sexta-feira, 26 de agosto de 2022

XXII Domingo do Tempo Comum

Santo Agostinho, Bispo

1ª Leitura (Si 3,17-18.20.28-29): Filho, em todas as tuas obras procede com humildade e serás mais estimado do que o homem generoso. Quanto mais importante fores, mais deves humilhar-te e encontrarás graça diante do Senhor. Porque é grande o poder do Senhor e os humildes cantam a sua glória. A desgraça do soberbo não tem cura, porque a árvore da maldade criou nele raízes. O coração do sábio compreende as máximas do sábio e o ouvido atento alegra-se com a sabedoria.

Salmo Responsorial: 67
R. Na vossa bondade, Senhor, preparastes uma casa para o pobre.

Os justos alegram-se na presença de Deus, exultam e transbordam de alegria. Cantai a Deus, entoai um cântico ao seu nome; o seu nome é Senhor: exultai na sua presença.

Pai dos órfãos e defensor das viúvas, é Deus na sua morada santa. Aos abandonados Deus prepara uma casa, conduz os cativos à liberdade.

Derramastes, ó Deus, uma chuva de bênçãos, restaurastes a vossa herança enfraquecida. A vossa grei estabeleceu-se numa terra que a vossa bondade, ó Deus, preparara ao oprimido.

2ª Leitura (Hb 12,18-19.22-24a): Irmãos: Vós não vos aproximastes de uma realidade sensível, como os israelitas no monte Sinai: o fogo ardente, a nuvem escura, as trevas densas ou a tempestade, o som da trombeta e aquela voz tão retumbante que os ouvintes suplicaram que não lhes falasse mais. Vós aproximastes-vos do monte Sião, da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste, de muitos milhares de Anjos em reunião festiva, de uma assembleia de primogénitos inscritos no Céu, de Deus, juiz do universo, dos espíritos dos justos que atingiram a perfeição e de Jesus, mediador da nova aliança.

Aleluia. Tomai o meu jugo sobre vós, diz o Senhor, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração. Aleluia.

Evangelho (Lc 14,1.7-14): Num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. Estes o observavam. Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares. Então contou-lhes uma parábola: «Quando fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante, e o dono da casa, que convidou os dois, venha a te dizer: ‘Cede o lugar a ele’. Então irás cheio de vergonha ocupar o último lugar. Ao contrário, quando fores convidado, vai sentar-te no último lugar. Quando chegar então aquele que te convidou, ele te dirá: ‘Amigo, vem para um lugar melhor! ’ Será uma honra para ti, à vista de todos os convidados. Pois todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado». E disse também a quem o tinha convidado: «Quando ofereceres um almoço ou jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes podem te convidar por sua vez, e isto já será a tua recompensa. Pelo contrário, quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos! Então serás feliz, pois estes não têm como te retribuir! Receberás a recompensa na ressurreição dos justos».

«Os convidados escolhiam os primeiros lugares»

Rev. D. Enric PRAT i Jordana (Sort, Lleida, Espanha)

Hoje, Jesus nos dá uma lição magistral: Não busqueis o primeiro lugar. «Quando fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar» (Lc 14,8). Jesus Cristo sabe que gostamos de situar-nos no primeiro lugar: nos atos públicos, nas reuniões, em casa, na mesa… Ele conhece da nossa tendência a sobrevalorizar-nos por vaidade e, ainda pior, por orgulho mal dissimulado. Estejamos prevenidos com as honras! Já que «o coração fica encadeado aí onde encontra possibilidade de fruição» (São Leão Magno).

Quem nos disse que, não existem colegas com mais méritos ou categoria pessoal? Não se trata, pois, de algo esporádico, mas de uma atitude assumida de nos sentir melhores, mais importantes, com mais méritos, os que sempre temos razão; isso é uma pretensão que supõe uma visão estreita sobre nós e sobre o que nos rodeia. De fato, Jesus convida-nos a praticar uma humildade perfeita, que consiste em não nos julgar nem julgar aos outros e, de conscientizar-nos sobre a nossa insignificância individual respeito ao cosmos e à vida.

