VENERÁVEL ORDEM TERCEIRA DO CARMO DE SERGIPE FUNDAÇÃO 1666 REFUNDAÇÃO 2003-PROVÍNCIA CARMELITANA PERNAMBUCANA
terça-feira, 31 de agosto de 2021
1º de setembro
Sta. Teresa Margarida do Sagrado Coração de Jesus (Redi)
Quarta-feira da 22ª semana do Tempo Comum
S. Teresa Margarida do Sagrado Coração de Jesus (Redi), Virgem de nossa Ordem
Salmo Responsorial: 51
R. Confio na
misericórdia de Deus para sempre.
Eu sou como oliveira viçosa na casa do meu Deus; confio para
sempre na sua misericórdia.
Hei de louvar-Vos eternamente pelo bem que me fizestes.
Na presença dos vossos fiéis proclamarei como é bom o vosso
nome.
Aleluia. O Senhor enviou-Me para anunciar a boa nova aos pobres e
proclamar aos cativos a redenção. Aleluia.
Evangelho (Lc 4,38-44): Naquele tempo, Jesus saiu
da sinagoga e entrou na casa de Simão. A sogra de Simão estava sofrendo, com
muita febre. Intercederam a Jesus por ela. Então, Jesus se inclinou sobre ela
e, com autoridade, mandou que a febre a deixasse. A febre a deixou, e ela,
imediatamente, se levantou e pôs-se a servi-los. Ao pôr-do-sol, todos os que
tinham doentes, com diversas enfermidades, os levavam a Jesus. E ele impunha as
mãos sobre cada um deles e os curava. De muitas pessoas saíam demônios,
gritando: «Tu és o Filho de Deus!». Ele os repreendia, proibindo que falassem,
pois sabiam que ele era o Cristo. De manhã, bem cedo, Jesus saiu e foi para um
lugar deserto. As multidões o procuravam e, tendo-o encontrado, tentavam
impedir que ele as deixasse. Mas ele disse-lhes: «Eu devo anunciar a Boa Nova
do Reino de Deus também a outras cidades, pois é para isso que fui enviado». E
ele ia proclamando pelas sinagogas da Judéia.
«Ele impunha as mãos sobre cada um deles e os curava. De muitas pessoas
saíam demônios, gritando»
Rev. D. Antoni CAROL i
Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
Não é a primeira ocasião que aparece o demônio “saindo”,
isto é, fugindo da presença de Deus entre gritos e exclamações. Lembremos
também o endemoninhado de Gerasa (cf. Lc 8,26-39). Surpreende que o próprio
demônio “reconheça” a Jesus e que, como no caso daquele de Gerasa, é ele mesmo
quem sai ao encontro de Jesus (isso sim, muito raivoso e incomodado porque a
presença de Deus incomodava a sua vergonhosa tranquilidade).
Tantas vezes nós também pensamos que encontrar-nos com Jesus
nos atrapalha! Atrapalha-nos ter que ir à Missa no domingo; perturba-nos pensar
que faz muito que não dedicamos um tempo à oração; sentimos vergonha dos nossos
erros, em lugar de ir ao Médico da nossa alma para pedir-lhe simplesmente
perdão... Pensemos se não é o Senhor quem tem que vir a nos encontrar, pois nós
mesmos nos fazemos rogar para deixar a nossa pequena “caverna” e sair ao
encontro de quem é o Pastor das nossas vidas! Isto se chama, simplesmente,
tibieza.
Tem um diagnóstico para isto: atonia, falta de tensão na
alma, angustia, curiosidade desordenada, hiperatividade, preguiça intelectual
com as coisas da fé, pusilanimidade, vontade de estar só consigo mesmo... E
existe também um antídoto: deixar de se olhar a sim mesmo e se pôr mãos à obra.
Fazer o pequeno compromisso de dedicar um momento cada dia a olhar e escutar a
Jesus (o que se entende por oração): Jesus o fazia, pois «de manhã, bem cedo,
Jesus saiu e foi para um lugar deserto» (Lc 4,42). Fazer o pequeno compromisso
de vencer o egoísmo numa pequena coisa cada dia pelo bem dos outros (isto se
chama amar). Fazer o pequeno-grande compromisso de viver cada dia em coerência
com nossa vida Cristã.
