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sábado, 31 de dezembro de 2011

SOLENIDADE DA THEOTOKOS (MÃE DE DEUS )
      “Não se pode aceitar um Deus encarnado sem aceitar Maria que lhe deu a carne humana” (Dom Murilo S. R. Krieger, bispo e escritor mariano).
     A Maternidade Divina de Maria é a base e o princípio fundamental da teologia marial. Está na origem dos demais dogmas marianos. Todas as graças, privilégios e títulos de Maria estão fundamentados nesta verdade mariana. A Maternidade Divina de Maria é a chave explicativa de seu mistério e missão. Mais do que um privilegio pessoal, a Maternidade de Nossa Senhora está a serviço da salvação do povo.
     A Maternidade Divina de Maria tem profundas raízes bíblicas. Os Evangelhos referem-se, várias vezes, a  Nossa Senhora como Mãe de Jesus. Com o título de “Mãe”, a Virgem Santíssima é designada 25 vezes no Novo Testamento. De maneira concisa, São Paulo afirma que Jesus Cristo, aquele que foi enviado do Pai, é filho de Maria (Gl 4,4). A fundamentação bíblica encontra-se em todos os evangelistas (Lc 1,35.39-44.56; Mc 6,3; Mt 1,18-25; Jo 6,42).
      Os estudiosos estimam que o título Mãe de Deus (THEOTÓKOS) apareceu pela primeira vez, na   literatura cristã, nos escritos de Orígenes de Alexandria († 250).
     Maria é verdadeiramente a Mãe de Deus encarnado em Jesus Cristo. A definição como MATER DEI (em latim) ou THEOTOKOS (em grego) foi afirmado por diversos Padres da Igreja nos três primeiros séculos, como S. Inácio (107), S. Atanásio (330) e S. João Crisóstomo (400).
     A visão contrária, defendida pelo patriarca de Constantinopla Nestório era que Maria devia ser chamada de Christotokos, que significa "Mãe de Cristo", para restringir o seu papel como mãe apenas da natureza humana de Cristo e não da sua natureza divina.
     Nestório afirmava duas naturezas de Cristo muito unidas, mas constituindo duas pessoas. Por isso, manifestava que Maria é a Mãe do homem Jesus, mas não a Mãe de Deus. Conseqüentemente, Deus tinha habitado num homem, mas não se tinha feito Homem. Não existiu verdadeira encarnação. Com isso, a própria redenção do homem caiu por terra. Essa heresia nestoriana causou grave escândalo no meio do povo e do clero, provocando divisões e paixões dentro da Igreja.
     Os adversários de Nestório, liderados por S. Cirilo de Alexandria, consideravam isto inaceitável, pois Nestório estava destruindo a união perfeita e inseparável da natureza divina e humana em Jesus Cristo, uma vez que em Cristo "O Verbo se fez carne" (João 1,14), ou seja o Verbo (que é Deus - João 1,1) é a carne; e a carne é o Verbo, Maria foi a mãe da carne de Cristo e conseqüentemente do Verbo.
    S. Cirilo escreveu que "Surpreende-me que há alguns que duvidam que a Virgem santa deve ser chamada  ou não de Theotokos. Pois, se nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, e a Virgem santa deu-o à luz, ela não se tornou a Theotokos?"
      Nestório não admitiu qualquer retificação de suas idéias. O Imperador convocou então um Çoncílio, que   inaugurou suas sessões em Éfeso; presidiu-o São Cirilo, Bispo de Constantinopla, como Legado do Papa Celestino.
     O objetivo do Concílio era afirmar a unidade da Pessoa de Cristo. Reconhecer Maria como Mãe de Deus (Theotókos) significa, na verdade, professar que Cristo, Filho da Virgem Santíssima segundo a geração humana, é Filho de Deus. Maria é Mãe de Jesus Cristo, o Filho de Deus que se encarnou. Maria não é, porém, a mãe apenas da carne humana, mas de toda a realidade de seu Filho, que tinha uma só Pessoa. Daí dizer que Maria é Mãe de Deus, não enquanto Deus sem mais, mas enquanto Deus feito homem. Portanto, “THEOTÓKOS” significa, teologicamente, não genitora da divindade, mas geradora do Verbo encarnado.
     Os 200 Bispos presentes no Concílio proclamaram que “a Pessoa de Cristo é una e divina e que a Santíssima Virgem tem que ser reconhecida e venerada por todos como realmente Mãe de Deus”. A doutrina de Nestório foi considerada uma falsificação da Encarnação de Cristo, e por conseqüência, da salvação da humanidade, sendo considerada uma heresia.
     Aos 22 de junho de 431, o Concilio de Éfeso definiu explicitamente a Maternidade Divina de Nossa Senhora. Assim, o Concílio se expressou: “Que seja excomungado quem não professar que Emanuel é verdadeiramente Deus e, portanto, que a Virgem Maria é verdadeiramente Mãe de Deus, pois deu à luz segundo a carne aquele que é o Verbo de Deus”.
 E os Padres do Concílio, segundo narra a Tradição, para perpétua memória, acrescentaram à Ave Maria     esta cláusula: “SANTA MARIA, MÃE DE DEUS, ROGAI POR NÓS, PECADORES, AGORA E NA HORA DE NOSSA MORTE”. Oração que, desde então, recitam todos os dias milhões de almas para reconhecer em Maria a glória de Mãe de Deus, que um herege quis lhe arrebatar.

