sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Epifania do Senhor

S. Raimundo de Peñafort, presbítero
Bta. Lindalva Justo de Oliveira, virgem e mártir
 

1ª Leitura (Is 60,1-6): Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor. Vê como a noite cobre a terra e a escuridão os povos. Mas, sobre ti levanta-Se o Senhor e a sua glória te ilumina. As nações caminharão à tua luz e os reis ao esplendor da tua aurora. Olha ao redor e vê: todos se reúnem e vêm ao teu encontro; os teus filhos vão chegar de longe e as tuas filhas são trazidas nos braços. Quando o vires ficarás radiante, palpitará e dilatar-se-á o teu coração, pois a ti afluirão os tesouros do mar, a ti virão ter as riquezas das nações. Invadir-te-á uma multidão de camelos, de dromedários de Madiã e Efá. Virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando as glórias do Senhor.
 
Salmo Responsorial: 71
R. Virão adorar-Vos, Senhor, todos os povos da terra.
 
Ó Deus, concedei ao rei o poder de julgar e a vossa justiça ao filho do rei. Ele governará o vosso povo com justiça e os vossos pobres com equidade.
 
Florescerá a justiça nos seus dias e uma grande paz até ao fim dos tempos. Ele dominará de um ao outro mar, do grande rio até aos confins da terra.
 
Os reis de Társis e das ilhas virão com presentes, os reis da Arábia e de Sabá trarão suas ofertas. Prostrar-se-ão diante dele todos os reis, todos os povos o hão de servir.
 
Socorrerá o pobre que pede auxílio e o miserável que não tem amparo. Terá compaixão dos fracos e dos pobres e defenderá a vida dos oprimidos.
 
2ª Leitura (Ef 3,2-3a.5-6): Irmãos: Certamente já ouvistes falar da graça que Deus me confiou a vosso favor: por uma revelação, foi-me dado a conhecer o mistério de Cristo. Nas gerações passadas, ele não foi dado a conhecer aos filhos dos homens como agora foi revelado pelo Espírito Santo aos seus santos apóstolos e profetas: os gentios recebem a mesma herança que os judeus, pertencem ao mesmo corpo e participam da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho.
 
Aleluia. Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorar o Senhor. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 2,1-12): Depois que Jesus nasceu na cidade de Belém da Judéia, na época do rei Herodes, alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, perguntando: «Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo». Ao saber disso, o rei Herodes ficou alarmado, assim como toda a cidade de Jerusalém. Ele reuniu todos os sumos sacerdotes e os escribas do povo, para perguntar-lhes onde o Cristo deveria nascer. Responderam: «Em Belém da Judéia, pois assim escreveu o profeta: «E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um príncipe que será o pastor do meu povo, Israel». Então Herodes chamou, em segredo, os magos e procurou saber deles a data exata em que a estrela tinha aparecido. Depois, enviou-os a Belém, dizendo: «Ide e procurai obter informações exatas sobre o menino. E, quando o encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo». Depois que ouviram o rei, partiram. E a estrela que tinham visto no Oriente ia à frente deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino. Ao observarem a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande. Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra. Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, passando por outro caminho.
 
«Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele e o adoraram»
 
Rev. D. Joaquim VILLANUEVA i Poll (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o profeta Isaías anima-nos: «De pé! Deixa-te iluminar! Chegou a tua luz! A glória do SENHOR te ilumina» (Is 60,1). Essa luz que viu o profeta é a estrela que voem os Magos em Oriente, junto com outros homens. Os Magos descobrem seu significado. Os demais a contemplam como algo que admiram mas, que não lhes afeta. E, assim, não reagem. Os Magos dão-se conta de que, com ela, Deus envia-lhes uma mensagem importante e que vale a pena deixar a comodidade do seguro e se arriscar a uma viagem incerta: a esperança de encontrar o Rei leva-os a seguir essa estrela, que haviam anunciado os profetas e esperado o povo de Israel durante séculos.
 
