanho e graça: como isto acontece em minha vida?

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Quinta-feira da 4ª semana do Tempo Comum

Fevereiro - MÊS DAS SANTAS CHAGAS DE JESUS
Bta. Candelária de São José, Virgem de nossa Ordem
 
1ª Leitura (1Re 2,1-4.10-12):
Ao aproximar-se o dia da sua morte, David ordenou a seu filho Salomão: «Vou seguir o caminho de todos os mortais. Tem coragem e procede como um homem. Guarda os mandamentos do Senhor, teu Deus. Segue os seus caminhos, cumprindo os seus preceitos, estatutos, normas e decretos, conforme está escrito na Lei de Moisés. Assim serás bem-sucedido em todas as tuas obras e empreendimentos e o Senhor cumprirá a promessa que me fez: ‘Se os teus filhos procederem bem e caminharem fielmente na minha presença, com todo o coração e toda a alma, nunca te faltará um descendente no trono de Israel’». David foi fazer companhia a seus pais no sono da morte e foi sepultado na «Cidade de David». O reinado de David sobre Israel durou quarenta anos: em Hebron reinou sete anos e em Jerusalém trinta e três. Salomão sentou-se no trono de seu pai David e a sua realeza consolidou-se firmemente.
 
Salmo Responsorial: 1 Cr
R. Meu Deus, Vós sois o Senhor de todo o universo.
 
Bendito sejais, Senhor, para todo o sempre, Deus do nosso pai, Israel. A Vós, Senhor, a grandeza e o poder, a honra, a majestade e a glória.
 
Tudo, no céu e na terra, Vos pertence, sois o Rei soberano de todas as coisas. De Vós nos vem a riqueza e a glória, sois Vós o Senhor de todo o universo.
 
Na vossa mão está o poder e a força, em vossas mãos tudo se afirma e cresce. Nós Vos louvamos, Senhor, nosso Deus, e celebramos o vosso nome glorioso.
 
Aleluia. Está próximo o reino de Deus: arrependei-vos e acreditai no Evangelho. Aleluia.
 
Evangelho (Mc 6,7-13): Ele chamou os Doze, começou a enviá-los dois a dois e deu-lhes poder sobre os espíritos impuros. Mandou que não levassem nada pelo caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro à cintura, mas que calçassem sandálias e não usassem duas túnicas. Dizia-lhes ainda: «Quando entrardes numa casa, permanecei ali até a vossa partida. Se em algum lugar não vos receberem, nem vos escutarem, saí de lá e sacudi a poeira dos vossos pés, para que sirva de testemunho contra eles». Eles então saíram para proclamar que o povo se convertesse. Expulsavam muitos demônios, ungiam com óleo numerosos doentes e os curavam.
 
«Ele chamou os Doze, começou a enviá-los dois a dois. Eles então saíram para proclamar que o povo se convertesse»
 
Rev. D. Josep VALL i Mundó (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho relata a primeira das missões apostólicas. Cristo envia os Doze a predicar, a curar todo tipo de enfermos e a preparar os caminhos da salvação definitiva. Esta é a missão da Igreja, e também a de cada cristão. O Concilio Vaticano II afirmou que «a vocação cristã implica como tal a vocação ao apostolado. Nenhum membro tem uma função passiva. Portanto, quem não se esforçasse pelo crescimento do corpo seria por isso mesmo inútil para toda a Igreja como também para se mesmo».
 
O mundo atual necessita —como dizia Gustave Thibon— um “suplemento de alma” para poder regenerá-lo. Só Cristo com sua doutrina é medicina para as enfermidades de todo o mundo. Este tem suas crises. Não se trata somente de uma parcial crise moral, ou de valores humanos: é uma crise de todo o conjunto. E o término mais exato para defini-la é o de uma “crise de alma”.
 
Os cristãos com a graça e a doutrina de Jesus, estão no meio das estruturas temporais para vivificá-las e ordená-las para o Criador: «Que o mundo, pela predicação da Igreja, escutando possa crer, crendo possa esperar, e esperando possa amar» (Santo Agostinho). O cristão não pode fugir deste mundo. Tal como escrevia Bernanos: «Nos lançastes no meio da massa, no meio da multidão como levedura; reconquistaremos, palmo a palmo, o universo que o pecado nos arrebatou; Senhor: devolver-te-emos tal e como o recebemos aquela primeira manhã dos dias, em toda sua ordem e em toda sua santidade».
 
Um dos segredos está em amar ao mundo com toda a alma e viver com amor a missão encomendada por Cristo aos Apóstolos e a todos nós. Com palavras de São Josémaria, «o apostolado é amor de Deus, que se desborda, com entrega de nós mesmo aos outros (...). E a ânsia do apostolado é a manifestação exata, adequada, necessária, da vida interior». Este será nosso testemunho cotidiano no meio dos homens e ao longo de todas as épocas
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Que o mundo, pela predicação da Igreja, ouvindo, possa acreditar, acreditando, possa esperar e esperando, possa amar» (Santo Agostinho)
 
«Devemos reavivar em nós o sentimento de urgência que Paulo tinha quando exclamava: `Aí de mim se não predicasse o Evangelho!´(1Cor 9,16). Esta paixão suscitará na Igreja uma nova ação missionária, que não poderá ser delegada nuns quantos “especialistas”, mas, que acabará por implicar a responsabilidade de todos os membros do Povo de Deus» (São João Paulo II)
 
«O dever dos cristãos, de tomar parte na vida da Igreja, leva-os a agir como testemunhas do Evangelho e das obrigações que dele dimanam. Este testemunho é transmissão da fé por palavras e obras» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.472)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O Evangelho de hoje descreve a continuidade do que vimos no evangelho de ontem.
A passagem por Nazaré foi dolorosa para Jesus. Ele foi rejeitado pelo seu povo (Mc 6,1-5). O que antes era a sua comunidade, agora já não é mais. Alguma coisa mudou. A partir deste momento, como informa o Evangelho de hoje, Jesus começou a andar pelos povoados da Galileia para anunciar a Boa Nova (Mc 6,6) e a enviar os doze em missão. Nos anos 70, época em que Marcos escrevia o seu evangelho, as comunidades cristãs viviam uma situação difícil, sem horizonte. Humanamente falando, não havia futuro para elas. Em 64, Nero começou a perseguir os cristãos. Em 65, estourou a revolta dos judeus da Palestina contra Roma. Em 70, Jerusalém foi totalmente destruída pelos romanos. Por isso, a descrição do envio dos discípulos, após o conflito em Nazaré, era fonte de luz e de ânimo para os cristãos.
 
