segunda-feira, 2 de julho de 2012


MÊS DE JULHO
MARIA DO CARMELO
Falar do mês de Julho é falar de Carmelo e daquela que lhe deu o ser e mantém vivo e pujante na Igreja. Carmelo é igual a MARIA. O carmelita exulta de alegria ao contemplar o mistério de Maria e rejubila ao pensar no amor, devoção e fervor dos Santos Doutores do Carmelo que aprofundaram amorosamente nesse mistério. Eles são místicos de muita oração, de alta contemplação e de uma forte experiência de Maria, não só na sua vida pessoal mas também da experiência da presença de Nossa Senhora na vida cristã.
Teresa de Jesus, João da Cruz e Teresa do Menino Jesus, três santos, três carmelitas, três escritores, três poetas, três doutores da Igreja e três enamorados da Santíssima Virgem.
Daqui podemos concluir: o carmelita ou é um enamorado de Maria ou não está vivificado por este carisma destes três santos doutores do Carmelo.
Nenhum deles nos deixou uma mariologia, nem sequer o teólogo espiritual João da Cruz, mas todos eles nos deixaram a sua vivência, a sua experiência e doutrina, tudo isto informado pela presença de Nossa Senhora.
Para o Carmelo, Maria não só é a Mãe mas, e principalmente, a Irmã. Isto justifica que os Carmelitas sejam conhecidos e reconhecidos pela Igreja, como Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo.
Uma vez que o Carmelita deve viver em “obséquio de Jesus Cristo”, ninguém como Maria viveu este ideal. Ela aparece na História Sagrada em função do Messias e toda a sua vida está centrada em Jesus Cristo. José cumpriu a sua missão e desapareceu. Jesus entra na maior idade e Maria continua presente. E continuará presente até ao fim dos séculos como Mãe da Igreja, Corpo de Cristo. Maria é a nossa irmã maior. João da Cruz vê nela o exemplar do autêntico Carmelita. Não lhe dedicou nenhuma obra, mas esta frase que lhe aplica diz tudo o que de mais sublime se lhe pode atribuir: “Eram assim as [obras e orações] da gloriosíssima Virgem Nossa Senhora, a qual, estando desde o princípio elevada a este alto estado, nunca teve gravada na sua alma forma alguma de criatura, nem se moveu por ela, mas foi sempre movida pelo Espírito Santo” (3S 2, 10).
Para além destes três Santos Doutores existe no Carmelo uma plêiade de santos e beatos que seguiram os seus passos, imitaram os seus exemplos e deixaram também o testemunho de um grande amor a Maria.
Podemos concluir: o Carmelo, pela sua origem, tradição, experiência e doutrina bebeu das fontes na sua totalidade marianas.
Ele enraíza-se no culto a Maria. “Junto à fonte de Elias”, os Carmelitas construíram o seu convento e, no centro deste, levantaram uma capela dedicada a Nossa Senhora onde lhe prestaram culto. Com a vinda para a Europa o culto não desapareceu, pelo contrário, foi em crescendo. Com a deslocação para a Europa a Ordem depara-se com uma situação bem complicada. Estava em causa a sua subsistência. O Geral da Ordem, sem saber que fazer, tem a feliz ideia de colocar a Ordem nas mãos de Maria, uma vez que a Ordem era dela. Segundo reza a tradição ele faz a seguinte oração: “Flor do Carmelo, vide florescente, esplendor do Céu, Virgem Mãe, singular. Doce Mãe, mas sempre Virgem, aos teus filhos dá teus favores, ó Estrela do mar”. Maria responde com a doação do Escapulário como sinal de proteção.
P. Jeremias Carlos Vechina OCD

SANTA TERESA DE JESUS E MARIA DO CARMELO
Nossa Senhora está presente nos momentos mais decisivos da vida de Teresa. Já desde os primeiros balbucios da sua infância é influenciada pela oração cadenciada do terço. Com a idade de seis ou sete anos a mãe tinha o cuidado “em fazer-nos rezar e sermos devotos de Nossa Senhora e de alguns Santos”. Teresa continua a contar-nos que desde muito jovem “Procurava solidão para rezar as minhas devoções que eram muitas, em especial o Rosário, do qual a minha mãe era muito devota e assim nos fazia sê-lo”.