Dos Sermões de São Guerrico, abade (Séc. XII)
      Maria, Mãe de Cristo e Mãe dos cristãos Maria deu à luz um Filho único. Assim como ele é Filho único de seu Pai nos céus, é também Filho único de sua mãe na terra. Ora, essa única Virgem Mãe, que possui a glória de ter dado à luz o Filho único de Deus Pai, abraça este mesmo Filho em todos os seus membros. Não se envergonha de ser chamada mãe de todos aqueles nos quais vê a Cristo já formado ou em formação.
     A antiga Eva, que deixou aos filhos a sentença de morte ainda antes de verem a luz do dia, foi mais madrasta do que mãe. Chamam-na mãe de todos os viventes; mas verifica-se, com mais verdade, que ela foi a origem da morte para os que vivem, a mãe dos que morrem, pois o seu ato de gerar não foi outra coisa senão propagar a morte. E já que Eva não correspondeu fielmente ao significado do seu nome, Maria realizou este mistério.
     Como a Igreja, da qual é figura, Maria é a Mãe de todos os que renascem para a vida. Ela é verdadeiramente a mãe da Vida pela qual todos vivem; ao gerar a Vida, de certo modo ela regenerou todos os que hão de viver por ela.
     A santa mãe de Cristo, que se reconhece mãe dos cristãos em virtude desse mistério, mostra-se também sua mãe pelo cuidado e amor que tem por eles. Não é insensível para com os filhos, como se não fossem seus; suas entranhas, fecundada suma só vez mas nunca estéreis, jamais se cansam de dar à luz frutos de piedade.
     Se o Apóstolo, servo de Cristo, uma e outra vez dá à luz filhos pelos seus cuidados e ardente piedade, até Cristo ser formado neles (cf. Gl 4,19), quanto mais a própria mãe de Cristo! E Paulo, de fato, os gerou, pregando-lhes a palavra da verdade pela qual foram regenerados; Maria, porém, gerou-os de modo muito mais divino e santo, ao dar à luz a própria Palavra. Louvo realmente em São Paulo o ministério da pregação; porém admiro e venero muito mais em Maria o mistério da geração.
     Observa, agora, se os filhos também não parecem reconhecer a sua mãe. Impelidos como que por um certo natural afeto de piedade, recorrem imediatamente à invocação do seu nome em todas as necessidades e perigos, como crianças no colo da mãe.
     Por isso, julgo, não sem motivo, que é destes filhos que o Profeta fala quando faz esta promessa: Os teus filhos habitarão em ti (cf. Sl 101,29). Ressalve-se, no entanto, a interpretação que atribui principalmente à Igreja esta profecia.
     Agora vivemos, na verdade, sob o amparo da mãe do Altíssimo, habitamos sob a sua proteção e como que à sombra de suas asas. Mais tarde, seremos acalentados no seu regaço com a participação na sua glória. Então ressoará, numa só voz, a aclamação dos filhos que se alegram e se congratulam com sua mãe: Todos juntos a cantar nos alegramos, pois em ti está a nossa morada(cf. Sl 86,7), santa Mãe de Deus!

FELIZ 2012

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

FAMÍLIA DE NAZARÉ: MODELO PARA AS FAMÍLIAS CRISTÃS DO NOSSO TEMPO?
     Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas - “Ao chegarem os dias da purificação, segundo a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, para O apresentarem ao Senhor. Cumpridas todas as prescrições da Lei do Senhor, voltaram para a Galileia, para a sua cidade de Nazaré. Entretanto, o Menino crescia e tornava-se robusto, enchendo-se de sabedoria. E a graça de Deus estava com Ele”.
     “Cumpridas todas as prescrições da Lei do Senhor...”. Maria e José são fiéis aos costumes da sua religião, por isso levam Jesus ao Templo, oito dias após o nascimento, para ser circuncidado e oferecerem por Ele o sacrifício que manda a lei por ser o primogênito. Realiza-se igualmente o rito da purificação da mãe. A circuncisão era o rito pelo qual o varão se incorporava no povo da aliança, evidenciando a sua pertença ao povo das promessas. No entanto, a intenção do evangelista Lucas é exprimir, por meio das palavras de Simeão e de Ana, o caráter da obra salvadora que Jesus realizará e a maneira como n’Ele se cumprem todos os anúncios dos profetas.
     Da mesma forma que José e Maria vão ao Templo para que se realize o projeto salvador de Deus, o nosso culto deve ser animado não pela norma e o preceito, mas pelo compromisso na construção do reino de Deus. A festa de hoje é também uma motivação para que os pais não neguem aos seus filhos a educação nos valores da fé e sejam responsáveis com eles para que, com o seu exemplo, os filhos aprendam a educar retamente as futuras gerações de cristãos.
     Creio que a pergunta é mais do que legítima, apesar de já conhecer a resposta: o modelo da família de Nazaré pode ser proposto à família de hoje, tantos séculos e tantas mudanças depois?
     Nós sabemos e acreditamos que sim. Apesar de a distância parecer enorme e de a evolução da família parecer levar para outros horizontes, vale a pena escutar o que nos diz a Palavra de Deus encarnada numa família. A família de Nazaré é muito mais do que um quadro idílico e piedoso para pendurar na parede.
     A Família de Nazaré é um desafio para nós. Vejamos como:
     Jesus é apresentado no Templo. E dois personagens – Simeão e Ana –, velhos na idade mas jovens na esperança e na certeza da fidelidade de Deus às suas promessas, desvelam o sentido e o destino misterioso daquele Menino. Neste gesto de apresentação, Maria e José mostram como um filho é uma realidade sagrada que não pode ser profanada, mas um mistério que tem de ser acolhido e respeitado.
     E mostram também como um filho não é para ‘uso dos pais’, nem pode servir para alimentar as suas ambições ou vaidades. O espetáculo mais deprimente é ver como tantos adultos tratam as crianças como bonecos ou manequins, sujeitando-os aos seus próprios caprichos ou desejos frustrados. Quantos pais se esforçam por ajudar o filho a descobrir a sua vocação, o seu lugar e tarefa no mundo?
     Na leitura do evangelho, que nos diz como o Menino ‘crescia, se tornava robusto e se enchia de sabedoria’, também percebemos como um filho cresce e se faz forte não apenas engolindo alimento ou praticando desporto ou outra atividade. Um filho cresce verdadeiramente se é alimentado e robustecido com uma ‘alimentação’ à base de valores, ideais, exemplos.
     Um Filho deve receber, na família, lições de vida e de compromisso. Deve aprender a sabedoria, que o faça descobrir o sentido da sua vida, que está muito para além da carreira, do êxito, dos negócios, dos estudos… Um filho – mas já sei que falo de coisas ‘estranhas’ – devia ser educado para ser capaz de passar do ‘aquilo que tenho direito a ter’ para ‘aquilo que tenho o dever de dar aos outros’.
     Só a título de exemplo, para acabar: quantos pais se preocupam mais e são mais fiéis à natação ou balé ou desporto dos filhos do que à Eucaristia ou à catequese? Afinal, para nós, família cristã, o que é que é mais essencial? Por onde vão as nossas opções?
     Afinal, talvez a família de Nazaré, sem saudosismos inconseqüentes, possa deixar-nos algumas intuições fundamentais.
     Senhor, obrigado por santificares a família e o seu amor.
     Abençoa,Senhor as nossas famílias.
     À semelhança da Família de Nazaré, ajuda-nos, pais, a querer ser os primeiros educadores dos nossos filhos.
     Ajuda-nos, filhos, a dar valor aos nossos pais.
     Ajuda-nos, casal, a ser tolerantes, compreensivos e testemunhas do amor de Cristo.
     Ajuda-nos, família, a ser espaço construtor da Paz.
     Ajuda-nos, Senhor, a imitar o modelo da Sagrada Família, modelo na virtude,na humildade, na procura constante da Palavra de Deus, utilizando-a como construtora do nosso dia a dia.

