quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Natal: 6 de janeiro

1ª Leitura (1Jo 5, 5-13):
Caríssimos: Quem é o vencedor do mundo senão aquele que acredita que Jesus é o Filho de Deus? Este é O que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo; não só com a água, mas com a água e o sangue. É o Espírito que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade. São três que dão testemunho: o Espírito, a água e o sangue; e os três estão de acordo. Se aceitamos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior, porque o testemunho de Deus consiste naquele que Ele deu de seu Filho. Quem acredita no Filho de Deus tem em si mesmo este testemunho. Quem não acredita em Deus considera-O mentiroso, porque não acredita no testemunho dado por Deus acerca de seu Filho. E o testemunho é este: Deus deu-nos a vida eterna e esta vida está em seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida, quem não tem o Filho de Deus não tem a vida. Escrevo-vos estas coisas, para saberdes que tendes a vida eterna, vós que acreditais no nome do Filho de Deus.
 
Salmo Responsorial: 147
R. Jerusalém, louva o teu Senhor.
 
Glorifica, Jerusalém, o Senhor, louva, Sião, o teu Deus. Ele reforçou as tuas portas e abençoou os teus filhos.
 
Estabeleceu a paz nas tuas fronteiras e saciou-te com a flor da farinha. Envia à terra a sua palavra, corre veloz a sua mensagem.
 
Revelou a sua palavra a Jacob, suas leis e preceitos a Israel. Não fez assim com nenhum outro povo, a nenhum outro manifestou os seus juízos.
 
Aleluia. Abriram-se os céus e ouviu-se a voz do Pai: «Este é o meu Filho muito amado: escutai-O». Aleluia.
 
Evangelho (Mc 1,6-11): Ele proclamava: «Depois de mim vem aquele que é mais forte do que eu. Eu nem sou digno de, abaixando-me, desatar a correia de suas sandálias. Eu vos batizei com água. Ele vos batizará com o Espírito Santo». Naqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi batizado por João, no rio Jordão. Logo que saiu da água, viu o céu rasgar-se e o Espírito, como pomba, descer sobre ele. E do céu veio uma voz: «Tu és o meu Filho amado; em ti está meu pleno agrado».
 
«Tu és o meu Filho amado; em ti está meu pleno agrado»
 
Rev. D. Josep VALL i Mundó (Barcelona, Espanha)
 
Hoje a Igreja celebra o Batismo do Senhor. Aquele dia, todas as águas do mundo foram purificadas e receberam a força para significar a limpeza do pecado. Ainda que o Batismo que administrava João tinha só um significado de conversão e de reconhecimento do nosso pecado, Jesus quis passar por aí, por solidariedade com todos os homens, como Vanguardista de uma renovada Humanidade. Ele, «que não cometeu pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nos tornemos justiça de Deus» (2Cor 5,21). Jesus instituirá o novo Batismo que nos faz filhos de Deus Nele e nos reconciliará com o Pai: será o Cordeiro de Deus que tirará o pecado do mundo.
 
«Também hoje —escreve são Gregório Nazianzeno— Cristo é iluminado; deixemo-nos penetrar por esta luz divina. Cristo é batizado, baixemos com Ele a água, para subir depois com Ele». Aquele dia, no Jordão viu-se descender o Espírito Santo sobre o Senhor e ouviu-se a voz do Pai: «Tu és o meu Filho amado; em ti está meu pleno agrado» (Mc 1,11). João Paulo II comenta que «ao sair das águas da fonte sagrada, cada cristão torna a escutar a voz que um dia se ouviu perto do rio Jordão: ”Tu és o meu Filho...”; e entende que foi associado ao Filho predileto, chegando a ser filho adotivo».
 
São Cirilo de Jerusalém faz-nos reflexionar sobre este fato sobrenatural, dizendo-nos: «Se tu tens uma piedade sincera, sobre ti descenderá também o Espírito Santo e ouvirás a voz do Pai que vem do alto: Este não era meu filho, mas agora, depois do Batismo, foi feito filho meu». A partir deste momento todos estamos convidados a seguir o mesmo Caminho de Cristo, a conhecer a sua verdade e a viver a sua mesma Vida. Somos eleitos, consagrados e enviados para colaborar na missão apostólica. Somos também filhos amados e prediletos, e o Pai encontrará pleno agrado em cada um de nós.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«O Batismo libertou-nos de todos os males, que são os pecados, mas com a graça de Deus devemos fazer tudo o que é bom» (S. Cesáreo de Arles)
 