Quando Teresa perde sua mãe, que seria entre os treze e quatorze anos de idade, vai-se encomendar a Nossa Senhora. É ela a narrar: “Quando comecei a perceber o que tinha perdido, fui-me, aflita, a uma imagem de Nossa Senhora e supliquei-Lhe, com muitas lágrimas, que fosse minha Mãe. Embora o fizesse com simplicidade, parece-me que me tem valido; porque conhecidamente tenho encontrado esta Virgem soberana, sempre que me tenho encomendado a ela, e, enfim, tornou-me a si”.
São muitas as graças místicas que Teresa recebe ao longo da sua existência e que têm como objeto e conteúdo Nossa Senhora. Algumas são muito significativas para a sua vida e obra de fundadora. Recordo a que ela narra no Livro da Vida, capítulo 33. É uma espécie de vestidura que Maria faz a Teresa anunciando-lhe o fato de a partir deste momento ser mãe de uma nova família religiosa: o Novo Carmelo. Jesus une sua Mãe a este seu plano. Era no dia de Nossa Senhora da Assunção. Participava na Eucaristia na Capela do Santo Cristo do Convento de S. Domingos e veio-lhe um arroubamento tão grande que ficou fora de si. “Parecia-me, estando assim, que me via vestir uma roupa de muita brancura e claridade. A princípio não via quem ma vestia; depois vi a Nossa Senhora a meu lado direito e a meu Pai S. José à esquerda, que me vestiam aquela roupa. Deu-se-me a entender que já estava limpa de meus pecados. Acabada de vestir e eu com grandíssimo deleite e glória, logo me pareceu Nossa Senhora pegar-me nas mãos. Disse-me que Lhe dava muito gosto sendo devota do glorioso S. José; que tivesse por certo que, o que eu pretendia do mosteiro, se havia de fazer e nele se serviria muito o Senhor e a eles ambos; que não temesse que nisto houvesse jamais quebra, embora a obediência que dava não fosse a meu gosto, porque Eles nos guardariam e já seu Filho nos tinha prometido andar conosco. Para sinal de que isto se cumpriria dava-me aquela joia. Pareceu-me então que me tinha deitado ao pescoço um colar de ouro muito formoso e preso a ele uma cruz de muito valor. Este ouro e pedras são tão diferentes das de cá, que não têm comparação”.
Santa Teresa teve outra graça mística mariana em que ela experimenta a glorificação de Nossa Senhora: “Em dia da Assunção da Rainha dos Anjos e Senhora nossa, quis o Senhor fazer-me esta mercê: num arroubamento representou-se-me a Sua subida ao Céu e a alegria e solenidade com que foi recebida e o lugar onde está. Dizer como foi isto, eu não saberia. Foi grandíssimo o deleite que o meu espírito teve de ver tanta glória. Causou isto em mim grandes efeitos e tirei de proveito ficar com mais e maiores desejos de passar grandes trabalhos e de servir a esta Senhora, pois tanto mereceu” (V 39, 26).
Noutra visão, Teresa compreendeu como o Senhor agraciaria as suas irmãs de S. José de Ávila, ao colocá-las sob a proteção de Maria: “Estando todas no coro em oração depois de Completas, vi Nossa Senhora, com grandíssima glória, revestida dum manto branco e, debaixo dele, parecia amparar-nos a todas. Entendi quão alto grau de glória daria o Senhor às desta casa” (V 36, 24).
Apesar de serem muitas as graças místicas marianas experienciadas por Teresa de Jesus, há um paralelismo muito marcado entre a experiência que ela tem de Cristo e de Maria. Depois de tantos trabalhos e sofrimentos passados nas suas fundações Teresa alegra-se com as suas irmãs: “Nós alegramo-nos de podermos em algo servir a Nossa Mãe, Senhora e Padroeira” (F 29, 23). Jesus e Maria são duas criaturas sempre unidas na vida de Teresa e dos seus Carmelos: “Pouco a pouco se vão fazendo outras coisas para honra e glória desta gloriosa Virgem e de Seu Filho. Seja Ele para sempre louvado, amem, amem!” (F 29, 28).
