S.
Maximiliano Maria Kolbe, presbítero e mártir
1ª
Leitura (Jer 38,4-6.8-10): Naqueles dias, os ministros disseram ao rei
de Judá: «Esse Jeremias deve morrer, porque semeia o desânimo entre os
combatentes que ficaram na cidade e também todo o povo com as palavras que diz.
Este homem não procura o bem do povo, mas a sua perdição». O rei Sedecias
respondeu: «Ele está nas vossas mãos; o rei não tem poder para vos contrariar».
Apoderaram-se então de Jeremias e, por meio de cordas, fizeram-no descer à
cisterna do príncipe Melquias, situada no pátio da guarda. Na cisterna não
havia água, mas apenas lodo, e Jeremias atolou-se no lodo. Entretanto,
Ebed-Melec, o etíope, saiu do palácio e falou ao rei: «Ó rei, meu senhor, esses
homens procederam muito maltratando assim o profeta Jeremias: meteram-no na
cisterna, onde vai morrer de fome, pois já não há pão na cidade». Então o rei
ordenou a Ebed-Melec, o etíope: «Leva daqui contigo três homens e retira da
cisterna o profeta Jeremias, antes que ele morra».
R. Senhor, ajudar sem demora.
Esperei no Senhor com toda a confiança e Ele atendeu-me. Ouviu o meu clamor e retirou-me do abismo e do lamaçal, assentou os meus pés na rocha e firmou os meus passos.
Pôs em meus lábios um cântico novo, um hino de louvor ao nosso Deus. Vendo isto, muitos hão de temer e pôr a sua confiança no Senhor.
Eu sou pobre e infeliz: Senhor, cuidai de mim. Sois o meu protetor e libertador: ó meu Deus, não tardeis.
2ª Leitura (Heb 12,1-4): Irmãos: Estando nós rodeados de tão grande número de testemunhas, ponhamos de parte todo o fardo e pecado que nos cerca e corramos com perseverança para o combate que se apresenta diante de nós, fixando os olhos em Jesus, guia da nossa fé e autor da sua perfeição. Renunciando à alegria que tinha ao seu alcance, Ele suportou a cruz, desprezando a sua ignomínia, e está sentado à direita do trono de Deus. Pensai n’Aquele que suportou contra Si tão grande hostilidade da parte dos pecadores, para não vos deixardes abater pelo desânimo. Vós ainda não resististes até ao sangue, na luta contra o pecado.
Aleluia. As minhas ovelhas
escutam a minha voz, diz o Senhor; Eu conheço as minhas ovelhas e elas
seguem-Me. Aleluia.
Evangelho (Lc 12,49-53): Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Eu vim lançar fogo sobre a terra; e como gostaria que ele já se tivesse ateado! Tenho de receber um baptismo, e que angústias as minhas até que ele se realize! Julgais que Eu vim estabelecer a paz na Terra? Não, Eu vo-lo digo, mas antes a divisão. Porque, daqui por diante, estarão cinco divididos numa só casa: três contra dois e dois contra três; vão dividir-se: o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra».
“Vim atear o fogo à terra e é
meu desejo que se ateie.”
Escrito por P. Américo no site
Domus Iesu
* Não vim trazer a paz à
terra, mas sim a divisão. Quando, neste contexto, se fala de guerra e de
paz, parece óbvio que isso não tem nada a ver com a paz e a guerra
convencionais. Claro que a finalidade do evangelista é fazer compreender a
verdadeira missão de Jesus e a necessidade de optar por Ele, mesmo que isso
tenha como consequência o aparecimento de problemas a nível de relacionamento,
nomeadamente com os familiares. Uma das passagens paralelas sugerida pela
Bíblia que consultei é precisamente o de Mateus, que especifica o que acabo de
dizer: «Quem amar o pai ou a mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Quem
amar o filho ou a filha mais do que a mim, não é digno de mim» (Mt 10,37). Ora
bem, diante de Jesus há que tomar uma atitude. E, à semelhança dele, também o
cristão, quando é fiel ao Evangelho, será ocasião de «escândalo» e sinal de
contradição. A aderência ao Evangelho implica a adopção de critérios que
estarão certamente, muitas vezes, em dissonância com os critérios do mundo.
Quando Jesus diz que não veio trazer a paz, significa que não veio trazer a paz
a qualquer preço. Ou seja, a paz que Jesus nos dá não é a paz que o mundo dá
(cf. Jo 14,27). Para alcançar a sua paz, é preciso travar uma guerra constante
contra o mal e contra as trevas e, por vezes, é também preciso travar uma
guerra contra os próprios familiares que se podem recusar a seguir os critérios
propostos por Jesus.
Foi nesse sentido que já os profetas, referindo-se ao Reino, falavam de paz, sossego e alegria nunca vistos; bem-estar no sentido mais profundo do termo, que os judeus traduziam pela palavra shalom. Para eles, era um tempo de harmonia e fraternidade universal ou, para utilizar a expressão de P. Chardin, uma fraternidade cósmica. Todas as barreiras seriam eliminadas e passaria a haver um só povo e um só Deus.
