Santo Antão, abade
Salmo Responsorial: 49
R. A quem segue o
caminho certo darei a salvação de Deus.
Não é pelos sacrifícios que Eu te repreendo: os teus
holocaustos estão sempre na minha presença. Não aceito os novilhos da tua casa
nem os cabritos do teu rebanho.
Como falas tanto na minha lei e trazes na boca a minha
aliança, tu que detestas os meus ensinamentos e desprezas as minhas palavras?
Considerai isto, vós que esqueceis a Deus, não aconteça que
vos extermine, sem haver quem vos salve. Honra-Me quem Me oferece um sacrifício
de louvor, a quem segue o caminho certo darei a salvação de Deus.
Aleluia. A palavra de Deus é viva e eficaz, pode discernir os
pensamentos e intenções do coração. Aleluia.
Evangelho (Mc 2,18-22): Os discípulos de João e os
fariseus estavam jejuando. Vieram então perguntar a Jesus: «Por que os
discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuam, e os teus discípulos
não jejuam?» Jesus respondeu: «Acaso os convidados do casamento podem jejuar
enquanto o noivo está com eles? Enquanto o noivo está com eles, os convidados
não podem jejuar. Dias virão em que o noivo lhes será tirado. Então, naquele
dia jejuarão. Ninguém costura remendo de pano novo em roupa velha; senão, o
remendo novo repuxa o pano velho, e o rasgão fica maior ainda. Ninguém põe
vinho novo em odres velhos, senão, o vinho arrebenta os odres, e perdem-se o
vinho e os odres. Mas, vinho novo em odres novos!»
«Acaso os convidados podem jejuar enquanto o noivo está com eles?»
Rev. D. Joaquim VILLANUEVA i Poll (Barcelona, Espanha)
O fato de Jesus não incutir esta prática nos seus discípulos
e naqueles que O escutavam, surpreende os discípulos de João e os fariseus.
Pensam que se trata de uma omissão importante nos Seus ensinamentos. E Jesus
dá-lhes uma razão fundamental: « Podem por acaso os convidados do casamento
jejuar enquanto o noivo está com eles?» (Mc 2,19). Segundo a interpretação dos
profetas de Israel, o esposo é o próprio Deus, e é manifestação do amor de Deus
pelos homens (Israel é a esposa, nem sempre fiel, objeto do amor fiel do
esposo, Yahvéh). Ou seja, Jesus equipara-se a Yahvéh. Declara aqui a sua
divindade: chama aos seus amigos «os amigos do esposo», os que estão com Ele, e
então não precisam de jejuar porque não estão separados dele.
A Igreja permaneceu fiel a este ensinamento que, vindo dos
profetas e sendo até uma prática natural e espontânea em muitas religiões, é
confirmado por Jesus Cristo, que lhe dá um sentido novo: jejua no deserto como
preparação para a Sua vida pública, diz-nos que a oração se fortalece com o
jejum, etc.
Entre aqueles que escutavam o Senhor, a maioria seria
constituída por pobres, que saberiam de remendos em roupas; haveria
vindimadores que saberiam o que acontece quando o vinho novo se deita em odres
velhos. Jesus recorda-lhes que têm de receber a Sua mensagem com espírito novo,
que rompa o conformismo e a rotina das almas envelhecidas, que o que Ele propõe
não é mais uma interpretação da Lei, mas uma vida nova.
Pensamentos para o
Evangelho de hoje
«A devoção deve ser exercida de várias maneiras. Além disso,
a devoção deve ser praticada de maneira adaptada às forças, aos negócios e às
ocupações particulares de cada um» (São Francisco de Sales)
«A Palavra de Deus é viva, é livre. O Evangelho é novidade.
A revelação é novidade. Jesus é muito claro: vinho novo em odres novos. Deus
deve ser recebido com esta abertura à novidade. E esta atitude chama-se
docilidade» (Francisco)
«Para ser autêntico, o sacrifício exterior deve ser
expressão do sacrifício espiritual (…). Os profetas da Antiga Aliança
denunciaram muitas vezes os sacrifícios feitos sem participação interior ou sem
ligação com o amor do próximo. Jesus recorda a palavra do profeta Oseias: ‘Eu
quero misericórdia e não sacrifício’ (Mt 9, 13; 12, 7)» (Catecismo da Igreja
Católica, nº 2.100)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
* Jesus não insiste
na prática do jejum. O jejum é um costume muito antigo, praticado em quase
todas as religiões. O próprio Jesus praticou-o durante quarenta dias (Mt 4,2).
Mas ele não insiste com os discípulos para que façam o mesmo. Deixa a eles a
liberdade. Por isso, os discípulos de João Batista e dos fariseus, que eram
obrigados a jejuar, querem saber por que Jesus não insiste no jejum.
* Enquanto o noivo
está com eles não precisam jejuar. Jesus responde com uma comparação. Enquanto
o noivo está com os amigos do noivo, isto é, durante a festa do casamento,
estes não precisam jejuar. Jesus se considera o noivo. Os discípulos são os
amigos do noivo. Durante o tempo em que ele, Jesus, estiver com os discípulos,
é festa de casamento. Chegará o dia em que o noivo vai ser tirado. Aí, se eles
quiserem, poderão jejuar. Jesus alude à sua morte. Sabe e sente que, se ele
continuar neste caminho de liberdade, as autoridades religiosas vão querer
matá-lo.
* Remendo novo em
roupa velha, vinho novo em barril novo. Estas duas afirmações de Jesus, que
Marcos colocou aqui, esclarecem a atitude crítica de Jesus frente às
autoridades religiosas. Não se coloca remendo de pano novo em roupa velha. Na
hora de lavar, o remendo novo repuxa o vestido velho e o estraga mais ainda.
Ninguém coloca vinho novo em barril velho, porque a fermentação do vinho novo
faz estourar o barril velho. Vinho novo em barril novo! A religião defendida
pelas autoridades religiosas era como roupa velha, como barril velho. Não se
deve querer combinar o novo que Jesus trouxe com os costumes antigos. Nem se
pode querer reduzir a novidade de Jesus ao tamanho do judaísmo. Ou um, ou
outro! O vinho novo que Jesus trouxe faz estourar o barril velho. Tem que saber
separar as coisas. Jesus não é contra o que é “velho”. O que ele quer evitar é
que o velho se imponha ao novo e, assim, o impeça de manifestar-se. Seria o
mesmo que reduzir a mensagem do Concílio Vaticano II ao tamanho do catecismo
anterior ao Concílio, como alguns estão querendo.
Para um confronto
pessoal
1) A partir da
experiência profunda de Deus que o animava por dentro, Jesus tinha muita
liberdade com relação às normas e práticas religiosas. E hoje, será que temos a
mesma liberdade ou será que nos falta a liberdade dos místicos?
2) Remendo novo
em roupa velha, vinho novo em barril velho. Existe isto em minha vida?
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