SOLENIDADE DA THEOTOKOS (MÃE DE DEUS )
“Não se pode aceitar um Deus encarnado sem aceitar Maria que lhe deu a carne humana” (Dom Murilo S. R. Krieger, bispo e escritor mariano).
A Maternidade Divina de Maria é a base e o princípio fundamental da teologia marial. Está na origem dos demais dogmas marianos. Todas as graças, privilégios e títulos de Maria estão fundamentados nesta verdade mariana. A Maternidade Divina de Maria é a chave explicativa de seu mistério e missão. Mais do que um privilegio pessoal, a Maternidade de Nossa Senhora está a serviço da salvação do povo.
A Maternidade Divina de Maria tem profundas raízes bíblicas. Os Evangelhos referem-se, várias vezes, a Nossa Senhora como Mãe de Jesus. Com o título de “Mãe”, a Virgem Santíssima é designada 25 vezes no Novo Testamento. De maneira concisa, São Paulo afirma que Jesus Cristo, aquele que foi enviado do Pai, é filho de Maria (Gl 4,4). A fundamentação bíblica encontra-se em todos os evangelistas (Lc 1,35.39-44.56; Mc 6,3; Mt 1,18-25; Jo 6,42).
Os estudiosos estimam que o título Mãe de Deus (THEOTÓKOS) apareceu pela primeira vez, na literatura cristã, nos escritos de Orígenes de Alexandria († 250).
Maria é verdadeiramente a Mãe de Deus encarnado em Jesus Cristo. A definição como MATER DEI (em latim) ou THEOTOKOS (em grego) foi afirmado por diversos Padres da Igreja nos três primeiros séculos, como S. Inácio (107), S. Atanásio (330) e S. João Crisóstomo (400).
A visão contrária, defendida pelo patriarca de Constantinopla Nestório era que Maria devia ser chamada de Christotokos, que significa "Mãe de Cristo", para restringir o seu papel como mãe apenas da natureza humana de Cristo e não da sua natureza divina.
Nestório afirmava duas naturezas de Cristo muito unidas, mas constituindo duas pessoas. Por isso, manifestava que Maria é a Mãe do homem Jesus, mas não a Mãe de Deus. Conseqüentemente, Deus tinha habitado num homem, mas não se tinha feito Homem. Não existiu verdadeira encarnação. Com isso, a própria redenção do homem caiu por terra. Essa heresia nestoriana causou grave escândalo no meio do povo e do clero, provocando divisões e paixões dentro da Igreja.
Os adversários de Nestório, liderados por S. Cirilo de Alexandria, consideravam isto inaceitável, pois Nestório estava destruindo a união perfeita e inseparável da natureza divina e humana em Jesus Cristo, uma vez que em Cristo "O Verbo se fez carne" (João 1,14), ou seja o Verbo (que é Deus - João 1,1) é a carne; e a carne é o Verbo, Maria foi a mãe da carne de Cristo e conseqüentemente do Verbo.
S. Cirilo escreveu que "Surpreende-me que há alguns que duvidam que a Virgem santa deve ser chamada ou não de Theotokos. Pois, se nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, e a Virgem santa deu-o à luz, ela não se tornou a Theotokos?"
Nestório não admitiu qualquer retificação de suas idéias. O Imperador convocou então um Çoncílio, que inaugurou suas sessões em Éfeso; presidiu-o São Cirilo, Bispo de Constantinopla, como Legado do Papa Celestino.
O objetivo do Concílio era afirmar a unidade da Pessoa de Cristo. Reconhecer Maria como Mãe de Deus (Theotókos) significa, na verdade, professar que Cristo, Filho da Virgem Santíssima segundo a geração humana, é Filho de Deus. Maria é Mãe de Jesus Cristo, o Filho de Deus que se encarnou. Maria não é, porém, a mãe apenas da carne humana, mas de toda a realidade de seu Filho, que tinha uma só Pessoa. Daí dizer que Maria é Mãe de Deus, não enquanto Deus sem mais, mas enquanto Deus feito homem. Portanto, “THEOTÓKOS” significa, teologicamente, não genitora da divindade, mas geradora do Verbo encarnado.
