segunda-feira, 31 de outubro de 2022

XXXII Domingo do Tempo Comum

S. Nuno de Santa Maria, viúvo e religioso

1ª Leitura (2Mac 7,1-2.9-14): Naqueles dias, foram presos sete irmãos, juntamente com a mãe, e o rei da Síria quis obrigá-los, à força de golpes de azorrague e de nervos de boi, a comer carne de porco proibida pela Lei judaica. Um deles tomou a palavra em nome de todos e falou assim ao rei: «Que pretendes perguntar e saber de nós? Estamos prontos para morrer, antes que violar a lei de nossos pais». Prestes a soltar o último suspiro, o segundo irmão disse: «Tu, malvado, pretendes arrancar-nos a vida presente, mas o Rei do universo ressuscitar-nos-á para a vida eterna, se morrermos fiéis às suas leis». Depois deste começaram a torturar o terceiro. Intimado a pôr fora a língua, apresentou-a sem demora e estendeu as mãos resolutamente, dizendo com nobre coragem: «Do Céu recebi estes membros e é por causa das suas leis que os desprezo, pois do Céu espero recebê-los de novo». O próprio rei e quantos o acompanhavam estavam admirados com a força de ânimo do jovem, que não fazia nenhum caso das torturas. Depois de executado este último, sujeitaram o quarto ao mesmo suplício. Quando estava para morrer, falou assim: «Vale a pena morrermos às mãos dos homens, quando temos a esperança em Deus de que Ele nos ressuscitará; mas tu, ó rei, não ressuscitarás para a vida».

Salmo Responsorial: 16
R. Senhor, ficarei saciado, quando surgir a vossa glória.

Ouvi, Senhor, uma causa justa, atendei a minha súplica. Escutai a minha oração, feita com sinceridade.

Firmai os meus passos nas vossas veredas, para que não vacilem os meus pés. Eu Vos invoco, ó Deus, respondei-me, ouvi e escutai as minhas palavras.

Protegei-me à sombra das vossas asas, longe dos ímpios que me fazem violência. Senhor, mereça eu contemplar a vossa face e ao despertar saciar-me com a vossa imagem.

2ª Leitura (2Tes 2,16—3,5): Irmãos: Jesus Cristo, nosso Senhor, e Deus, nosso Pai, que nos amou e nos deu, pela sua graça, eterna consolação e feliz esperança, confortem os vossos corações e os tornem firmes em toda a espécie de boas obras e palavras. Entretanto, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se propague rapidamente e seja glorificada, como acontece no meio de vós. Orai também, para que sejamos livres dos homens perversos e maus, pois nem todos têm fé. Mas o Senhor é fiel: Ele vos dará firmeza e vos guardará do Maligno. Quanto a vós, confiamos inteiramente no Senhor que cumpris e cumprireis o que vos mandamos. O Senhor dirija os vossos corações, para que amem a Deus e aguardem a Cristo com perseverança.

Aleluia. Jesus Cristo é o Primogênito dos mortos. A Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Aleluia.

Evangelho (Lc 20,27-38): Aproximaram-se de Jesus alguns saduceus, os quais negam a ressurreição, e lhe perguntaram: «Mestre, Moisés deixou-nos escrito: ‘Se alguém tiver um irmão casado e este morrer sem filhos, deve casar-se com a mulher para dar descendência ao irmão’. Ora, havia sete irmãos. O primeiro se casou e morreu, sem deixar filhos. Também o segundo e o terceiro se casaram com a mulher. E assim os sete: todos morreram sem deixar filhos. Por fim, morreu também a mulher». Na ressurreição, ela será esposa de qual deles? Pois os sete a tiveram por esposa». Jesus respondeu-lhes: «Neste mundo, homens e mulheres casam-se, mas os que forem julgados dignos de participar do mundo futuro e da ressurreição dos mortos não se casam; e já não poderão morrer, pois serão iguais aos anjos; serão filhos de Deus, porque ressuscitaram. Que os mortos ressuscitam, também foi mostrado por Moisés, na passagem da sarça ardente, quando chama o Senhor de ‘Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacó’. Ele é Deus não de mortos, mas de vivos, pois todos vivem para ele».

«Ele é Deus não de mortos, mas de vivos, pois todos vivem para ele»

Mn. Ramon SÀRRIAS i Ribalta (Andorra la Vella, Andorra)

Hoje, Jesus faz uma clara afirmação da ressurreição e da vida eterna. Os saduceus duvidavam, ou pior ainda, ridicularizavam a crença da vida eterna depois da morte, que —pelo contrário— era defendida pelos fariseus e também por nós.

A pergunta que fazem os fariseus a Jesus «Na ressurreição, ela será esposa de qual deles? Pois os sete a tiveram por esposa» (Lc 20,33) deixa entrever uma mentalidade jurídica de possessão, uma reivindicação do direito de propriedade sobre uma pessoa. Além disso, tenta enganar a Jesus, isso mostra um equívoco que existe ainda hoje; imaginar a vida eterna como uma prolongação, depois da morte, da existência terrena. O céu consistiria numa transposição das coisas bonitas das quais gozamos.

Uma coisa é crer na vida eterna e outra imaginar-se como será. O mistério que não está rodeado de respeito e discrição, periga ser banalizado pela curiosidade e, finalmente, ridicularizado.

A resposta de Jesus tem duas partes. Na primeira tenta que possam compreender que a instituição do matrimônio não tem ração de ser na outra vida «Os que forem julgados dignos de participar do mundo futuro e da ressurreição dos mortos não se casam» (Lc 20,35). O que se perdura e alcança a sua máxima plenitude é tudo o que tenhamos semeado de amor autêntico, de amizade, de fraternidade, de justiça e verdade...

