sábado, 13 de agosto de 2022

15 de agosto: Assunção de Nossa Senhora

1ª Leitura (Ap 11,19; 12,1.3-6.10): O templo de Deus abriu-se no Céu e a arca da aliança foi vista no seu templo. Apareceu no Céu um sinal grandioso: uma mulher revestida de sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça. Estava para ser mãe e gritava com as dores e ânsias da maternidade. E apareceu no Céu outro sinal: um enorme dragão cor de fogo, com sete cabeças e dez chifres e nas cabeças sete diademas. A cauda arrastava um terço das estrelas do céu e lançou-as sobre a terra. O dragão colocou-se diante da mulher que estava para ser mãe, para lhe devorar o filho, logo que nascesse. Ela teve um filho varão, que há de  reger todas as nações com ceptro de ferro. O filho foi levado para junto de Deus e do seu trono e a mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe tinha preparado um lugar. E ouvi uma voz poderosa que clamava no Céu: «Agora chegou a salvação, o poder e a realeza do nosso Deus e o domínio do seu Ungido».

Salmo Responsorial: 44
R. À vossa direita, Senhor, a Rainha do Céu, ornada do ouro mais fino.

Ao vosso encontro vêm filhas de reis, à vossa direita está a rainha, ornada com ouro de Ofir. Ouve, minha filha, vê e presta atenção, esquece o teu povo e a casa de teu pai.

Da tua beleza se enamora o Rei; Ele é o teu Senhor, presta-Lhe homenagem. Cheias de entusiasmo e alegria, entram no palácio do Rei.

2ª Leitura (1Cor 15,20-27): Irmãos: Cristo ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram. Uma vez que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos; porque, do mesmo modo que em Adão todos morreram, assim também em Cristo serão todos restituídos à vida. Cada qual, porém, na sua ordem: primeiro, Cristo, como primícias; a seguir, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda. Depois será o fim, quando Cristo entregar o reino a Deus seu Pai depois de ter aniquilado toda a soberania, autoridade e poder. É necessário que Ele reine, até que tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés. E o último inimigo a ser aniquilado é a morte, porque Deus tudo colocou debaixo dos seus pés. Mas quando se diz que tudo Lhe está submetido é claro que se exceptua Aquele que Lhe submeteu todas as coisas.

Aleluia. Maria foi elevada ao Céu: alegra-se a multidão dos Anjos. Aleluia.

Evangelho (Lc 1,39-56): Naqueles dias, Maria partiu apressadamente para a região montanhosa, dirigindo-se a uma cidade de Judá. Ela entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança pulou de alegria em seu ventre, e Isabel ficou repleta do Espírito Santo. Com voz forte, ela exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me visitar? Logo que a tua saudação ressoou nos meus ouvidos, o menino pulou de alegria no meu ventre. Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!». Maria então disse: «A minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque ele olhou para a humildade de sua serva. Todas as gerações, de agora em diante, me chamarão feliz, porque o Poderoso fez para mim coisas grandiosas. O seu nome é santo, e sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem. Ele mostrou a força de seu braço: dispersou os que tem planos orgulhosos no coração. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Encheu de bens os famintos, e mandou embora os ricos de mãos vazias. Acolheu Israel, seu servo, lembrando-se de sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e de sua descendência, para sempre». Maria ficou três meses com Isabel. Depois, voltou para sua casa.

«A minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador»

Dom Josep ALEGRE Abade emérito de Santa Mª Poblet (Tarragona, Espanha)

Hoje celebramos a solenidade da Assunção de Santa Maria em corpo e alma aos Céus. «Hoje diz São Bernardo sobe ao Céu a Virgem cheia de glória e enche de gozo os cidadãos celestes». E acrescentará essas preciosas palavras: «Que presente mais maravilhoso nossa terra envia hoje ao Céu! Com esse gesto sublime de amizade que é dar e receber se fundem o humano e o divino, o terreno e o celeste, o humilde e o nobre. O fruto mais escolhido da terra está aí, de onde procedem as melhores dádivas, e as oferendas, de maior valor. Elevadas às alturas, a Virgem Santa esbanjará suas graças aos homens».