Mas isso não é um fenómeno automático e «descido dos céus». Exige um empenho constante e um compromisso sério na aceitação da maneira de ver de Jesus, sujeitando-se inclusivamente ao insucesso da solidão, da perseguição e, quem sabe, da morte.
Viver como «oposição». O Reino de Deus é, de alguma forma, o contrário da ideologia e mentalidade correntes. Os seus princípios não são identificáveis. É por isso que Jesus adverte os seus discípulos em relação às dificuldades que encontrarão pelo caminho. Não lhes esconde o que os espera, ao contrário das ideologias, que oferecem tudo de graça, quando se sabe que isso não é possível. As promessas (a maior parte das vezes não cumpridas) são o forte das ideologias.
Na perspectiva de Jesus, nem tudo será um «mar de rosas», como se costuma dizer, porque o novo Reino irá dar origem a novas divisões. Por isso, quem acolhe o Reino não tem direito, digamos assim, pelo menos imediata e automaticamente, à paz e ao bem-estar paradisíacos a bom preço, devendo, ao contrário, ultrapassar um processo de guerras, divisão e oposição.
A fé em Cristo, vivida até às últimas consequências, produz inimigos, porque o amor e a igualdade, que se pretendem inaugurar entre os homens, vão contra os interesses e a mentalidade do mundo. O principal ponto de força do cristianismo é o amor. E, como é sabido, não há amor verdadeiro que não tenha a sua componente de sofrimento. Sendo, na prática, uma nova maneira de ver as relações entre os homens, a doutrina de Jesus é necessariamente contestada por todos aqueles que perderiam os seus privilégios no caso de vitória daquele.
Profeta: sinal de contradição. Sendo o profeta aquele que deve falar em nome de Deus e, portanto, aquele que, com frequência, tem que se apresentar como elemento contracorrente, às vezes pela simples razão de que tem que narrar os factos na sua realidade nua e crua, ele é alvo das perseguições e maquinações dos seus contemporâneos, que não veem com bons olhos as suas «insinuações».
Jeremias é talvez o caso típico daquele que tem que viver no seu dia a dia todas essas contradições. No ano de 586, os babilónicos suspenderam o assédio a Jerusalém não pelos bonitos olhos dos judeus, mas levados pela necessidade de juntar forças para ir contra os egípcios numa outra frente. Esta espécie de «volt face» dá aos habitantes da cidade a falsa esperança de que o seu sofrimento está terminado ou prestes a acabar. Ora, Jeremias é um dos únicos, se não mesmo o único, que vê os factos na sua realidade mais global e que continua a anunciar a destruição da capital de Israel, não obstante as objeções de todos e o sofrimento interior que isso causava ao seu próprio carácter pacífico.
Assim, Jeremias paga na própria pele o anúncio da verdade e torna-se homem de discórdia e de contradição. Ele próprio gostaria (por feitio) de dizer coisas bonitas aos homens do seu tempo e concidadãos, mas a vontade de Deus (que escolhe o caminho da liberdade) está acima de tudo. E Jeremias, nesse ponto, não tem dúvidas, embora lhe custe.
O homem prefere confiar na «garantia» da prudência humana, em vez de se abandonar à sabedoria e imprevisibilidade de Deus. E a obrigação do profeta é anunciar precisamente esta liberdade de Deus, que passa por caminhos que não são necessariamente os caminhos dos homens. Também a obrigação do cristão é essa. E, por isso, como os profetas de todos os tempos, tem que estar preparado para pagar com a impopularidade e com a perseguição o preço das suas convicções.
O cristão na condição de
profeta. Aquele que faz a opção por Jesus Cristo e a faz a sério entra, por
isso mesmo, no barulho, como se costuma dizer. Se a sua escolha é uma escolha
séria, representa, por isso mesmo, uma definição de posições, o que o coloca
numa barricada à parte. E é por isso que não deveria haver nenhum cristão
caracterizado pela neutralidade. Ora, isso provoca forçosamente uma reação: ou
é um autêntico irmão universal ou então é um inimigo a abater.
E isso é verdade não só a nível
de sociedade, mas até a nível familiar, porque o cristão é posto constantemente
perante uma opção que provocará, não a paz, mas sim a divisão. Se isso acontece
inclusivamente no âmbito de opções de carácter social e político, como nos é
dado verificar a toda a hora, muito mais no âmbito de opções de carácter
religioso e vivencial.
As ideias é que mudam as coisas. Essa reação por parte dos outros contra o cristão é mais que natural, pois é sobre os valores e o significado das coisas que se joga o bem humano supremo que é a vida em toda a sua globalidade e profundidade. No fundo, o que divide os homens é a diversidade na concepção do mundo e dos grandes problemas que afligem a humanidade: o sentido último da vida, a injustiça, a liberdade, as responsabilidades sociais, a prioridade de valores, etc.
O cristão encontrará a paz com aqueles que pensam como ele, mas experimentará a oposição de todos aqueles que tendem a ver a vida e o mundo numa perspectiva de finitude e materialidade, com exclusão da dimensão espiritual no sentido propriamente dito do termo.
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