* Marcos 6,7. O objetivo da Missão. O conflito cresceu e tocou de perto a pessoa de Jesus. Como ele reage? De duas maneiras. 1) Diante do fechamento do povo da sua comunidade, Jesus deixou Nazaré de lado e começou a percorrer os povoados nas redondezas (Mc 6,6). 2) Ele alargou a missão e intensificou o anúncio da Boa Nova chamando outras pessoas para envolvê-las na missão. “Chamou os doze discípulos, começou a enviá-los dois a dois e dava-lhes poder sobre os espíritos maus”. O objetivo da missão é simples e profundo. Os discípulos participam da missão de Jesus. Não podem ir sozinhos, mas devem ir dois a dois, pois duas pessoas representam melhor a comunidade do que uma só e podem ajudar-se mutuamente. Eles recebem poder sobre os espíritos impuros, isto é, devem aliviar o sofrimento do povo e, através da purificação, devem abrir as portas do acesso direto a Deus.
 
* Marcos 6,8-11. As atitudes a serem tomadas na Missão. As recomendações são simples: “recomendou que não levassem nada pelo caminho, além de um bastão; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura. Mandou que andassem de sandálias e que não levassem duas túnicas. E Jesus disse ainda: "Quando vocês entrarem numa casa, fiquem aí até partirem. Se vocês forem mal-recebidos num lugar e o povo não escutar vocês, quando saírem sacudam a poeira dos pés como protesto contra eles". E eles foram. É o começo de uma nova etapa. Agora já não é só Jesus, mas é todo o grupo que vai anunciar a Boa Nova de Deus ao povo. Se a pregação de Jesus já dava conflito, quanto mais agora, com a pregação de todo o grupo. Se o mistério já era grande, ainda será maior com a missão intensificada.
 
* Marcos 6,12-13. O resultado da missão. “Então os discípulos partiram e pregaram para que as pessoas se convertessem. Expulsavam muitos demônios e curavam muitos doentes, ungindo-os com óleo”. Anunciar a Boa Nova, provocar conversão ou mudança nas pessoas e aliviar a dor do povo, curando as doenças e expulsando os males.
 
* O envio dos discípulos em Missão. No tempo de Jesus havia vários outros movimentos de renovação. Por exemplo, os essênios e os fariseus. Também eles procuravam uma nova maneira de conviver em comunidade e tinham os seus missionários (cf. Mt 23,15). Mas estes, quando iam em missão, iam prevenidos. Levavam sacola e dinheiro para cuidar da sua própria comida. Pois não confiavam na comida do povo que nem sempre era ritualmente “pura”. Ao contrário dos outros missionários, os discípulos e as discípulas de Jesus recebem recomendações diferentes que ajudam a entender os pontos fundamentais da missão de anunciar a Boa Nova, que recebem de Jesus e que ainda é a nossa missão:
 
a) Deviam ir sem nada. Não podiam levar nada, nem bolsa, nem dinheiro na cintura, nem bastão, nem pão, nem sandálias, nem sequer duas túnicas. Isto significa que Jesus os obriga a confiar na hospitalidade. Pois quem vai sem nada, vai porque confia no povo e acredita que vai ser recebido. Com esta atitude criticavam as leis de exclusão, ensinadas pela religião oficial, e mostravam, pela nova prática, que tinham outros critérios de comunidade.
 
b) Deviam comer o que o povo lhes dava. Não podiam viver separados com sua própria comida, mas deviam aceitar a comunhão de mesa (Lc 10,8). Isto significa que, no contato com o povo, não deviam ter medo de perder a pureza tal como era ensinada na época. Com esta atitude criticavam as leis da pureza em vigor e mostravam, pela nova prática, que tinham outro acesso à pureza, isto é, à intimidade com Deus.
 
c) Deviam ficar hospedados na primeira casa em que fossem acolhidos. Deviam conviver de maneira estável e não andar de casa em casa. Deviam trabalhar como todo mundo e viver do que recebiam em troca, “pois o operário merece o seu salário” (Lc 10,7). Com outras palavras, eles deviam participar da vida e do trabalho do povo, e o povo os acolheria na sua comunidade e partilharia com eles casa e comida. Significa que deviam confiar na partilha.
 
d) Deviam tratar dos doentes, curar os leprosos e expulsar os demônios (Lc 10,9; Mc 6,7.13; Mt 10,8). Deviam exercer a função de “defensor” (goêl) e acolher para dentro do clã, dentro da comunidade, os que viviam excluídos. Com esta atitude criticavam a situação de desintegração da vida comunitária do clã e apontavam saídas concretas.
 
* Estes eram os quatro pontos básicos que deviam animar a atitude dos missionários ou das missionárias que anunciavam a Boa Nova de Deus em nome de Jesus: hospitalidade, comunhão de mesa, partilha e acolhida aos excluídos (defensor, goêl). Caso estas quatro exigências fossem preenchidas, eles podiam e deviam gritar aos quatro ventos: “O Reino chegou!” (cf. Lc 10,1-12; 9,1-6; Mc 6,7-13; Mt 10,6-16). Pois o Reino de Deus que Jesus nos revelou não é uma doutrina, nem um catecismo, nem uma lei. O Reino de Deus acontece e se faz presente quando as pessoas, motivadas pela sua fé em Jesus, decidem conviver em comunidade para, assim, testemunhar e revelar a todos que Deus é Pai e Mãe e que, portanto, nós, seres humanos, somos irmãos e irmãs uns dos outros. Jesus queria que a comunidade local fosse novamente uma expressão da Aliança, do Reino, do amor de Deus como Pai, que faz de todos irmãos e irmãs.
 
Para um confronto pessoal
1. Você participa da missão como discípulo ou discípula de Jesus?
2. Qual o ponto da missão dos apóstolos que tem maior importância para nós hoje? Por quê?

1º de fevereiro

 Beata Candelária de São José
Virgem de nossa Ordem
 
Candelária de São José (Susana Paz Castillo Ramírez), nasceu em Altagracia de Orituco, Venezuela, em 11 de agosto de 1863. Distinguiu-se por seu amor aos enfermos e aos pobres. Junto com outras jovens de sua cidade e com o apoio de um grupo de médicos e do padre Sixto Sosa, pároco de Altagracia de Orituco, fundou um hospital para atender a todos os necessitados, começando com isto a fundação da Congregação das Irmãzinhas dos Pobres de Altagracia, atualmente denominada Irmãs Terceiras Carmelitas Regulares também conhecidas como Carmelitas da Madre Candelária ou Venezuelanas.  Morreu em 31 de janeiro de 1940. Foi beatificada em 27 de abril de 2008 em Caracas (Venezuela).
 