A primeira graça é a Palavra, que Ela soube guardar com tanta fidelidade no coração e fazê-la frutificar desde seu profundo silêncio acolhedor. Com esta Palavra em seu espaço interior, gerando a Vida em seu ventre para os homens, «Maria partiu apressadamente para a região montanhosa, dirigindo-se a uma cidade de Judá. Ela entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel» (Lc 1,39-40). A presença de Maria fez a alegria transbordar: «Logo que a tua saudação ressoou nos meus ouvidos, o menino pulou de alegria no meu ventre» (Lc 1,44), exclama Isabel.

Principalmente, nos faz o dom de seu louvor, sua mesma alegria feita canto, seu Magnificat: «A minha alma engrandece o Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador...» (Lc 1,46-47). Que presente mais formoso nos devolve hoje o céu com o canto de Maria, feito Palavra de Deus! Neste canto achamos os indícios para aprender como se fundem o humano e o divino, o terreno e o celeste, e chegar a responder como Ela ao presente que nos faz Deus em seu Filho, através de sua Santa Mãe: para ser um presente de Deus para o mundo e, amanhã, um presente de nossa humanidade a Deus, seguindo o exemplo de Maria, que nos precede nesta glorificação à qual estamos destinados.

Pensamentos para o Evangelho de hoje
«A festa da Assunção de Nossa Senhora nos propõe a realidade dessa alegre esperança. Ainda somos peregrinos, mas Nossa Mãe nos precedeu e já nos indica o fim do caminho: Ela nos repete que é possível chegar e que, se formos fiéis, chegaremos» (São Josemaria)

«Nesta Solenidade da Assunção olhamos para Maria: Ela nos leva à esperança, a um futuro cheio de alegria e nos ensina o caminho para alcançá-lo: acolher o seu Filho na fé; nunca perder a amizade com Ele, mas deixar-se iluminar e guiar pela sua palavra» (Bento XVI)

«Terminado o curso da sua vida terrena, a santíssima Virgem Maria foi elevada em corpo e alma para a glória do céu, onde participa já na glória da ressurreição do seu Filho, antecipando a ressurreição de todos os membros do Seu Corpo» (Catecismo da Igreja Católica, nº 974)

Vós não quisestes que sofresse a corrupção do túmulo Aquela que gerou e deu à luz o Autor da vida, vosso Filho feito homem.

Fernando Armellini – Celebrando a palavra “Festas” – Editora Ave Maria

Se interpretarmos essa narrativa como um trecho de crônica, deveremos perguntar-nos como é que pôde Lucas escrever isso. O gesto de Maria, que vai congratular-se com a prima que recebeu de Deus o suspirado dom da maternidade, é, sem dúvida nenhuma, um belo ato de cortesia, mas trata-se sempre de um episódio marginal, não constitui uma etapa significativa na vida de Jesus e não representa um importante ponto de referência para a nossa fé. Qual foi a razão importante que levou Lucas a inseri-lo no seu evangelho?

Uma segunda observação: algumas particularidades dessa narrativa são um tanto estranhas. Todas as mães falam de movimentos do filho que trazem no ventre, descrevem as diversas maneiras com que ele reage e mostra que percebe as emoções e as sensações da mãe. Não obstante nós nos perguntamos como Isabel fez para estabelecer que o sobressalto de seu filho era provocado pela alegria. Não é fácil nem mesmo explicar a pressa de Maria (v. 39) para ir visitar a prima que estava no sexto mês de gravidez. É costume dizer que correu a ajudá-la, mas então não se entende como voltou para sua casa três meses depois (v. 56), isto exatamente no momento do parto, quando Isabel, provavelmente, teria tido maior necessidade de assistência.

Uma terceira observação – e é a mais importante: Maria e Isabel, em vez de conversarem de forma simples, como acontece entre amigas, dirigem-se, mutuamente, frases tiradas da Bíblia e escolhidas com muito cuidado. Frases que se referem a episódios e a personagens do Antigo Testamento, escolhidas com cuidado e competência impressionantes. Mais que a uma troca de frases entre mulheres do povo, a impressão que temos é que nos encontramos diante de um diálogo entre dois biblistas muito preparados.

Vejam bem: o evangelho não é uma coletânea de informações, escritas para satisfazer a curiosidade do leitor, mas é um texto de catequese. Tem o objetivo de alimentar a fé do discípulo e quer levar a compreender quem é esse Jesus ao qual somos convidados a dar a nossa adesão. Para entender a mensagem é sempre necessário ter presente a linguagem empregada quando o texto foi escrito e prestar muita atenção às referências – umas vezes explícitas, outras vezes um tanto veladas – ao Antigo Testamento.

