terça-feira, 3 de julho de 2012


A DEVOÇÃO MARIANA NO CARMELO

Autor: Frei Tito Figueirôa de Medeiros, O.Carm.*
Publicado originalmente pelo IETB (Instituto de Espiritualidade Tito Brandsma) – Boletin nº 1 – maio 2012.

* Frei Tito, frade carmelita da Província Pernambucana, atualmente morando no Convento de Nossa Senhora da Piedade, é considerado por nossa Ordem Terceira de Sergipe, além de um irmão muito querido, nosso "pai" na Ordem, pois, com sua assistência foi retomado o caminho dos terceiros carmelitas em nosso Estado. 

Na entrada da clausura de alguns conventos carmelitas europeus, construídos na Idade Média, lê-se a frase em latim: Carmelus totus marianus est (o Carmelo é todo de Maria). O propósito deste texto é o de tentar explicar o por que desta predileção da Ordem Carmelita pela Mãe do Cristo e da Igreja. Ao mesmo tempo, vamos ver um pouco da história e da espiritualidade da Ordem, que a conduziram ao aprofundamento desta devoção, que é, sem dúvida, uma das características mais marcantes da Família Carmelitana. Ligação com a Mãe do Cristo e da Igreja já desde os começos expressa no título: Ordem dos Irmãos (e Irmãs) da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo.

TUDO COMEÇOU COM UMA CAPELA...

De fato, é sabido pela tradição e pelos diários de viagens de peregrinos europeus na Terra Santa em inícios do século XIII, que visitaram os arredores e as partes do interior do mosteiro do Monte Carmelo com acesso ao público, que a capela construída pelos eremitas no centro das celas era dedicada à Maria, a Virgem Puríssima. Logo, foi sendo conhecida pelos habitantes das redondezas como “Capela da Santa Maria do Monte Carmelo” e os monges, como “Irmãos da Virgem Maria do Monte Carmelo”.

No pequeno santuário, os eremitas se reuniam para rezar o Ofício Divino nas diversas horas prescritas para isso, de dia e de noite. Lá, se reuniam para participar do Sacrifício da Missa, sempre que havia padres disponíveis para celebrar, pois eram leigos os primeiros monges.

A “Norma de Vida”, dada pelo Patriarca de Jerusalém, Santo Alberto, prescrevia o uso da capela para os eremitas orarem em sintonia com a Igreja e fazerem também suas devoções particulares. Completavam os momentos passados na capela com a prática da leitura orante da Bíblia, em suas “celas” ou quartos individuais e a busca da oração contínua, ou seja: o falar constante com Deus, mesmo durante o tempo do trabalho comunitário e individual, oferecendo seu dia, sua ocupação ao Senhor, ou repetindo para si mesmo os versículos e frases bíblicas rezadas no Ofício ou na leitura orante: um tipo de oração chamado de oração mental. Através dela, se uniam a Deus, a Maria, não somente com a inteligência, mas também com a imaginação e o afeto.

Nessa prática, tinham eles o exemplo da Virgem Mãe de Deus, já cultuada na Idade Média como a Virgem do Silêncio. Com Ela, aprendiam na oração e nas reuniões comunitárias a  “ouvir a Palavra de Deus e a praticá-la” (Lucas 11,28), elogio dirigido por Jesus à sua Santa Mãe. À semelhança de Maria, que “guardava todos esses fatos, meditando-as no seu coração”, como escreveu o evangelista São Lucas (Lucas 2,52), os eremitas do Carmelo se exercitavam na oração de escuta de Deus, do Espírito, que “sopra onde quer e podemos ouvir sua voz” (João 3), como falou Jesus para Nicodemos, comparando a ação do Espírito Santo com a voz do vento. Ora, Maria foi reconhecida na Igreja, desde a Antiguidade Cristã, como um modelo de escuta da Palavra, elogiada que foi por Jesus e pelo Terceiro Evangelho.

Esta oração no silêncio, juntamente com a oração litúrgica e a leitura orante da Escritura Sagrada, formaram um tripé importante e muito útil para conduzir os primeiros carmelitas à contemplação de Deus e das realidades divinas, além de contemplar as realidades do mundo, da história humana, a partir de Deus, dos critérios do Espírito, à exemplo de Maria.