Salmodia, leitura, responsório breve e preces do dia corrente.
 
Oração
Ó Deus que vos alegrais em habitar nos corações puros, concedei-nos, por intercessão da beata Candelária de São José, viver, por vossa graça, de tal maneira que mereçamos ter-vos sempre conosco.  Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Quarta-feira da 4ª semana do Tempo Comum

 São João Bosco, Presbítero
 
1ª Leitura (2Sam 24,2.9-17):
Naqueles dias, David ordenou a Joab e aos chefes do seu exército: «Ide por todas as tribos de Israel, desde Dan até Bersabé, e fazei o recenseamento da população, para que eu saiba qual é o seu número». Nove meses e vinte dias depois, Joab apresentou ao rei o resultado do recenseamento: Israel contava oitocentos mil homens capazes de combater e Judá contava quinhentos mil. Feito o recenseamento do povo, David sentiu remorsos e disse ao Senhor: «Pequei gravemente ao proceder deste modo. Mas agora, Senhor, dignai-Vos perdoar a falta do vosso servo, pois cometi uma grave loucura». Na manhã seguinte, quando o rei se levantava, o Senhor dirigiu a palavra ao profeta Gad, vidente de David: «Vai dizer a David: Assim fala o Senhor: Proponho-te três castigos. Escolhe aquele que preferes e Eu o executarei». Gad foi ter com David e referiu-lhe esta mensagem: «Preferes três anos de fome no teu país, três anos de derrotas ante o inimigo que te perseguirá, ou três dias de peste no teu reino? Agora reflete e vê o que devo responder Àquele que me enviou». David respondeu a Gad: «Sinto-me em grande ansiedade. Antes cair nas mãos do Senhor, porque é grande a sua misericórdia, do que cair nas mãos dos homens». Então o Senhor enviou a peste a Israel, desde aquela manhã até ao dia fixado. Morreram setenta mil homens do povo, desde Dan até Bersabé. O Anjo estendeu também a mão sobre Jerusalém para a destruir, mas o Senhor compadeceu-se de tanta desgraça e disse ao Anjo que exterminava o povo: «Basta! Agora retira a tua mão!». O Anjo do Senhor estava junto à eira de Araúna, o jebuseu. Ao ver como o Anjo exterminava o povo, David disse ao Senhor: «Fui eu que pequei, sou eu o culpado. Mas estes, que são o rebanho, que mal fizeram? A vossa mão caia sobre mim e a minha família».
 
Salmo Responsorial: 31
R. Perdoai, Senhor, a culpa do meu pecado.
 
Feliz daquele a quem foi perdoada a culpa e absolvido o pecado. Feliz o homem a quem o Senhor não acusa de iniquidade e em cujo espírito não há engano.
 
Confessei-vos o meu pecado e não escondi a minha culpa. Disse: «Vou confessar ao Senhor a minha falta», e logo me perdoastes a culpa do pecado.
 
Por isso a Vós se dirige todo o fiel no tempo da tribulação. Quando transbordarem as águas caudalosas, só a ele não hão de atingir.
 
Vós sois o meu refúgio, defendei-me dos perigos, fazei que à minha volta só haja hinos de vitória.
 
Aleluia. As minhas ovelhas escutam a minha voz, diz o Senhor; Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me. Aleluia.
 
Evangelho (Mc 6,1-6): Saindo dali, Jesus foi para sua própria terra. Seus discípulos o acompanhavam. No sábado, ele começou a ensinar na sinagoga, e muitos dos que o ouviam se admiravam. «De onde lhe vem isso?», diziam. “Que sabedoria é esta que lhe foi dada? E esses milagres realizados por suas mãos? Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, irmão de Tiago, Joset, Judas e Simão? E suas irmãs não estão aqui conosco?» E ele se tornou para eles uma pedra de tropeço. Jesus, então, dizia-lhes: «Um profeta só não é valorizado na sua própria terra, entre os parentes e na própria casa». E não conseguia fazer ali nenhum milagre, a não ser impor as mãos a uns poucos doentes. Ele se admirava da incredulidade deles. E percorria os povoados da região, ensinando.
 
«De onde lhe vem isso? E que sabedoria é esta que lhe foi dada? E esses milagres realizados por suas mãos?»
 
Rev. D. Miquel MASATS i Roca(Girona, Espanha)
 
Hoje o Evangelho nos mostra como Jesus via à sinagoga de Nazaré, o lugar onde ele tinha sido criado. O sábado é o dia dedicado ao Senhor e os judeus se reúnem para escutar a Palavra d e Deus. Maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas. (cf. Mc 1,22).
 
Deus nos fala também hoje mediante a Escritura. Na sinagoga se leem as Escrituras e, depois, um dos entendidos se ocupava de comentá-las, mostrando seu sentido e a mensagem que Deus quer transmitir através delas. Atribui-se a Santo Agostinho a seguinte reflexão: «Assim como em oração nós falamos com Deus, na leitura é Deus quem nos fala».
 
O fato de que Jesus, Filho de Deus, seja conhecido entre seus concidadãos por seu trabalho, nos oferece uma perspectiva insuspeitada para nossa vida ordinária. O trabalho profissional de cada um de nós é meio de encontro com Deus e, portanto, realidade santificável e santificadora. Com palavras de São Josémaria Escrivá: «Vossa vocação humana é parte, e parte importante, de vossa vocação divina. Esta é a razão pela qual devemos santificá-lo contribuindo ao mesmo tempo, à santificação dos outros, de vossos semelhantes, santificando vosso trabalho e vosso ambiente: essa profissão ou ofício que enche vossos dias, que dá fisionomia peculiar a vossa personalidade humana, que é vossa maneira de estar no mundo; esse lar, essa vossa família; e essa nação, em que nascestes e a que amas».
 
