Salmo
Responsorial: 1
R. Feliz o homem que pôs a sua
esperança no Senhor.
Feliz o homem que não segue o
conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, mas antes se
compraz na lei do Senhor, e nela medita dia e noite.
É como árvore plantada à beira
das águas: dá fruto a seu tempo e sua folhagem não murcha. Tudo quanto fizer
será bem-sucedido.
Bem diferente é a sorte dos
ímpios: são como palha que o vento leva. O Senhor vela pelo caminho dos justos,
mas o caminho dos pecadores leva à perdição.
2ª Leitura (1Cor 15,12.16-20):
Irmãos: Se pregamos que Cristo ressuscitou dos mortos, porque dizem alguns no
meio de vós que não há ressurreição dos mortos? Se os mortos não ressuscitam,
também Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé,
ainda estais nos vossos pecados; e assim, os que morreram em Cristo pereceram
também. Se é só para a vida presente que temos posta em Cristo a nossa
esperança, somos os mais miseráveis de todos os homens. Mas não. Cristo
ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram.
Alegrai-vos e exultai, diz o
Senhor, porque é grande no Céu a vossa recompensa.
Evangelho
(Lc 6,17.20-26): E, descendo com eles, parou num lugar plano, e também
um grande número de seus discípulos, e grande multidão de povo de toda a
Judéia, e de Jerusalém, e da costa marítima de Tiro e de Sidon; os quais tinham
vindo para o ouvir, e serem curados das suas enfermidades. E, levantando ele os
olhos para os seus discípulos, dizia: «Bem-aventurados vós, os pobres, porque
vosso é o reino de Deus. Bem-aventurados vós, que agora tendes fome, porque
sereis fartos. Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque haveis de rir.
Bem-aventurados sereis quando os homens vos odiarem e quando vos separarem, e
vos injuriarem, e rejeitarem o vosso nome como mau, por causa do Filho do
homem. Folgai nesse dia, exultai; porque eis que é grande o vosso galardão no
céu, pois assim faziam os seus pais aos profetas. Mas ai de vós, ricos! porque
já tendes a vossa consolação. - Ai de vós, os que estais fartos, porque tereis
fome. Ai de vós, os que agora rides, porque vos lamentareis e chorareis. Ai de
vós quando todos os homens de vós disserem bem, porque assim faziam seus pais
aos falsos profetas».
«Alegrai-vos nesse dia, exultai»
Rev. D. Enric RIBAS i Baciana (Barcelona,
Espanha)
S. João Paulo II, na encíclica Fides
et Ratio, disse: «A fé move a razão ao sair de seu isolamento e ao apostar, de
bom agrado, por aquilo que é belo, bom e verdadeiro». A experiência cristã em
seus santos nos mostra a verdade do Evangelho e destas palavras do Santo Padre.
Ante um mundo que se satisfaz no vicio e no egoísmo como fonte de felicidade,
Jesus mostra outro caminho: a felicidade do Reino do Deus, que o mundo não pode
entender, e que odeia e rejeita. O cristão, entre as tentações que lhe oferece
a “vida fácil”, sabe que o caminho é o do amor que Cristo nos mostrou na cruz,
o caminho da fidelidade ao Pai. Sabemos que entre as dificuldades não podemos
desanimar-nos. Se procuramos de verdade o Senhor, alegrem-se nesse dia, pulem
de alegria, pois será grande a recompensa de vocês no céu, porque era assim que
os antepassados deles tratavam os profetas (cf. Lc 6,23).
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«A Misericórdia quer que sejas
misericordioso, a Justiça deseja que sejas justo, pois o Criador quer verse
refletido na sua criação, e Deus quer ver reproduzida à sua imagem no espelho
do coração humano» (São Leão Magno)
«O Sermão da montanha está
dirigido a todo o mundo, no presente e no futuro, e só se pode entender e viver
seguindo Jesus, caminhando com Ele» (Bento XVI)
«A bem-aventurança prometida coloca-nos perante as opções morais decisivas. Convida-nos a purificar o nosso coração dos seus maus instintos e a procurar o amor de Deus acima de tudo (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.723)
Felizes quando, por causa de mim,
vos tratarem mal.
A «Lei De Base» dos Cristãos.
Mas, na Bíblia (AT e NT), as coisas são
diferentes. A fórmula clássica da lei
moral no Antigo Testamento começa por propor um modelo que é externo ao próprio
homem. Com efeito, essa fórmula começa assim: «Eu sou o Senhor, teu Deus, que
te fez sair da terra do Egito, da condição de escravidão. Não terás outros
deuses além de Mim» (cf. Ex 20,2-3). Ponto de referência absoluto é, pois,
Deus. Só depois são fixados os preceitos ou regras morais a pôr em prática: não
matar, não roubar, não cometer adultério... E isso traduz-se numa realidade de
fundo que admite as próprias limitações perante o Absoluto. Daí se falar dos
pobres, dos que têm fome, dos que
choram, dos que sofrem; enfim, daqueles que, levados pelas circunstâncias, não
têm outra alternativa senão confiar n'Aquele que é o autor de todas as coisas.