Deste modo, nossos antepassados fizeram uma caminhada progressiva de escuta atenta da Palavra, como escreveu Santo Alberto na “Norma de Vida (Nº 10)”, e assim alcançaram que a Palavra de Deus se encarnasse neles, como anteriormente havia se encarnado em Maria, não só mentalmente, mas também fisicamente.

A familiaridade de Maria com o Senhor se irradia em atos de disponibilidade para com o Plano de Deus desvendado no dia-a-dia, bem como em atitudes de abertura confiante diante do Filho e do mistério divino que o envolve. Prova destes dois aspectos da contemplação de Maria são os episódios da fuga para o Egito e das bodas de Caná. No primeiro (Mateus 2,13-23), a Mãe de Jesus é violentamente arrancada de uma experiência de vida pobre, mas razoavelmente tranquila, marcada pelos cuidados com que cerca o Jesus Criança, para uma aventura sofrida e desesperada em direção ao desconhecido, a fim de salvar a vida do menino, cuja via crucis já é pré-anunciada nos Evangelhos da Infância. No segundo (João 2,1-12), Maria se dirige a Jesus, ao constatar que o vinho está se acabando: “Eles não têm mais vinho”. E, diante do Filho incomodado pela idéia de iniciar sua missão em Caná revelando sua glória numa festa de casamento, Maria – que naquela altura podia dizer que conhecia muito bem o temperamento e todo o jeito de ser do seu Unigênito, se dirige aos garçons, sem mais nem menos, prevenindo-os: “Fazei tudo o que ele vos disser” (João, 2, 5).

Dentro da mentalidade feudal, cavalheiresca, da época, os monges estavam sob as ordens do Senhor do Lugar, Jesus, o Dono espiritual da Terra, a cujo serviço se devotavam. E a relação com Maria se comparava à relação dos cavaleiros com uma Dama da nobreza, a quem escolhiam como madrinha, e à cuja proteção se encomendavam. Maria tornou-se a Senhora do Lugar: Protetora, Mãe – dada por Jesus na cruz -, e Irmã, apelido conferido aos monges pelo povo, vizinho aos mosteiros, na Palestina. Além disso, como escreveu P. Boaga “a dedicação total a Jesus, o Senhor do Lugar, traz consigo espontaneamente... o relacionamento  com Maria, a Mãe de Jesus” (Boaga, 1989), que se torna a Dona do Lugar, porque a mãe do Dono.

Esse estilo de vida, escolhido e amado pelos primeiros carmelitas, não sobreviveu por muito tempo. Nas primeiras décadas do século XIII, os turcos selêucidas se organizam pouco a pouco e vão retomando o território conquistado pelos príncipes europeus aos muçulmanos, na Terra Santa, no final do século anterior. O ambiente torna-se progressivamente ameaçador  para os cristãos, sobretudo os ocidentais, tanto os residentes como os peregrinos. As comunidades carmelitas – contavam-se já em número de três: a do Monte Carmelo, a de São João de Acre e a da cidade de Tiro -, fazem um discernimento sobre a situação de perigo e de ameaças à integridade física dos europeus e decidem tomar o caminho de volta para os países de onde tinham vindo, como soldados e/ou peregrinos, para viver no mesmo local santificado pelos passos de Jesus. Conforme nossos historiadores, a Ordem foi então extinta na Terra Santa com a queda do Reino Latino de Jerusalém (1291).

O CAMINHO DO RETORNO

Eles retornam sim, é verdade, porém não do mesmo jeito que tinham ido! Chegaram à Itália à Sicília, à Ilha de Chipre - onde tentaram o mesmo estilo de vida do Carmelo, num lugar isolado, mas que logo tiveram de desistir por conta das ameaças dos turcos e da situação da Igreja na Europa – à Inglaterra e, um pouco mais tarde, à França.

Começam a surgir muitas dificuldades internas de adaptação: como deixar de viver a vida eremítica, para a qual estavam acostumados e constituía o ideal maior dos primeiros
carmelitas, para trocá-la pela moradia nas cidades, aceitar os trabalhos pastorais, chamados na época de “cura de almas”, para isto tendo de frequentar as universidades, estudar

Filosofia, e, principalmente, Teologia, por causa das responsabilidades da pregação, da celebração dos sacramentos, do serviço ao povo cristão, que corria em grande quantidade para as cidades, com a decadência do modelo econômico da grande propriedade rural, chamada “feudo”? Mas também houve dificuldades externas, devido ao ambiente já contrário à multiplicação das ordens mendicantes e à decisão do II Concílio de Lyon (1274) de tolerar os carmelitas até nova decisão. O Papa Honório IV os confirmou na prática, e pouco depois foram confirmados de direito pelos papas Bonifácio VIII (05/05/1298) e João XXII (13/03/1317 e 21/11/1326). Esta última data assinala a extensão aos Carmelitas da bula Super Cathedram, já concedida aos franciscanos e dominicanos.