Chegam a Jerusalém, a capital dos judeus. Acham que aí saberão lhe dizer o lugar exato onde nasceu seu Rei. Efetivamente, lhe responderam: «Em Belém da Judéia, porque assim está escrito por meio do profeta» (Mt 2,5). A notícia da chegada dos Magos e sua pergunta propaga-se por toda Jerusalém em pouco tempo: Jerusalém era na época uma pequena cidade e, a presença dos Magos com seu séquito foi vista por todos os habitantes, pois «Ao saber disso, o rei Herodes sobressaltou-se e, com ele toda a cidade de Jerusalém» (Mt 2,3), diz o Evangelho.
 
Jesus Cristo cruza-se na vida de muitas pessoas, a quem não interessa. Um pequeno esforço teria mudado suas vidas, teriam encontrado o Rei do Gozo e da Paz. Isso requer a boa vontade de procurar, de nos movimentar, de perguntar sem nos desanimar, como os Magos, de sair de nossa poltronaria, de nossa rotina, de apreciar o imenso valor de encontrar a Cristo. Se não o encontramos, não encontramos nada na vida, pois só Ele é o Salvador: encontrar Jesus é encontrar o Caminho que nos leva a conhecer a Verdade que nos dá a Vida. E, sem Ele, nada de nada vale a pena.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Que todos os povos venham a se incorporar à família dos patriarcas (...). Que todas as nações, na pessoa dos três Magos, adorem ao Autor do universo» (São Leão Magno)
 
«O mistério do Natal se irradia sobre a terra, se espalhando em círculos concêntricos: a Sagrada Família de Nazaré, os pastores de Belém e, finalmente, os Magos, que constituem as primícias dos povos pagãos» (Bento XVI)
 
«A epifania é a manifestação de Jesus como Messias de Israel, Filho de Deus e Salvador do mundo. Juntamente com o batismo de Jesus no Jordão e com as bodas de Caná, ela celebra a adoração de Jesus pelos “magos” vindos do Oriente (Mt 2,1). Nesses “magos”, representantes das religiões pagãs de povos vizinhos, o Evangelho vê as primícias das nações que acolhem a Boa Nova da salvação pela Encarnação (...)» (Catecismo da Igreja Católica, n° 528)
 
“Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”
 
Fr. Pedro Bravo, ocarm
 
* O episódio da adoração dos magos, exclusivo de Mateus, é uma “narrativa da infância de Jesus” (1,18-2,23). Mateus escreve para uma comunidade judeo-cristã, siro-palestiniana da Galileia, apresentando-lhe Jesus, “o Cristo, o Filho de Deus vivo” (16,16), como o novo Moisés (cf. Dt 18,18). Para isso, aplica a Jesus um midrash (“conto” religioso que ilustra uma passagem bíblica) relativo ao nascimento de Moisés. Diz ele que os adivinhos e astrólogos egípcios avisaram o Faraó que uma mulher hebreia trazia no seio o libertador de Israel. Então o Faraó mandou matar os meninos hebreus, afogando-os no Nilo (Ex 1,22-2,10: ExR 1,66d). Mas Moisés foi salvo das águas, para mais tarde libertar Israel do Egito passando através das águas. O mesmo acontece agora: Herodes quer matar Jesus, mas Ele é salvo da morte, para mais tarde poder salvar a todos do poder da morte, passando por ela.
 
* v. 1. Mateus mostra que Jesus nasce em Belém de Judá, a cidade de David (cf. vv. 5-6), no fim do reinado de Herodes I (37-4 a.C.), por volta de 7/6 a.C. Os “magos” (Dn 1,20; 2,10.27; 4,4; 5,11), são, como no referido midrash, astrólogos, sábios adivinhos, vindos “do Oriente”. Ou seja: gentios que exercem uma profissão proibida pela Lei (cf. Lv 12,31; 20,6; Dt 18,14; Mq 3,7). Jesus vem para todos, também para os pecadores (cf. 9,13).
 
