sábado, 21 de fevereiro de 2015

Primeiro domingo da Quaresma

Textos: Gen 9, 8-15; 1 Pe 3, 18-22; Mc 1, 12-15

Evangelho (Mc 1,12-15): Logo depois, o Espírito o fez sair para o deserto. Lá durante quarenta dias, foi posto à prova por Satanás. E ele convivia com as feras, e os anjos o serviam. Depois que João foi preso, Jesus veio para a Galileia, proclamando a Boa Nova de Deus: «Completou-se o tempo, e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede na Boa Nova».

Comentário: Rev. D. Joan MARQUÉS i Suriñach (Vilamarí, Girona, Espanha)

Logo depois, o Espírito o fez sair para o deserto. Lá, durante quarenta dias, foi posto à prova por Satanás.

Hoje, a Igreja celebra a liturgia do Primeiro Domingo de Quaresma. O Evangelho apresenta Jesus preparando-se para a vida pública. Vai ao deserto onde passa quarenta dias fazendo oração e penitência. Lá é tentado por Satanás.

Nós temos que prepararmos para a Páscoa. Satanás é nosso grande inimigo. Há pessoas que não acreditam nele, dizem que é um produto de nossa imaginação, ou que é o mal em abstrato, diluído nas pessoas e no mundo. Não!

A Sagrada Escritura fala dele muitas vezes como de um ser espiritual e concreto. É um anjo caído. Jesus o define dizendo: «É mentiroso e pai da mentira» (Jo 8, 44). São Pedro compara-o com um leão rugente: «Vosso adversário, o demônio, anda ao redor de vós como o leão que ruge, buscando a quem devorar. Resisti-lhe fortes na fé» (1 Pe 5,8). E Paulo VI ensina: «O demônio é o inimigo número um, é o tentador por excelência. Sabemos que este ser obscuro e perturbador existe realmente e que continua atuando».

Como? Mentindo, enganando. Onde há mentira ou engano, ali há ação diabólica. «A maior vitória do Demônio é fazer crer que não existe» (Beaudelaire). E, como mente? Apresenta-nos ações perversas como se fossem boas, estimula-nos a fazer más obras; e, em terceiro lugar, sugere-nos razões para justificar os pecados. Depois de nos enganar, enche-nos de inquietude e de tristeza. Não tem experiência disso?

Nossa atitude ante a tentação? Antes: vigiar, rezar e evitar as ocasiões. Durante: resistência direta ou indireta. Depois: se tem vencido, dar graças a Deus. Se não tem vencido, pedir perdão e adquirir experiência. Qual tem sido a sua atitude até agora?

A Virgem Maria esmagou a cabeça da serpente infernal. Que Ela nos dê fortaleza para superar as tentações de cada dia.

A Aliança que Deus fez conosco é eterna e definitiva.

Pe. Antonio Rivero, L.C.

A Aliança que Deus contraiu no Antigo Testamento com a humanidade é universal, estável, cósmica (primeira leitura). Com Cristo, essa Aliança será eterna, definitiva, nova e totalmente purificadora e santificadora, e nos chama para levar uma vida digna (segunda leitura). Por isso, essa Aliança requer de nós uma vigilância constante para sermos fieis, pois Satanás estará detrás de nós, como fez com Cristo, para que falhemos com Deus (evangelho).

Em primeiro lugar, a Aliança no Antigo Testamento. O mundo da Bíblia, como todo mundo humano, conhece a experiência do berit, principal termo hebraico para dizer aliança, relação de solidariedade entre dois crentes: indivíduos (Gen 21,32), cônjuges (Ez 16,8), povos (Jos 9), soberanos e súditos (2Sam 5,3); para resolver disputas de propriedades, de vizinhança, de projetos que contrastam em si (Gen 21, 32; 31,44; 2 Sam 3, 12-19). Antes que categoria religiosa, a aliança é uma profunda experiência humana de relação construtiva em muitíssimos níveis privados e públicos, individuais e coletivos, não por brincadeira, mas para reger o peso da vida. Por este motivo tão existencialmente significativo e universal, a aliança não podia deixar de ser assumida por Deus, de acordo com o principio da pedagogia divina, como símbolo e paradigma da sua relação com o homem, obviamente segundo as características especificas de tal proporção, única em si mesma. Quais? Trata-se de uma relação entre partes infinitamente desiguais (Deus e o homem); trata-se de uma relação totalmente não preestabelecida, uma relação querida com livre eleição da parte de Deus, segundo a sua lógica de amor (Dt 4,37), onde mais que contato bilateral, é um juramento de Deus de eleger-se o povo como aliado, com o qual é fácil a passagem da aliança ao testemunho ou testamento de Deus. Última característica: a aliança de Deus se vale dos seus servidores ou ministros, os quais, por sua parte, apresentam-se como aliados por excelência com Deus e, ao mesmo tempo, solidários com o povo, testemunhas exemplares e confiáveis na primeira pessoa de quanto anunciam aos outros.