Da Constituição Pastoral Gaudium et spes sobre a Igreja no mundo de hoje, do Concílio Vaticano II
Santidade do matrimônio e da família

     O homem e a mulher, que pelo pacto conjugal já não são dois, mas uma só carne (Mt 19,6), prestam-se mutuamente serviço e auxílio, experimentam e realizam cada dia mais plenamente o senso de sua unidade pela união íntima das pessoas e das atividades. Essa união íntima, doação recíproca de duas pessoas, bem como o bem dos filhos exigem a perfeita fidelidade dos cônjuges e sua indissolúvel unidade.O autêntico amor conjugal é assumido no amor divino. É guiado e enriquecido pelo poder redentor de Cristo e pela ação salvífica da Igreja, para que os esposos sejam conduzidos eficazmente a Deus e ajudados e confortados na sublime missão de pai e mãe. Por isso os esposos cristãos são robustecidos – e como que consagrados – por um sacramento especial para os deveres e dignidades de seu encargo.Exercendo o dever conjugal e familiar em virtude desse sacramento, imbuídos do Espírito de Cristo, que lhes impregna toda a vida com a fé, a esperança e a caridade, aproximam-secada vez mais da própria perfeição e mútua santificação e,assim unidos, contribuem para a glorificação de Deus.Em consequência, tendo à frente os próprios pais com o exemplo e a oração familiar, os filhos e todos os que convivem no círculo da família encontrarão mais facilmente o caminho de humanidade, salvação e santidade. Mas os cônjuges, providos com a dignidade e o dever da paternidade e maternidade, cumprirão diligentemente o ofício da educação,sobretudo religiosa, que, em primeiro lugar, complete a eles.Como membros vivos da família, a seu modo colaboram os filhos para a santificação dos pais. Retribuirão, com efeito, os benefícios dos pais de alma agradecida, com piedade e confiança e os assistirão nas adversidades e na solidão da velhice como convém a filhos. Seja honrada por todos a viuvez, assumida com fortaleza de ânimo em continuidade coma vocação conjugal. Assim a família comunicará generosamente suas riquezas espirituais também às outras famílias. E a família cristã patenteará a todos a presença vivado Salvador no mundo e a autêntica natureza da Igreja pelo amor dos cônjuges, pela fecundidade generosa, pela unidade e fidelidade, e pela amável cooperação de todos os membros, porque se origina do matrimônio, imagem e participação no pacto de amor entre Cristo e a Igreja.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

SOLENIDADE DA SAGRADA FAMÍLIA DE
JESUS, MARIA E JOSÉ

CATEQUESE DE BENTO XVI (28.12.2011)
     Queridos irmãos e irmãs,
     No clima natalício que nos envolve, convido-vos a reflectir sobre a oração na vida da Sagrada Família de Nazaré, tomando por modelo Jesus, Maria e José. Como toda a família judia, os pais de Jesus – tinha ele quarenta dias - sobem ao templo para consagrar a Deus o filho primogênito. Maria ouve lá, do velho Simeão, palavras que lhe anunciam glórias e tribulações. Ela «guardava todas estas coisas no seu coração». Esta capacidade de Maria era contagiosa, sendo o seu primeiro beneficiário José. De fato ele, com Maria e sobretudo depois com Jesus, aprende a relacionar-se de modo novo com Deus, colaborando no seu projeto de salvação. Como era tradição, José presidia à oração doméstica no dia a dia: de manhã, à noite e nas refeições. Assim Jesus aprendeu a alternar oração e trabalho, e a oferecer a Deus o suor e cansaço para ganhar o pão de cada dia. Se uma criança não aprende a rezar em família, este vazio será difícil de preencher depois. Possam todos descobrir, na escola de Nazaré, a beleza de rezarem juntos como família.


EXAME DE CONSCIÊNCIA
A FAMÍLIA, UM PRESENTE DE DEUS

I. ”Não vos iludais, irmãos: quem trai a família não herdará o Reino de Deus” (Santo Inácio de Antioquia aos Efésios). Pensemos em algumas formas de traição ao amor, pois elas fraturam e, muitas vezes, ferem de morte a comunidade familiar:
1. o individualismo, que supõe um uso da liberdade, pelo qual o sujeito faz o que quer, o que lhe apraz, o que lhe apetece, sem ter em conta os outros;
2. a procura do prazer individual e dos próprios interesses acima dos interesses comuns;
3. a infidelidade, nos pensamentos, nos desejos, nos atos;
4. a intimidade e as expressões do “amor”, orientadas para a satisfação imediata e egoísta dos próprios desejos, assumidas como divertimento, fazendo da outra pessoa objeto de consumo imediato e descomprometido;
5. a mentira, a falta de respeito à palavra dada e a ausência de diálogo;
6. a incapacidade para se dar totalmente;
7. a facilidade na ameaça e na concretização do divórcio.

II. O compromisso matrimonial supõe, por outro lado, um compromisso com a vida. Tudo aquilo que nega a vocação da família a ser “santuário da vida” atenta contra a verdade e a integridade da própria família. Pensemos em algumas formas de traição à Vida:
1. a violência das palavras e dos gestos;
2. o desprezo pela dignidade dos idosos, dos doentes, das pessoas portadoras de deficiência;
3. a recusa de um filho ou de «mais um filho», por mero comodismo ou pela idéia insuportável de este poder ser mais um “peso” na família;
4. o desprezo pela integridade física e moral do corpo, nomeadamente pelo descuido da saúde e do descanso;
5. o aborto provocado, aconselhado, consentido ou praticado;

III. Na família transmitem-se, com a fé, os valores humanos e cristãos da alegria, da coragem, da persistência, do amor ao trabalho, do respeito pelo próximo, da prática da justiça, da solidariedade fraterna, do acolhimento aos outros, do sofrimento e da dor. Pensemos no nosso estilo de vida, contaminado pela mentalidade pagã, e que facilmente trai a nossa dignidade de filhos de Deus:
1. a procura exclusiva do bem-estar material, assente em ilusões e necessidades inúteis e que leva o reinado do «ter» sobre o «ser»;
2. a prioridade ao que efêmero ou passageiro;
3. a prioridade ao que é mais fácil, ao que não exige luta ou sacrifício;
4. a recusa de tudo o que exija esforço, fidelidade, compromisso e sacrifício;
5. a vida vivida ao sabor do imediato e do momento; sem valores duradouros
6. o medo e o adiar das opções definitivas, sem compromissos sérios;
7. o uso imoderado, indiscriminado, acrítico e desacompanhado dos meios de comunicação social;

IV. “Para amar, à maneira de Deus, é necessário viver nele e viver dele. Deus é a primeira «casa» do homem, e somente quem nele habita, arde com o fogo da caridade divina” (Bento XVI). Pensemos em algumas formas de empobrecimento espiritual, que enfraquecem a vivência cristã e a resistência da família aos riscos da cultura atual:
1. o descuido da oração pessoal, conjugal e familiar;
2. a indisponibilidade para a escuta e reflexão da Palavra de Deus;
3. a falta de participação nos sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia;
4. o desrespeito pelo Domingo, como dia da pessoa e da Família: dia do repouso, da alegria, da celebração de aniversários, do convívio, do diálogo entre os esposos e entre pais e filhos, da solidariedade (com os parentes doentes, com os mais idosos, com as famílias em dificuldades, com as famílias imigradas).
5. o desprezo pelo Domingo, como o dia da Igreja, que se reúne à volta da mesa da Eucaristia, para celebrar o dom da Vida de Cristo ao Pai por nós.
6. o desprezo pelo Domingo, como «o dia da Igreja Doméstica» em que são purificados e reforçados os laços do amor e da unidade familiares;
7. o desinteresse pelas atividades pastorais da comunidade: catequese, educação da fé, obras sociais e de caridade.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

UM RECÉM-NASCIDO, NUMA MANJEDOURA...