Acaba a passagem do Evangelho dizendo que Jesus «Não pôde fazer ali milagre algum. Curou apenas alguns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos. Admirava-se ele da desconfiança deles. E ensinando, percorria as aldeias circunvizinhas» (Mc 6,5-6). Também hoje o Senhor nos pede mais fé Nele para realizar coisas que superam nossas possibilidades humanas. Os milagres manifestam o poder de Deus e a necessidade que temos Dele na nossa vida de cada dia.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
"Em Deus poder, vontade e inteligência, sabedoria e justiça são um, de modo que não pode haver nada no poder divino que não possa estar na vontade justa de Deus ou na sua sábia inteligência" (São Tomás de Aquino)
 
«Jesus de Nazaré, o carpinteiro, ilumina com a sua vida de trabalho a vossa vida de trabalhadores cristãos. Você também ilumina seu ambiente de trabalho com a luz do Cristo" (São João Paulo II)
 
«O valor primordial do trabalho diz respeito ao próprio homem que é o seu autor e destinatário. Por meio de seu trabalho, o homem participa da obra da criação. Unidos a Cristo, trabalhem pode ser redentor" (Catecismo da Igreja Católica, n. 2.460)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
*
O evangelho de hoje fala da visita de Jesus a Nazaré e descreve como o povo de Nazaré se fechou e não quis aceitá-lo (Mc 6,1-6). O evangelho de amanhã descreve como Jesus se abriu para o povo da Galileia enviando seus discípulos em missão (Mc 6,7-13).
 
* Marcos 6,1-2ª: Jesus volta para Nazaré. “Jesus foi para Nazaré, sua terra, e seus discípulos o acompanharam. Quando chegou o sábado, Jesus começou a ensinar na sinagoga”. Sempre é bom voltar para a terra da gente e reencontrar as pessoas amigas. Após longa ausência, Jesus também voltou e, como de costume, no dia de sábado, foi na sinagoga participar da reunião da comunidade. Jesus não era coordenador da comunidade, mesmo assim ele tomou a palavra e começou a ensinar. Sinal de que as pessoas podiam participar e expressar sua opinião.
 
* Marcos 6,2b-3: Reação do povo de Nazaré frente a Jesus. O povo de Cafarnaum tinha aceitado o ensinamento de Jesus (Mc 1,22), mas o povo de Nazaré não gostou das palavras de Jesus e ficou escandalizado. Motivo? Jesus, o moço que eles conheciam desde criança, como é que ele agora ficou tão diferente? Eles não aceitaram o mistério de Deus presente em Jesus, um ser humano comum como eles, conhecido de todos! Para poder falar de Deus ele teria que ser diferente deles! Como se vê, nem tudo foi bem-sucedido para Jesus. As pessoas que deveriam ser as primeiras a aceitar a Boa Nova, estas eram as que mais se recusavam a aceitá-la. O conflito não era só com os de fora de casa, mas também e sobretudo com os próprios parentes e o povo de Nazaré. Eles se recusaram a crer em Jesus, porque não conseguiam entender o mistério de Deus que envolvia a pessoa de Jesus: “De onde lhe vem tudo isso? Onde foi que arranjou tanta sabedoria? Ele não é o carpinteiro, o filho de Maria, irmão de Tiago, de Joset, de Judas e de Simão? E suas irmãs não moram aqui conosco?” Não deram conta de crer em Jesus!
 
* Os irmãos e as irmãs de Jesus A expressão “irmãos de Jesus” é causa de muita polêmica entre católicos e protestantes. Baseando-se neste e em outros textos, os protestantes dizem que Jesus teve mais irmãos e irmãs e que Maria teve mais filhos! Os católicos dizem que Maria não teve outros filhos. O que pensar disso? Em primeiro lugar, as duas posições, tanto dos católicos como dos protestantes, ambas têm argumentos tirados da Bíblia e da Tradição das suas respectivas Igrejas. Por isso, não convém brigar nem discutir esta questão com argumentos só de cabeça. Pois trata-se de convicções profundas, que têm a ver com a fé e com o sentimento de ambos. Argumento só de cabeça não consegue desfazer uma convicção do coração! Apenas irrita e afasta! Mesmo quando não concordo com a opinião do outro, devo sempre respeitá-la. Em segundo lugar, em vez de brigar em torno de textos, nós todos, católicos e protestantes, deveríamos unir-nos para lutar em defesa da vida, criada por Deus, vida tão desfigurada pela pobreza, pela injustiça, pela falta de fé. Deveríamos lembrar algumas outras frases de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância”(Jo 10,10). “Que todos sejam um, para que o mundo creia que Tu, Pai, me enviaste”(Jo 17,21). “Quem não é contra nós é a favor”(Mc 10,39.40).
 
* Marcos 6,4-6. Reação de Jesus diante da atitude do povo de Nazaré. Jesus sabe muito bem que “santo de casa não faz milagre”. Ele diz: “Um profeta só não é estimado em sua própria pátria, entre seus parentes e em sua família!” De fato, onde não existe aceitação nem fé, a gente não pode fazer nada. O preconceito o impede. Jesus, mesmo querendo, não pôde fazer nada e ele ficou admirado da falta de fé deles. Por isso, diante da porta fechada da sua própria comunidade, ele “começou a percorrer as redondezas, ensinando nos povoados”. A experiência de rejeição levou Jesus a mudar sua prática. Ele se dirige aos outros povoados e, como veremos no evangelho de amanhã, ele envolve os discípulos na missão dando instruções de como devem dar continuidade à missão.
 
Para um confronto pessoal
1. Jesus teve problemas com seus parentes e com a sua comunidade. Desde que você começou a viver melhor o evangelho, alguma coisa mudou no seu relacionamento com a sua família e seus parentes?
2. Jesus não pôde fazer muitos milagres em Nazaré porque faltou a fé. E hoje, será que ele encontraria fé em nós, em mim?

domingo, 28 de janeiro de 2024

Terça-feira da 4ª semana do Tempo Comum

 Bto. Columba Marmion, presbítero e abade da Ordem de São Bento.
 
1ª Leitura (2Sam 8,9-10.14b.24-25a.30—19,3):
Naqueles dias, Absalão, depois da derrota do seu exército, encontrou-se por acaso com os homens de David. Ora o macho em que ia montado meteu-se por debaixo da ramaria de um grande carvalho. A cabeleira prendeu-se nos ramos e ele ficou suspenso entre o céu e a terra, enquanto o macho que ele montava seguiu para diante. Alguém o viu e avisou Joab: «Vi agora Absalão suspenso de um carvalho». Joab tomou três dardos e cravou-os no peito de Absalão. Entretanto, David estava sentado entre as duas portas da cidade. A sentinela, que subira ao terraço da porta, sobre a muralha, ergueu os olhos e avistou um homem a correr sozinho. A sentinela gritou e avisou o rei. O rei observou: «Se vem só, traz boas notícias». Depois disse ao homem que chegara: «Retira-te para o lado e espera aí». Ele afastou-se e esperou. Entretanto chegou um mensageiro etíope, que disse: «Trago boas notícias, ó rei, meu senhor. Hoje, Deus fez-te justiça, ao livrar-te de todos os que se levantaram contra ti». O rei perguntou ao etíope: «Está bem o jovem Absalão?». O etíope respondeu: «Tenham a sorte desse jovem os inimigos do rei, meu senhor, e todos os que se levantaram contra ti para te fazerem mal». O rei ficou perturbado. Subiu ao aposento que ficava por cima da porta e começou a chorar, dizendo: «Meu filho Absalão! Meu filho! Meu filho Absalão! Quem me dera ter morrido em teu lugar! Meu filho Absalão! Meu filho!». Foram então dizer a Joab: «O rei está a chorar e a lamentar-se por causa de Absalão». Assim a vitória desse dia transformou-se em luto para todo o exército, ao saber que o rei estava consternado por causa de seu filho. Naquele dia, o exército entrou furtivamente na cidade, como fazem as tropas envergonhadas, quando fogem da batalha.
 