O segundo momento da resposta deixa-nos duas certezas: «Ele é Deus não de mortos, mas de vivos» (Lc 20,38). Confiar neste Deus quer dizer, dar-nos conta que estamos feitos para a vida. E a vida consiste em estar com Ele constantemente, sempre. Além disso, «Todos vivem para Ele» (Lc 20,38): Deus é a fonte da vida. O crente, imerso em Deus pelo batismo, foi arrancado para sempre do domínio da morte.

«O amor se transforma em uma realidade cumprida se é incluído em um amor que proporcione realmente eternidade». (Bento XVI)

Pensamentos para o Evangelho de hoje

«Quando Cristo morreu, teve de obedecer à lei do sepulcro; ao ressuscitar, pelo contrário, aboliu-a, até tal ponto que deitou por terra a perpetuidade da morte e a transformou de eterno em temporal» (S. Leão, Magno)

«Estamos numa viagem, numa peregrinação rumo à plenitude da vida, e é essa plenitude de vida é a que ilumina o nosso caminho» (Francisco)

«Ser testemunha de Cristo é ser testemunha da sua ressurreição´ (At 1, 22), éter comido e bebido com Ele depois da sua ressurreição dos mortos´ (At 10, 41). A esperança cristã na ressurreição é toda marcada pelos encontros com Cristo ressuscitado. Nós ressuscitaremos como Ele, com Ele e por Ele» (Catecismo da Igreja Católica, nº 995)

«Os quais negam a ressurreição»

Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)

Hoje, os “inoportunos” saduceus, são ocasião para que Jesus dedique umas belíssimas palavras a uma questão vital: a eternidade. A cena e o assunto conservam plena vigência.

«Aproximaram-se de Jesus alguns saduceus, os quais negam a ressurreição» (Lc 20,27). Em efeito, não deixa de ser surpreendente que um grupo de gente religiosa —crente em Deus— afirmara que não existe a eternidade. Então, perguntamo-nos, que classe de Deus temos? Ainda mais, que será de nós, se Deus não é eterno?

Evidentemente, não há resposta para uma interrogante tão estúpida como essa. De fato, Jesus respondeu-lhes de forma contundente: «Estais muito errados» (Mc 12,27). E, os surpreendeu, ainda mais, dizendo-lhes «Ele é Deus não de mortos, mas de vivos» (Lc 20,38), como não podia ser de outra maneira.

Por se não fosse pouco errada a conclusão dos saduceus, a argumentação que propõem —a fictícia historieta da mulher que teve por esposos a sete irmãos — supera a ridicularia. Não devemos nos surpreender que agora surjam os “modernos saduceus” que contradizem a voz do Vicário de Cristo esgrimindo argumentos tão falsos como forçados (que se o custo das visitas pastorais do Papa deveria se destinar aos pobres; que se o Papa é o culpável de milhões de mortes...). Nada novo na faz da terra! Só a cegueira da descrença é capaz de tramar tais tolices.

Os saduceus “brincaram” com a eternidade e, o resultado foi que não ficou nem rastro deles. Lógico! Sem esperança não há vida. Pior ainda: Sem um horizonte de eternidade não se pode amar. Por acaso podemo-nos "apaixonar” por um tempo? Hei aqui a resposta de Bento XVI: «O amor humano é, em si, uma promessa que não se pode cumprir. Deseja eternidade e só pode oferecer finitude. Mas, por outra parte, sabe que essa promessa não é insensata nem contraditória, pois em última instância a eternidade mora nela. Suas autênticas dimensões implicam, em definitiva, a perspectiva futura de Deus, à espera de Deus».

Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Quando Cristo morreu, teve de obedecer à lei do sepulcro; ao ressuscitar, pelo contrário, aboliu-a, até tal ponto que deitou por terra a perpetuidade da morte e a transformou de eterno em temporal» (S. Leão, Magno)

«Estamos numa viagem, numa peregrinação rumo à plenitude da vida, e é essa plenitude de vida é a que ilumina o nosso caminho» (Francisco)

«Ser testemunha de Cristo é ser testemunha da sua ressurreição´ (At 1, 22), éter comido e bebido com Ele depois da sua ressurreição dos mortos´ (At 10, 41). A esperança cristã na ressurreição é toda marcada pelos encontros com Cristo ressuscitado. Nós ressuscitaremos como Ele, com Ele e por Ele» (Catecismo da Igreja Católica, nº 995)

Serão como os anjos e não podem morrer.

Escrito por P. Américo, no site Domus Iesu.

* A vida como tal não é apenas esta dimensão. Segundo os evangelistas, Jesus, antes da sua paixão e morte em Jerusalém, teve várias controvérsias, sobretudo contra os saduceus, os fariseus e os chefes espirituais do povo. No caso do presente trecho, a questão prende-se com um assunto que diz profundo respeito às pessoas de todos os tempos e que tem a ver, afinal de contas, com o sentido da vida. O exemplo da mulher que casa com sete maridos, sem que nenhum deles lhe dê descendência (de quem será ela na outra vida? - é a pergunta capciosa), é caricato quanto quisermos, mas, mesmo assim, tem o condão de fazer com que a resposta de Jesus seja ainda mais clara e contundente. Há certos temas em que, apesar das tentativas, a resposta não se baseia na ciência, mas sim na fé. E, por sinal, são os temas mais importantes da vida. É esse o caso que se refere ao que acontece para além desta vida terrena. A ressurreição tem a ver exatamente com a possibilidade de continuar a viver, embora numa outra dimensão. Ora, essa certeza é algo a que só se pode chegar com um ato de confiança num Deus que não é um Deus dos mortos, mas sim dos vivos.