Portanto, foi praticamente um século de vivência de uma situação desconfortável, do ponto de vista institucional, de esperarem pela aprovação definitiva, e esta retardando... E a quem recorriam em primeiro lugar e mais intensamente, nesse tempo de agonias, de incertezas, de inseguranças? A Maria, a Protetora, Patrona, Mãe e Irmã! Sem descurar os caminhos das negociações com as autoridades eclesiásticas; sem deixarem de correr atrás dos auxílios de pessoas e instituições influentes, como a Ordem Dominicana, da qual alguns membros importantes auxiliaram os carmelitas em sua luta, era a Maria e ao Profeta Elias que recorriam de modo especial, suplicando dia e noite a proteção e a ajuda para a Ordem sobreviver.

O próprio título mariano da Ordem (Irmãos da Bemaventurada...) foi contestado não apenas por bispos, mas por outras Ordens Religiosas, escreve Pe. Boaga (1989). Os carmelitas e defendem. Precisam explicar as origens e as motivações deste título. Isto ajuda nossos intelectuais e toda a Ordem a aprofundar o caráter mariano do Carmelo. “O ponto alto desta controvérsia foi no ano de 1374, quando o carmelita João Horneby defende com sucesso tal título mariano contra o dominicano João Stokes na Universidade inglesa de Cambridge (Inglaterra)”. “No ano 1379 – continua Boaga – o Papa Urbano VI deu a palavra definitiva, concedendo uma indulgência àqueles que chamassem os carmelitas com o título mariano.” É importante lembrar que a questão do título, para a mentalidade medieval, era mais do que um rótulo: exprimia a essência, a substância da coisa. No caso, estava em jogo a identidade da própria Ordem.

É neste contexto que surge a narrativa de visão de Maria a São Simão Stock, primeiro superior geral da Ordem na Europa. Não consta, entre os escritos deste Santo referência nenhuma a esta visão. No entanto, a história espalhou-se entre os frades e os leigos freqüentadores de nossas igrejas, de modo que até surgiu uma data para a ocorrência da aparição: o ano de 1251. Maria teria então se mostrado a Simão, entregando-lhe o escapulário – parte do hábito carmelita, que antes servia de avental para proteger a veste nos trabalhos manuais -, dizendo:

     “Recebe, filho muito querido, este escapulário de tua Ordem, sinal de minha confraternidade. Quem morrer revestido com ele, não será condenado ao fogo do inferno. Esta á a minha promessa de paz e de pacto com a Ordem, para sempre.”

Não tem muita importância que a visão tenha realmente acontecido ou não. O valor da devoção ao Escapulário do Carmo depende da aprovação da Igreja – como aliás, o valor de todas as aparições, reais ou imaginárias, de Jesus, de Maria ou de Santos, e o valor de todas as devoções, por sinal. No momento que alguns Papas após o término do Concílio de Trento (1563), aprovaram o Rosário e o Escapulário do Carmo como as duas mais excelentes e valiosas devoções marianas, recomendando-as aos católicos, e cumulando-as de indulgências e de outras graças, a Igreja reconheceu o correto sentido bíblico e teológico desta devoção carmelitana.

Aprovada e reconhecida a Ordem em definitivo, os carmelitas atribuem à Senhora do Lugar o patrocínio celeste para as confirmações papais e dos bispos europeus. As províncias europeias passam a instituir uma festa mariana do calendário litúrgico para ser o dia especial de Ação de Graças à Maria: algumas escolheram a festa da Anunciação, outras a festa da Conceição, outras a da Natividade ou a da Purificação de Maria. Foi só no século XIV, em 1386, que a Província Carmelita da Inglaterra (atual Reino Unido) instituiu uma festa especial, com uma missa própria e dia próprio: o 17 de julho. Logo as províncias da Europa Continental passaram a imitar a província irmã inglesa. Só que o dia 17, no Continente Europeu, já tinha um santo muito popular: Santo Aleixo. Então, localizaram a Comemoração Solene de Santa Maria no dia 16 de julho – data que se manteve para sempre.