Em segundo lugar, a Aliança no Novo Testamento realizada em Cristo e por Cristo. Por meio está a morte sacrifical e vitoriosa de Jesus, em cujo contexto, durante a Última Ceia, Jesus pronunciou por primeira e última vez o termo aliança: “Tomai e bebei... Este cálice é a Nova Aliança selada com o meu sangue, que é derramada por vou” (Lc 22,20). A referência está claramente relacionada com o sangue da aliança no monte Sinai (cf. Ex 24,8). Porém com o matiz fundamental de que se trata de uma aliança verdadeiramente nova, isto é, correspondente com o desígnio de Deus. De tal novidade, em estreita e iluminadora confrontação com a antiga aliança, move-se, sobretudo, a Carta aos hebreus, que usa o termo 17 vezes. Jesus é a aliança personificada: Nele se exprime a fidelidade de Deus e ao mesmo tempo a fidelidade do homem, para sempre. Graças a Ele o homem recebe o coração de uma nova criatura e o dom do Espírito (cf. Heb 8,10). Também na Última Ceia Jesus afirma: “Eu vos asseguro que não beberei mais deste fruto da videira até o dia em que beba o vinho novo no reino de Deus” (Mc 14,25). Com estas palavras revela que a nova aliança não é um acontecimento estático, mas que vem a ser uma incessante oferta que interpela toda pessoa, inclusive aquelas que não sabem, até o Reino chegar à sua plenitude. Então tocará o porto esta singular relação de Deus com o homem, semeada na criação, feita visível no povo de Israel, debilitada e quebrada pelo pecado e finalmente, em Cristo, convertida no grande projeto realizado (cf. Ef 1,4-6).

Finalmente, nós entramos para formar parte dessa Aliança de Cristo no dia do nosso batismo. E toda a liturgia, todos os sacramentos, especialmente a eucaristia e o matrimônio, os demais sinais sacramentais (o canto, os lugares de culto, o pão e o vinho, o altar, outros símbolos...) são relacionados e contemplados dentro do mistério da aliança selada com o sangue do Cristo. Esta aliança exige de nós uma vida santa e uma luta contra o pecado.

Para refletir:
Vivo a minha vida cristã em clave de Aliança com Deus? O meu matrimonio, a minha consagração a Deus na vida religiosa ou sacerdotal... Vivo isto em clave de Aliança com Deus? O que faço para defender essa Aliança com Deus?

Para rezar: Senhor, fazei-me fiel a vossa Aliança. Perdoai as minhas negligencias. Dai-me forças para corresponder a esta vossa Aliança de amor.

PARA COMPREENDER MELHOR A QUARESMO DO CICLO B

Quaresma significa quarenta dias. Repetidamente a Bíblia apresenta a quarentena - de dias e de anos - como período de preparação para um acontecimento importante: os quarenta dias do dilúvio universal, os quarenta dias de Moisés no monte antes de contrair a Aliança, os quarenta anos de Israel no deserto até chegar à terra prometida, os quarenta de Elias na sua fuga, o prazo de quarenta dias que Jonas deu a Nínive para a sua conversão, os quarenta dias de Cristo no deserto, os quarenta dias entre a Ressurreição e a Ascensão de Jesus.

As leituras dominicais do ciclo B estão bem organizadas:

As primeiras leituras do Antigo Testamento apresentam a História da Salvação nos seus grandes momentos, neste ano sob a categoria da Aliança: a Aliança com Noé (primeiro domingo), com Abraão (segundo domingo), com Moisés e o povo no Sinai (terceiro domingo), o castigo pela infidelidade de Israel (quarto domingo), o anuncio da nova Aliança por Jeremias (quinto domingo) e a entrega do Servo para a reconciliação universal (Ramos).

Os evangelhos têm uma coerência independente: os dois primeiros domingos nos apresentam os temas clássicos da tentação e da transfiguração, mas em Marcos; no domingo 3,4 e 5 nos apresenta uma catequese da morte vitoriosa de Cristo, desde o evangelho de João; no domingo de Ramos leremos a Paixão de Cristo segundo São Marcos. O tema é o mistério da Páscoa de Cristo.

As segundas leituras não têm continuidade entre si. São as consequências morais para nós desse mistério pascal de Cristo.

Portanto, dois temas fundamentais durante esta quaresma segundo São Marcos: a Aliança e o mistério da cruz de Cristo.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

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