* v. 2. Os magos “viram a sua estrela no Oriente”. O verbo “ver” (gr. oraô) indica aqui uma visão sobrenatural (cf. 3,16; 17,3; 28,8.17; Ex 3,3; Nm 24,16), não se referindo a nenhum fenómeno astronómico (como, por exemplo, a tripla conjunção dos planetas Júpiter e Saturno em 7 a.C. ou algo semelhante em 6 a.C.: cf. Mark Kidger, The Star of Bethlehem. An Astronomer’s View. Princeton/NJ: Princeton University Press, 20172; Michael Molnar, The Star of Bethlehem. The Legacy of the Magi. New Brunswick: Rutgers University Press, 20132), mas é um “sinal” (12,38) que lhes foi dado por Deus. Na Antiguidade, era costume associar o nascimento duma pessoa ilustre ao aparecimento duma estrela. A “estrela” surge “no Oriente” (gr. anatolê), palavra que significa também “nascer/subir”. É uma referência à profecia de Balaão, vidente gentio (c. 1200 a.C.), que “viu” uma estrela “subir de Jacob” (Nm 24,17). Esta estrela era, no princípio, David, mas depois passou também a designar o Messias, chamado “Oriente” nos LXX, a tradução grega da Bíblia (Jr 23,5; Zc 3,8; 6,12; cf. Lc 1,78). É o que acontece. Deus fala a cada um na sua própria linguagem cultural: a José, em sonhos (vv. 13.19); aos judeus, nas profecias (v. 6); aos magos, na “visão” duma estrela.
 
* Supondo que o recém-nascido era filho do “rei Herodes”, os magos dirigem-se para Jerusalém, a capital da Judeia, para se “prostrarem” diante dele como rei (Sl 72,11) e “o adorarem” como Deus (Sl 86,9; Zc 14,16s; Is 66,23; Sr 50,17), como era habitual nos povos da Antiguidade.
 
* v. 3. A notícia põe Herodes e Jerusalém em sobressalto. Por quê? Porque Herodes não era judeu, nem descendente de David, mas filho do idumeu Antipater e da nabateia Cipros. Era, pois, um edomita judeu, a quem Roma dera o título de “rei” em 40 a.C. O Sumo Sacerdote também não era legítimo, pois já desde 152 a.C. deixara de ser um descendente de Sadoc, o Sumo-sacerdote do tempo de David (2Sm 15,24-29), passando a ser um Sumo-sacerdote nomeado pelos governantes (1Mc 10,15-21). Devendo o Messias restaurar a realeza davídica (destituída em 587 a.C.), purificar o sacerdócio e instaurar o verdadeiro culto (Ml 3,3s; Zc 6,12s), os usurpadores sentem-se ameaçados.
 
* v. 4. Herodes reúne (gr. synagagô), então, os sumos sacerdotes e escribas para indagar “onde havia de nascer o Cristo”. v. 5. Estes respondem, apelando às Escrituras: “Em Belém da Judeia”, v. 6, como diz Mq 5,1, passagem que Mateus combina com 2Sm 5,2, para dizer que Jesus, “filho de David” (1,8) é o Messias, o Rei-Pastor dado por Deus que devia reinar sobre Judá e Israel (Ez 37,22-27), isto é, sobre todo o Povo de Deus.
 
* v. 7. Herodes arquiteta então uma investigação ardilosa, inquirindo junto dos magos acerca do tempo exato em que lhes tinha aparecido a estrela, v. 8, e pedindo-lhes que fossem até Belém (só a 10 km de Jerusalém) descobrir onde se achava “o Menino” e depois o informassem, para ele ir também lá adorá-lo. De facto, pretende matá-lo (v. 16). Ele fará Herodes Antipas, seu filho, que não se deslocará 16 km para ir de Tiberíades a Cafarnaum ver Jesus (cf. Lc 23,8). O termo “o Menino” (9x neste capítulo) evoca Is 7,14ss; 9,5, designando Jesus como o Messias.
 