S. JOÃO DA CRUZ E NOSSA SENHORA
É manifesta na vida de João de Yepes, desde a sua mais tenra idade, uma relação entranhável e profunda com a Virgem Nossa Senhora. Caratina Alvarez proporcionou aos seus filhos um ambiente profundamente religioso.
Educou-os nas práticas tradicionais da piedade cristã daquele tempo. O culto e devoção a Nossa Senhora fazia parte do alimento diário. A presença de Maria era constante.
Vemos nos jogos e nos perigos da água, como Maria protege o menino João e o salva de morrer afogado. Passa a sua juventude com os Jesuítas, mas decide entregar-se a Deus por Maria, escolhendo a sua Ordem para professar como seu filho e irmão. Ao sentir desejos de mais solidão e silêncio, será o amor à Ordem da Santíssima Virgem que o desviará de ir para a Cartuxa. Encarcerado pelos seus irmãos de hábito em Toledo sentir-se-á liberto da prisão conventual pela poderosa intercessão da Virgem Maria, numa noite de agosto. Os dias dedicados a Nossa Senhora eram celebrados por ele em ambiente festivo. As festas do Natal e da Purificação eram vividas com enorme alegria e grande devoção. E como foi em vida o foi na morte. No último momento Maria não podia faltar: Eram as doze da noite do dia 14 de dezembro do ano de 1591, Sábado da oitava da Imaculada Conceição, quando João foi cantar Matinas “com a Virgem Nossa Senhora no Céu”. Estas últimas palavras de Fr. João são como remate de toda uma vida de amor para com Nossa Senhora iniciada em criança.
Fr. Martinho da Assunção, que acompanhou o Santo em muitas das suas viagens e conviveu com ele bastante tempo, testemunha nos processos: “Era muito devoto de Nossa Senhora. Todos os dias rezava o Ofício de Nossa Senhora de joelhos... e quando iam de viagem todas as suas conversas era tratar do Santíssimo Sacramento e da Virgem Santíssima e cantar hinos de Nossa Senhora”.

SANTA TERESA DO MENINO JESUS E A SANTÍSSIMA VIRGEM
Quem folheia os escritos de Santa Teresa do Menino Jesus facilmente percebe a grande devoção e amor que ela nutre por Nossa Senhora. Facilmente se constata como Teresa se sente protegida por Maria e como ela se sente filha da Virgem de um modo terno e profundo.
Antes de começar a escrever o Manuscrito A, no ano de 1895, Teresa diz: “Antes de pegar na pena, ajoelhei-me diante da imagem de Maria (aquela que me deu tantas provas das maternais preferências da Rainha do Céu para com a nossa família), supliquei-lhe que guie a minha mão a fim de eu não traçar uma única linha que não lhe agrade” (Ms A 2r).
Esta imagem a que se refere Teresa é muito significativa para ela. Trata-se da “Virgem do sorriso” que a curou de uma doença nervosa que teve lugar na sua infância e que ela conta no Ms A, 29v-31r. Esta mesma imagem acompanhou-a na sua agonia na enfermaria do convento de Lisieux.
No dia 13 de maio de 1883, Nossa Senhora presenteou-a com um sorriso encantador: “Não encontrando na terra nenhum auxílio, a pobre Teresinha voltara-se também para a sua Mãe do Céu; pediu-lhe com todo o coração que tivesse finalmente piedade dela... De- repente, a Santíssima Virgem pareceu-me bela, tão bela como nunca vira nada tão belo: o seu rosto irradiava uma bondade e uma ternura inefáveis; mas o que me penetrou até ao fundo da alma foi o «encantador sorriso da Santíssima Virgem»” (Ms 30r).
No dia da sua primeira comunhão, 8 de maio de 1884, Teresa consagra-se a Maria como filha órfã: “De tarde, fui eu que pronunciei o ato de consagração à Santíssima Virgem. Era muito justo que eu falasse em nome das minhas companheiras à minha Mãe do Céu, eu que tinha sido privada tão nova da minha mãe da terra... Pus todo o meu coração em lhe falar, em me consagrar a ela, como uma criança que se lança nos braços da sua mãe e lhe pede para velar por ela. Parece-me que a Santíssima Virgem deve ter olhado a sorrir para a sua Florzinha. Acaso não tinha sido ela que a tinha curado com um sorriso visível?...” (Ms A, 35v).