O que os carmelitas celebravam nesta Festa, na Idade Média? O agradecimento festivo à Virgem Mãe pelo patrocínio dado à Ordem para que esta sobrevivesse e fosse aprovada em definitivo pela Igreja, bem como o título da Ordem de “Irmãos da Virgem”.

Em 1588, o Papa Sixto V reconhece a Comemoração Solene como festa litúrgica, podendo ser celebrada fora dos conventos da Ordem. Muitos decretos pontifícios e episcopais estendem a  Festa a muitas regiões, até que se torna festa de toda a Igreja Católica por decreto oficial do Papa Bento XIII, em 1726. Em meados do século XVI e no século XVII, sob a influência do Concílio de Trento, concluído em 1563, e dos Papas que recomendam sobretudo duas devoções marianas, enriquecendo-as com graças e indulgências: o Rosário e o Escapulário do Carmo, as Confrarias do Escapulário se multiplicam na Europa e nas Américas espanhola e portuguesa. Já em 1609, estas Confrarias exportam a Festa para todos os lugares onde são fundadas, com o nome de “Festa do Hábito”. Assim, a Comemoração toma o sentido de ação de graças pelo dom do Escapulário, neste tempo recomendado por diversos Papas, como disse acima. Inclusive, é deste tempo e desta divulgação do escapulário que os artistas passam a receber encomendas de esculpir imagens de Nossa Senhora do Carmo vestida com o hábito da Ordem.

A CONSOLIDAÇÃO DA DEVOÇÃO MARIANA, CRISE E RETOMADA.

O carmelita Arnoldo Bostio elaborou uma primeira síntese da devoção mariana na Ordem, no final do século XV, acrescentando que, além da oração e da imitação das virtudes de Maria, é necessário, para uma autêntica vida mariana, o contato permanente com a “Mãe terníssima”.

Daí que o amor da Mãe deve ser, em toda parte e sempre, a inspiração principal da ação do carmelita que, consagrado existencialmente a Maria, se oferece inteiramente a Deus. Estas idéias foram desenvolvidas mais tarde no Diretório dos Noviços da Reforma Turonense pelo Frei Marcos da Natividade – morto em 1696, explicando em detalhes os dia a dia da pertença do carmelita e de suas coisas à Virgem Maria e de como oferecê-las, por suas mãos, a Deus  (Boaga, 1989).

O grande destaque de todo o ensinamento teórico e prático sobre a espiritualidade mariana no Carmelo, no passado, foi-nos dado pelo Venerável Miguel de Santo Agostinho e a irmã carmelita Maria de Santa Teresa Petyit, cujos textos foram escritos pelo seu diretor espiritual, o Venerável. No Tratado da Vida Mariana, este nosso confrade do século XVII, pertencente ao Carmelo Reformado Turonense da Bélgica, expõe uma doutrina espiritual de vida consagrada a Maria que possibilita a todo/a carmelita realizar uma vida mariana, por Maria, com Maria e em Maria. Boaga sintetiza a apresentação de sua idéia em três passos:

      ● A progressiva condução à conformidade de vida com Maria, através de uma constante lembrança da presença de Nossa Senhora e um esforço sincero em reproduzir suas
virtudes;

     ● A participação na vida afetiva de Jesus para com Maria. Na prática, isto quer dizer o seguinte: o amor a Mãe do Cristo e nossa não é apenas uma imitação do amor de Jesus a ela, mas também a sua continuação, pela nossa participação na vida afetiva de Jesus para com Maria.

   ● A descrição da união mística com Maria e com Deus, inspirando-se nas experiências espirituais de Maria Petyit: estendendo um pouco mais o que escreveu Boaga, posso acrescentar alguns elementos importantes do perfil desta união: tornar-se pequena, diante de Maria; o ser levado pela mão de Maria, do jeito que as mães tomam a mão dos filhos pequenos; a experiência de dormir no regaço de Maria, sendo acariciado por Ela. Três séculos antes da experiência da dormição no Espírito, dos carismáticos, esta mística carmelita desenvolveu a vivência da dormição nos braços e regaço da Mãe Maria!

Tais experiências ocorreram ou foram descritas, de um modo ou de outro, antes e depois destes santos do século XVII, escreve Boaga (1989). Portanto, elas fazem parte da tradição espiritual e mística do Carmelo, não são realidades isoladas, fruto apenas deste tempo de renovação espiritual na Igreja e na Família Carmelitana.