Salmo Responsorial: 85
R. Inclinai os vossos ouvidos e atendei-me, Senhor.
 
Inclinai, Senhor, o vosso ouvido e atendei-me, porque sou pobre e desvalido. Defendei a minha vida, pois Vos sou fiel, salvai o vosso servo que em Vós confia, meu Deus.
 
Tende piedade de mim, Senhor, que a Vós clamo todo o dia. Alegrai a alma do vosso servo, porque a Vós, Senhor, elevo a minha alma.
 
Vós, Senhor, sois bom e indulgente, cheio de misericórdia para com todos os que Vos invocam. Ouvi, Senhor, a minha oração, atendei a voz da minha súplica.
 
Aleluia. Cristo suportou as nossas enfermidades e tomou sobre Si as nossas dores. Aleluia.
 
Evangelho (Mc 5,21-43): Jesus passou novamente para a outra margem, e uma grande multidão se ajuntou ao seu redor. Ele estava à beira-mar. Veio então um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo. Vendo Jesus, caiu-lhe aos pés e suplicava-lhe insistentemente: «Minha filhinha está nas últimas. Vem, impõe as mãos sobre ela para que fique curada e viva!». Jesus foi com ele. Uma grande multidão o acompanhava e o apertava de todos os lados. Estava aí uma mulher que havia doze anos sofria de hemorragias e tinha padecido muito nas mãos de muitos médicos; tinha gastado tudo o que possuía e, em vez de melhorar, piorava cada vez mais. Tendo ouvido falar de Jesus, aproximou-se, na multidão, por detrás e tocou-lhe no manto. Ela dizia: «Se eu conseguir tocar na roupa dele ficarei curada». Imediatamente a hemorragia estancou, e a mulher sentiu dentro de si que estava curada da doença. Jesus logo percebeu que uma força tinha saído dele e, voltando-se para a multidão, perguntou: «Quem tocou na minha roupa»? Os discípulos disseram: «Tu vês a multidão que te aperta, e ainda perguntas: ‘Quem me tocou? ’». Ele olhava ao redor para ver quem o havia tocado. A mulher, tremendo de medo ao saber o que lhe havia acontecido, veio, caiu-lhe aos pés e contou toda a verdade. Jesus então disse à mulher: «Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz e fica livre da tua doença». Enquanto ainda estava falando, chegaram alguns da casa do chefe da sinagoga dizendo: «Tua filha morreu. Por que ainda incomodas o mestre?». Jesus ouviu a notícia e disse ao chefe da sinagoga: «Não tenhas medo, somente crê». Ele não permitiu que ninguém o acompanhasse, a não ser Pedro, Tiago e seu irmão João. Quando chegaram à casa do chefe da sinagoga, Jesus viu a agitação, pois choravam e lamuriavam muito. Entrando na casa, ele perguntou: «Por que essa agitação, por que chorais? A menina não morreu, ela dorme». E começaram a zombar dele. Afastando a multidão, levou consigo o pai e a mãe da menina e os discípulos que o acompanhavam. Entrou no lugar onde estava a menina. Pegou a menina pela mão e disse-lhe: «Talitá cum!(que quer dizer: «Menina, eu te digo, levanta-te»). A menina logo se levantou e começou a andar — já tinha doze anos de idade. Ficaram extasiados de tanta admiração. Jesus recomendou com insistência que ninguém soubesse do caso e falou para que dessem de comer à menina.
 
«Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz e fica livre da tua doença»
 
Rev. D. Francesc PERARNAU i Cañellas (Girona, Espanha)
 
Hoje o Evangelho apresenta-nos dois milagres de Jesus que nos falam da fé de duas pessoas bem diferentes. Tanto Jairo —um dos chefes da sinagoga— quanto aquela mulher doente mostram uma grande fé: Jairo tem a certeza de que Jesus pode curar a sua filha, enquanto aquela boa mulher confia em que um mínimo de contato com a roupa de Jesus será suficiente para ficar liberada de uma doença grave. E Jesus, porque são pessoas de fé, concede-lhes o favor que buscavam.
 
A primeira foi a mulher, aquela que pensava não era digna de que Jesus lhe dedicara tempo, aquela que não se atrevia a incomodar o Mestre nem a aqueles judeus tão influentes. Sem fazer barulho, aproxima-se e, tocando a borla do manto de Jesus, "arranca" sua cura e ela em seguida o nota em seu corpo. Mas Jesus, que sabe o que aconteceu, quer lhe dizer umas palavras: «Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz e fica livre da tua doença» (Mc 5,34).
 
A Jairo, Jesus pede-lhe uma fé ainda maior. Como já Deus tinha feito com Abraham no Antigo Testamento, pedirá uma fé contra toda esperança, a fé das coisas impossíveis. Comunicaram-lhe a Jairo a terrível notícia que sua filha acabara de morrer. Podemo-nos imaginar a grande dor que sentia nesse momento, e talvez a tentação da desesperação. E Jesus, que o ouviu, lhe diz: «Não tenhas medo, somente crê» (Mc 5,36). E como aqueles patriarcas antigos, crendo contra toda esperança, viu como Jesus devolvia-lhe a vida a sua amada filha.
 
