sábado, 30 de junho de 2012


 JULHO, MÊS DA "SENHORA DO LUGAR" 

Queridos irmãos carmelitas:
Iniciamos o mês de julho que, para nós, é o mês mariano por excelência.
Preparando-nos para as solenidades maiores da nossa Ordem: no dia 16 (Nossa Senhora do Carmo) e no dia 20 (Nosso Pai Santo Elias). Por isso, iniciamos, hoje, uma série de meditações sobre o valor e o significado de Nossa Senhora e do Profeta Elias, para cada um de nós.

 I - MARIA E O CARMELO
 Emanuele Boaga, O. Carm.

1. O Monte Carmelo, situado nos confins entre a Samaria e a Galiléia, é considerado no mundo bíblico como um símbolo da graça, da bênção e da beleza por causa de sua rica vegetação (cf. Is 35, 2; Jr 50,19). Nele pode-se ver também o lugar de renovação da aliança e das intervenções divinas por meio do Profeta Elias (1Reis 18, 20-46). Encontramos neste monte rica memória de numerosos gestos e sinais lembrando estes acontecimentos.

2. A presença de um grupo de eremitas latinos neste monte, por volta das Cruzadas, entre os anos de 1192 e 1209, comprovada historicamente, torna-o também, um “lugar de Maria”. Um livro-guia para os peregrinos da Terra Santa, escrito por volta de 1220, testemunha esta verdade: “O flanco do Monte Carmelo é um lugar muito belo e delicioso onde habitam, os eremitas latinos chamados de Freis Carmelitas. Existe lá uma pequena igreja dedicada a Nossa Senhora”.

3. A razão para dedicar sua primeira Igreja a Maria, Nossa Senhora, significava, na concepção feudal reinante naquele tempo, não somente o fato de se colocarem a serviço da Igreja, mas também de estarem completamente à disposição da Senhora, numa consagração pessoal, confirmada com um juramento. Os primeiros carmelitas escolheram, então, Nossa Senhora como Patrona. O próprio nome assumido pelo grupo - Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo - atesta esta verdade.

II - O CARMELO É TODO DE MARIA

4. Este é um título mariano que não se limita apenas a indicar a proteção de Nossa Senhora sobre a Ordem dos Carmelitas, e a dedicação desta à Virgem, Mãe e Patrona, mas quer exprimir também a semelhança evangélica existente entre a vida de Maria e a dos Carmelitas, com base na escolha da virgindade. Assim se exprimiam os autores carmelitanos do século XIII em diante, referindo-se a Nossa Senhora também como Irmã.

5. Desta forma, Maria está presente como Patrona e Irmã, no itinerário interior do Carmelita, que pode afirmar seguramente O Carmelo é todo mariano. Nela, cada membro da Ordem encontra o modelo de escuta filial do Pai por meio de Cristo, no Espírito Santo. Aprende a viver a dimensão contemplativa que devem desenvolver como sentido da própria vida: encontrar Deus presente na realidade, renovando continuamente a aliança com Ele e vivendo à sua luz, em um caminho de fraternidade e de solidariedade para com todos os seres humanos.
Conformidade e imitação

6. No Carmelo, a vida mariana não é manifestada apenas com a prática de exercícios particulares de piedade, que também estão presentes em sua história. Ao invés, expressa-se num modo constante de viver e de pensar, assumindo uma orientação que abraça o ser integralmente, de forma que tudo no indivíduo e na comunidade pertença a Maria.

7. No início do século XIV João Baconthorp, o mais notável dos teólogos carmelitas de sua época, referindo-se às relações de Nossa Senhora com a Ordem usa a expressão do Profeta Isaias Data est ei... decor Carmeli, afirmando foi dada a Maria toda a beleza do Carmelo (Is 35, 2).

8. Então, tudo o que faz o Carmelita deve fazê-lo em honra e glória de Maria, porque - afirma Baconthorp - segundo a Vontade divina, esta é a razão da existência da Ordem. Maria é realmente a Domina Loci, ou seja, a Senhora do Lugar, a verdadeira “dona” do Carmelo. Assim, o Carmelita deve viver de forma autêntica na imitação das virtudes contempladas em Maria, pois a conformidade com ela, neste caso, é a melhor forma de glorificar e de manifestar amor crescente à Senhora.

9. Encontramos na expressão Domina Loci, utilizada por Baconthorp, algo tipicamente medieval: o termo Domina. Dante diria Donna, ou seja a mãe da família e não a rainha. É a Senhora que mesmo sendo gloriosa não recusa nem negligencia seu papel de Mãe. Desta maneira, Maria Virgem assume o cuidado e a proteção pela vida dos Carmelitas, e de outro lado, como destacava Baconthorp, estes com seus gestos honravam a Senhora do Lugar.

10. A idéia da exemplaridade, ainda que não sendo nova na Ordem, visto provém da consideração geral do culto mariano próprio do tempo, é expressa com enorme e significativa força por Baconthorp. Para ele, a prática da vida carmelitana consiste numa imitação de toda a vida de Maria. Com o objetivo de reforçar esta idéia, escreveu um comentário à Regra do Carmo. Ao ler as suas argumentações poderíamos ser tentados a rir, tomando-as por ingênuas. Entretanto, naquele momento, importava mais a tese que a sua defesa.

11. Tal tese se tornou muito estimada no Carmelo: assim como o Carmelita deve imitar Elias, deve também imitar Maria. Isto é recordado numa famosa obra De institutione primorum monachorum, escrita em torno do ano 1370. A relação existente entre o binômio Elias-Maria torna-se fecunda e vital. É esta também uma forma de voltar à tradição da Ordem que atribui ao santo prior geral Brocardo um célebre testamento: Filhos (...) continuai, por conseguinte, constantes no bem, abominai as riquezas, desprezai o mundo e levai uma vida reta, modelada em Maria e Elias.