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
* Lucas 4,38-39: Jesus restaura a vida para o serviço. Depois
de participar da celebração do sábado, na sinagoga, Jesus entra na casa de
Pedro e cura a sogra dele. A cura faz com que ela se coloque imediatamente de
pé. Com a saúde e a dignidade recuperadas, ela se põe a serviço das pessoas.
Jesus não só cura, mas cura para que a pessoa possa colocar-se a serviço da
vida.
* Lucas 4,40-41:
Jesus acolhe e cura os marginalizados. Ao cair da tarde, na hora do
aparecimento da primeira estrela no céu, terminado o sábado, Jesus acolhe e
cura os doentes e os possessos que o povo tinha trazido. Doentes e possessos
eram as pessoas mais marginalizadas naquela época. Elas não tinham a quem
recorrer. Ficavam entregues à caridade pública. Além disso, a religião as
considerava impuras. Elas não podiam participar na comunidade. Era como se Deus
as rejeitasse e as excluísse. Jesus as acolhe e as cura impondo a mão em cada
um. Assim, aparece em que consiste a Boa Nova de Deus e o que ela quer atingir
na vida da gente: acolher os marginalizados e os excluídos e reintegrá-los na
convivência.
* “De muitas pessoas
saíam demônios, gritando: “Tu és o Filho de Deus”. Jesus os ameaçava e não
os deixava falar, porque os demônios sabiam que ele era o Messias”. Naquele
tempo, o título Filho de Deus ainda não tinha a densidade e a profundidade que
o título tem hoje para nós. Significava que o povo reconhecia em Jesus uma
presença todo especial de Deus. Jesus não deixava os demônios falar. Ele não
queria propaganda fácil por meio do impacto de expulsões espetaculares.
* Lucas 4,42a: Permanecer
unido ao Pai pela oração. “Ao raiar do dia, Jesus saiu, e foi para um lugar
deserto. As multidões o procuravam, e, indo até ele, não queriam deixá-lo que
fosse embora”. Aqui Jesus aparece rezando. Ele faz um esforço muito grande para
ter o tempo e o ambiente apropriado para rezar. Levantou mais cedo que os
outros e foi para um lugar deserto, para poder estar a sós com Deus. Muitas
vezes, os evangelhos nos falam da oração de Jesus no silêncio (Lc 3,21-22;
4,1-2.3-12; 5,15-16; 6,12; 9,18; 10,21; 5,16; 9,18; 11,1; 9,28;23,34; Mt
14,22-23; 26,38; Jo 11,41-42; 17,1-26; Mc 1,35; Lc 3,21-22). É através da
oração que ele mantém viva em si a consciência da sua missão.
* Lucas 4,42b-44:
Manter viva a consciência da missão e não se fechar no resultado. Jesus
tornou-se conhecido. O povo ia atrás dele e não queria que ele fosse embora.
Jesus não atendeu ao pedido e disse: "Devo anunciar a Boa Notícia do Reino
de Deus também para as outras cidades, porque para isso é que fui
enviado." Jesus tem muito clara a sua missão. Não se fecha no resultado já
obtido, mas quer manter bem viva a consciência da sua missão. É a missão
recebida do Pai que o orienta na tomada das decisões. Foi para isto que fui
enviado! E aqui no texto esta consciência tão viva aparece como fruto da
oração.
Para um confronto
pessoal
1) Jesus tirava
tempo para poder rezar e estar a sós com o Pai? Eu tiro tempo para rezar e
estar a sós com Deus?
2) Jesus mantinha
viva a consciência da sua missão. E eu, será que, como cristã ou cristão, tenho
consciência de alguma missão ou vivo sem missão?
segunda-feira, 30 de agosto de 2021
Terça-feira da 22ª semana do Tempo Comum
São Raimundo Nonato, religioso
Salmo Responsorial: 26
R. Espero contemplar
a bondade do Senhor na terra dos vivos.
O Senhor é minha luz e salvação: a quem hei de temer? O
Senhor é a defesa da minha vida: de quem hei de ter medo?
Uma coisa peço ao Senhor, por ela anseio: habitar na casa do
Senhor todos os dias da minha vida, para gozar da suavidade do Senhor e visitar
o seu santuário.
Espero vir a contemplar a bondade do Senhor na terra dos
vivos. Confia no Senhor, sê forte. Tem confiança e confia no Senhor.