Duas grandes lições de fé para nós. Desde as páginas do Evangelho, Jairo e a mulher que sofria hemorragias, juntamente com tantos outros, falam-nos da necessidade de ter uma fé imóvel. Podemos fazer nossa aquela bonita exclamação evangélica: «Eu creio, Senhor, ajuda-me na minha falta de fé» (Mc 9,24).
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«A leitura de hoje é um compendio de esperança e é a exclusão de qualquer motivo de desespero» (São Pedro Crisólogo)
 
«A Deus, pedimos muitas resoluções de problemas, de necessidades concretas e podemos fazê-lo, mas o que devemos pedir com insistência, é uma fé cada vez mais solida, para que o Senhor renove a nossa vida» (Benedito XVI)
 
«Jesus atende a oração da fé expressa em palavras (do leproso, de Jairo, da cananeia, do bom ladrão ou feita em silêncio (dos que trouxeram o paralítico, da hemorroíssa que Lhe tocou na veste, as lágrimas e o perfume da pecadora. (...) Seja a cura das doenças ou o perdão dos pecados, Jesus responde sempre à oração de quem Lhe implora com fé (...)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.616)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* No evangelho de hoje, vamos meditar sobre dois milagres de Jesus em favor de duas mulheres.
O primeiro, em favor de uma senhora, considerada impura por causa de uma hemorragia que já durava doze anos. O outro, em favor de uma menina de doze anos, que acabava de falecer. Conforme a mentalidade da época, qualquer pessoa que tocasse em sangue ou em cadáver era considerada impura. Sangue e morte eram fatores de exclusão! Por isso, aquelas duas mulheres eram pessoas marginalizadas, excluídas da participação na comunidade.
 
* O ponto de partida. Jesus chega de barco. O povo se junta. Jairo, o chefe da sinagoga, pede pela filha que está morrendo. Jesus vai com ele e o povo todo o acompanha, apertando-o de todos os lados. Este é o ponto de partida para as duas curas, que seguem: a cura da mulher e a ressurreição da menina de doze anos.
 
* A situação da mulher. Doze anos de hemorragia! Por isso, ela vivia excluída, pois, naquele tempo, o sangue tornava a pessoa impura, e quem tocasse nela também ficava impura. Marcos informa que a mulher tinha gastado toda a sua economia com os médicos. Em vez de ficar melhor, ficou pior. Situação sem solução!
 
* A atitude da mulher. Ela ouviu falar de Jesus. Nasceu uma nova esperança. Ela disse consigo: “Se ao menos tocar na roupa dele, eu ficarei curada”. O catecismo da época mandava dizer: “Se eu tocar na roupa dele, ele ficará impuro”. A mulher pensa exatamente o contrário! Sinal de que as mulheres não concordavam com tudo o que as autoridades religiosas ensinavam. A mulher meteu-se no meio da multidão e, de maneira desapercebida, tocou em Jesus, pois todo mundo o apertava e tocava nele. No mesmo instante ela sentiu no corpo que estava curada.
 
* A reação de Jesus e dos discípulos. Jesus também sentiu que uma força tinha saído dele e perguntou: “Quem foi que me tocou?” Os discípulos reagem: “O senhor está vendo essa multidão que o aperta de todos os lados e ainda pergunta ‘Quem foi que me tocou?’” Aqui aparece o desencontro entre Jesus e os discípulos. Jesus tinha uma sensibilidade que não era percebida pelos discípulos. Estes reagiram como todo mundo e não entenderam a reação diferente de Jesus. Mas Jesus nem liga, e continua indagando.
 
* A cura pela fé. A mulher percebeu que tinha sido descoberta. Foi um momento difícil e perigoso. Pois, conforme a crença da época, uma pessoa impura que, como aquela senhora, se metia no meio de uma multidão, contaminava todo mundo através do toque. Fazia todos ficar impuro diante de Deus (Lv 15,19-30). Por isso, como castigo, ela poderia ser apedrejada. Mas a mulher teve a coragem de assumir o que fez. “Cheia de medo e tremendo” caiu aos pés de Jesus e contou toda a verdade. Jesus dá a palavra final: “Minha filha, sua fé curou você. Vai em paz e fique curada dessa doença!” (1) “Minha filha”, isto é, Jesus acolhe a mulher na nova família, na comunidade, que se formava ao seu redor. (2) Aquilo que ela acreditava aconteceu de fato. (3) Jesus reconhece que sem a fé daquela mulher ele não poderia ter feito o milagre.
 
* A notícia da morte da menina. Neste momento o pessoal da casa de Jairo informa que a filha tinha morrido. Já não adiantava molestar Jesus. Para eles, a morte era a grande barreira. Jesus não conseguiria ir além da morte! Jesus escuta, olha para Jairo e aplica o que acabava de presenciar, a saber, que a fé é capaz de realizar o que a pessoa acredita. E ele diz: “Não tenha medo! Crê somente!”
 
* Na casa de Jairo. Jesus só permite três discípulos com ele. Vendo o alvoroço dos que fazem luto pela morte da menina, ele diz: “A criança não morreu. Está dormindo!”. O pessoal deu risada. O povo sabe distinguir quando uma pessoa está dormindo ou quando está morta. É a risada de Abraão e de Sara, isto é, dos que não conseguem crer que para Deus nada é impossível (Gn 17,17; 18,12-14; Lc 1,37). Também para eles, a morte era uma barreira que ninguém poderia ultrapassar! As palavras de Jesus têm ainda um significado mais profundo. A situação das comunidades perseguidas do tempo de Marcos parecia uma situação de morte. Elas tinham que ouvir: “Não é morte! Vocês é que estão dormindo! Acordem!” Jesus não dá importância à risada e entra no quarto onde está a menina, só ele, os três discípulos e os pais da menina.
 
* A ressurreição da menina. Jesus toma a criança pela mão e diz: “Talita kúmi!” Ela levantou-se. Grande alvoroço! Jesus conserva a calma e pede que lhe deem de comer. Duas mulheres são curadas! Uma tem doze anos de vida, a outra tem doze anos de hemorragia, doze anos de exclusão! Aos doze anos começa a exclusão da menina, pois começa a menstruação, começa a morrer! Jesus tem poder maior e ressuscita: “Levante-se!”
 