12. A idéia da conformidade ou da imitação exerceu grande influxo e tornou-se idéia central que encontramos em muitos escritos sucessivos e, com nuances próprias em cada época, chegou até nós. Com Maria nos caminhos de Deus

13. A este tema da conformidade-imitação de Mãe Patrona, logo se une o da íntima familiaridade com Maria como irmã, que vem retomado e ampliado sobretudo pelos autores belgas, alimentando um sentido de familiaridade com Nossa Senhora e estimulando a sua imitação na disponibilidade e docilidade para com a Palavra do Senhor. Também, a familiaridade de vida com Maria ressoa no título usado na Ordem, onde encontramos a expressão Virgo Purissima (Virgem Puríssima ou Virgem das Virgens), com o qual os autores carmelitas medievais indicam o modelo do próprio ideal contemplativo.

14. Já no século XIV, depois das referências a Maria Patrona, Mãe de Deus e Mãe do Carmelo, encontramos escritores que destacam, sobretudo a virgindade de Maria. Em João Maria e o Carmelo de Chimineto podemos recordar as ligações que ocorrem entre a virgindade de Maria Santíssima, a capa branca e o título dos carmelitas.

15. Pouco depois, Felipe Ribot, recordado em De Institutione, afirma que o Carmelo significa aquele que conhece a virgindade. Para sustentar esta tese, ele se reporta à interpretação já difundida no século V entre os Santos Padres, segundo a qual a visão da pequena nuvem, portadora de abundante e fecunda chuva, teria revelado ao Profeta Elias a fecunda virgindade de Maria. Assim, Elias, o primeiro homem virgem, quer fundar uma Ordem de virgens para honrar a Maria, a primeira mulher virgem. E esta analogia entre a virgindade no Carmelo e a virgindade de Maria o faz exclamar: Por força desta conformidade os religiosos carmelitas chamavam a Virgem de sua Irmã... e pelo mesmo motivo chamavam-se Irmãos da Bem-aventurada Virgem Maria. Encontramos pensamentos semelhantes nos escritores dos séculos XIV-XV, revelando-nos quanto o olhar daquelas gerações de carmelitas estava voltado sobretudo para a Virgem Maria, em seus mistérios da virgindade e da imaculada conceição. A ternura para com a celeste Patrona, a Mãe e a Irmã, nutria uma profunda e rica vida mariana.

16. A capa branca vem bem cedo considerada pelos autores carmelitanos como símbolo da Virgem Maria: no caso, pureza significa não somente uma mera ausência de pecado e menos ainda, não é simplesmente sinônimo de castidade, mas indica uma orientação total da própria existência doada completamente a Deus, sem nada reter para si, mas oferecendo a Deus um coração puro. Mais tarde, S. Maria Madalena de Pazzi (†1607) verá na pureza de Maria a beleza da Virgem que atrai Deus a si, e faz desta pureza uma mensagem para o homem, uma vez que a mesma indica disponibilidade a Deus, fecundidade, testemunho e profecia.

17. O argumento da Virgem puríssima surge ligado à característica carmelitana da vida interior passada na intimidade divina. A devoção mariana conduz a Ordem a considerar que a vida interior em íntima comunhão com Deus se adquire imitando a vida de Maria em sua intimidade com Jesus. O Carmelita vê pois, em Maria, realizado de modo maravilhoso e incomparável, o próprio ideal contemplativo. É comum entre os autores dos séculos XVI e XVII afirmar que a virgindade cria uma excelente disposição para a vida interior e contemplativa. É como Virgem puríssima, portanto, que Nossa Senhora realiza o ideal da vida de intimidade divina.

18. Consequentemente, o Carmelo considera Maria como a sua flor mais bela, como o seu supremo esplendor. Sem dúvida alguma, sob esta influência surgem as ternas e bonitas lendas medievais que narram fatos interessantes: a visita da Virgem durante sua vida, aos eremitas do Monte Carmelo e que afirmam, Maria teria vivido um certo tempo também como Carmelita.

19. Nestas piedosas lendas vamos encontrar um valor de referência real. Elas nos revelam, em linguagem simbólica, a mediação de uma consciência da familiaridade com Maria e, sobretudo, a convicção de que encontramos na simples expressão das primeiras palavras de uma antiga antífona (séc. XV-XVI) “Flos Carmeli”, Maria é a flor do Carmelo; e pouco mais tarde, exprime-se também esta consciência, com a bíblica expressão “Decor Carmeli”, Maria é o decoro do Carmelo.

20. Ao considerar Maria como a Virgem puríssima, os escritores mais antigos da Ordem, como Baconthorp, pensam antes de tudo em suas relações maternais com Jesus e também sublinham a sua virgindade perpétua. Depois de haver contemplado na Virgem a sua maternidade, examinando as ligações existentes entre ela, a Mãe de Jesus, e as criaturas remidas pelo Filho se descobre na Virgem toda pura a sua potente intercessão junto ao trono de Deus e também a própria Mãe espiritual e a própria Irmã. Assim a invocação à Virgem passa a ser “Mãe e decoro Carmelo”, Maria é a Mãe e o esplendor do Carmelo. 

LEIA, ABAIXO, A MEDITAÇÃO PARA A SOENIDADE DOS SANTOS APÓSTOLOS PEDRO E PAULO.

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