Os 200 Bispos presentes no Concílio proclamaram que “a Pessoa de Cristo é una e divina e que a Santíssima Virgem tem que ser reconhecida e venerada por todos como realmente Mãe de Deus”. A doutrina de Nestório foi considerada uma falsificação da Encarnação de Cristo, e por conseqüência, da salvação da humanidade, sendo considerada uma heresia.
Aos 22 de junho de 431, o Concilio de Éfeso definiu explicitamente a Maternidade Divina de Nossa Senhora. Assim, o Concílio se expressou: “Que seja excomungado quem não professar que Emanuel é verdadeiramente Deus e, portanto, que a Virgem Maria é verdadeiramente Mãe de Deus, pois deu à luz segundo a carne aquele que é o Verbo de Deus”.
E os Padres do Concílio, segundo narra a Tradição, para perpétua memória, acrescentaram à Ave Maria esta cláusula: “SANTA MARIA, MÃE DE DEUS, ROGAI POR NÓS, PECADORES, AGORA E NA HORA DE NOSSA MORTE”. Oração que, desde então, recitam todos os dias milhões de almas para reconhecer em Maria a glória de Mãe de Deus, que um herege quis lhe arrebatar.
Dos Sermões de São Guerrico, abade (Séc. XII)
Maria, Mãe de Cristo e Mãe dos cristãos Maria deu à luz um Filho único. Assim como ele é Filho único de seu Pai nos céus, é também Filho único de sua mãe na terra. Ora, essa única Virgem Mãe, que possui a glória de ter dado à luz o Filho único de Deus Pai, abraça este mesmo Filho em todos os seus membros. Não se envergonha de ser chamada mãe de todos aqueles nos quais vê a Cristo já formado ou em formação.
A antiga Eva, que deixou aos filhos a sentença de morte ainda antes de verem a luz do dia, foi mais madrasta do que mãe. Chamam-na mãe de todos os viventes; mas verifica-se, com mais verdade, que ela foi a origem da morte para os que vivem, a mãe dos que morrem, pois o seu ato de gerar não foi outra coisa senão propagar a morte. E já que Eva não correspondeu fielmente ao significado do seu nome, Maria realizou este mistério.
Como a Igreja, da qual é figura, Maria é a Mãe de todos os que renascem para a vida. Ela é verdadeiramente a mãe da Vida pela qual todos vivem; ao gerar a Vida, de certo modo ela regenerou todos os que hão de viver por ela.
A santa mãe de Cristo, que se reconhece mãe dos cristãos em virtude desse mistério, mostra-se também sua mãe pelo cuidado e amor que tem por eles. Não é insensível para com os filhos, como se não fossem seus; suas entranhas, fecundada suma só vez mas nunca estéreis, jamais se cansam de dar à luz frutos de piedade.
Se o Apóstolo, servo de Cristo, uma e outra vez dá à luz filhos pelos seus cuidados e ardente piedade, até Cristo ser formado neles (cf. Gl 4,19), quanto mais a própria mãe de Cristo! E Paulo, de fato, os gerou, pregando-lhes a palavra da verdade pela qual foram regenerados; Maria, porém, gerou-os de modo muito mais divino e santo, ao dar à luz a própria Palavra. Louvo realmente em São Paulo o ministério da pregação; porém admiro e venero muito mais em Maria o mistério da geração.
Observa, agora, se os filhos também não parecem reconhecer a sua mãe. Impelidos como que por um certo natural afeto de piedade, recorrem imediatamente à invocação do seu nome em todas as necessidades e perigos, como crianças no colo da mãe.
Por isso, julgo, não sem motivo, que é destes filhos que o Profeta fala quando faz esta promessa: Os teus filhos habitarão em ti (cf. Sl 101,29). Ressalve-se, no entanto, a interpretação que atribui principalmente à Igreja esta profecia.
Agora vivemos, na verdade, sob o amparo da mãe do Altíssimo, habitamos sob a sua proteção e como que à sombra de suas asas. Mais tarde, seremos acalentados no seu regaço com a participação na sua glória. Então ressoará, numa só voz, a aclamação dos filhos que se alegram e se congratulam com sua mãe: Todos juntos a cantar nos alegramos, pois em ti está a nossa morada(cf. Sl 86,7), santa Mãe de Deus!
FELIZ 2012