* Deus vivo para homens vivos. Uma longa herança de cultura grega levou-nos a acreditar que a alma do homem é imortal por essência, ao passo que o corpo o não é. É esta ainda hoje a maneira mais corrente de explicar as coisas. A morte, nesse sentido, é considerada como a separação dos dois elementos do nosso ser: o corpo é enterrado e corrompe-se e a alma liberta-se de toda a matéria e sofrimento e sobe para Deus quando estiver completamente purificada.
Mas fica-se com a nítida sensação de que a visão bíblica, jogando com a ideia de que o homem é uma unidade orgânica, introduz uma noção mais completa de ressurreição, enquanto ela consiste em «retomar novamente a vida» como tal, embora doutra forma. Veja-se a este propósito com atenção o capítulo 15 da 1ª Carta aos Coríntios.

Para nós, que vivemos neste mundo, é difícil (ou melhor, é impossível) imaginar o que será a vida definitiva. Do texto evangélico, todavia, podemos tirar ao menos uma conclusão: a vida definitiva não será exatamente como a vida que temos agora. Se assim fosse, pelo menos em muitos casos, seria bem pouco. O que o texto diz é que seremos como anjos, como «filhos de Deus». Não me compete (nem tenho autoridade para o fazer) definir o que é ser como anjo ou filho de Deus. Penso que querer saber mais significaria ter já ultrapassado essa soleira invisível que separa o tempo cronológico do tempo definitivo.

* Testemunhas da ressurreição. «Hoje, muitos têm dificuldade em acreditar no além. Isso deve-se, por um lado, à crítica de herança marxista que vê na espera da vida eterna uma evasão da responsabilidade de transformar este mundo; e, por outro lado, à civilização do bem-estar, que se limita a propor uma felicidade hedonista neste mundo. Mas tanto uma como a outra posição são redutivas da realidade total. Será possível que os que, apesar de todos os esforços para ultrapassar a sua condição de deserdados da sorte, nunca tiveram sucesso, estarão definitivamente excluídos de todo e qualquer tipo de redenção»?

Nós, como cristãos, temos a tarefa de ser as testemunhas da ressurreição, ou seja, da certeza de que a vida não se reduz a esta vida, mas é muito mais que isso, tem uma outra dimensão. Mais: dizendo que o nosso Deus é o Deus dos vivos e não dos mortos, fazemos uma afirmação que não diz respeito só ao Além, mas também ao presente, na medida em que o esforço por melhorar esta vida, afinal, não morre ingloriamente no vazio do pó da terra.

O «Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob» é o Deus dos vivos, de quem já hoje está realmente vivo, mas vivo em todos os sentidos; ou seja, fisicamente, enquanto empenhado profundamente na vida para melhorar a situação da humanidade; e vida total que não pode acabar, porque é a própria vida de Deus, vida que, portanto, continua para além da morte física.

domingo, 30 de outubro de 2022

6 de novembro

 São Nuno de Santa Maria (Álvares Pereira)
Religioso de nossa Ordem
 
Nuno Álvares Pereira, fundador da Casa de Bragança, nasceu em Santarém (Portugal) a 24 de junho de 1360. Como Condestável do reino de Portugal, foi militar invencível; mas, vencendo-se a si mesmo, pediu a admissão, como irmão leigo, na Ordem do Carmelo. Tinha uma admirável piedade e confiança para com a Santíssima Virgem Maria. Sentia grande satisfação em pedir esmolas pelas portas, desempenhar os ofícios mais humildes na casa de Deus, e mostrou sempre grande compaixão e liberalidade para com os pobres. Morreu no domingo da Ressurreição do ano 1431 (1º de abril).
 
Comum dos Santos Homens (Religiosos).
 
LAUDES
Hino
Jubilosos bendizemos
a bondade do Senhor ,
que aos humildes e pequenos
revela o seu amor.
 
A palavra de Jesus
por Nuno foi entendida:
troca a Espada pela Cruz,
entrega vida por Vida.
 
Seja a fé e a caridade
o nosso escudo e couraça;
firmes na fidelidade,
vivamos segundo a graça.
 
Ó Jesus, nós te pedimos:
"Recorda na tua glória
os que com fé te seguimos.
Concede-nos a vitória!"
 
Cântico evangélico
Ant. Cantai hinos de alegria e exultai, porque o Senhor visitou e redimiu o seu povo.
 
Preces
Glorifiquemos, irmãos, nosso Deus e Senhor, pedindo-lhe que nos ensine a servi-lo em santidade e em justiça diante dele todos os dias da nossa vida; e aclamemos a Cristo, dizendo:
 
R. Senhor, só vós sois Santo!
 
Senhor Jesus, que vos fizestes igual a nós em tudo, menos no pecado,
_ revesti-nos com a couraça da justiça, para que vos sirvamos de todo coração. R.
 
Senhor Jesus, por vosso amor tudo deixamos para vos seguir,
_ fazei que somente de vós esperemos a salvação. R.
 
Senhor Jesus, que viestes ao mundo para servir e não para ser servido,
_ ensinai-nos a vos servir humildemente nos nossos irmãos. R.
 
Senhor Jesus, que pela vossa Morte e Ressurreição vencestes a morte, o demônio e o pecado,
_ libertai-nos de tudo aquilo que nos impede de ressuscitarmos convosco cada dia. R.
 