Com o passar do tempo, a devoção ao Escapulário do Carmo entra num processo de devocionismo vazio e triunfalista: este vem a ser considerado quase como um amuleto para livrar de perigos deste mundo, ou na qualidade de um veículo infalível de salvação eterna, sem exigências de vida cristã que devem acompanhar a vivência da devoção. Em carta escrita ao Prior geral da Ordem, por ocasião do VII Centenário do Escapulário (1950-1951) o Papa Pio XII reage contra esta mentalidade e apresenta o escapulário como veículo de agregação a uma Ordem eminentemente mariana e recorda as linhas principais de sua tradição, destacando em seguida o escapulário como sinal de consagração a Maria. O escapulário, sinal externo, deve exprimir a convicção do afiliado de viver consagrado a Nossa Senhora, que se torna a “Dona de sua vida”, garantindo, por sua vez, colocar o seu filho ou filha sob a sua proteção materna, repleta de ternura e carinho.

“Concretamente, como meio de consagração a Maria e, por Ela, a Jesus Cristo, o escapulário nos fala – como dizia Pio XII – de humildade, de castidade, de oração contínua e de todas as virtudes da Mãe, das quais devemos nos revestir, convidando-nos à intima união com Deus e ao serviço humilde do próximo na Igreja. Com seu amor, Maria cuida dos irmãos de seu Filho que ainda peregrinam neste mundo, vivendo no meio de perigos e dificuldades, até que cheguem à Pátria celeste”, escreve um documento de estudo do CEPA (Centro Carmelitano de Espiritualidade e Pastoral): Maria e o Carmelo (2003).

Nas comemorações e publicações que marcaram o VII Centenário do Escapulário (1950-1951), os teólogos e superiores carmelitas se esforçaram por dar um sentido bíblico e vivencial à devoção, além de insistir nos aspectos da proteção de Maria, também importantes, mas que supõem a contrapartida do fiel que veste o escapulário: vivência cristã cada vez mais profunda, dentro da medida da graça distribuída pelo Espírito a cada pessoa.

Após o Concílio Vaticano II, os questionamentos sobre as devoções em geral geraram crises de sentido em diversas partes da Família Carmelitana, atingindo a própria imagem da Virgem do Escapulário, da Comemoração Solene, na sequela da liberdade para frades, irmãs e leigos carmelitas de usar ou não o hábito religioso. Houve esforços sinceros e louváveis para a renovação e modificações na devoção. No entanto com o esforço de purificar e tornar mais bíblica e cristológica a devoção, correu-se, aqui a ali, o risco de destruir a própria devoção mariana.

“Hoje, mais que buscar uma interpretação do escapulário, difunde-se a meditação sobre a exemplaridade de Maria como Virgem e Mãe, e de Maria pertencente ao número dos pobres de Javé’, pondo em relevo a sua oração, a sua escuta da Palavra de Deus, o seu empenho e disponibilidade, a sua simplicidade de vida, o seu estar para os outros numa atitude de doação e de serviço” CEPA: 2003). Quer dizer: estes aspectos de Maria como exemplo de vida, de seguimento de Jesus – a primeira Discípula do Divino Mestre -, estão mais difundidos para tornar a piedade mariana mais condizente com a Palavra de Deus, com o próprio ensinamento de Jesus: “Antes, bemaventurados aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lucas,11,28).

O serviço a Maria é, pois, parte integrante da vida carmelitana, característica constantemente repetida pelos autores e por Capítulos Gerais da Ordem. Nos ensinamentos de hoje, este serviço implica em seguir Maria na sua qualidade de seguidora ímpar de Jesus.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOAGA, Pe. Emmanuelle, O.Carm. 1989. Como Pedras Vivas. Roma: Edizioni Carmelitane.
CEPA /Centro Carmelitano de Espiritualidade e Pastoral. 2003. Maria e o Carmelo. Belo Horizonte (mimeo).
MESTERS, Carlos, O.Carm. 2001. Maria, a Mãe de Jesus, nos textos do Novo Testamento.
Texto apresentado no Congresso Mariano Mariológico, Recife (mímeo).
MEDEIROS, Tito Figueirôa, O.Carm. (org.). 2003. ...me chamarão Bemaventurada: textos de Mariologia Carmelitana. Recife, Ed. do IETB/ Província Carmelitana Pernambucana.

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