Para um confronto pessoal
1) Qual o ponto deste texto de que você mais gostou ou que mais chamou a sua atenção? Por quê?
2) Uma mulher foi curada e reintegrada na convivência da comunidade. Uma menina foi levantada do seu leito de morte. O que esta ação de Jesus nos ensina para nossa vida em família e na comunidade, hoje?

sábado, 27 de janeiro de 2024

Segunda-feira da 4ª semana do Tempo Comum

Beata Archangela Girlani, virgem de nossa Ordem
S Pedro Nolasco, presbítero e fundador da Ordem das Mercês
 
1ª Leitura (2Sam 15,13-14.30; 16,5-13a):
Naqueles dias, alguém foi informar David: «O coração dos homens de Israel está com teu filho Absalão». Então David ordenou a todos os seus servos que estavam com ele em Jerusalém: «Erguei-vos e fujamos, porque de outro modo não poderemos livrar-nos de Absalão. Parti sem demora, para que ele não nos apanhe desprevenidos, cause a nossa ruína e passe a cidade ao fio da espada». Depois David subiu, chorando, o Monte das Oliveiras, com a cabeça coberta e os pés descalços. E todo o povo que ia com ele levava a cabeça coberta e subia chorando. Quando David chegou a Baurim, apareceu um homem pertencente à família de Saul, chamado Semei, filho de Gera, que avançou a dizer maldições. Atirava pedras contra David e contra os seus servos, enquanto todo o povo e todos os valentes guerreiros caminhavam à direita e à esquerda do rei. Semei amaldiçoava David, dizendo: «Sai daqui, sai daqui homem iníquo e sanguinário. O Senhor fez cair sobre ti todo o sangue da família de Saul, cujo trono usurpaste, e fez passar a realeza para as mãos do teu filho Absalão. Tiveste o castigo que merecias, porque és um homem sanguinário». Abisaí, filho de Sarvia, disse ao rei: «Porque há-de este cão morto amaldiçoar o rei, meu senhor? Deixa-me ir cortar-lhe a cabeça». O rei, porém, respondeu: «Que vos importa isso, filho de Sarvia? Se o Senhor lhe ordenou que amaldiçoasse David, quem O pode censurar?». Depois David disse a Abisaí e a todos os seus servos: «Se um filho meu, nascido do meu próprio sangue, procura tirar-me a vida, quanto mais um homem de Benjamim! Deixai-o amaldiçoar, se foi o Senhor quem lho ordenou. Talvez o Senhor olhe para a minha aflição e transforme em bênçãos as maldições deste dia». David e os seus homens continuaram o seu caminho.
 
Salmo Responsorial: 3
R. Erguei-Vos, Senhor, e salvai-me.
 
Senhor, são tantos os meus inimigos, tão numerosos os que se levantam contra mim! Muitos são os que dizem a meu respeito: «Deus não o vai salvar».
 
Vós, porém, Senhor, sois o meu protetor, a minha glória e Aquele que me sustenta. Em altos brados clamei ao Senhor, Ele respondeu-me da sua montanha sagrada.
 
Deito-me e adormeço, e me levanto: sempre o Senhor me ampara. Não temo a multidão, que de todos os lados me cerca.
 
Aleluia. Apareceu no meio de nós um grande profeta: Deus visitou o seu povo. Aleluia.
 
Evangelho (Mc 5,1-20): Jesus e os discípulos chegaram à outra margem do mar, na região dos gerasenos. Logo que Jesus desceu do barco, um homem que tinha um espírito impuro saiu do meio dos túmulos e foi a seu encontro. Ele morava nos túmulos, e ninguém conseguia amarrá-lo, nem mesmo com correntes. Muitas vezes tinha sido preso com grilhões e com correntes, mas ele arrebentava as correntes e quebrava os grilhões, e ninguém conseguia dominá-lo. Dia e noite andava entre os túmulos e pelos morros, gritando e ferindo-se com pedras. Ao ver Jesus, de longe, o homem correu, caiu de joelhos diante dele e gritou bem alto: «Que queres de mim, Jesus, Filho de Deus Altíssimo? Por Deus, não me atormentes!». Jesus, porém, disse-lhe: «Espírito impuro, sai deste homem!»- E perguntou-lhe: «Qual é o teu nome?» Ele respondeu: «Legião é meu nome, pois somos muitos». E suplicava-lhe para que não o expulsasse daquela região Entretanto estava pastando, no morro, uma grande manada de porcos. Os espíritos impuros suplicaram então: “Manda-nos entrar nos porcos». Jesus permitiu. Eles saíram do homem e entraram nos porcos. E os porcos, uns dois mil, se precipitaram pelo despenhadeiro no mar e foram se afogando. Os que cuidavam deles fugiram e espalharam a notícia na cidade e no campo. As pessoas saíram para ver o que tinha acontecido. Chegaram onde estava Jesus e viram o possesso sentado, vestido e no seu perfeito juízo — aquele que tivera o Legião. E ficaram com medo. Os que tinham presenciado o fato explicavam-lhes o que havia acontecido com o possesso e com os porcos. Então, suplicaram Jesus para que fosse embora do território deles. Enquanto Jesus entrava no barco, o homem que tinha sido possesso pediu para que o deixasse ir com ele. Jesus, porém, não permitiu, mas disse-lhe: «Vai para casa, para junto dos teus, e anuncia-lhes tudo o que o Senhor, em sua misericórdia, fez por ti». O homem foi embora e começou a anunciar, na Decápole, tudo quanto Jesus tinha feito por ele. E todos ficavam admirados.
 
«Espírito impuro, sai deste homem!»
 
Rev. D. Ramon Octavi SÁNCHEZ i Valero (Viladecans, Barcelona, Espanha)
 
Hoje encontramos um fragmento do Evangelho que pode provocar o sorriso a mais de um. Imaginar-se uns dos mil porcos precipitando-se pelo monte abaixo, não deixa de ser uma imagem um pouco cômica. Mas a verdade é que a eles não lhes fez nenhuma graça, se enfadaram muito e lhe pediram a Jesus que se fora de seu território.
 
A atitude deles, mesmo que humanamente poderia parecer lógica, não deixa de ser francamente recriminável: prefeririam ter salvado seus porcos antes que a cura do endemoninhado. Isto é, antes os bens materiais, que nos proporcionam dinheiro e bem-estar, que a vida em dignidade de um homem que não é dos “nossos”. Porque o que estava possuído por um espírito maligno só era uma pessoa que «Sempre, dia e noite, andava pelos sepulcros e nos montes, gritando e ferindo-se com pedras» (Mc 5,5).
 
Nós temos muitas vezes este perigo de apegar-nos ao que é nosso, e desesperar-nos quando perdemos aquilo que só é material. Assim, por exemplo, o camponês se desespera quando perde uma colheita mesmo tendo-a assegurada, ou o jogador de bolsa faz o mesmo quando suas ações perdem parte de seu valor. Em compensação, muitos poucos se desesperam vendo a fome ou a precariedade de tantos seres humanos, alguns dos quais vivem ao nosso lado.
 