Aleluia. Apareceu no meio de nós um grande profeta: Deus visitou o seu
povo. Aleluia.
Evangelho (Lc 4,31-37): Naquele tempo, Jesus
desceu para Cafarnaum, cidade da Galileia, e lá os ensinava, aos sábados. Eles
ficavam maravilhados com os seus ensinamentos, pois sua palavra tinha
autoridade. Na sinagoga estava um homem que tinha um espírito impuro, e ele
gritou em alta voz: «Que queres de nós, Jesus de Nazaré? Vieste para nos
destruir? Eu sei quem tu és: o Santo de Deus!». Jesus o repreendeu: «Cala-te,
sai dele!». O demônio então lançou o homem no chão e saiu dele, sem lhe fazer
mal algum. Todos ficaram espantados e comentavam: «Que palavra é essa? Ele dá
ordens aos espíritos impuros, com autoridade e poder, e eles saem». E sua fama
se espalhava por todos os lugares da redondeza.
«Eles ficavam maravilhados com os seus ensinamentos, pois sua palavra
tinha autoridade»
Rev. D. Joan BLADÉ i
Piñol (Barcelona, Espanha)
Precisamente aquela autoridade no seu falar era o que dava
força a sua linguagem. Utilizava imagens vivas e concretas, sem silogismos nem
definições; palavras e imagens que extraía da própria natureza quando não das
Sagradas Escrituras. Não há dúvida de que Jesus era um bom observador, homem
próximo das situações humanas: ao mesmo tempo em que o vemos ensinando, também
o contemplamos perto das pessoas fazendo-lhes o bem (curando as doenças e
expulsando demônios, etc.). Lia no livro da vida diária as experiências que
depois lhe serviriam para ensinar. Ainda que fosse um material tão simples e
“rudimentar”, a palavra do Senhor era sempre profunda, inquietante,
radicalmente nova, definitiva.
O mais admirável da fala de Jesus Cristo, era esse saber
harmonizar a autoridade divina com a mais incrível simplicidade humana.
Autoridade e simplicidade eram possíveis em Jesus graças ao conhecimento que
possuía do Pai e de sua relação de amorosa obediência a Ele (cf. Mt 11,25-27).
Esta relação com o Pai é o que explica a harmonia única entre a grandeza e a
humildade. A autoridade de seu falar não se ajustava aos parâmetros humanos;
não havia disputa, nem interesses pessoais ou desejo de sobressair. Era uma
autoridade que se manifestava tanto na sublimidade da palavra ou da ação como
na humildade e simplicidade. Não houve nos seus lábios nem louvor pessoal, nem
soberba nem gritos. Mansidão, doçura, compreensão, paz, serenidade,
misericórdia, verdade, luz, justiça... Foi o aroma que rodeava a autoridade de
seus ensinos.
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
* Lucas 4,31: A mudança de Jesus para Cafarnaum. “Jesus
foi a Cafarnaum, cidade da Galileia, e aí ensinava aos sábados”. Mateus diz que
Jesus foi morar em Cafarnaum (Mt 4,13). Mudou de residência. Cafarnaum era uma
pequena cidade junto ao entroncamento de duas estradas importantes: uma que
vinha da Ásia Menor e ia para Petra no sul da Transjordânia, e a outra que
vinha da região dos rios Eufrates e Tigre e descia para o Egito. A mudança para
Cafarnaum facilitava o contato com o povo e a divulgação da Boa Nova.
* Lucas 4,32: Admiração do povo pelo ensino de Jesus. A
primeira coisa que o povo percebe é o jeito diferente de Jesus ensinar. Não é
tanto o conteúdo, mas sim o jeito de ensinar, que impressiona. “Jesus falava
com autoridade”. Marcos acrescenta que, por este seu jeito diferente de
ensinar, Jesus criava consciência crítica no povo com relação às autoridades
religiosas da época. O povo percebia e comparava: Ele ensina com autoridade,
diferente dos escribas” (Mc 1,22.27). Os escribas da época ensinavam citando
autoridades. Jesus não cita autoridade nenhuma, mas fala a partir da sua
experiência de Deus e da vida.
