quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

UM RECÉM-NASCIDO, NUMA MANJEDOURA...

Beato Guerrico d’Igny (1080-1157), Abade cisterciense
     “Um menino nasceu para nós” (Is 9,5). E o Deus de majestade, aniquilando-se a si próprio (Fl 2,7) tornou-se semelhante ao corpo terrestre dos mortais, nele se assumindo na frágil e tenra idade das crianças[…]
     Ó santa e doce infância, que restitui ao homem a verdadeira inocência! Por ti todos os homens podem voltar a uma beata infância (Mt 18,3) e ser conformes ao Menino Deus, não pela pequenez dos membros, mas pela humildade do coração e doçura dos hábitos. Que te sirva de exemplo: Deus, sendo o maior, quis tornar-se o mais humilde e menor de todos.
     Para Ele era ainda bem pouco ficar abaixo dos anjos, ao tomar a condição da natureza mortal; teve pois de fazer-se menor que os homens, assumindo a idade e a fragilidade de uma criança. Que o homem pio e humilde a isto preste atenção, e em tal encontre motivo de felicidade. Que o homem ímpio e orgulhoso a isto preste atenção, e com tal se espante. Vejam o Deus infinito feito menino, um pequenino a quem devemos adorar…
     Nesta primeira manifestação aos mortais, Deus prefere mostrar-se com os traços de uma pequena criança, suscitando, nessa aparência, mais amor que temor. E, como vem para salvar e não para julgar, ele demonstra assim o que o amor poderá suscitar, remetendo para depois o que poderá inspirar o temor. Aproximemo-nos, portanto, com toda a confiança do trono da sua graça (Hb 4,16), nós que trememos só de pensar nesse trono de glória!
     Nada de terrível nem de severo há aqui a temer. Pelo contrário, tudo é bondade e doçura, que nos inspiram confiança. Não há, em verdade, coisa mais fácil de pacificar que o coração desta criança; Ele te precede nas oferendas de paz e de satisfação e é o primeiro a enviar-te mensageiros de paz para te encorajar à reconciliação, a ti, que és culpado. Basta-te querer, e querer com verdade e de forma perfeita. Ele dar-te-á não apenas o perdão, mas cumular-te-á de graça. Mais ainda: certo de não ser ganho pequeno ter encontrado a ovelha perdida, celebrará uma festa com os seus anjos (Lc 15,7).

TOMOU O QUE É NOSSO; DEU-NOS O QUE É DELE

1. Exultemos de alegria neste dia de nossa salvação, enquanto uma nova aliança nos faz participar da condição daquele a quem foi dito por Deus Pai: “Tu és meu Filho, eu hoje te gerei! (São Leão I Magno)

2. Deus onipotente e eterno, que consagraste este dia pela Encarnação de teu Verbo e pelo parto da bem-aventurada Virgem Maria, concede aos que, resgatados por tua graça, celebram com alegria esta Solenidade, serem para ti, filhos adotivos. (Do Sacramentário Gelasiano).

3. O Cristo comunicou-nos sua majestade tomando sobre si nossa fraqueza. Ele se fez mortal conosco a fim de nos infundir sua vida e não morrêssemos mais. (Santo Efrém)

4. As duas coisas que projetaste tornaram-se nossas por teu nascimento: Tu te revestiste de nosso corpo servil e nós nos revestimos de tua força oculta. Nosso corpo tornou-se teu vestuário. Bendito seja Aquele que se adornou e nos adornou! (Santo Efrém)

5. Tu, que te tornaste semelhante a um vil organismo de barro, Cristo, tu que, por tua participação a uma carne culpada, lhe comunicaste alguma coisa da natureza divina, nascendo como homem, sendo Deus, tu que ergueste nossa fronte, Senhor, tu és Santo!
Obediente aos decretos de César, tu te fizeste inscrever no número dos escravos, Cristo, e nos libertaste a nós, que éramos escravos do inimigo e do pecado. Tendo-te empobrecido totalmente à nossa imagem, tu divinizaste nosso barro por tua união mesma e tua participação. (Da liturgia bizantina)

6. É verdadeiramente justo e necessário dar-te graças sempre e por toda parte, Senhor, Pai santo, Deus eterno e onipotente, pois teu Filho único, aparecendo revestido de nossa carne mortal, restaurou nossa natureza em nós comunicando o brilho novo de sua imortalidade.
Senhor, cujo Filho único apareceu entre nós revestido de nossa natureza corporal, concede-nos, suplicamos-te, sermos reformados interiormente por Aquele que reconhecemos semelhante a nós exteriormente. (Da liturgia romana)

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