Depois dessa premissa, procuremos entender o que é que Lucas nos quer ensinar na passagem evangélica de hoje.

1. Comecemos pela anotação, aparentemente banal e supérflua, com que se inicia a narrativa: assim que entrou na casa de Zacarias, Maria “saudou Isabel” (v. 40). Se se tratasse do costumeiro “bom dia”, o evangelista não o teria salientado. Se o coloca em realce, quer dizer que para ele esta saudação é significativa e, de fato, no versículo seguinte recorda-a novamente: “ouvida a saudação” o menino exultou de alegria.

Os judeus daquele tempo, tal qual os judeus de agora, quando se encontram, dirigem-se uma única saudação: “Paz (shalom)”. A paz indica o acúmulo de todos os bens que Deus prometeu ao seu povo. O estabelecimento da “paz” no mundo é o sinal da presença do Messias. O salmista prometeu: “Florescerá em seus dias a justiça e a abundância da paz, até que cesse a lua de brilhar” (SI 71,7). O Messias é chamado pelo profeta Isaías de “Príncipe da paz” (Is 9,5).

Nos lábios de Maria a palavra “paz” é, pois, uma solene proclamação de que chegou ao mundo o esperado Messias e que com ele teve início o reino de Deus anunciado pelos profetas. Como Maria na montanha da Judéia, como os anjos que em Belém cantaram: “E na terra paz aos homens, objetos da benevolência divina” (Lc 2,14), hoje os discípulos de Cristo desejam a todos somente a paz. “Em toda casa que entrardes – recomenda Jesus – dizei primeiro: Paz a esta casa!” (Lucas 10,5). Perguntamo-nos: as nossas comunidades anunciam a paz? O encontro com um cristão comunica serenidade, alegria, paz? Anunciamos a paz só com a palavra ou a construímos com a nossa vida?

2. As palavras que Isabel dirige a Maria: “Bendita és tu entre as mulheres” não são originais. No Antigo Testamento existem duas mulheres que são saudadas do mesmo modo: trata-se de Jael (Jz 5,24) e de Judite (Jt 13,23). O que elas fizeram de extraordinário? Elas chegaram (empresa inaudita para as mulheres) a aniquilar os opressores do seu povo. A Bíblia não recorda essas histórias para aprovar a guerra, mas só para mostrar, com exemplos compreensíveis para a mentalidade do tempo, como Deus costuma realizar feitos maravilhosos servindo-se de instrumentos inadaptados e sem valor aos olhos dos homens. Aplicando a Maria essa mesma frase, Lucas quer afirmar que também ela pertence à categoria dos instrumentos frágeis e pobres com os quais Deus executa as suas maravilhas. Por intermédio de Maria Deus realizou o acontecimento mais extraordinário da história: deu aos homens o seu Filho. Quem são as pessoas que hoje consideramos “benditas”: as que conseguiram enriquecer, as que obtiveram sucesso, as que se tornaram famosas e importantes. E a irmã de caridade velhinha, talvez esquecida por todos, que gastou sua vida cuidando dos leprosos em uma floresta africana, é ou não “bendita entre as mulheres”?

3. Isabel continua: “Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe do meu Senhor?” (v. 43). Também esta frase é copiada do Antigo Testamento. Foi pronunciado por Davi em um momento muito solene, quando se transportou para Jerusalém a arca da aliança na qual se entendia estar presente o Senhor. Ao acolhê-la o rei exclamou: “Como entrará a arca do Senhor em minha casa?” (2Sm 6,9).

Existem também outras particularidades significativas que põem a visita de Maria em paralelo com o episódio da arca da aliança: tanto Maria quanto a arca permanecem “três meses” em uma casa da Judéia. A arca é recebida com danças, gritos de alegria cantos de festas e é motivo de bênçãos para a família que a acho-lhe (2Sm 6,10-11) e Maria, entrando na casa de Zacarias, faz exultar de alegria o pequeno João Batista (que representa todo o povo do Antigo Testamento que aguarda o Messias).

É evidente que Lucas procura apresentar Maria como a nova arca da aliança. Desde que Deus escolheu fazer-se homem, não habita mais em construções de pedra, em um templo, em um lugar sagrado, mas no ventre de uma mulher. O filho de Maria é o próprio Senhor.