* Lucas 4,33-35: Jesus combate o poder do mal. O primeiro
milagre é a expulsão de um demônio. O poder do mal tomava conta das pessoas e
as alienava. Jesus devolve as pessoas a si mesmas. Devolve a consciência e a
liberdade. E ele o faz pelo poder da sua palavra: "Cale-se, e saia
dele!" Ele dizia em outra ocasião:
“Se é pelo dedo de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus
chegou para vocês” (Lc 11,20). Hoje também, muita gente vive alienada de si
mesma pelo poder dos meios de comunicação, da propaganda do governo e do
comércio. Vive escrava do consumismo, oprimida pelas prestações e ameaçada
pelos cobradores. Acha que não vive direito enquanto não comprar aquilo que a
propaganda anuncia. Não é fácil expulsar este poder que hoje aliena tanta
gente, e devolver as pessoas a si mesmas!
* Lucas 1,36-37: A
reação do povo: ele manda nos espíritos impuros primeiro impacto. Além do
jeito diferente de Jesus ensinar as coisas de Deus, o outro aspecto que causava
admiração no povo era o seu poder sobre os espíritos impuros: "Que palavra
é essa? Ele manda nos espíritos impuros com autoridade e poder, e eles
saem". Jesus abre um novo caminho para o povo poder conseguir a pureza
através do contato com ele. Naquele tempo, uma pessoa impura não podia
comparecer diante de Deus para rezar e receber a bênção prometida a Abraão.
Teria que purificar-se, primeiro. Havia muitas leis e normas que dificultavam a
vida do povo e marginalizavam muita gente como impura. Mas agora, purificadas
pela fé em Jesus, as pessoas podiam comparecer novamente na presença de Deus e
rezar a Ele, sem necessidade de recorrer àquelas complicadas e, muitas vezes,
dispendiosas normas de pureza.
Para um confronto
pessoal
1) Jesus
provocava a admiração do povo. A atuação da nossa comunidade aqui no bairro provoca
alguma admiração no povo? Qual?
2) Jesus
expulsava o poder do mal e devolvia as pessoas a si mesmas. Hoje, muita gente
vive alienada de si mesma e de tudo. Como devolve-las a si mesmas?
domingo, 29 de agosto de 2021
30 de agosto
Santa
Eufrásia do S. Coração de Jesus
Virgem de nossa Ordem
Salmodia, leitura, responsório breve e preces do dia corrente.
OraçãoSenhor, que hoje nos alegrais
com a festa anual de Santa Eufrásia do S. Coração de Jesus, concedei-nos a
ajuda dos seus méritos, Vós que nos iluminastes com o exemplo da sua virgindade
e amor ao próximo. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
Segunda-feira da 22ª semana do Tempo Comum
Santa Eufrásia do S. Coração de Jesus, Virgem de nossa Ordem
Salmo Responsorial: 95
R. O Senhor vem
julgar a terra.
Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, terra
inteira. Publicai entre as nações a sua glória, em todos os povos as suas
maravilhas.
O Senhor é grande e digno de louvor, mais temível que todos
os deuses. Os deuses dos gentios não passam de ídolos, foi o Senhor quem fez os
céus.
Alegrem-se os céus, exulte a terra, ressoe o mar e tudo o
que ele contém, exultem os campos e quanto neles existe, alegrem-se as árvores
dos bosques.
Diante do Senhor que vem, que vem para julgar a terra.
Julgará o mundo com justiça e os povos com fidelidade.
Aleluia. O Espírito do Senhor está sobre Mim: Ele me enviou a anunciar
a boa nova aos pobres. Aleluia.
Evangelho (Lc 4,16-30): Naquele tempo, Jesus foi a
Nazaré, onde se tinha criado. Conforme seu costume, no dia de sábado, foi à
sinagoga e levantou-se para fazer a leitura. Deram-lhe o livro do profeta
Isaías. Abrindo o livro, encontrou o lugar onde está escrito: «O Espírito do
Senhor está sobre mim, pois ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa
Nova aos pobres: enviou-me para proclamar a libertação aos presos e, aos cegos,
a recuperação da vista; para dar liberdade aos oprimidos e proclamar um ano de
graça da parte do Senhor». Depois, fechou o livro, entregou-o ao ajudante e
sentou-se. Os olhos de todos, na sinagoga, estavam fixos nele. Então, começou a
dizer-lhes: «Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de
ouvir». Todos testemunhavam a favor dele, maravilhados com as palavras cheias
de graça que saíam de sua boca. E perguntavam: «Não é este o filho de José? ».