Senhor Jesus, que tantas vezes à noite, vos retiráveis da multidão, para a sós conversardes com o Pai
- ensinai-nos a meditar, dia e noite, na Lei do Senhor. R.
 
Senhor Jesus, esplendor da Glória do Pai
- fazei os homens e as mulheres experimentar as alegrias dos que em vós confiam. R.
(intenções livres)
 
Pai Nosso ...
 
Oração
Senhor nosso Deus, que destes a São Nuno de Santa Maria a graça de combater o bom combate e o tornastes exímio vencedor de si mesmo, concedei aos vossos servos que, dominando como ele as seduções do mundo, com ele vivam para sempre na pátria celeste. Por Nosso Senhor.
 
VÉSPERAS
Hino
Unidos em oração,
comungamos na alegria
de evocar o nosso irmão,
Nuno de Santa Maria.
 
"Servir a Deus", eis o lema,
que escolheu e praticou:
até à renúncia extrema
de tudo se despojou.
 
Não podia o mundo encher
coração tão dilatado:
carmelita há de morrer,
humilde e apagado.
 
Goza já da liberdade
própria dos filhos da luz:
reveste-o a caridade,
sua glória é a Cruz.
 
A vós, Deus Trino e Uno,
bendizemos e adoramos;
celebrando  hoje São Nuno,
vossa glória proclamamos.
 
Cântico evangélico
Ant. Repartiu com largueza pelos pobres e a sua generosidade permanece para sempre. O seu poder será exaltado na glória.
 
Preces
Peçamos a Deus Pai, fonte de toda a santidade, que, pela intercessão de São Nuno de Santa Maria, nos conduza a uma vida mais perfeita; e digamos:
 
R. Fazei-nos santos, porque vós sois santo.
 
Pai Santo, que despertastes em São Nuno um grande amor à perfeição,
- fazei-nos fiéis seguidores de Jesus Cristo no caminho da santidade. R.
 
Pai Santo, que em homens ilustres manifestastes a vossa grandeza e zelo pelo vosso povo,
- infundi em nós a virtude da fortaleza na defesa dos verdadeiros valores e na luta contra o mal. R.
 
Pai Santo, que nunca abandonais aqueles que a tudo renunciaram pelo Reino,
- orientai os nossos projetos unicamente para vós e para os irmãos. R.
 
Pai Santo, que dentre todas as criaturas privilegiastes o homem e a mulher,
- despertai em nós aquela dedicação que São Nuno tinha para com os mais pobres e infelizes. R.
 
Pai Santo, que em São Nuno despertastes uma devoção filial à Virgem, Santa Maria,
- fazei de nós, carmelitas, verdadeiros imitadores da Virgem, Mãe e Formosura do Carmelo. R.
(intenções livres)
 
Pai Santo, que dais o justo prêmio aos que por vós com- bateram,
- acolhei na Pátria Celeste os nossos confrades, familiares amigos e benfeitores falecidos. R.
 
Pai Nosso ...
 
Oração
Senhor nosso Deus, que destes a São Nuno de Santa Maria a graça de combater o bom combate e o tornastes exímio vencedor de si mesmo, concedei aos vossos servos que, dominando como ele as seduções do mundo, com ele vivam para sempre na pátria celeste. Por Nosso Senhor.

Sábado XXXI do Tempo Comum

Beata Francisca de Amboise, viúva e religiosa

1ª Leitura (Flp 4,10-19): Irmãos: Muito me alegrei no Senhor, por ter finalmente reflorescido o vosso interesse por mim. Ele estava vivo entre vós, mas não tínheis tido ocasião de o manifestar. Não é por causa das minhas privações que o digo, pois aprendi a contentar-me com o que tenho. Sei viver na pobreza e sei viver na abundância. Em todo o tempo e em todas as circunstâncias, tenho aprendido a ter fartura e a passar fome, a viver desafogadamente e a padecer necessidade. Tudo posso n’Aquele que me conforta. No entanto, fizestes bem em tomar parte na minha aflição. Vós bem sabeis, filipenses, que no início da pregação do Evangelho, quando saí da Macedónia, nenhuma Igreja abriu uma conta corrente a meu favor, senão vós. Já quando estava em Tessalônica, me enviastes por duas vezes o que me era necessário. Não é que eu procure dádivas; o que eu procuro é que tireis delas muito fruto. Agora tenho tudo o que me é necessário; e até tenho de sobra. Fiquei bem provido, ao receber de Epafrodito o que me enviastes: é perfume de suave fragrância, sacrifício aceite, agradável a Deus. O meu Deus proverá com abundância a todas as vossas necessidades, segundo a sua riqueza e magnificência, em Cristo Jesus.

Salmo Responsorial: 111
R. Felizes os que esperam no Senhor.

Feliz o homem que teme o Senhor e ama ardentemente os seus preceitos. A sua descendência será poderosa sobre a terra, será abençoada a geração dos justos.

Ditoso o homem que se compadece e empresta e dispõe das suas coisas com justiça. Este jamais será abalado, o justo deixará memória eterna.

O seu coração é inabalável e nada teme, reparte com largueza pelos pobres; a sua generosidade permanece para sempre e pode levantar a sua fronte com dignidade.

Aleluia. Jesus Cristo, sendo rico, fez-Se pobre, para nos enriquecer na sua pobreza. Aleluia.