Beato Guerrico d’Igny (1080-1157), Abade cisterciense
     “Um menino nasceu para nós” (Is 9,5). E o Deus de majestade, aniquilando-se a si próprio (Fl 2,7) tornou-se semelhante ao corpo terrestre dos mortais, nele se assumindo na frágil e tenra idade das crianças[…]
     Ó santa e doce infância, que restitui ao homem a verdadeira inocência! Por ti todos os homens podem voltar a uma beata infância (Mt 18,3) e ser conformes ao Menino Deus, não pela pequenez dos membros, mas pela humildade do coração e doçura dos hábitos. Que te sirva de exemplo: Deus, sendo o maior, quis tornar-se o mais humilde e menor de todos.
     Para Ele era ainda bem pouco ficar abaixo dos anjos, ao tomar a condição da natureza mortal; teve pois de fazer-se menor que os homens, assumindo a idade e a fragilidade de uma criança. Que o homem pio e humilde a isto preste atenção, e em tal encontre motivo de felicidade. Que o homem ímpio e orgulhoso a isto preste atenção, e com tal se espante. Vejam o Deus infinito feito menino, um pequenino a quem devemos adorar…
     Nesta primeira manifestação aos mortais, Deus prefere mostrar-se com os traços de uma pequena criança, suscitando, nessa aparência, mais amor que temor. E, como vem para salvar e não para julgar, ele demonstra assim o que o amor poderá suscitar, remetendo para depois o que poderá inspirar o temor. Aproximemo-nos, portanto, com toda a confiança do trono da sua graça (Hb 4,16), nós que trememos só de pensar nesse trono de glória!
     Nada de terrível nem de severo há aqui a temer. Pelo contrário, tudo é bondade e doçura, que nos inspiram confiança. Não há, em verdade, coisa mais fácil de pacificar que o coração desta criança; Ele te precede nas oferendas de paz e de satisfação e é o primeiro a enviar-te mensageiros de paz para te encorajar à reconciliação, a ti, que és culpado. Basta-te querer, e querer com verdade e de forma perfeita. Ele dar-te-á não apenas o perdão, mas cumular-te-á de graça. Mais ainda: certo de não ser ganho pequeno ter encontrado a ovelha perdida, celebrará uma festa com os seus anjos (Lc 15,7).

TOMOU O QUE É NOSSO; DEU-NOS O QUE É DELE

1. Exultemos de alegria neste dia de nossa salvação, enquanto uma nova aliança nos faz participar da condição daquele a quem foi dito por Deus Pai: “Tu és meu Filho, eu hoje te gerei! (São Leão I Magno)

2. Deus onipotente e eterno, que consagraste este dia pela Encarnação de teu Verbo e pelo parto da bem-aventurada Virgem Maria, concede aos que, resgatados por tua graça, celebram com alegria esta Solenidade, serem para ti, filhos adotivos. (Do Sacramentário Gelasiano).

3. O Cristo comunicou-nos sua majestade tomando sobre si nossa fraqueza. Ele se fez mortal conosco a fim de nos infundir sua vida e não morrêssemos mais. (Santo Efrém)

4. As duas coisas que projetaste tornaram-se nossas por teu nascimento: Tu te revestiste de nosso corpo servil e nós nos revestimos de tua força oculta. Nosso corpo tornou-se teu vestuário. Bendito seja Aquele que se adornou e nos adornou! (Santo Efrém)

5. Tu, que te tornaste semelhante a um vil organismo de barro, Cristo, tu que, por tua participação a uma carne culpada, lhe comunicaste alguma coisa da natureza divina, nascendo como homem, sendo Deus, tu que ergueste nossa fronte, Senhor, tu és Santo!
Obediente aos decretos de César, tu te fizeste inscrever no número dos escravos, Cristo, e nos libertaste a nós, que éramos escravos do inimigo e do pecado. Tendo-te empobrecido totalmente à nossa imagem, tu divinizaste nosso barro por tua união mesma e tua participação. (Da liturgia bizantina)

6. É verdadeiramente justo e necessário dar-te graças sempre e por toda parte, Senhor, Pai santo, Deus eterno e onipotente, pois teu Filho único, aparecendo revestido de nossa carne mortal, restaurou nossa natureza em nós comunicando o brilho novo de sua imortalidade.
Senhor, cujo Filho único apareceu entre nós revestido de nossa natureza corporal, concede-nos, suplicamos-te, sermos reformados interiormente por Aquele que reconhecemos semelhante a nós exteriormente. (Da liturgia romana)

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

ACORRER A BELÉM;
ALIMENTAR-SE COM O SALVADOR...
Santo Elredo de Rieval, Abade cisterciense do século XII:

     Hoje, na cidade de Davi, nasceu para nós o Salvador do mundo, que é o Cristo Senhor! (cf. Lc 2,11). Esta cidade é Belém, para a qual devemos acorrer, como os pastores fizeram ao ouvir esta notícia. Por isso, costumais cantar (no hino da Virgem Maria): “Cantaram glória a Deus, acorreram a Belém”. E isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido, envolto em faixas e deitado numa manjedoura (Lc 2,12).
     Eis porque vos disse que deveis amá-lo. Temei o Senhor dos anjos, mas amai o pequenino; temei o Senhor de majestade, mas amai o que está envolto em faixas; temei o que reina no céu, mas amai o que está deitado na manjedoura. Mas que sinal receberam os pastores? Encontrareis um recém-nascido, envolto em faixas e deitado numa manjedoura. Ele que é o Salvador, ele que é o Senhor. Mas que há de especial no fato de estar envolto em faixas e deitado numa manjedoura? Não são também as outras crianças envolvidas em faixas? Então, que tipo de sinal é este? Na verdade é um grande sinal, se o soubermos compreender. E havemos de compreender, se não nos limitarmos a ouvir esta mensagem de amor, mas também tivermos no coração a luz que brilhou com os anjos. Foi assim que um deles apareceu com luz, quando anunciou pela primeira vez esta notícia, para sabermos que só os que têm a luz espiritual no coração é que ouvem a verdade.
     Muito se pode dizer deste sinal; mas, porque a hora vai adiantada, falarei pouco e brevemente. Belém, a “casa do pão”, é a santa Igreja, na qual se serve o Corpo de Cristo, o pão verdadeiro. A manjedoura de Belém é o altar da Igreja, onde as ovelhas de Cristo se alimentam. Desta mesa está escrito: Diante de mim preparas uma mesa (Sl 22/23,5). Nesta manjedoura, Jesus está envolto em panos, e o invólucro de panos pode ser comparado aos véus do sacramento. Nesta manjedoura, sob as espécies do pão e do vinho, está o verdadeiro corpo e sangue de Cristo. Cremos que ali está o próprio Cristo, mas envolto em panos, isto é, oculto no sacramento. Não temos sinal maior e mais evidente do nascimento de Cristo do que o seu corpo e sangue que recebemos todos os dias no santo altar; daquele que, nascido da Virgem por nós uma vez, vemos por nós se imolar diariamente.
     Portanto, irmãos, corramos à manjedoura do Senhor. Mas antes, preparemo-nos o melhor possível por sua graça para esse encontro, e associados aos anjos, de coração puro, consciência reta e fé sincera (cf. 2Cor 6,6), cantemos ao Senhor em toda a nossa vida e conduta: Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados! (Lc 2,14). Por nosso Senhor Jesus Cristo, a quem sejam dadas honra e glória, pelos séculos dos séculos. Amém.
NOSSO PRESENTE AO RECÉM-NASCIDO...
Ó Cristo,
que podemos oferecer-vos como dom
por vos terdes manifestado sobre a terra
na nossa humanidade?
Com efeito, cada uma das vossas criaturas
exprime a sua ação de graças,
e a vós traz:
os Anjos, o seu cântico,
o céu, uma estrela,
os Magos, os seus dons,
os Pastores, a admiração,
a terra, uma gruta,
o deserto, uma manjedoura...
e nós, uma Virgem Mãe!
(Liturgia bizantina)