Qual pode ser o ensinamento para nós? Levar o Senhor dentro de si não é um privilégio reservado a Maria. Toda a nossa comunidade, cada um de nós é chamado a ser, tal qual Maria, “arca da aliança”, a nós é confiada a tarefa de levar o Senhor aos homens.

4. Existe um sinal evidente que permite verificar se os cristãos de hoje são “arca da aliança”: é a alegria. Onde quer que chegue, Maria provoca uma explosão de alegria – o pequeno Batista exulta de felicidade (v. 41), Isabel proclama a sua alegria por ser visitada pelo Senhor (v. 42), os pobres exultam porque chegou o momento da sua libertação (vv. 46-48).

Procuremos perguntar-nos: a presença dos cristãos nos vários ambientes, no trabalho, nas escolas, nos hospitais, nas festas, nos encontros dos políticos provoca sempre alegria ou é, às vezes, motivo de tristeza? As nossas comunidades comunicam alegria e esperança a todos os habitantes dos povoados e da cidade? Os pobres, aqueles que erraram na vida, quando nos encontram e quando nos escutam se entristecem, têm medo ou exultam?

5. Maria é proclamada “bem-aventurada” porque acreditou no cumprimento das palavras do Senhor (v. 45). Quantas promessas Deus fez pela boca dos profetas! Quando, porém, elas demoraram para realizar-se, os homens duvidaram da fidelidade do Senhor. Preferiram confiar em si mesmos, nos seus raciocínios, nos seus projetos e acabaram por ir ao encontro de insucessos sistemáticos. Maria ao invés é “bem-aventurada” porque confiou em Deus, cultivou a certeza de que, não obstante todas as aparências contrárias, a palavra do Senhor se cumpriria.

“Bem-aventurada és tu que creste”. E essa a primeira bem-aventurança que se encontra no evangelho de Lucas. Maria é bem-aventurada não porque viu, mas porque confiou na palavra de Deus. No evangelho de João esta mesma bem-aventurança encontramo-la no fim. O Ressuscitado a dirige a Tomé: “Felizes os que creem sem ter visto” (Jo 20,29). A fé autêntica – aquela da qual Maria dá prova – não necessita de demonstrações, de verificações, mas funda-se somente sobre a escuta da Palavra e se manifesta na adesão incondicional à própria Palavra.

Não é fácil acreditar especialmente quando nos é pedido que procedamos contra o nosso “bom senso”. E preciso muita coragem para crer que se realizarão as promessas feitas por Deus aos construtores da paz, aos não-violentos, aos que oferecem a outra face, a quem não se vinga, a quem dá a vida por amor. Maria nos ensina que vale a pena confiar nas palavras do Senhor sempre.

6. O trecho evangélico conclui-se com o canto de alegria de Maria: “minha alma glorifica ao Senhor”. Se o lermos com atenção, notaremos por certo que alguns versículos não se ajustam bem nos lábios de Maria. Por exemplo, não é simpático vê-la vangloriar-se da própria “humildade”, ou ouvi-la proclamar: “me proclamarão bem-aventurada todas as gerações”, e também: “realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso” (vv. 48-49). Parece que ela pensa só em si mesma e não faz menção nenhuma ao menino que nascerá dela. De fato, este canto, que é copiado do Antigo Testamento, repete quase ao pé da letra as palavras da mãe de Samuel (1Sm 2,1-11) e versículos de alguns salmos.
 
Os biblistas de nossos dias concordam em entender que o “Magnificat” é um canto composto depois da Ressurreição de Cristo. Originalmente era atribuído à “virgem” Israel (o povo de Israel na língua hebraica é feminino), pobre, humilhada, desprezada por todos os povos vizinhos (ricos e poderosos). Depois da Ressurreição, quando os cristãos entenderam que Jesus era o Messias, certificaram-se de que Deus, fiel ao seu pacto e às suas promessas, magnificara a “virgem” Israel, “virgem” que todos os povos para sempre chamarão de bem-aventurada. Lucas retomou este canto e o pôs nos lábios de Maria. É ela efetivamente a virgem Israel porque é dela que nasceu o Salvador. Neste hino são significativas sete intervenções salvíficas do Senhor em favor do seu povo {explicou, dispersou, arruinou, exaltou, preencheu, despediu, socorreu). Assim ele se mostrou fiel às promessas feitas “aos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre” (vv. 51 -55).
 

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