Evangelho (Lc 16,9-15): Naquele tempo, diz Jesus aos discípulos: «Eu vos digo: usai o Dinheiro, embora iníquo, para fazer amigos. Quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas. Quem é fiel nas pequenas coisas será fiel também nas grandes, e quem é injusto nas pequenas será injusto também nas grandes. Por isso, se não sois fiéis no uso do Dinheiro iníquo, quem vos confiará o verdadeiro bem? E se não sois fiéis no que é dos outros, quem vos dará aquilo que é vosso? Ninguém pode servir a dois senhores. Pois vai odiar a um e amar o outro, ou se apegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro». Os fariseus, amigos do dinheiro, ouviam tudo isso e zombavam de Jesus. Então, ele lhes disse: «Vós gostais de parecer justos diante dos outros, mas Deus conhece vossos corações. Com efeito, o que as pessoas exaltam é detestável para Deus».

«Quem é fiel nas pequenas coisas será fiel também nas grandes»

Rev. D. Joaquim FORTUNY i Vizcarro (Cunit, Tarragona, Espanha)

Hoje Jesus fala outra vez com autoridade: usa «Eu vos digo», que tem força peculiar, de doutrina nova. «Ele quer que todos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade» (cf. Tim 2,4). Deus quer um povo santo e nos mostra as dicas necessárias para alcançar a santidade e possuir o verdadeiro: a fidelidade nas coisas pequenas, a autenticidade e lembrar que Deus conhece nossos corações.

A fidelidade está ao nosso alcance. Em geral nossos dias transcorrem no que chamamos de normalidade: o mesmo trabalho, as mesmas pessoas, algumas práticas de piedade, a mesma família. Nessas realidades ordinárias devemos crescer como pessoas e em santidade. «Quem é fiel nas pequenas coisas será fiel também nas grandes» (Lc 16,10). É preciso fazer bem as coisas, com boa intenção, com desejo de agradar a Deus, nosso Pai; fazer as coisas com amor, tem muito valor e prepara nos para receber o verdadeiro. São Josemaria expressava: «Viste como ergueram aquele edifício de grandeza imponente? - Um tijolo, e outro. Milhares. Mas um a um. - E sacos de cimento, um a um. E blocos de pedra, que pouco representam na mole do conjunto. - E pedaços de ferro. - E operários que trabalham, dia a dia, as mesmas horas. . . Viste como levantaram aquele edifício de grandeza imponente?... À força de pequenas coisas!»

Examinar nossa consciência cada noite, nos ajudará a viver com retitude de intenção e não esquecer que Deus vê tudo, até os pensamentos mais ocultos, como temos aprendido no catecismo, e que o importante é agradar em todo momento a Deus, nosso Pai, a quem servimos com amor, sabendo que «Ninguém pode servir a dois senhores. Pois vai odiar a um e amar o outro, ou se apegar a um e desprezar o outro» (Lc 16,13). Nunca o esqueçamos: «Só Deus é Deus» (Bento XVI).

«Eu vos digo: usai o Dinheiro, embora iníquo, para fazer amigos»

Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)

Hoje, rodeados como estamos de um ambiente consumista, Jesus volta a acariciar a nossa consciência para nos persuadir das falsas felicidades. E, não o faz carregando-nos com proibições, porque o caminho da santidade é —primeiro que nada— um convite à felicidade: «Se queres entrar na vida…» (Mt 19,17). O Senhor nos anima a trabalhar, a gerir o "dinheiro" deste mundo com retidão de intenção e afã de serviço.

Somos chamados ao mais alto (à caridade) tratando das coisas da terra em um sentido construtivo. O Criador mandou “dominar a terra”, mas não de qualquer jeito nem a qualquer preço, pois, também, nos pediu, “nos multiplicar” e “encher” a terra (cf. Gn 1,28). Só o amor (o dar-se aos demais) é a verdadeira medida dessa plenitude que Deus nos pede já nesta vida.

Com a expressão «dinheiro injusto» (Lc 16,9) Jesus Cristo se refere as coisas da terra que em si mesmas, sem ser más, não nos fazem justos nem nos preparam para a felicidade eterna. O Mestre nos convida a amar aos demais («fazer amigos») não só através da oração, senão também no dia a dia, com um reto e servicial manejo dos bens terrenais.

A eternidade é longa demais aos “entretenimentos”: quem se diverte neste mundo, sofrerá de tédio na eternidade. Porém, o amor — que sempre aspira a crescer — goza na eternidade. Por isso, devemos de evitar o “encolhimento do coração” ocasionado pelo divertimento com o dinheiro “injusto”.

Hoje como antanho, não faltam pessoas que ouvindo essas coisas seguem se burlando de Jesus (cf. Lc 16,14). Assim, ao Vicário de Cristo o tacham de intransigente, ao mesmo tempo em que se riem dos católicos vendo-nos como ingênuos manipulados por um “ditador”. O serviço do Sucessor de Pedro é uma caricia a nossa consciência para nos defender da ditadura do "führer" de plantão: Chame-se "relativismo”, ou “politicamente correto”... «De Newman aprendemos a compreender o primado do Papa: 'A defesa da lei moral e da consciência é sua ração de ser'» (Bento XVI).

Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Faz muito caso das coisas pequenas» (Beato Pedro Poveda)

«Como toda técnica, o dinheiro não tem um valor neutro, mas que adquire valor segundo a finalidade e as circunstâncias em que se usa» (Francisco)

«Uma teoria que faca do lucro a regra exclusiva e o fim último da atividade económica, é moralmente inaceitável. O apetite desordenado do dinheiro não deixa de produzir os seus efeitos perversos e é uma das causas dos numerosos conflitos que perturbam a ordem social. Um sistema que “sacrifique os direitos fundamentais das pessoas e dos grupos à organização coletiva da produção”, é contrário à dignidade humana. Toda a prática que reduza as pessoas a não serem mais que simples meios com vista ao lucro, escraviza o homem, conduz à idolatria do dinheiro» (Catecismo da Igreja Católica, n° 2.424)

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje traz mais algumas palavras de Jesus em torno do usa dos bens. São palavras e frases soltas, das quais não conhecemos o contexto exato em que foram pronunciadas. Foram colocadas aqui por Lucas para formar uma pequena unidade em torno do uso correto dos bens desta vida e para ajudar a entender melhor o sentido da parábola do administrador desonesto (Lc 16,1-8).

* Lucas 16,9: Usar bem o dinheiro injusto. "E eu lhes declaro: Usem o dinheiro injusto para fazer amigos, e assim, quando o dinheiro faltar, os amigos receberão vocês nas moradas eternas”. Outros traduzem “riqueza iníqua”. Para Lucas, dinheiro não é neutro, é injusto, iníquo. No Antigo Testamento, a palavra mais antiga para indicar o pobre (ani) significa empobrecido. Vem do verbo ana, oprimir, rebaixar. Esta afirmação evoca a parábola do administrador desonesto, cuja riqueza era iníqua, injusta. Aqui transparece o contexto das comunidades do tempo de Lucas, isto é, dos anos 80 depois de Cristo. Inicialmente, as comunidades cristãs surgiram entre os pobres (cf. 1Cor 1,26; Gal 2,10). Aos poucos, pessoas mais ricas foram entrando. A entrada dos ricos trouxe consigo problemas que estão registrados nos conselhos dados na carta de Tiago (Tg 2,1-6;5,1-6), na carta de Paulo aos Coríntios (1Cor 11,20-21) e no próprio evangelho de Lucas (Lc 6,24). Estes problemas foram se agravando no fim do primeiro século, como atesta o Apocalipse na sua carta à comunidade de Laodiceia (Ap 3,17-18). As frases de Jesus que Lucas conservou são uma ajuda para clarear e resolver este problema.

* Lucas 16,10-12: Ser fiel no pequeno e no grande. “Quem é fiel nas pequenas coisas, também é fiel nas grandes; e quem é injusto nas pequenas, também é injusto nas grandes. Por isso, se vocês não são fiéis no uso do dinheiro injusto, quem lhes confiará o verdadeiro bem? E se não são fiéis no que é dos outros, quem lhes dará aquilo que é de vocês?” Esta frase clareia a parábola do administrador desonesto. Ele não foi fiel. Por isso, ele foi tirado da administração. Esta palavra de Jesus também traz uma sugestão de como realizar o conselho de fazer amigos com o dinheiro injusto. Hoje acontece algo semelhante. Há pessoas que falam bonito sobre a libertação, mas em casa oprimem a mulher e os filhos. São infiéis nas coisas pequenas. A libertação no macro começa é no micro do pequeno mundo da família, do relacionamento diário entre as pessoas.

* Lucas 16,13: Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro. Jesus é muito claro na sua afirmação: “Ninguém pode servir a dois senhores. Porque, ou odiará a um e amará o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro". Cada um, cada uma, terá que fazer uma escolha. Terá que se perguntar: “Quem eu coloco em primeiro lugar na minha vida: Deus ou o dinheiro?” No lugar da palavra dinheiro cada um pode colocar uma outra palavra: carro, emprego, prestígio, bens, casa, imagem, etc. Desta escolha dependerá a compreensão dos conselhos que seguem sobre a Providência Divina (Mt 6,25-34). Não se trata de uma escolha feita só com a cabeça, mas de uma escolha bem concreta de vida que envolve as atitudes.

*  Lucas 16,14-15: Crítica aos fariseus que gostam de dinheiro. “Os fariseus, que são amigos do dinheiro, ouviam tudo isso, e caçoavam de Jesus. Então Jesus disse para eles: Vocês gostam de parecer justos diante dos homens, mas Deus conhece os corações de vocês. De fato, o que é importante para os homens, é detestável para Deus”. Em outra ocasião Jesus mencionou o amor de alguns fariseus ao dinheiro: “Vocês exploram as viúvas, e roubam suas casas e, para disfarçar, fazem longas orações” (Mt 23,14: Lc 20,47; Mc 12,40). Eles se deixavam levar pela sabedoria do mundo, da qual Paulo diz: “Irmãos, vocês que receberam o chamado de Deus, vejam bem quem são vocês. Entre vocês não há muitos intelectuais, nem muitos poderosos, nem muitos de alta sociedade. Mas, Deus escolheu o que é loucura no mundo, para confundir os sábios; e Deus escolheu o que é fraqueza no mundo, para confundir o que é forte. E aquilo que o mundo despreza, acha vil e diz que não tem valor, isso Deus escolheu para destruir o que o mundo pensa que é importante” (1Cor 1,26-28). Alguns fariseus gostavam de dinheiro, como hoje alguns sacerdotes gostam de dinheiro. Vale para eles a advertência de Jesus e de Paulo.

Para um confronto pessoal
1) Você e o dinheiro? Qual a escolha?
2) Fiel no pequeno? Como você fala sobre o evangelho e como vive o evangelho?
 

5 de novembro

 Beata Francisca de Amboise
Viúva, Religiosa de nossa Ordem

 
Nasceu no ano de 1427, provavelmente em Thouars (França). Foi esposa de Pedro II, duque da Bretanha. Depois da morte deste, e tendo conversado muito com o Beato João Soreth, Prior Geral dos carmelitas, tomou o hábito da mesma Ordem no mosteiro de Bondón, que ela tinha fundado. Passou depois para o mosteiro de Nantes, que também era fundação sua. No exercício do cargo de Prioresa, alimentava o espírito das suas religiosas com sábias exortações. É considerada como a fundadora das monjas carmelitas em França. Morreu em 1485.
 