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

DIVINDADE DE JESUS CRISTO, FUNDAMENTO DA VIDA ESPIRITUAL
     A íntima convicção de que Jesus Verbo encarnado é verdadeiramente Deus constitui o primeiro fundamento de toda a nossa vida sobrenatural. Se tivermos compreendido esta verdade e se a pusermos em prática, a nossa vida interior será luminosa e fértil.
     Toda a revelação está contida no testemunho que Deus nos dá de que Jesus Cristo é seu Filho, e toda a fé está contida na aceitação desse testemunho.
     Se crermos, com efeito, na divindade de Cristo, ao mesmo tempo cremos em toda a revelação do Velho Testamento, que tem a sua realização em Cristo; cremos em toda a revelação do Novo Testamento, pois tudo o que os apóstolos e a Igreja nos ensinam não é senão o desenvolvimento da revelação de Cristo.
     Aquele, pois, que aceita a divindade de Cristo abrange de uma só vez o conjunto de toda a Revelação. Jesus é o Verbo encarnado: o Verbo diz tudo o que Deus é, tudo o que Ele conhece: tal Verbo se encarna e revela Deus aos homens. E quando pela fé recebemos a Cristo, recebemos toda a Revelação.
     A convicção profunda de que Cristo é Deus e de que Ele nos foi dado contém em si toda a nossa vida espiritual, e a nossa santidade decorre dessa íntima convicção como de sua fonte. A fé faz-nos penetrar através do véu da humanidade, que esconde a nossos olhos a divindade de Cristo; é ela que nos faz proclamar que Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, igual a seu Pai e ao Espírito Santo em majestade, potência, sabedoria, amor, e nos joga num ato de intensa adoração e de abandono às vontades daquele que, sendo homem, permanece o que é: o Todo-Poderoso e a infinita perfeição.
(Beato Columba Marmion, Paroles de Vie en Marge du Missel, les èditions de Maredsous, 1959, p. 242)

A IGREJA CONTEMPLANDO O MISTÉRIO

1. Se o Verbo que existia no princípio não tivesse sido gerado segundo a carne, não teríamos podido nós também nascer à vida divina. Ele nasceu a fim de que nós renascêssemos! (Santo Agostinho)

2. Pai não gerado, concede-nos receber a graça da adoção Daquele que, desde toda eternidade, tu geras inefavelmente. Concede-nos tornarmo-nos teus filhos de adoção, nós, que por nosso próprio mérito, éramos apenas indignos servos! (Liturgia moçarábica)

3. Participa-se da origem espiritual de Cristo, rebento bendito e isento do vício da nossa raça, quando se é regenerado. Para todo homem que renasce para a vida a água do batismo é como o seio virginal, e o mesmo Espírito que fecundou a Virgem fecunda a pia batismal.
Sua concepção santa evitou-lhe o pecado; a mística ablução no-lo tira! (São Leão I Magno)

4. Hoje o Cristo saiu do seio da Virgem para salvar o mundo. Do mesmo modo, para sua própria salvação, o gênero humano é dado hoje à luz com Cristo, saindo novo e recriado pelos Sacramentos místicos e espirituais, do seio de Maria, isto é, das entranhas da Igreja. (De uma autor africano do IV século)

5. Permite-me, Senhor, falar de ti com fé!
    Deus Admirável, tu és admirável e a maravilha que tu és sobrepuja toda compreensão!
    Na profecia, tu foste chamado Admirável. Tu és admirável e prodigioso e tudo o que em ti é prodigioso é admirável!
    Tua concepção é admirável, teu nascimento é admirável, tu és todo admirável!
    Tu és admirável, tu és incompreensível! A ti a glória! (Da liturgia siro-ocidental)

6. Celebramos com nossos louvores a alegria de teu nascimento muito puro, que é ao mesmo tempo aquele em que foste gerado pelo Pai antes que existissem as montanhas, e aquele em que hoje, na plenitude dos tempos, tu nasceste de um seio virginal. (Da liturgia moçarábica).

7. O Verbo só pode ser visto com o coração, ao passo que a carne pode ser vista também com os olhos corporais. Éramos capazes de ver a carne, mas não éramos capazes de ver o Verbo. Por isso, o Verbo se fez carne que nós podemos ver, para curar em nós o que nos torna capazes de vê-lo! (Santo Agostinho)

8. A Vida se manifestou na carne, para que, nesta manifestação, aquilo que só o coração podia ver, fosse visto também com os olhos, e desta forma curasse os corações. (Santo Agostinho)

9. “Deus se fez homem a fim de que o homem se torne Deus” [Irineu de Lyon]

10. “O Verbo e Filho de Deus que se uniu à carne, torna-se carne, homem perfeito, a fim de que os homens se unissem num só Espírito. Ele é então Deus que porta a carne e nós, os homens, aqueles que portam o Espírito” [Atanásio de Alexandria].