Então, o Senhor, propõe que, por precaução, escolhamos o último lugar, porque se bem desconhecemos a realidade íntima dos outros, sabemos que nós somos irrelevantes se comparados com o espetáculo do universo. Por conseguinte, situar-nos no último lugar, é atuar com certeza. Não seja que o Senhor, que nos conhece a todos desde nossa intimidade, deva dizer-nos: «‘Cede o lugar a ele’. ‘Então irás cheio de vergonha ocupar o último lugar´» (Lc 14,9).

Na mesma linha de pensamento, o Mestre convida-nos a colocar-nos com humildade ao lado dos preferidos de Deus: pobres, inválidos, coxos, cegos, e a nos igualar com eles até nos encontrar no meio de aqueles que Deus ama com especial ternura e, a superar toda repugnância e vergonha em compartir a mesa e amizade com eles.

Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Honras a ti, meu Senhor Jesus Cristo que, com todo o teu glorioso corpo ensanguentado, foste condenado à morte da cruz, carregaste sobre os teus ombros o madeiro, foste levado inumanamente ao lugar do suplicio» (Santa Brígida)

«Cristo ocupou o último lugar no mundo —a cruz—, e foi precisamente com essa humildade radical que nos redimiu» (Benedito XVI)

«(...) A inveja nasce do orgulho; o batizado exercitar-se-á a viver na humildade» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.540)

Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado.

Escrito por P. Américo no site DOMUS IESU

Partindo dum fato ou, melhor dizendo, duma constatação real, Jesus exorta os que O ouvem a que não se julguem mais do que realmente são. Mas, como é óbvio, a sua intenção não é reduzir a sua mensagem a propor só critérios de etiqueta ou comportamento social. Ao contrário, o alcance das suas palavras vai muito além das simples normas de etiqueta. Por outras palavras, Jesus faz desse facto real uma espécie de parábola que tem a ver com a forma como nos devemos comportar naquele que é o «banquete do Reino». Nesse sentido, na escala de prioridades que Jesus estabelece para a comunidade cristã, o primeiro deve ser o último, ou seja, aquele que serve. Mais do que em qualquer outro encontro, no banquete do Reino há que agir sem cálculos e jogadas interesseiras. O primeiro lugar atrai sempre as pessoas. Mas, a fazer fé no texto evangélico (e acho que assim deve ser), a honra que conta é a que é atribuída pelo anfitrião do banquete, que é o próprio Deus. Eu diria mais: no que concerne ao Reino, não vale a pena fazer cálculos. Pretender fazer contas com Deus é seguir o caminho menos indicado. Já agora, a este propósito, eu acrescentaria que não nos convém alimentar a preocupação sobre o lugar que devemos ocupar. Ou, por outra, como diz a sabedoria popular, nunca nos esqueçamos que Deus nunca se deixa vencer em generosidade.