Jesus sempre pôs em primeiro lugar as pessoas, mesmo antes que as leis e os poderosos de seu tempo. Mas nós, muitas vezes, pensamos só em nós mesmos e naquilo que acreditamos que nos traz felicidade, mesmo o egoísmo nunca traz felicidade. Como diria o bispo brasileiro Helder Câmara: «O egoísmo é a fonte mais infalível de infelicidade para si mesmo e para os que o rodeiam».
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«É como se Jesus dissesse: Sai da minha casa, o que fazes na minha casa? Eu desejo entrar: Sai deste homem, desta morada preparada para mim» (São Clemente de Roma)
 
«O cristão é alguém que carrega consigo um desejo profundo: o de encontrar o seu Senhor com os seus irmãos ... É isso que nos faz felizes!» (Francisco)
 
«O pecado mortal, atacando em nós o princípio vital que é a caridade, torna necessária uma nova iniciativa da misericórdia de Deus e uma conversão do coração que normalmente se realiza no quadro do sacramento da Reconciliação» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1856)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

* No Evangelho de hoje, vamos meditar um longo texto sobre a expulsão de um demônio que se chamava Legião e que oprimia e maltratava uma pessoa.
Hoje há muita gente que usa os textos do evangelho sobre a expulsão dos demônios para meter medo nos outros. É pena! Marcos faz o contrário. Como veremos, ele associa a ação do poder do mal com quatro coisas: 1) Com o cemitério, o lugar dos mortos. A morte que mata a vida! 2) Com o porco, que era considerado um animal impuro. A impureza que separa de Deus! 3) Com o mar, que era visto como símbolo do caos de antes da criação. O caos que destrói a natureza. 4) Com a palavra Legião, nome dos exércitos do império romano. O império que oprime e explora os povos. Ora, Jesus vence o poder do mal nestes quatro pontos. A vitória de Jesus tinha um alcance enorme para as comunidades dos anos setenta, época em que Marcos escreve o seu evangelho. Elas viviam perseguidas pelas legiões romanas, cuja ideologia manipulava as crenças populares nos demônios para meter medo no povo e conseguir submissão!
 
* O poder do mal oprime, maltrata e aliena as pessoas. Os versículos iniciais descrevem a situação do povo antes da chegada de Jesus. Na maneira de descrever o comportamento do endemoninhado, Marcos associa o poder do mal com cemitério e morte. É um poder sem rumo, ameaçador, descontrolado e destruidor, que mete medo em todos. Priva a pessoa da consciência, do autocontrole e da autonomia.
 
* Diante da simples presença de Jesus o poder do mal desmorona e desintegra. Na maneira de descrever o primeiro contato entre Jesus e o homem possesso, Marcos acentua a desproporção total! O poder, que antes parecia tão forte, se derrete e se desmancha diante de Jesus. O homem cai de joelhos, pede para não ser expulso da região e entrega até o seu nome Legião. Através deste nome, Marcos associa o poder do mal com o poder político e militar do império romano que dominava o mundo através das suas Legiões.
 
* O poder do mal é impuro e não tem autonomia nem consistência. O demônio não tem poder sobre os seus próprios movimentos. Só consegue ir para dentro dos porcos com a permissão de Jesus! Uma vez dentro dos porcos, estes se precipitam no mar. Eram 2000 porcos! Na opinião do povo, o porco era símbolo da impureza que impedia o ser humano de relacionar-se com Deus e sentir-se acolhido por Ele. O mar era símbolo do caos que existia antes da criação e que, conforme a crença da época, ameaçava a vida. Este episódio dos porcos que se precipitam no mar é estranho e difícil de ser entendido. Mas a mensagem é muito clara: diante de Jesus, o poder do mal não tem autonomia nem consistência. Quem crê em Jesus já venceu o poder do mal e já não precisa ter medo!
 
* A reação do povo do lugar. Alertado pelos empregados que tomavam conta dos porcos, o povo do lugar veio e viu o homem liberto do poder do mal “em perfeito juízo”. Mas eles ficaram sem os porcos! Por isso, pedem a Jesus para ir embora. Para eles, os porcos eram mais importantes que o ser humano que acabava de ser devolvido a si mesmo. Assim é hoje: o sistema neoliberal pouco se importa com as pessoas. O que importa é o lucro!
 
* Anunciar a Boa Nova é anunciar “o que o Senhor fez por você!” O homem liberto quer “seguir Jesus”, mas Jesus diz: “Vá para casa, para junto dos seus, e anuncia a eles o que o Senhor fez por você!”. Esta frase de Jesus, Marcos a dirige às comunidades e a todos nós. Para a maioria de nós “seguir Jesus” significa: “Vá para sua casa e anuncia aos seus o que o Senhor te fez!”
 
Para um confronto pessoal
1) Qual o ponto deste texto de que você mais gostou ou que mais chamou a sua atenção? Por quê?
2) O homem curado quer seguir Jesus. Mas ele deve ficar em casa e contar a todo mundo o que Jesus fez por ele. O que Jesus fez por você que pode ser contado para os outros?

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

29 de janeiro

Beata Arcângela Girlani
Virgem de nossa Ordem
 
Nascida em Trino Vercellese, na Itália Setentrional, em meados do séc. XV, tomou o hábito carmelita em Parma, onde também veio a ser prioresa. Mais tarde exerceu o mesmo cargo no novo Mosteiro de Mântua, por ela fundado, onde morreu no dia 25 de janeiro de 1495. Animada por um vivo sentido da presença do Deus uno e trino, distinguiu-se pela sua especial devoção à SS. Trindade. Em colaboração com o Padre-Geral B. João Soreth, e seguindo as Constituições por ele renovadas, favoreceu uma observância viva do espírito do Carmelo nos mosteiros que lhe tinham sido confiados. O seu culto imemorial foi aprovado a 1 de outubro de 1864 pelo Papa Pio IX.
 
HINO DE LAUDES E VÉSPERAS

Arcângela bem-aventurada,
que chama te conduziu
à celestial morada?
 
Que olhar te atraiu?
Que doce voz te chamou?
Que amor te seduziu?
 
Ao seu amor aspiraste
e pra de todo o ganhar
os bens do mundo deixaste.
 
Vê-te o Carmelo chegar
humilde e fervorosa ...
Quanta luz hás de espalhar!
 
"Como és bela e graciosa!
Os teus olhos me fascinam:
levanta-te e vem, ó formosa!"
 
Dos que no exílio caminham
rumo à eternidade
sê Anjo de Caridade!
 
Salmodia, leitura, responsório breve e preces do dia corrente.

Oração
Senhor, que fizestes da bem-aventurada Arcângela uma enamorada do mistério da vossa eterna Trindade, concedei-nos, por sua intercessão, que, saboreando na terra a felicidade da vossa glória, Vos contemplemos um dia no Céu. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.