domingo, 25 de dezembro de 2011

SEMANA DO NATAL 2011
POR QUE O FILHO DE DEUS SE FEZ FILHO DO HOMEM?
Fr. Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia
     Vamos diretos ao cume do prólogo de João, que constitui o Evangelho da terceira Missa de Natal, chamada «do dia». No Credo há uma frase que este dia se recita de joelhos: «Por nós os homens e por nossa salvação desceu do céu». É a resposta fundamental e perenemente válida à pergunta: «Por que o Verbo se fez carne?», mas precisa ser compreendida e integrada. A questão de fato reaparece sob outra forma: E por que se fez homem «por nossa salvação»? Só porque havíamos pecado e precisávamos ser salvos? Um filão da teologia, inaugurado pelo beato Duns Escoto, teólogo franciscano, desliga a encarnação de um vínculo demasiado exclusivo com o pecado do homem e a designa, como motivo primário, à glória de Deus: «Deus decreta a encarnação do Filho para ter alguém, fora de si, que o ame de maneira suma e digna de si».
     Esta resposta, mesmo que belíssima, não é ainda definitiva. Para a Bíblia o mais importante não é, como para os filósofos gregos, que Deus seja amado, mas que Deus «ama» e ama primeiro (1Jo 4,10.19). Deus quis a encarnação do Filho não tanto para ter alguém fora da Trindade que o amasse de forma digna de si, mas para ter alguém a quem amar de maneira digna de si, isto é, sem medida!
     No Natal, quando chega Jesus Menino, Deus Pai tem alguém a quem amar com medida infinita porque Jesus é homem e Deus por sua vez. Mas não só a Jesus, mas também a nós junto a Ele. Nós estamos inclusive neste amor, tendo-nos convertido em membros do corpo de Cristo, «filhos no Filho». Recorda-nos o próprio prólogo de João: «Mas a todos que o receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus».
     Cristo, portanto, desceu do céu «por nossa salvação», mas o que o impulsionou a descer do céu por nossa salvação foi o amor, nada mais que o amor. Natal é a prova suprema da «filantropia» de Deus, como a chama a Escritura (Tt 3,4), ou seja, literalmente, de seu amor pelos homens. Esta resposta ao por que da encarnação estava escrita com clareza na Escritura, pelo mesmo evangelista que fez o prólogo: «Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu filho único, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha vida eterna» (Jo 3,16).
     Qual deve ser então nossa resposta à mensagem de Natal? O canto natalino Adeste fideles diz: «Tanto amou-nos! Quem não há de amá-lo?». Podem-se fazer muitas coisas para celebrar o Natal, mas o mais verdadeiro e profundo nos é sugerido por estas palavras. Um pensamento sincero de gratidão, de comoção e de amor por quem veio habitar entre nós, é o dom mais maravilhoso que podemos levar ao Menino Jesus, o adorno mais belo em meio a seu presépio.
     Para ser sincero, também o amor precisa ser traduzido em gestos concretos. O mais simples e universal – quando é limpo e inocente – o beijo. Demos portanto um beijo em Jesus, como se deseja fazer com todas as crianças recém-nascidas. Mas não nos contentemos em dá-lo só à imagem de gesso ou de porcelana; demos a um Jesus Menino de carne e osso. Demos a um pobre, a alguém que sofre, e o teremos dado nEle! Dar um beijo, neste sentido, significa dar uma ajuda concreta, mas também uma boa palavra, alento, uma visita, um sorriso, e às vezes, por que não, um beijo de verdade. São as luzes mais belas que podemos acender em nosso presépio.

sábado, 24 de dezembro de 2011

FELIZ E SANTO NATAL PARA TODOS!
Anúncio do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo
Muitos séculos depois da criação do mundo,
quando no princípio Deus tinha criado o céu e a terra
e tinha feito o Homem à sua imagem;
E muitos séculos depois do dilúvio,
quando o Altíssimo tinha feito resplandecer o arco-íris, sinal da Aliança e da Paz;
Vinte e um séculos depois da partida de Abraão, nosso pai na fé, de Ur dos Caldeus;
Treze séculos depois da saída de Israel do Egito, conduzida por Moisés;
Cerca de mil anos depois da unção de David como rei de Israel;
Na sexagésima quinta semana, segundo a profecia de Daniel;
Na época da centésima nonagésima quarta Olimpíada;
No ano setecentos e cinquenta e dois da fundação da cidade de Roma;
No quadragésimo segundo ano do Império de César Otavio Augusto;
Quando em todo o mundo reinava a paz,
Jesus Cristo,
Deus Eterno e Filho do Eterno Pai, querendo santificar o mundo com a sua vinda,
foi concebido por obra do Espírito Santo
e tendo transcorrido nove meses,
nasce em Belém da Judeia da Virgem Maria, feito homem:
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Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo
segundo a natureza humana.

ENCONTRAREIS UM SINAL
O sinal de Deus é a simplicidade.
O sinal de Deus é o menino.
O sinal de Deus é que Ele faz-se pequeno por nós.
Este é o seu modo de reinar.
Ele não vem com poder e grandiosidades externas.
Ele vem como menino - inerme e necessitado da nossa ajuda.
Não nos quer dominar com a força.
Tira-nos o medo da sua grandeza.
Ele pede o nosso amor: por isto faz-se menino.
Nada mais quer de nós senão o nosso amor, mediante o qual aprendemos espontaneamente a entrar nos seus sentimentos, no seu pensamento e na sua vontade - aprendemos a viver com Ele e a praticar com Ele a humildade da renúncia que faz parte da essência do amor.
Deus fez-se pequeno a fim de que nós pudéssemos compreendê-lo, acolhê-lo, amá-lo.
(Bento XVI, dezembro, 2006)

«A GLÓRIA DO SENHOR REFULGIU EM VOLTA DELES»
São Bernardo (1091-1153), abade cisterciense do séc. XII, doutor da Igreja
5º Sermão para a Vigília de Natal
     Antes de surgir a verdadeira luz, antes do nascimento de Cristo, a noite envolvia o mundo por completo; a noite reinava também em cada um de nós, antes da nossa conversão e regeneração interior. Não era aquela a mais profunda das noites, e aquelas as trevas mais espessas à face da terra, naquele tempo em que nossos pais honravam falsos deuses? [...] E não houve depois em nós uma outra noite tenebrosa, nesse período em que sem Deus vivíamos neste mundo, apenas guiados pelas nossas paixões e por atrações mundanas, fazendo coisas que hoje nos fazem corar, por serem também obras das trevas? [...]
     Mas agora saístes do vosso sono, santificastes-vos, tornastes-vos filhos da luz, filhos do dia, e já não sois das trevas nem da noite (1 Ts 5,5) [...] «Amanhã vereis a majestade de Deus em vós.» Hoje, por nós, o Filho fez-Se justiça vinda de Deus; amanhã, manifestar-Se-á como vida nossa, para que nos pareçamos com Ele na glória. Hoje nasceu-nos um menino, para nos impedir de viver na vã glória, e para que, ao convertermo-nos, sejamos humildes como crianças (Mt 18,3).
     Amanhã Ele mostrar-Se-á na sua grandeza para nos incitar ao louvor e para que possamos também ser glorificados e louvados, quando a cada um Deus conceder a sua glória [...] «Seremos semelhantes a Ele, porque O veremos tal como Ele é» (1 Jo 3,2).
     Hoje, com efeito, não O vemos em Si mesmo, mas como num espelho (1 Co 13,12); hoje Ele recebe aquilo que, dependendo de nós, lhe damos. Mas amanhã vê-Lo-emos em nós, quando nos der o que depende d'Ele, quando Se mostrar tal como é em Si mesmo, e nos tomar para nos elevar até Si.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

