Salmo Responsorial: 88
R. Cantarei
eternamente as misericórdias do Senhor.
Feliz do povo que sabe aclamar-Vos e caminha, Senhor, à luz
do vosso rosto. Todos os dias aclama o vosso nome e se gloria com a vossa
justiça.
Vós sois a sua força, com o vosso favor se exalta a nossa
valentia. Do Senhor é o nosso escudo e do Santo de Israel o nosso rei.
Aleluia. Apareceu entre nós um grande profeta: Deus visitou o seu povo.
Aleluia.
Evangelho (Mc 2,1-12): Alguns dias depois, Jesus
passou novamente por Cafarnaum, e espalhou-se a notícia de que ele estava em
casa. Ajuntou-se tanta gente que já não havia mais lugar, nem mesmo à porta. E
Jesus dirigia-lhes a palavra. Trouxeram-lhe um paralítico, carregado por quatro
homens. Como não conseguiam apresentá-lo a ele, por causa da multidão, abriram
o teto, bem em cima do lugar onde ele estava e, pelo buraco, desceram a maca em
que o paralítico estava deitado. Vendo a fé que eles tinham, Jesus disse ao
paralítico: «Filho, os teus pecados são perdoados». Estavam ali sentados alguns
escribas, que no seu coração pensavam: «Como pode ele falar deste modo? Está
blasfemando. Só Deus pode perdoar pecados»! Pelo seu espírito, Jesus logo
percebeu que eles assim pensavam e disse-lhes: «Por que pensais essas coisas no
vosso coração? Que é mais fácil, dizer ao paralítico: ‘Os teus pecados são
perdoados’, ou: ‘Levanta-te, pega a tua maca e anda’? Ora, para que saibais que
o Filho do Homem tem na terra poder para perdoar pecados — disse ao paralítico
— eu te digo: levanta-te, pega a tua maca, e vai para casa!» O paralítico se
levantou e, à vista de todos, saiu carregando a maca. Todos ficaram admirados e
louvavam a Deus dizendo: «Nunca vimos coisa igual!».
«Filho, os teus pecados são perdoados(...)Levanta-te, pega a tua maca e
anda»
Rev. D. Joan Carles MONTSERRAT i Pulido (Cerdanyola del Vallès, Barcelona, Espanha)
Jesus Salvador quer deixar-nos uma esperança certa de
salvação: Ele é capaz até de perdoar os pecados e de se compadecer da nossa
debilidade moral. Antes de mais, diz taxativamente: «Filho, os teus pecados são
perdoados» (Mc 2,5). Depois, contemplamo-lo associando o perdão dos pecados
—que dispensa generosa e incansavelmente— a um milagre extraordinário,
“palpável” aos nossos olhos físicos. Como uma espécie de garantia externa, para
nos abrir os olhos da fé, depois de declarar o perdão dos pecados do
paralítico, cura-o da paralisia: «Eu te digo: levanta-te, pega a tua maca, e
vai para casa! O paralítico se levantou e, à vista de todos, saiu carregando a
maca» (Mc 2,11-12).
Podemos reviver frequentemente este milagre na Confissão.
Nas palavras da absolvição que o ministro de Deus pronuncia («Eu te absolvo em
nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo») Jesus oferece-nos novamente — de
maneira discreta—a garantia externa do perdão dos nossos pecados, garantia
equivalente à cura espetacular que realizou com o paralítico de Cafarnaum.
Começamos agora um novo tempo comum. E recorda-se a nós, os
crentes a necessidade urgente que temos de um encontro sincero e pessoal com
Jesus misericordioso. Neste tempo, Ele convida-nos a não fazer “descontos”, a
não descuidar o perdão necessário que Ele nos oferece no Seu seio, na Igreja.
Pensamentos para o
Evangelho de hoje
«Ao perdoar os pecados, salvou o homem e deu a entender
visivelmente quem era Ele, na sua pessoa: Ele era o Verbo de Deus encarnado,
com potestade para perdoar os pecados. Como homem se compadece de nós, e como
Deus tem piedade de nós e perdoa as nossas ofensas» (Santo Ireneu).
«O Evangelho apresenta-nos a Cristo que vence a paralisia da
humanidade. Descreve o poder da Misericórdia divina que perdoa e anula todo
pecado quando encontra uma fé autêntica. O mandato de Cristo pode dar um giro à
situação: ‘¡Levanta-te, caminha!’» (Francisco).
«O Senhor Jesus Cristo, médico das nossas almas e dos nossos
corpos, que perdoou os pecados ao paralítico e lhe restituiu a saúde do corpo,
quis que a sua Igreja continuasse, na força do Espírito Santo, a sua obra de
cura e de salvação, mesmo para com os seus próprios membros. É esta a
finalidade dos dois sacramentos de cura: do sacramento da Penitência e o da Unção
dos enfermos» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.421)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
* Nos anos 70,
época em que ele escreve o seu evangelho, havia muitos conflitos na vida das
comunidades, mas elas nem sempre sabiam como comportar-se diante das acusações
que vinham da parte das autoridades romanas e dos líderes judeus. Este conjunto
de cinco conflitos de Mc 2,1 a 3,6 servia como uma espécie de cartilha para
orientar as comunidades, tanto as de ontem como de hoje. Pois o conflito não é
um acidente de percurso, mas sim parte integrante da caminhada.