* v. 9. Enquanto se guiaram apenas pelo sinal da estrela, os magos não encontraram Jesus, mas agora, iluminados pela Palavra de Deus, já sabem aonde ir e “partem” (Gn 22,6.19) para Belém. E eis que a estrela que tinham visto, reaparece e “avança à sua frente” (26,32; 28,7; Ex 17,5; Js 3,11), levando-os a Jesus, mostrando que é Ele quem rege os astros e não o oposto (Is 40,26; 47,13).
 
* v. 10. Ao vê-la, enchem-se de “enorme alegria” (Is 39,2; Lc 2,10), certos de encontrar o Messias (28,8; Lc 24,52).
 
* v. 11. Entrando “em casa”, veem o Menino com Maria, sua Mãe. A “casa” simboliza a Igreja (9,28; 13,36; 17,25; At 2,2.46; Rm 16,5), e Maria, a comunidade cristã (12,46-50), onde Jesus está presente no meio dos seus (18,20; 28,20). Ao vê-lo, os magos reconhecem o Messias, não na figura de um rei poderoso, mas, pela fé, num bebé, pobre, ignorado pelos seus. E vão mais longe do que os judeus (cf. 21,31): caem por terra e prostram-se (cf. 4,9; 18,26; 2Cr 7,3; 29,30; Jt 6,18; Dn 3,5.15) em adoração a Jesus, como Deus (v. 3). Abrem-se então à partilha e oferecem-lhe as riquezas das suas terras, “ouro, incenso e mirra”: ouro, como a Rei (1Rs 10,2); incenso, usado no culto, como a Deus (Ex 30,34; Lv 2,1s.15s); e mirra, usada no culto (na sagração do Sumo-Sacerdote: Ex 30,23; Sl 45,9; Ct 3,6; Sr 24,15) e nos funerais (Jo 19,39), anunciando assim veladamente a paixão e morte de Jesus como Sumo-sacerdote. Cumprem-se deste modo as profecias que diziam que os gentios adorariam a Deus e obedeceriam ao Messias, pondo ao seu serviço as suas riquezas (cf. Is 49,23; 60,6.9; Jr 6,20; Sl 72,10-15; 86,9; 96,6; Ez 27,22; Zc 14,16).
 
* Uma tradição popular que remonta ao séc. IV, viu nos magos três reis (Sl 72,10s; Is 60,3, tantos como os presentes que são oferecidos), representantes das três grandes civilizações (e, mais tarde, dos três continentes conhecidos), dando-lhes mesmo nomes que indicam a missão que desempenham em nome de todos os gentios: Baltasar (“Deus manifesta o Rei”: Babilónia/Ásia), Gaspar (“o que vai verificar”: Pérsia/ Europa) e Melchior (“o meu Rei é luz”: Arábia/África).
 
* v. 12. A retidão de espírito e pureza de coração dos magos (cf. 5,8), que não suspeitam da malícia de Herodes, permite que Deus os avise “num sonho” (1,20; Gn 20,3.6; 31,24; Nm 12,6) para não retornarem a Herodes. Pela fé em Jesus, os gentios entram no Povo de Deus, que agora já não lhes fala por sinais, mas em sonhos, como aos patriarcas. E regressam “por outro caminho”, pois o encontro com Jesus dá novo rumo à vida.
 
* Mateus introduz aqui os grandes temas da sua obra: o chamamento dos pecadores; o cumprimento das Escrituras em Cristo; a universalidade da salvação pela fé em Cristo; o conhecimento de Deus, único Senhor e Criador de tudo, que tudo rege com o seu poder. Apresenta também as duas atitudes que irão ser tomadas em relação a Jesus: enquanto os grandes deste mundo e o seu povo o rejeitam e procuram dar-lhe a morte, os gentios, os afastados e pecadores, apesar das trevas em que vivem, vão ao seu encontro e acolhem-no com fé, pondo ao seu serviço as riquezas e dons das suas culturas.
 
MEDITAÇÃO… (Que me diz Deus nesta Palavra?)
1. Onde procuro Jesus, onde o encontro e como o reconheço?
2. O meu encontro com Ele mudou a minha vida? Levou-me à oração? Abriu-me à partilha?
3. Estou disposto a segui-lo no seu caminho?

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