A reviravolta dos valores. O tema para hoje foi-nos sugerido já pela liturgia da palavra do domingo passado: os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos. E o texto mais explícito sobre o assunto é mais uma vez o texto evangélico. Parece tudo muito estranho, quando aparece Jesus em cena. A situação é como que mudada por completo, a tal ponto de os primeiros passarem a ser os últimos e os últimos passarem a ser os primeiros. Há aqui uma lógica que não tem nada a ver com a lógica a que chamamos lógica humano. É o que sucede no episódio evangélico de hoje. É sábado e Jesus, participando num jantar oferecido por um fariseu distinto, com as suas palavras e gestos, insinua, aliás, sugere, sem sombra para dúvida, uma viragem profunda na perspectiva do jantar; acena a um outro tipo de banquete, a que, em termos mais recentes, se chama o banquete escatológico do Reino.
Para além de outras atitudes, que não vem para o caso aqui referir, Jesus deixa clara a sua opinião sobre o que devem ser as relações entre as pessoas no mais profundo do ser e, certamente, essas relações não se medem pela superficialidade das coisas. É caso para dizer que as aparências iludem. No fundo, o que Lhe interessa é fazer ver que o banquete de Deus é um dom gratuito aberto a todos e, se se pode falar de privilegiados, os que mais «respeito e dignidade» recebem são o que estão na última fila, os abandonados da terra.
É pena que a proposta do texto do Evangelho tenha saltado a referência a um homem doente de hidropisia. Pois bem, este homem doente que é curado é como que o paradigma do primeiro convidado ao banquete de Deus. Não se pode pretender ocupar o primeiro lugar ou ser honrado em razão da própria dignidade ou importância social. Na óptica do Reino de Deus, a vida alcança-se através do serviço aos outros. A autêntica grandeza é sempre um efeito ou expressão do dom que, oferecido aos outros, se recebe, em câmbio, enriquecido...

A gratuitidade é o auge do serviço.  Sabemos pela experiência da história e pela experiência pessoal que o homem é um ser que estabelece relações com os outros. Não obstante essa seja uma constatação positiva e objetiva, isso não quer dizer que essas relações sejam sempre bem-intencionadas. Com frequência, são finalizadas, digamos assim, para um melhoramento da situação da própria vida. E, para isso, caso convenha, não se faz cerimónia em ocupara os primeiros lugares, quando não se espezinham os outros, para demonstrar a própria importância. Ora bem, Jesus acrescenta que, na festa da vida, a troca não é nunca a lei definitiva: «Dou-te para que tu me dês»; «Convido-te para ser convidado»; «Ajudo-te porque um dia espero vir também a ser ajudado». É o que se vê em todo o momento das relações humanas.
O mundo de Jesus está, ao contrário, «centrado» no amor que oferece gratuitamente: «Convida aquele que não te pode restituir o favor, ajuda o pobre que não te pode pagar, oferece o que tens (e sobretudo o que és) sem pensar em nenhuma recompensa». Quando agirmos assim, possivelmente até teremos a impressão de que estamos a perder qualquer coisa (e aos olhos dos homens podemos parecer uns «doidos»), mas Jesus assegura-nos que é esse o caminho que conduz à vida eterna.

O último lugar: para servir. Esta temática do serviço aos outros é um dos capítulos mais difíceis de pôr em prática em todo o Evangelho. Em termos teóricos, talvez não nos custe assim tanto a entender que o que Jesus quer dizer é mesmo o que Ele diz. Mas, no que à prática diz respeito, as coisas já são bem assim. A compreensão, nesse caso, torna-se problemática, porque temos a tendência a não quer aplicar a nós próprios o que ouvimos e entendemos.
Numa perspectiva de fé, agora que temos conhecimento daquela que foi a experiência e vida do próprio Jesus, podemos até nem ter dificuldade em admitir a verdade do serviço... em teoria. Mas a prática é que o problema. Porque, por mais que nos esforcemos, nestas coisas, somos sempre um pouco como os judeus e como os gregos: consideramos o discurso do último lugar, o discurso do serviço desinteressado aos outros, ou como um escândalo ou então como um absurdo.
Foi o escândalo e o absurdo o que aconteceu com a vida e sobretudo com a morte de Jesus. Através de Jesus Cristo, Deus apresenta-se-nos como um Deus «novo», um Deus cuja sabedoria nos parece impensável e imprevisível. Acrescento, em abono da verdade, que Jesus não é um «homem» que se sujeite a reger-se pelas chamadas boas maneiras. E, naquele seu último jantar (cf. Jo 13,4ss), em vez de fazer como todos, não acata as regras do jogo e denuncia as regras do interesse e da ambição arrivista, contrapondo-lhe como valores a humildade e o amor gratuito. Já alguma vez se viu o chefe da mesa levantar-se, cingir-se com uma toalha e lavar os pés aos comensais (cf. Jo 15,5)?