Hino de Laudes e de Vésperas

Em ti, Francisca, louvamos
não os títulos de nobreza,
mas a perfeita pobreza,
que escolheste, essa cantamos.
 
Pelo Reino enamorada,
reinos da terra deixaste,
a melhor parte encontraste:
jamais te será tirada.
 
Perder tudo por Jesus
será loucura ... Que importa?
Pequena e estreita é a porta,
que ao Paraíso conduz.
 
Supremo e perfeito legado
ao Carmelo quis deixar:
“Sempre se há de procurar
que Deus seja o mais amado.”
 
Honra, glória e louvor
ao Pai, que em sua bondade
nos uniu na caridade
de Cristo, Nosso Senhor.
 
Salmodia, Leitura, Responsório breve e Preces do Dia Corrente.
 
Oração
Deus, nosso Pai, que chamastes a Beata Francisca a procurar o vosso Reino neste mundo através do serviço a vós e a Maria, nossa Mãe Santíssima, concedei-nos que, fortalecidos pela sua intercessão, avancemos com espírito alegre pelo caminho do vosso amor.  Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos.  Amém.

Sexta-feira da 31ª semana do Tempo Comum

São Carlos Borromeu, bispo

1ª Leitura (Flp 3,17—4,1): Irmãos: Sede meus imitadores e ponde os olhos naqueles que procedem segundo o modelo que tendes em nós. Porque há muitos, de quem tenho falado várias vezes e agora falo a chorar, que procedem como inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição: têm por deus o ventre, orgulham-se da sua vergonha e só apreciam as coisas terrenas. Mas a nossa pátria está nos Céus, donde esperamos, como Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo miserável, para o tornar semelhante ao seu corpo glorioso, pelo poder que Ele tem de sujeitar a Si todo o universo. Portanto, meus amados e queridos irmãos, minha alegria e minha coroa, permanecei firmes no Senhor.

Salmo Responsorial: 121
R. Vamos com alegria para a casa do Senhor.

Alegrei-me quando me disseram: «Vamos para a casa do Senhor». Detiveram-se os nossos passos às tuas portas, Jerusalém.

Jerusalém, cidade bem edificada, que forma tão belo conjunto! Para lá sobem as tribos, as tribos do Senhor.

Segundo o costume de Israel, para celebrar o nome do Senhor; ali estão os tribunais da justiça, os tribunais da casa de Davi.

Aleluia. Quem observa a palavra de Cristo, nesse o amor de Deus é perfeito. Aleluia.

Evangelho (Lc 16,1-8): Naquele tempo, Jesus falou ainda aos discípulos: «Um homem rico tinha um administrador que foi acusado de esbanjar os seus bens. Ele o chamou e lhe disse: Que ouço dizer a teu respeito? Presta contas da tua administração, pois já não podes mais administrar meus bens. O administrador, então, começou a refletir: Meu senhor vai me tirar a administração. Que vou fazer? Cavar, não tenho forças; mendigar, tenho vergonha. Ah! Já sei o que fazer, para que alguém me receba em sua casa quando eu for afastado da administração. Então chamou cada um dos que estavam devendo ao seu senhor. E perguntou ao primeiro: Quanto deves ao meu senhor? Ele respondeu: Cem barris de óleo! O administrador disse: Pega a tua conta, senta-te, depressa e escreve: cinquenta! Depois perguntou a outro: E tu, quando deves? Ele respondeu: Cem sacas de trigo. O administrador disse: Pega tua conta e escreve: oitenta. E o senhor elogiou o administrador desonesto, porque agiu com esperteza. De fato, os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz».

«Os filhos deste mundo são mais espertos (...) em seus negócios do que os filhos da luz.»

Mons. Salvador CRISTAU i Coll Bispo Auxiliar de Terrassa (Barcelona, Espanha)

Hoje, o Evangelho nos apresenta uma questão surpreendente à primeira vista. Com efeito, diz o texto de São Lucas: «E o proprietário admirou a astúcia do administrador, porque os filhos deste mundo são mais prudentes do que os filhos da luz no trato com seus semelhantes» (Lc 16,8).

Evidentemente, não se nos propõe aqui que sejamos injustos em nossas relações, e menos ainda com o Senhor. Não se trata, não obstante, de um louvor à estafa que comete o administrador. O que Jesus manifesta com seu exemplo é una queixa pela habilidade em solucionar os assuntos deste mundo e a falta de verdadeiro engenho dos filhos da luz na construção do Reino de Deus: «E o proprietário admirou a astúcia do administrador, porque os filhos deste mundo são mais prudentes do que os filhos da luz no trato com seus semelhantes» (Lc 16,8).

Tudo isso nos mostra - mais uma vez!- que o coração do homem continua tendo os mesmos limites e pobrezas de sempre. Na atualidade falamos de tráfico de influências, de corrupção, de enriquecimentos indevidos, de falsificação de documentos... Mais ou menos como na época de Jesus.