Ele, porém, dizia: «Sem dúvida, me citareis o provérbio: ‘Médico, cura-te a ti
mesmo’. Tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum, faze também aqui, na
tua terra!». E acrescentou: «Em verdade, vos digo que nenhum profeta é bem
recebido na sua própria terra. Ora, a verdade é esta que vos digo: no tempo do
profeta Elias, quando não choveu durante três anos e seis meses e uma grande
fome atingiu toda a região, havia muitas viúvas em Israel. No entanto, a
nenhuma delas foi enviado o profeta Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na
Sidônia. E no tempo do profeta Eliseu, havia muitos leprosos em Israel, mas
nenhum deles foi curado, senão Naamã, o sírio». Ao ouvirem estas palavras, na
sinagoga, todos ficaram furiosos. Levantaram-se e o expulsaram da cidade.
Levaram-no para o alto do morro sobre o qual a cidade estava construída, com a
intenção de empurrá-lo para o precipício. Jesus, porém, passando pelo meio deles,
continuou o seu caminho.
«Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir»
Rev. D. David AMADO i
Fernández (Barcelona, Espanha)
Mas, além disso, todas as palavras do Evangelho possuem uma
atualidade eterna. São eternas porque foram pronunciadas pelo Eterno e, são
atuais porque Deus faz com que se cumpram em todos os tempos. Quando escutamos
a Palavra de Deus, temos que recebê-la não como um discurso humano, mas sim
como uma Palavra que tem, sobre nós, poder de transformação. Deus não fala aos
nossos ouvidos, mas ao nosso coração. Tudo o que diz está profundamente cheio
de sentido e de amor. A Palavra de Deus é uma fonte inextinguível de vida: «É
mais o que perdemos do que o que captamos, tal como ocorre com os sedentos que
bebem de uma fonte» (Santo Efrém). Suas palavras saem do coração de Deus. E, desse
coração, do seio da Trindade, veio Jesus —a Palavra do Pai — aos homens.
Por isso, cada dia, quando escutamos o Evangelho, temos que
poder dizer como Maria: «Faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1,38); e
Deus nos responderá: «Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes
de ouvir». Mas para que a Palavra seja eficaz em nós devemos nos desprender de
todo o preconceito. Os contemporâneos de Jesus não o compreenderam, porque o
viam somente com olhos humanos: «Não é este o filho de José?» (Lc 4,22).
Enxergavam a humanidade de Cristo, mas não se deram conta de sua divindade.
Sempre que escutamos a Palavra de Deus, mais à frente do estilo literário, da
beleza das expressões ou da singularidade da situação, temos que saber que é
Deus quem nos fala.
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
* Lucas 4,16-19: A
proposta de Jesus. Animado pelo Espírito Santo, Jesus tinha voltado para a
Galiléia (Lc 4,14) e começou a anunciar a Boa Nova do Reino de Deus. Andando
pelas comunidades e ensinando nas sinagogas, ele chegou em Nazaré, onde tinha
sido criado. Estava de volta na comunidade, onde, desde pequeno, tinha
participado durante quase trinta anos. No sábado seguinte, conforme o seu
costume, Jesus foi à sinagoga para participar da celebração e levantou-se para
fazer a leitura. Escolheu o texto de Isaías que falava dos pobres, presos,
cegos e oprimidos (Is 61,1-2). Este texto refletia a situação do povo da
Galiléia do tempo de Jesus. A experiência que Jesus tinha de Deus como Pai
amoroso dava a ele um novo olhar para avaliar a realidade. Em nome de Deus,
Jesus toma posição em defesa da vida do seu povo e, com as palavras de Isaías,
define a sua missão: (1) anunciar
a Boa Nova aos pobres, (2) proclamar
a libertação aos presos, (3) a
recuperação da vista aos cegos, (4) restituir
a liberdade aos oprimidos e, retomando a antiga tradição dos profetas, (5) proclama “um ano de graça da parte do Senhor”.
Proclama o ano do jubileu!