No dia 4 de novembro de 1887, na Basílica de Nossa Senhora das Vitórias, em Paris, Teresa recebe uma grande graça: “A Santíssima Virgem fez-me sentir que tinha sido verdadeiramente ela que me tinha sorrido e me tinha curado. Compreendi que ela velava por mim, que eu era sua filha, e sendo assim, já não podia dar-lhe outro nome senão o de «Mamã», pois me parecia mais terno ainda que o de «mãe»...” (Ms A, 56v e s).
Já no Carmelo, é Nossa Senhora que a prepara para a entrega a Jesus como esposa no dia da sua Profissão Religiosa a 8 de setembro de 1890. Tratava-se da festa da Natividade de Nossa Senhora: “Que bela festa a da Natividade de Maria para me tornar Esposa de Jesus! Era a pequena Santíssima Virgem, de um dia, que apresentava a sua pequena Flor ao pequeno Jesus...” (Ms A, 77r).
Tanto na sua missão de ajudante de mestra de noviças como nos momentos mais difíceis da sua vida, Teresa sente a proximidade de Maria e a sua ajuda: “A Santíssima Virgem [...] nunca deixa de me proteger logo que a invoco. Se tenho qualquer inquietação, uma dificuldade, volto-me depressa para ela, e como a mais terna das mães, encarrega-se sempre dos meus interesses. Quantas vezes me aconteceu, ao falar às noviças, invocá-la e sentir os benefícios da sua maternal proteção!...” (Ms c, 26r).
Uns dias antes de fazer a sua Oferenda ao Amor Misericordioso lê o texto diante duma imagem de Nossa Senhora das Vitórias. Com este gesto Teresa quer manifestar que o seu oferecimento é todo ele feito a Deus por mediação de Maria, como aparece na oração: “Ofereço-Vos, ó Bem-aventurada Trindade, o Amor e os méritos da Santíssima Virgem, minha querida Mãe: é a ela que entrego o meu oferecimento, pedindo-lhe que Vo-lo apresente” (Oração 6). E ao aproximar-se a hora da sua morte, em agonia, Teresa dirige-se com filial confiança a Maria em agonia: “Querida Santíssima Virgem, vinde em meu auxílio” (Ultimas conversas 39.9.1897).
É a própria Teresa a dizer que desde o seu nascimento até à sua morte, amava Maria: “Desde a primavera da minha vida, à Virgem Maria e a S. José eu amava” (Poesia 18).
Estas são as últimas palavras escritas por Teresa: “Ó, Maria, se eu fosse a Rainha do céu e vós fosseis Teresa, quisera ser Teresa a fim de que vós fosseis a Rainha do céu”.

“Oh! quisera cantar, Maria, porque te amo. Porque é que o teu doce nome me comove o coração, e porque é que o pensamento da tua grandeza suprema não é capaz de inspirar-me medo. Se te contemplasse na tua sublime glória, muito mais brilhante do que todos os bem-aventurados, não podia acreditar que sou tua filha. Ó Maria, diante de ti, eu baixava os olhos!... Meditando a tua vida escrita no Evangelho atrevo-me a olhar para ti. Não me custa acreditar que sou tua filha, pois vejo que morres e sofres, como eu”. (Santa Teresa do Menino Jesus)

“Como me teria gostado ser sacerdote para pregar sobre a Virgem Maria! Penso que seria suficiente fazê-lo uma só vez para dar a entender o que penso dela. Antes demais nada, faria ver quão pouco se conhece a vida da Santíssima Virgem. Não devemos dizer dela coisas inverosímeis ou que não se sabem... Adivinha-se perfeitamente que a sua vida real, em Nazaré, e mais tarde, teve de ser completamente ordinária... Era-lhes submisso (Lc 2,51). Que simples! Apresenta-se a Virgem inacessível. Haveria que apresentá-la imitável, praticando as virtudes ocultas. Haveria que dizer que vivia de fé, como nós, e dar as provas que se leem no Evangelho, onde se diz: Não compreenderam o que lhes dizia. E esta outra passagem: Seu pai e sua mãe estavam admirados das coisas que se diziam d’Ele (Lc 2,33)”. (Santa Teresa do Menino Jesus)

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