Mas a questão que tudo isto nos propõe é dupla: Por acaso pensamos que podemos enganar a Deus com nossas aparências, com nossa mediocridade como cristãos? E, ao falar de astúcia, teríamos também que falar de interesses. Estamos interessados realmente no Reino de Deus e sua justiça? É frequente a mediocridade em nossa resposta como filhos da luz? Jesus disse também que ali onde esteja nosso tesouro estará nosso coração (cf. Mt 6,21). Qual é nosso tesouro na vida? Devemos examinar nossos anelos para conhecer onde está nosso tesouro... Diz-nos Santo Agostinho: «Teu anelo contínuo é tua voz contínua. Se deixas de amar calará tua voz, calará teu desejo».

Talvez hoje, ante o Senhor, teremos que questionar qual deve ser nossa astúcia como filhos da luz, isto é, dizer nossa sinceridade nas relações com Deus e com nossos irmãos. «Na realidade, a vida é sempre uma opção: entre honestidade e desonestidade, entre fidelidade e infidelidade, entre bem e mal (...). Com efeito, diz Jesus: É preciso decidir-se» (Bento XVI).

Pensamentos para o Evangelho de hoje
«O senhor elogiou o mordomo que ele demitiu de sua administração por ter olhado para o futuro» (Santo Agostinho)

«O costume do suborno é um costume mundano e fortemente pecaminoso. É um costume que não vem de Deus: Deus nos pediu para trazer o pão para casa com nosso trabalho honesto!» (Francisco)

«Segundo o desígnio de Deus, o homem e a mulher são vocacionados para ‘dominarem a terra’ (245) como 'administradores' de Deus. Esta soberania não deve ser uma dominação arbitrária e destruidora. A imagem do Criador, ‘que ama tudo o que existe’ (Sb 11, 24), o homem e a mulher são chamados a participar na Providência Divina em relação às outras criaturas. Daí a sua responsabilidade para com o mundo que Deus lhes confiou» (Catecismo da Igreja Católica, nº 373)

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje traz uma parábola que trata da administração dos bens e que só existe no evangelho de Lucas. Ela costuma ser chamada A parábola do administrador desonesto. Parábola desconcertante. Lucas diz: “O Senhor elogiou o administrador desonesto, porque este agiu com esperteza”. O Senhor é o próprio Jesus e não o administrador. Como é que Jesus podia elogiar um empregado corrupto?

* Lucas 16,1-2: O administrador é ameaçado de despejo. “Um homem rico tinha um administrador que foi denunciado por estar esbanjando os bens dele. Então o chamou, e lhe disse: 'O que é isso que ouço contar de você? Preste contas da sua administração, porque você não pode mais ser o meu administrador”. O exemplo, tirado do mundo do comércio e do trabalho, fala por si. Alude à corrupção que existia. O patrão descobriu a corrupção e decidiu demitir o administrador desonesto. Este, de repente, se vê numa situação de emergência obrigado pelas circunstâncias imprevistas a encontrar uma saída para poder sobreviver. Quando Deus se faz presente na vida de uma pessoa, aí, de repente, tudo muda e a pessoa entra numa situação de emergência. Ela terá que tomar uma decisão e encontrar uma saída.

* Lucas 16,3-4: O que fazer? Qual a saída? “Então o administrador começou a refletir: 'O senhor vai tirar de mim a administração. E o que vou fazer? Para cavar, não tenho forças; de mendigar, tenho vergonha”. Ele começa a refletir para descobrir uma saída. Analisa, uma por uma, as possíveis alternativas: cavar ou trabalhar na roça para sobreviver, ele acha que para isso não tem força. Para mendigar, sente vergonha. Ele analisa as coisas. Calcula bem as possíveis alternativas. “Ah! Já sei o que vou fazer para que, quando me afastarem da administração tenha quem me receba na própria casa”. Trata-se de garantir o seu futuro. O administrador desonesto é coerente dentro do seu modo de pensar e de viver.
*  Lucas 16,5-7: Execução da solução encontrada. “E começou a chamar um por um os que estavam devendo ao seu senhor. Perguntou ao primeiro: 'Quanto é que você deve ao patrão?' Ele respondeu: 'Cem barris de óleo!' O administrador disse: 'Pegue a sua conta, sente-se depressa, e escreva cinquenta'. Depois perguntou a outro: 'E você, quanto está devendo?' Ele respondeu: 'Cem sacas de trigo'. O administrador disse: 'Pegue a sua conta, e escreva oitenta". Dentro da sua total falta de ética o administrador foi coerente. O critério da sua ação não é a honestidade e a justiça, nem o bem do patrão do qual ele depende para viver e sobreviver, mas é o próprio interesse. Ele quer a garantia de ter alguém que o receba em sua casa.

*  Lucas 16,8: O Senhor elogiou o administrador desonesto. E agora vem a conclusão desconcertante: “E o Senhor elogiou o administrador desonesto, porque este agiu com esperteza. De fato, os que pertencem a este mundo são mais espertos, com a sua gente, do que aqueles que pertencem à luz”. A palavra Senhor indica Jesus, e não o patrão, o homem rico. Este jamais iria elogiar um empregado que foi desonesto com ele no serviço e que, agora, roubou mais 50 barris de óleo e 20 sacas de trigo! Na parábola, quem faz o elogio é Jesus. Elogiou não porque roubou, mas porque soube ter presença de espírito. Soube calcular bem as coisas e encontrar uma saída, quando de repente se viu desempregado. Assim como os filhos deste mundo sabem ser espertos nas suas coisas, assim os filhos de luz deveriam aprender deles a ser espertos na solução dos seus problemas, usando os critérios do Reino e não os critérios deste mundo. “Sejam espertos como as serpentes e simples como as pombas” (Mt 10,16).

Para um confronto pessoal
1) Sou coerente?
2) Qual o critério que uso na solução dos meus problemas?