* Na Bíblia, o “Ano
Jubileu” era uma lei importante. Inicialmente, a cada sete anos (Dt 15,1;
Lev 25,3), as terras deviam voltar ao clã de origem. Cada um devia poder voltar
à sua propriedade. Assim impediam a formação de latifúndio e garantiam às
famílias a sobrevivência. Também deviam perdoar as dívidas e resgatar as
pessoas escravizadas (Dt 15,1-18). Não foi fácil realizar o ano jubileu cada
sete anos (cf Jr 34,8-16). Depois do exílio, decidiram realizá-lo cada sete vezes
sete anos (Lev 25,8-12), isto é, cada cinquenta anos. O objetivo do Ano Jubileu
era e continua sendo: restabelecer os direitos dos pobres, acolher os excluídos
e reintegrá-los na convivência. O jubileu era um instrumento legal para voltar
ao sentido original da Lei de Deus. Era uma oportunidade oferecida por Deus
para fazer uma revisão da caminhada, descobrir e corrigir os erros e recomeçar
tudo de novo. Jesus inicia a sua pregação proclamando um jubileu, um “Ano de
Graça da parte do Senhor”.
* Lucas 4,20-22:
Ligar Bíblia com Vida. Terminada a leitura, Jesus atualiza o texto de
Isaías dizendo: “Hoje se cumpriu esta passagem da escritura que acabastes de
ouvir!" Assumindo as palavras de Isaías como suas próprias palavras, Jesus
lhes dá o seu pleno e definitivo sentido e se declara messias que veio realizar
a profecia. Esta maneira de atualizar o texto provocou uma reação de descrédito
por parte dos que estavam na sinagoga. Ficaram escandalizados e já não queriam
saber dele. Não aceitaram Jesus como o messias anunciado por Isaías. Diziam:
“Não é este o filho de José?” Ficaram escandalizados porque Jesus falou em
acolher os pobres, os cegos e os oprimidos. O povo de Nazaré não aceitou a
proposta de Jesus. E assim, no momento em que apresentou o seu projeto de
acolher os excluídos, ele mesmo foi excluído.
* Lucas 4,23-30: Ultrapassar
os limites da raça. Para ajudar a comunidade a superar o escândalo e
levá-la a compreender que sua proposta estava bem dentro da tradição, Jesus
contou duas histórias conhecidas da Bíblia, uma de Elias e outra de Eliseu. As
duas histórias criticavam o fechamento do povo de Nazaré. Elias foi enviado
para a viúva estrangeira de Sarepta (1 Rs 17,7-16). Eliseu foi enviado para
atender ao estrangeiro da Síria (2 Rs 5,14). Transparece aqui a preocupação de
Lucas em mostrar que a abertura para os pagãos já vinha desde Jesus. Jesus teve
as mesmas dificuldades que as comunidades estavam tendo no tempo de Lucas. Mas
o apelo de Jesus não adiantou. Ao contrário! As histórias de Elias e Eliseu
provocaram mais raiva ainda. A comunidade de Nazaré chegou ao ponto de querer
matar Jesus. Mas ele manteve a calma. A raiva dos outros não conseguiu
desviá-lo do seu caminho. Lucas mostra assim como é difícil superar a
mentalidade do privilégio e do fechamento.
* É importante notar
os detalhes no uso do Antigo Testamento. Jesus cita o texto de Isaías até
onde diz: "proclamar um ano de graça da parte do Senhor". Cortou o
resto da frase que dizia: "e um dia de vingança do nosso Deus". O
povo de Nazaré ficou bravo com Jesus por ele pretender ser o messias, por
querer acolher os excluídos e por ter omitido a frase sobre a vingança. Eles
queriam que o Dia de Javé fosse um dia de vingança contra os opressores do
povo. Neste caso, a vinda do Reino seria apenas uma virada da mesa e não uma
mudança ou conversão do sistema. Jesus não aceita este modo de pensar, não
aceita a vingança (cf.Mt 5,44-48). A sua nova experiência de Deus como Pai/Mãe
ajudava-o a entender melhor o sentido das profecias.
Para um confronto
pessoal
1) O programa de
Jesus consiste em acolher os excluídos. Será que nós acolhemos a todos, ou
excluímos alguém? Quais os motivos que nos levam a excluir certas pessoas?
2) Será que o
programa de Jesus está sendo realmente o nosso programa, o meu programa? Quais
os excluídos que deveríamos acolher melhor na nossa comunidade? O que ou quem
nos dá força para realizar a missão que Jesus nos deu?