9º DIA DA NOVENA DO NATAL
A FELICIDADE - 24 de dezembro
ORAÇÃO:
Ó Jesus vivendo em Maria
vinde viver em vosso servo
com o espírito de vossa santidade
com a plenitude de vossas forças
na retidão de vossos caminhos
na verdade de vossas virtudes
na comunhão de vossos mistérios
para dominar as forças adversas
com o vosso Espírito, para a glória do Pai. Amém

MEDITANDO COM BENTO XVI – «“À sede de sentido e de valores que hoje se percebe no mundo; à busca de bem-estar e de paz que marca a vida de toda a humanidade; às expectativas dos pobres, responde Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, com a sua Natividade. Que as pessoas e as nações não temam reconhecê-Lo e acolhê-Lo”». (mensagem Urbi et Orbi: de Roma ao mundo; 25.12.2007).
     – «Tem ainda valor e sentido um “Salvador” para o homem do terceiro milênio? Como não perceber que, precisamente do fundo desta humanidade prazenteira e desesperada, surge um dilacerador pedido de ajuda? (...) É precisamente em sua intimidade, no que a Bíblia chama o “coração”, em que sempre precisa ser salvado. E, na época atual pós-moderna, necessita possivelmente ainda mais de um Salvador, porque a sociedade em que vive se tornou mais complexa e se tornaram mais insidiosas as ameaças para sua integridade pessoal e moral. Quem pode defendê-lo a não ser Aquele que o ama até sacrificar na cruz a seu Filho unigênito como Salvador do mundo?» (25.12.2006).
     – «Desperta, ó homem! Por ti, Deus Se fez homem» (Santo Agostinho, Sermões, 185). Desperta, ó homem do terceiro milênio! No Natal, o Onipotente faz-Se menino e pede ajuda e proteção; o seu modo de ser Deus põe em crise o nosso modo de ser homens; o seu bater às nossas portas interpela-nos, interpela a nossa liberdade e pede-nos para rever a nossa relação com a vida e o nosso modo de a conceber.» (mensagem Urbi et Orbi: a Roma e ao mundo; 25.12.2005).

ANTÍFONA - O Verbo divino,
gerado pelo Pai antes de todos os tempos,
aniquilou-Se a Si próprio,
fazendo-Se homem por nosso amor.

ORAÇÃO - Apressai-Vos, Senhor Jesus, e não tardeis: dai conforto e esperança àqueles que acreditam no vosso amor. Vós que sois Deus com o Pai na unidade do Espírito Santo.

"Deitado numa manjedoura"
Beato João XXIII (1881-1963), papa
Diário da Alma
     Amanhã deve ser dia de grande recolhimento e de grande fervor. Jesus está próximo, está mesmo a sair do seio materno. Já faz ouvir a sua voz cheia de amor: “Eis que eu venho!” (Ap 16,15) E eu devo preparar-me com uma atenção especial para a sua vinda, porque dela espero benefícios imensos. Tenho grandes coisas a comunicar-lhe e Ele tem enormes e incontáveis presentes para me oferecer. Amanhã, o meu espírito e o meu coração devem ficar calmos durante todo o dia, diante do tabernáculo, transformado nestes dias em estábulo de Belém.
     “Vem, bom Jesus, vem e não tardes!”…
     A noite vai avançada, as estrelas cintilam no frio do céu. Chegam aos meus ouvidos as vozes barulhentas e os gritos da cidade. São os que gozam este mundo, os que festejam com excessos a pobreza do Salvador. E eu velo, pensando no mistério de Belém. Vem, Senhor Jesus, estou à tua espera.
     Maria e José, rejeitados pelos habitantes e sentindo que o momento se aproxima, partem para o campo à procura de um abrigo. Eu sou apenas um pobre pastor, só tenho um pobre estábulo, uma pequena manjedoura e um pouco de palha, Ofereço-vos tudo, tende a bondade de aceitar esta pobre cabana. Apressa-te, Jesus, eis o meu coração para ti. A minha alma é pobre e vazia de virtudes, a palha das minhas muitas imperfeições picar-te-á; mas que queres tu, Senhor? É tudo o que possuo. A tua pobreza comove-me, enternece-me, arranca-me lágrimas. Mas não vejo nada melhor para te oferecer. Jesus, enfeita a minha alma com a tua presença, com as tuas graças, queima a palha e transforma-a em lençol para o teu Corpo santíssimo…
     Jesus, eu te espero… Eles deixam-te gelar; vem para o meu coração. Sou apenas um pobrezinho mas aquecer-te-ei como puder; pelo menos, quero que te alegres com o desejo que tenho de te amar muito.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

8º DIA DA NOVENA DO NATAL
O TEMPO - 23 de dezembro
ORAÇÃO:
Ó Jesus vivendo em Maria
vinde viver em vosso servo
com o espírito de vossa santidade
com a plenitude de vossas forças
na retidão de vossos caminhos
na verdade de vossas virtudes
na comunhão de vossos mistérios
para dominar as forças adversas
com o vosso Espírito, para a glória do Pai. Amém

MEDITANDO COM BENTO XVI – «Quem está preparado para abrir-Lhe a porta do coração? Homens e mulheres deste nosso tempo, Cristo vem trazer a luz também a nós, vem dar-nos a paz também a nós! Mas quem vigia, na noite da dúvida e da incerteza, com o coração desperto e em oração? Quem espera a aurora do novo dia, mantendo acesa a chamazinha da fé? Quem tem tempo para escutar a sua palavra e deixar-se envolver pelo fascínio do seu amor? » (25.12.2007).

ANTÍFONA - Ò Emanuel, nosso rei e legislador,
esperança e salvação dos povos:
vinde salvar-nos, ò Senhor nosso Deus

ORAÇÃO - Deus eterno e onipotente: ao aproximar-se o nascimento de vosso Filho em nossa carne mortal, fazei-nos sentir a abundância da vossa misericórdia, que O fez encarnar no seio da Virgem Santa Maria e habitar entre nós. Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

POR QUE O VERBO SE FEZ CARNE
OS MOTIVOS DA ENCARNAÇÃO (3)

REVELAR DEUS AOS HOMENS (Jo 1,18).
     Para confirmação da nossa fé. Nossa fé foi muito mais confirmada pelas verdades transmitidas por Cristo. Muitos mistérios da fé, que antes estavam velados, nos foram revelados após o advento de Cristo. Em Jesus os homens puderam ver a Deus.
     Deus é espírito. Nós não podemos vê-Lo, ouvi-Lo nem senti-Lo, com os nossos sentidos naturais.
     Então, como podemos conhecê-Lo? Como pode o homem, fraco e pecador, entender o Deus Todo-poderoso,perfeito e invisível? Como pode Deus revelar-Se a nós? Jesus é a resposta.- Jesus revela Deus, a nós, através da Sua personalidade humana. Como é Deus? Qual é a Sua aparência? Só o podemos saber olhando para Jesus, o Seu Filho: “... quem me vê a mim vê o Pai...” (João 14:9); “Deus nunca foi visto por alguém; o Filho unigénito, que está no seio do Pai, esse o fez conhecer” (João 1:18); “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda criação” (Colossenses 1:15).