«Vocês, pais, trazeis a criança, rapaz ou rapariga para ser batizada. Esta é a cadeia da fé: é vosso dever transmitir a fé a estas crianças. É a mais bela herança que lhes deixarareis. Levai, hoje para casa, este pensamento» (Francisco)
 
«Embora próprio de cada um, o pecado original não tem, em qualquer descendente de Adão, carácter de falta pessoal. É a privação da santidade e justiça originais, mas a natureza humana não se encontra totalmente corrompida (...). O Batismo, ao conferir a vida da graça de Cristo, apaga o pecado original e reorienta o homem para Deus, mas as consequências para a natureza, enfraquecida e inclinada para o mal, persistem no homem e convidam-no ao combate espiritual» (Catecismo da Igreja Católica, nº 405)
 
“Logo que saiu da água, viu o céu rasgar-se e o Espírito, como pomba, descer sobre ele.”
 
Luísa Amenta, Comunidade Kairòs
 
*
Já no tempo do Advento, por dois domingos consecutivos, tivemos a oportunidade de meditar sobre a parte inicial desta passagem (vv. 1-8) e a releitura joanina da figura do Batista (Jo 1,6,8,19-28). Novamente a liturgia, no final do tempo natalino, convida-nos a refletir sobre uma passagem do texto, na qual já não se presta atenção ao Precursor João, que de fato "desaparece" em seu papel de não "ser digno", passando o testemunho de Jesus, de quem deu testemunho, mas sobre a manifestação de Jesus aos gentios em seu ser o Filho Amado de Deus, em quem o Pai se agrada.
 
* O episódio do Batismo do Jordão marca, assim, por um lado, a realização das "epifanias" de Jesus (aos pastores no Natal, a todos os povos - os Magos - e ao povo de Israel. batismo no Jordão) e, por outro lado, a concretização da pregação do Batista e o advento dos novos tempos que anunciou. O evento- o batismo de Jesus deve ter parecido "escandaloso" para as primeiras comunidades cristãs, tanto que em seu relato os demais Evangelistas enfatizam a resistência de João de batizar Jesus. (Mt 3,14)
 
* No entanto, a centralidade deste episódio na vida de Jesus é sublinhada pelo fato de ser recordado pelos quatro evangelistas, mas também nos Atos dos Apóstolos (10,37-38) e precede e é pré-condicional à experiência de Jesus nas tentações do deserto. É, portanto, o momento fundador da passagem de Jesus da condição de discípulo para a de Rabi, consciente da sua missão, e que marca a sua entrada na vida pública não como protagonista ou com gestos marcantes ou com um discurso programático, mas como homem plenamente solidário e companheiro dos homens pecadores.
 
* No seu caminho, seguindo João ("Vem após mim" [...]), Jesus faz-se amigo e companheiro dos pecadores, pedindo para ser imerso na mesma água que marcava para todos o início de um caminho de conversão, confirmando assim a sua adesão à pregação de João e a necessidade de uma mudança de vida. No caso do seu Batismo, porém - ao contrário do que acontece conosco - não há uma morte para o passado e ao pecado com um renascimento, mas a sua investidura, reconhecimento e consciência do que está a começar a fazer, num caminho que é marcado desde o início, pela kenosis, pelo abaixamento, pela misericórdia para com os homens (Fil 2,6-11): consciente da sua missão, Jesus recebe o Batismo, a sua investidura messiânica, e expressa o seu compromisso com aquela humanidade na qual, pelo seu amor sem medida, pede para ser, por amor sem medida, ser imerso em tudo sem privilégio.
 
* No exato momento em que se eleva das águas, carregado com os pecados da humanidade, os céus, em sinal da rutura definitiva de toda a separação entre Deus e o homem, que entram em plena comunicação e relação na pessoa de Jesus. Deus comunica a Jesus a plenitude da sua vida, o Espírito, que constitui a unção messiânica que permite o cumprimento das Escrituras (Sl 2,7; Gn 22,2; Is 42,1) e a realização da justiça de Deus. O Espírito do Pai torna-se o companheiro do Filho que o guiará na sua vida humana. No Batismo de Jesus realiza-se a unidade da ação trinitária da salvação, uma vez que o Pai atua através do Filho conferindo-lhe todo o poder do Espírito. Precisamente em virtude desta comunhão com o Pai, através do Espírito, Ele pode levar a boa nova aos pobres (Is 61,1; Lc 4,18), aos homens, que por Ele, no Batismo, poderão sentir-se filhos amados pelo Pai.

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