Jesus é um «tipo» estranho. Sabemos que Jesus é a revelação do Pai. Mas a ideia de que Ele nos dá do Pai é muito «estranha». A cruz é a sua sabedoria e a morte a sua vitória. A sua paixão e morte, em vez de serem o fim de tudo, são o início dum novo Reino. Na cruz inicia-se a constituição do novo povo, cuja característica fundamental é o amor, que se traduz no serviço aos outros, principalmente aos últimos de todos. Quem quer entrar, pois, a fazer parte integrante deste povo tem que aprender um novo tipo de sabedoria. Ou seja, que a segurança não está na prudência e nos cálculos humanos nem na possessão das riquezas ou na força do domínio.
Não é a dominação duns sobre os outros que pode conduzir a humanidade a novos horizontes de fraternidade e igualdade. Só o reconhecimento de que todos os homens são irmãos uns dos outros, porque filhos do mesmo Pai, é que pode levar a humanidade a autênticas realizações para melhor. De alguma forma, bem entendida frase, pode-se dizer que não há ninguém melhor que ninguém...

Humildade igual a verdade. É na linha deste serviço que se situa a primeira leitura do livro de Ben-Sirá, mais conhecido pela tradição pelo título de Eclesiástico. O título porque agora é conhecido deriva do título no original, ou, mais exatamente, veio tomar o lugar do antigo título, pois à letra é pura e simplesmente o nome daquele que se supõe tenha sido o seu autor: um tal Jesus, filho de Sirá).
Segundo o texto de hoje, a atitude humilde daquele que não se julga superior aos outros, mas que se sabe colocar no lugar que lhe compete nas relações sociais, é mais importante do que a munificência e generosidade. O homem consciente dos seus limites pensa, fala e age com coerência e acaba por ganhar a estima e o afeto dos seus semelhantes.
Etimologicamente, humilde deriva do latim «humilis» que, por sua vez, deriva de «humus» (terra). Humilde é, portanto, aquele que não se eleva desmedidamente, mas se move, por assim dizer, com os pés bem assentes na terra. Donde se segue que, mesmo no meio das riquezas e da importância social que alguém possa ter, não pode nunca esquecer a sua condição de criatura «tirada» da terra.
Só a pessoa humilde chega a ter uma ideia aproximada (embora sempre imperfeita) da distância que há entre a sua pequenez e a grandeza de Deus. É por isso que o homem humilde não cai na ideia néscia de ultrapassar as fronteiras que lhe foram fixadas pela sua própria natureza. Em primeiro lugar, não lhe vem à mente sobrepor-se ao próprio Deus. E, em segundo lugar, sabe perfeitamente que, na essência, não é superior seja a que homem for e, por conseguinte, nunca pretenderá ser servido por nenhum semelhante.

Servir e não ser servido. Nesse aspecto, a leitura do Antigo Testamento apresenta muitas semelhanças com o trecho evangélico. Dum ponto de vista pessoal, a novidade de Jesus está no facto de Ele exigir a superação do egoísmo cuja estratégia é levar o homem a considerar-se o centro da vida dos outros.
Quem procura só a sua justiça, o seu interesse e a sua plenitude perde algo como ser humano. Não compreende a verdade de Jesus Cristo que, no alto da cruz, oferece a sua existência pelos outros. Em segundo lugar, na ótica cristã, só quem dá sem fazer cálculos pode atingir a grandeza. O texto evangélico esclarece este ponto fazendo referência à plenitude da ressurreição. Jesus recupera na glória aquilo que «perdera» na morte. De maneira semelhante, os crentes recuperam aquilo que tiverem sabido dar aos outros gratuitamente.
A sociedade vive e organiza-se sobre a competitividade e o lucro. A perspectiva de Jesus Cristo não é precisamente esta. Para nós, que dizemos ter fé, a pergunta é a seguinte: Quem é que terá razão?

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