AUMENTAR O DESEJO DE NOS APROXIMARMOS DE CRISTO.
     Sendo Cristo nosso irmão, devemos desejar estar com Ele e nos unirmos a Ele. Prover um exemplo de vida: “Porque para isso fostes chamados, porquanto também Cristo padeceu por vós, deixando-vos exemplo, para que sigais os seus passos” (1Pd 2,21). O Cristão deve apoiar-se no exemplo de Cristo. Cristo modelo de todo homem. “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração”. (Mt 11,29).

DESTRUIR AS OBRAS DO DIABO:
     “Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo.” (1Jo 3:8); "Que tens tu conosco, Jesus de Nazaré? Vieste perder-nos? Sei quem és: o Santo de Deus" (Mc.1:24); "Se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios, então o Reino de Deus já chegou a vós" (Mt 12,28).

SER SOBREMANEIRA EXALTADO: (Fl2,9).
     Cristo conquistou a soberania sobre todos os povos e coisas. Ele se despojou da divindade e viveu como homem. Não perdeu a divindade, mas viveu como Homem-Deus. “Viveu em tudo a condição humana, menos o pecado” (Hb 4,15). “Sendo ele de condição divina, não se prevaleceu de sua igualdade com Deus, mas aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e assemelhando-se aos homens...Por isso Deus o exaltou soberanamente e lhe outorgou o nome que está acima de todo nome...” (Fl 2,6-11).

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

7º DIA DA NOVENA DO NATAL
A HUMILDADE - 22 de dezembro
ORAÇÃO:
Ó Jesus vivendo em Maria
vinde viver em vosso servo
com o espírito de vossa santidade
com a plenitude de vossas forças
na retidão de vossos caminhos
na verdade de vossas virtudes
na comunhão de vossos mistérios
para dominar as forças adversas
com o vosso Espírito, para a glória do Pai. Amém

MEDITANDO COM BENTO XVI – «No estábulo de Belém, tocam-se o céu e a terra. O céu veio à terra. (...). «O céu não pertence à geografia do espaço, mas à geografia do coração. E o coração de Deus, na Noite santa, inclinou-Se até ao curral: a humildade de Deus é o céu. E se formos ao encontro desta humildade, então tocamos o céu. Então a própria terra se torna nova. Com a humildade dos pastores, ponhamo-nos a caminho, nesta Noite santa, até junto do Menino no curral! Toquemos a humildade de Deus, o coração de Deus! “Então a sua alegria tocar-nos-á a nós e tornará o mundo mais luminoso». (25.12.2007).
     – «O Natal é o dia santo em que brilha a “grande luz” de Cristo portadora de paz! Certamente, para reconhecê-la, para acolhê-la, é preciso fé, é preciso humildade. A humildade de Maria, que acreditou na palavra do Senhor e foi a primeira que, inclinada sobre a manjedoura, adorou o Fruto do seu ventre; a humildade de José, homem justo, que teve a coragem da fé e preferiu obedecer a Deus mais que preservar a própria reputação; a humildade dos pastores, dos pobres e anônimos pastores, que acolheram o anúncio do mensageiro celeste e à pressa foram à gruta onde encontraram o Menino recém-nascido e, cheios de maravilha, O adoraram louvando a Deus (cf. Lc 2,15-20) ». (mensagem Urbi et Orbi: de Roma ao mundo; 25.12.2007).

ANTÍFONA - Ó Rei das nações
e objeto de seus desejos,
pedra angular
que reunis em vós judeus e gentios:
Vinde e salvai o homem que do limo formastes

ORAÇÃO - Senhor, que, vendo o homem sujeito ao poder da morte, o quisestes resgatar com a vinda de vosso Filho Unigénito, concedei que, celebrando com sincera humildade o mistério da sua Encarnação, mereçamos alcançar os frutos da sua redenção gloriosa. Por Nosso Senhor.

POR QUE O VERBO SE FEZ CARNE? (2)
O MOTIVO DA ENCARNAÇÃO:
SER NOVO MODELO DE SANTIDADE: (Jo 14,6).
     É o caminho, enquanto revela o Pai, nos faz conhecer o caminho para o Pai. É um caminho verdadeiro. Por ele vem a verdade da Revelação. Dá sentido a nossa vida. O Pai ordena: “Ouvi-o”. (Mc 9,7). Ele é o modelo das Bem- Aventuranças e a norma da Nova Lei (Jo 15,12). Reacender em nós o nosso amor com Deus e para o próximo.
     "Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim..." (Mt 11,29). "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai a não ser por mim" (Jo 14,6). Jesus é o modelo e a norma da Nova Lei: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei" (Jo 15,12).
     Nos diz Agostinho: O homem que podia ser visto, não devia ser seguido: Deus, que não podia ser visto, devia ser seguido. Portanto, para que fosse mostrado ao homem, para que fosse visto pelo homem e por ele seguido, Deus se fez homem" (Sermone de Nativitate Domini.)
TORNAR-NOS PARTICIPANTES DA NATUREZA DIVINA:
     Deus não se contentou em nos amar, em nos salvar, em nos dar um modelo, mas desejou nos dar a participação na natureza divina. Sim, isso mesmo! “O Verbo se fez carne para tornar-nos “participantes da natureza divina” (2Pd 1,4).
     “Pela glória e virtude de Jesus temos entrado na posse das maiores e mais preciosas promessas, a fim de tornar-nos participantes da natureza divina”
     “Pois esta é a razão pela qual o Verbo se fez homem, e o Filho de Deus, Filho do homem: é para que o homem, entrando em comunhão com o Verbo e recebendo assim a filiação divina, se torne filho de Deus” (S.Irineu). O crente partilha da vida de Deus por meio de Cristo.
     São Tomás de Aquino disse: “O Filho Unigênito de Deus, querendo-nos participantes de sua divindade, assumiu nossa natureza para que aquele que se fez homem dos homens fizesse deuses” (Opusc. 57 in festo Corp. Chr.1).
     "Pois o Filho de Deus se fez homem para nos fazer Deus. O Filho Unigênito de Deus, querendo-nos participantes de sua divindade, assumiu nossa natureza para que aquele que se fez homem dos homens fizesse deuses."
IMAGENS DO RETIRO DA OTC DE SERGIPE 2011