O texto supõe a situação concreta
das pessoas e também o acumular de factos históricos. Só que, na ótica bíblica,
são vistos à luz da fé. Os factos referem-se à libertação do povo da escravidão
e ao seu constituir-se como nação livre. Mas, para isso, ao contrário de todas
as vezes que as pessoas pensam que podem determinar o bem e o mal por si
mesmos, é necessário admitir que o único que pode determinar a distinção entre
o bem e o mal é Deus. Nessa linha, os mandamentos são senão o corolário dessas
premissas.
* O número ou o conteúdo das Bem-aventuranças -
O comportamento, o agir concreto, das pessoas - tanto no AT como no NT - não
pode ser senão a consequência da relação que elas têm com a divindade. E, por
isso, a «abordagem» tem que seguir essa premissa: o ensino e o comportamento
moral estão relacionados com o anúncio dos princípios contidos nos chamados Dez
Mandamentos e no Evangelho. É desse evento histórico, digamos assim, é desse
relacionamento pessoal com Deus (no AT) e por Jesus Cristo (NT) que deriva o
empenho moral. Quanto a isso, não há dúvida que o comportamento daquele que se
rege pela fé é diferente do daquele que não parte desse princípio.
No caso dos evangelistas, há uma
tentativa a pôr por escrito aquilo que lhes parece como que a «constituição do
cristão». É nesse contexto que se insere uma espécie de lista de princípios que
fundamentam o comportamento das pessoas. São as chamadas Bem-aventuranças, que,
em S. Mateus, são oito, e que, em S. Lucas, são apenas quatro. Mas não é tanto
o número que conta, mas sim os valores que elas veiculam. Por isso, no que nos
toca, não basta nós sabermos bem o catecismo e ficarmos todos contentes quando
respondemos que são oito quando os perguntam quantas são as Bem-aventuranças.
Repito: não é isso o que mais importa; senão, se calhar, algo estaria mal com a
versão de Lucas.
«O quadro dos valores, na sua globalidade, é
revolucionado. Cria uma situação nova que não é possível desconhecer. Exige uma
resposta: o sim ou o não; a fé ou a incredulidade. A aceitação comporta uma
vida nova. O evento-Jesus é a grande ocasião oferecida aos homens para
instaurar uma nova espécie de relacionamento com Deus, em que não é possível
desconhecer os grandes empenhos morais, ao mesmo tempo que as possibilidades da
vida são alargadas de maneira ilimitada» (cf. Messale dell'Assamblea
Cristiana).
* As bem-aventuranças como reviravolta de
valores - «As Bem-aventuranças (Evangelho) exprimem a reviravolta radical
dos valores que o evento- Jesus realizou. São o "sinal" do evento.
Com elas, Lucas proclama a realização das promessas messiânicas
(bem-aventurados os pobres: cf. Is 61,1ss; Lc 4,18,19.21; 7.22; 10,21ss; bem-aventurados
os que agora tendes fome: cf. Is 25,6; Lc 22,16,30; bem-aventurados os que
agora chorais: cf. Is 35,10; Lc 2,25)».
«Nestes pobres e nos perseguidos
Lucas vê a Igreja em que vive. Quem diz sim ao evento-Jesus experimenta a
alegria de se sentir amado por Deus e inserido na história da salvação,
participando na sorte dos profetas e de Jesus. Os quatro "ais"
apresentam a sorte oposta de quem diz não, de quem não acredita no Evangelho e,
portanto, não se insere na história salvífica».
«As Bem-aventuranças não são
separáveis da pessoa que as pronunciou. Jesus é o "homem das
Bem-aventuranças". Porque Ele ressuscitou (2ª leitura), é verdade que são
bem-aventurados os pobres e a nossa fé não é vã» (cf. Messale dell'Assamblea
Cristiana).
* Bem-aventuranças: lei ou
evangelho? - «As Bem-aventuranças não são lei, mas evangelho. A lei
"atrela" o homem às próprias forças e incita-o a adequar-se a ela até
ao extremo. O evangelho, ao contrário, põe o homem frente a Deus e incita-o
desse dom inexprimível o fundamento da vida. Numa sociedade de proveito, em que
o dinheiro é o ídolo perante o qual a pessoa humana é sacrificada a todo e
qualquer outro valor, num mundo superindustrializado e superseguro, em que não
há espaço para a autêntica liberdade. Só o "o homem das bem-aventuranças",
o homem livre em relação às coisas, pode fazer com que seja redescoberto o
verdadeiro rosto do homem».
«Jesus louva os pobres que vivem
contemporaneamente em dois mundos, por assim dizer: o mundo presente e o mundo
escatológico. Ao mesmo tempo, ameaça os ricos que se contentam com viver só num
mundo; o mundo que inclui quase exclusiva e inevitavelmente aqueles que levam
uma vida desafogada... O pobre, ao contrário, "possuindo" talvez só a
solidão, vive-a, todavia com a coragem que leva à profundidade do seu ser, lá
onde um novo mundo é intuído e percebido...» (cf. Messale dell'Assamblea
Cristiana).
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