Salmo Responsorial: 88
R. Encontrei a David,
meu servo.
Falastes outrora aos vossos fiéis, numa visão lhes
dissestes: «Impus uma coroa a um herói, exaltei um eleito de entre o meu povo».
«Encontrei a David, meu servo, ungi-o com óleo santo.
Estarei sempre a seu lado e com a minha força o sustentarei».
«Ele Me invocará: ‘Vós sois meu pai, meu Deus, meu
Salvador’. E Eu farei dele o primogénito, o mais alto entre os reis da terra».
Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, ilumine os olhos do nosso
coração, para conhecermos a esperança a que fomos chamados. Aleluia.
Evangelho (Mc 2,23-28): Certo sábado, Jesus estava
passando pelas plantações de trigo, e os discípulos começaram a abrir caminho,
arrancando espigas. Os fariseus disseram então a Jesus: «Olha! Por que eles
fazem no dia de sábado o que não é permitido?» Ele respondeu: «Nunca lestes o
que fez Davi quando passou necessidade e teve fome, e seus companheiros também?
Ele entrou na casa de Deus, no tempo em que Abiatar era sumo sacerdote, comeu
os pães da oferenda, que só os sacerdotes podem comer, e ainda os deu aos seus
companheiros!» E acrescentou: «O sábado foi feito para o homem, e não o homem
para o sábado. Deste modo, o Filho do Homem é Senhor também do sábado».
«O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado.»
Rev. D. Ignasi FABREGAT
i Torrents (Terrassa, Barcelona, Espanha)
A atitude de Abiatar é a mesma que hoje ensina-nos Jesus: os
preceitos da Lei que tem menos importância cedem diante dos maiores; um
preceito cerimonial deve ceder diante um preceito de lei natural; o preceito do
repouso de sábado não está, então, em cima das elementares necessidades de
subsistência. O Concílio Vaticano II, inspirando-se na perícopa que comentamos
e, para recalcar que a pessoa que está por cima das questões econômicas e
sociais, diz: «A ordem social e seu progressivo desenvolvimento devem
subordinar-se em todo momento ao bem da pessoa, porque a ordem das coisas deve
submeter-se à ordem das pessoas e, não ao contrário. O mesmo Senhor o advertiu
quando disse que o sábado tinha sido feito para o homem e, não o homem para o
sábado (cf. Mc 2,24)».
Santo Agostinho disse: «Ama e faz o que queres». O
entendemos bem, o ainda a obsessão por aquilo que é secundário afoga o amor que
há de pôr em tudo o que fazemos? Trabalhar, perdoar, corrigir, ir a missa os
domingos, cuidar os doentes, cumprir os mandamentos..., O fazemos porque
devemos ou por amor de Deus? Tomara que essas considerações ajudem-nos a
vivificar todas nossas obras com o amor que o Senhor pôs nos nossos corações,
precisamente para que possamos lhe amar.
Pensamentos para o
Evangelho de hoje
«Os que viviam segundo a ordem das coisas antigas vieram à
nova esperança, já não observam o sábado, mas o dia do Senhor, no qual a nossa
vida é abençoada por Ele e pela sua morte» (Santo Inácio de Antioquia)
«O repouso do “sábado” procura a nossa participação no
descanso e na paz de Deus. Mas, quando o homem se nega ao “ócio por Deus” (isto
é, à adoração), então entra na escravidão do “negocio”» (Benedito XVI)
«O domingo distingue-se expressamente do sábado, ao qual
sucede cronologicamente, em cada semana, e cuja prescrição ritual substitui,
para os cristãos. O domingo realiza plenamente, na Páscoa de Cristo, a verdade
espiritual do sábado judaico e anuncia o descanso eterno do homem, em Deus»
(Catecismo da Igreja Católica, nº 2.175)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
* No antigo Israel, o clã, isto é, a grande família (a
comunidade), era a base da convivência social. Era a proteção das famílias e
das pessoas, a garantia da posse da terra, o veículo principal da tradição, a
defesa da identidade. Era a maneira concreta do povo daquela época encarnar o
amor de Deus no amor ao próximo. Defender o clã era o mesmo que defender a
Aliança.
* Na Galileia do
tempo de Jesus, por causa do sistema implantado durante os longos governos de
Herodes Magno (37 a.C. a 4 a.C.) e de seu filho Herodes Antipas (4 a.C. a 39
d.C.), o clã (a comunidade) estava enfraquecendo. Os impostos a serem pagos,
tanto ao governo como ao templo, o endividamento crescente, a mentalidade
individualista da ideologia helenista, as frequentes ameaças de repressão
violenta por parte dos romanos, a obrigação de acolher os soldados e dar-lhes
hospedagem, os problemas cada vez maiores de sobrevivência, tudo isto levava as
famílias a se fecharem dentro das suas próprias necessidades. Este fechamento
era reforçado pela religião da época. Por exemplo, quem dedicava sua herança ao
Templo podia deixar seus pais sem ajuda. Isto enfraquecia o quarto mandamento
que era a espinha dorsal do clã (Mc 7,8-13). Além disso, a observância das
normas de pureza era fator de marginalização de muita gente: mulheres,
crianças, samaritanos, estrangeiros, leprosos, possessos, publicanos, doentes,
mutilados, paraplégicos.
* Assim, a
preocupação com os problemas da própria família impedia as pessoas de se unirem
em comunidade. Ora, para que o Reino de Deus pudesse manifestar-se na
convivência comunitária do povo, as pessoas tinham de ultrapassar os limites
estreitos da pequena família e abrir-se, novamente, para a grande família, para
a Comunidade. Jesus deu o exemplo. Quando sua própria família tentou
apoderar-se dele, reagiu e alargou a família: “Quem é minha mãe, quem são meus
irmãos? E ele mesmo deu a resposta apontando para a multidão que estava ao
redor: Eis aqui minha mãe e meus irmãos! Pois todo aquele que faz a vontade de
Deus é meu irmão, minha irmã, minha mãe! (Mc 3,33-35). Criou comunidade.
* Jesus pedia o mesmo
de todos que queriam segui-lo. As famílias não podiam fechar-se. Os
excluídos e os marginalizados deviam ser acolhidos dentro da convivência e,
assim, sentir-se acolhidos por Deus (cf Lc 14,12-14). Este era o caminho para
realizar o objetivo da Lei que dizia: “Entre vocês não pode haver pobres” (Dt
15,4). Como os grandes profetas do passado, Jesus procura reforçar a vida
comunitária nas aldeias da Galileia. Ele retoma o sentido profundo do clã, da
família, da comunidade, como expressão da encarnação do amor de Deus no amor ao
próximo.
Para um confronto
pessoal
1) Viver a fé em
comunidade. Qual o lugar e a influência da comunidade na minha maneira de viver
a fé?
2) Hoje, na
cidade grande, a massificação promove o individualismo que é o contrário da
vida em comunidade. O que estou fazendo para combater este mal?
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