* Eis os esquema
dos cincos conflitos que Marcos conservou no seu evangelho:
TEXTOS |
ADVERSÁRIOS DE JESUS |
CAUSA DO CONFLITO |
1º conflito: Mc 2,1-12 |
Escribas |
Perdão dos pecados |
2º conflito: Mc 2,13-17 |
Escribas dos fariseus |
Comer com pecadores |
3º conflito: Mc 2,18-22 |
Discípulos de João e fariseus |
Prática do jejum |
4º conflito: Mc 2,23-28 |
Fariseus |
Observância do sábado |
5º conflito: Mc 3,1-6 |
Fariseus e herodianos |
Cura em dia de sábado |
* A solidariedade dos
amigos consegue o perdão dos pecados para o paralítico. Jesus está de volta
em Cafarnaum. Juntou muita gente na porta da casa. Ele acolhe a todos e começa
a ensinar. Ensinar, falar de Deus, era o que Jesus mais fazia. Chega um paralítico,
carregado por quatro pessoas. Jesus é a única esperança deles. Eles não hesitam
em subir no telhado e tirar as telhas. Deve ter sido uma casa pobre, barraco
coberto de folhas. Eles descem o homem em frente a Jesus. Jesus, vendo a fé
deles, diz ao paralítico: Teus pecados estão perdoados! Naquele tempo, o povo
achava que defeitos físicos (paralítico) fossem castigo de Deus por algum
pecado. Os doutores ensinavam que tal pessoa ficava impura e tornava-se incapaz
de aproximar-se de Deus. Por isso, os doentes, os pobres, os paralíticos,
sentiam-se rejeitados por Deus! Mas Jesus não pensava assim. Aquela fé tão
grande era um sinal evidente de que o paralítico estava sendo acolhido por
Deus. Por isso, ele declarou: Teus pecados estão perdoados! Ou seja: “Você não
está afastado de Deus!” Com esta afirmação Jesus negou que a paralisia fosse um
castigo pelo pecado do homem.
* Jesus é acusado de
blasfêmia pelos donos do poder. A afirmação de Jesus era contrária ao
catecismo da época. Não combinava com a ideia que eles tinham de Deus. Por
isso, reagem e acusam Jesus: Ele blasfema! Para eles, só Deus podia perdoar os
pecados. E só o sacerdote podia declarar alguém perdoado e purificado. Como é
que Jesus, homem sem estudo, leigo, simples carpinteiro, podia declarar as
pessoas perdoadas e purificadas dos pecados? E havia ainda um outro motivo que
os levava a criticar Jesus. Eles devem ter pensado: “Se for verdade o que esse
Jesus está falando, nós vamos perder nosso poder! Vamos perder também nossa
fonte de renda”.
* Curando, Jesus
prova que ele tem poder de perdoar os pecados. Jesus percebeu a crítica. Por isso, pergunta:
O que é mais fácil dizer: ‘Teus pecados estão perdoados!’ ou: ‘Levanta-te e
anda!’? É muito mais fácil dizer: “Teus pecados estão perdoados”. Pois ninguém
pode verificar se de fato o pecado foi ou não foi perdoado. Mas se digo:
“Levanta-te e anda!”, aí todos podem verificar se tenho ou não esse poder de
curar. Por isso, para mostrar que tinha o poder de perdoar os pecados em nome
de Deus, Jesus disse ao paralítico: Levanta-te, toma teu leito e vá para casa!
Curou o homem! Assim através de um milagre provou que a paralisia do homem não
era um castigo de Deus, e mostrou que a fé dos pobres é uma prova de que Deus
os acolhe no seu amor.
* A mensagem do
milagre e a reação do povo. O
paralítico se levanta, pega seu leito, começa a andar, e todos dizem: Nunca
vimos coisa igual! Este milagre revelou
três coisas muito importantes: 1) As doenças das pessoas não são castigo pelos
pecados. 2) Jesus abre um novo caminho para chegar até Deus. Aquilo que o
sistema chamava de impureza já não era empecilho para as pessoas se aproximarem
de Deus. 3) O rosto de Deus revelado através da atitude de Jesus era diferente
do rosto severo do Deus revelado pela atitude dos doutores.
* Isto lembra a fala de um drogado que se
recuperou e agora participa de uma comunidade em Curitiba, Brasil. Ele disse:
“Fui criado na religião católica. Deixei de participar. Meus pais eram muito
praticantes e queriam que nós, os filhos, fôssemos como eles. A gente era
obrigada a ir à igreja sempre, todos os domingos e festas. E quando não ia,
eles diziam: "Deus castiga!” Eu ia a contragosto, e quando fiquei adulto,
fui deixando aos poucos. Eu não gostava do Deus dos meus pais. Não conseguia
entender como Deus, criador do mundo, ficasse em cima de mim, menino da roça,
ameaçando com castigo e inferno. Eu gostava mais do Deus do meu tio que não
pisava na igreja mas que, todos os dias, sem falta, comprava o dobro de pão, de
que ele mesmo precisava, para dar para os pobres!"
Para um confronto
pessoal
1) Você gostou do Deus do tio ou do Deus dos
pais daquele ex-drogado?
2) Qual o rosto de Deus que transparece para os
outros através do meu comportamento?
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