Salmo Responsorial: 71
R. Virão adorar-Vos,
Senhor, todos os povos da terra.
Deus, concedei ao rei o poder de julgar e a vossa justiça ao
filho do rei. Ele governará o vosso povo com justiça e os vossos pobres com
equidade.
Os reis de Társis e das ilhas virão com presentes, os reis
da Arábia e de Sabá trarão suas ofertas. Prostrar-se-ão diante dele todos os
reis, todos os povos o hão de servir.
Socorrerá o pobre que pede auxílio e o miserável que não tem
amparo. Terá compaixão dos fracos e dos pobres e defenderá a vida dos
oprimidos.
Aleluia. Glória a Vós, Jesus Cristo, anunciado aos gentios; glória a
Vós, Jesus Cristo, acreditado no mundo. Aleluia.
Evangelho (Mc 6,45-52): Logo em seguida, Jesus
mandou que os discípulos entrassem no barco e fossem na frente para Betsaida,
na outra margem, enquanto ele mesmo despediria a multidão. Depois de os
despedir, subiu a montanha para orar. Já era noite, o barco estava no meio do
mar e Jesus, sozinho, em terra. Vendo-os com dificuldade no remar, porque o
vento era contrário, nas últimas horas da noite, foi até eles, andando sobre as
águas; e queria passar adiante. Quando os discípulos o viram andar sobre o mar,
acharam que fosse um fantasma e começaram a gritar. Todos o tinham visto e
ficaram apavorados. Mas ele logo falou: «Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!»
Ele subiu no barco, juntando-se a eles, e o vento cessou. Mas os discípulos
ficaram ainda mais espantados. De fato, não tinham compreendido nada a respeito
dos pães. O coração deles continuava sem entender.
«Depois de os despedir, subiu a montanha para orar»
Rev. D. Melcior QUEROL
i Solà (Ribes de Freser, Girona, Espanha)
Achar tempo e espaço para a oração pede um requisito prévio:
o desejo de encontro com Deus com a consciência clara de que nada nem ninguém o
pode substituir. Se não há sede de comunicação com Deus, facilmente
transformaremos a oração num monólogo, porque a utilizamos para tentar
solucionar os problemas que nos incomodam. Também é fácil que, nos momentos de
oração, nos distraiamos porque nosso coração e nossa mente estão invadidos
constantemente por pensamentos e sentimentos de todo tipo. A oração não é
charlatanice, senão um simples e sublime encontro com o Amor; é relação com
Deus: comunicação silenciosa do “Eu necessitado” com o “Você rico e transcendente”.
O prazer da oração é se saber criatura amada diante do Criador.
Oração e vida cristã vão unidas, são inseparáveis. Nesse
sentido, Orígenes diz que «reza sem parar aquele que une a oração às obras e as
obras à oração. Somente assim podemos considerar realizável o princípio de
rezar sem parar». Sim, é necessário rezar sem parar porque as obras que
realizamos são fruto da contemplação e, feitas para sua glória. Devemos agir
sempre desde o diálogo contínuo que Jesus oferece-nos, no sossego do espírito.
A partir dessa certa passividade contemplativa veremos que a oração é o
respirar do amor. Se não respiramos morremos, se não rezamos expiramos
espiritualmente.
Pensamentos para o
Evangelho de hoje
«Não quero (…) desconfiar da bondade de Deus, por mais fraco
e frágil me sinta. Além disso, se por causa do medo e do espanto visse que
estou prestes a ceder, lembrar-me-ei de São Pedro, quando, devido à sua pouca
fé, começou a afundar-se por causa de uma única rajada de vento, e farei o que
ele fez. Clamarei a Cristo: Senhor, salva-me» (Santo Tomás More)
«[Hoje em dia] Deus pode agir na esfera espiritual, mas não
na matéria. Isto atrapalha-nos! Se Deus não tem poder também sobre a matéria, então
ele não é Deus» (Bento XVI)
«Nada existe que não deva a sua existência a Deus Criador: O
mundo começou quando foi tirado do nada pela Palavra de Deus: todos os seres
existentes, toda a Natureza, toda a história humana radicam neste acontecimento
primordial: é a própria génese, pela qual o mundo foi constituído e o tempo
começado» (Catecismo da Igreja Católica, nº 338)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
* Marcos descreve com
arte os acontecimentos. De um lado, Jesus sobe o monte para rezar. De outro
lado, os discípulos descem para o mar e entram no barco. Parece até um quadro
simbólico que prefigura o futuro: é como se Jesus já subisse para o céu,
deixando os discípulos sozinhos em meio às contradições da vida, no barquinho
frágil da comunidade. Era noite. Eles estavam em alto mar, todos juntos num
pequeno barco, querendo avançar remando, mas o vento era contrário. Estavam
cansados. Já era a quarta vigília, isto é, entre 3 e 6 da madrugada. As
comunidades do tempo de Marcos eram como os discípulos. Noite! Vento contrário!
Não conseguiam nada, apesar de todo o esforço que faziam! Jesus parecia
ausente! Mas ele estava presente e vinha até elas, mas elas, como os discípulos
de Emaús, não o reconheciam (Lc 24,16).
* No tempo de
Marcos, em torno do ano 70, o barquinho das comunidades enfrentava o vento
contrário tanto de alguns judeus convertidos que queriam reduzir o mistério de
Jesus ao tamanho das profecias e figuras do Antigo Testamento, como de alguns
pagãos convertidos que pensavam ser possível uma certa aliança da fé em Jesus
com o império. Marcos procura ajudar os cristãos a respeitar o mistério de
Jesus e a não querer reduzir Jesus ao tamanho dos próprios desejos e ideias.
* Jesus chega andando
sobre as águas do mar da vida. Eles gritam de medo, porque pensam que se
trata de um fantasma. Como na história dos discípulos de Emaús, Jesus faz de
conta que quer seguir adiante (Lc 24,28). Mas o grito deles faz com que ele
mude de rumo, se aproxime deles e diga: “Calma, gente! Sou eu! Não tenham
medo!” Aqui, de novo, quem conhece a história do Antigo Testamento, lembra
alguns fatos muito importantes: (1) Lembra
como o povo, protegido por Deus, atravessou sem medo o Mar Vermelho. (2) Lembra como Deus, ao chamar Moisés, declarou
várias vezes o seu nome dizendo: “Sou eu!” (cf. Ex 3,15). (3) Lembra
ainda o livro de Isaías que apresenta o retorno do exílio como um novo êxodo,
onde Deus aparece repetindo inúmeras vezes: “Sou eu!” (cf. Is 42,8; 43,5.11-13;
44,6.25; 45,5-7). Esta maneira de evocar o Antigo Testamento, de usar a Bíblia,
ajudava as comunidades a perceber melhor a presença de Deus em Jesus e nos
fatos da vida. Não tenham medo!
* Jesus sobe no barco
e o vento pára. Mas o espanto dos discípulos, em vez de terminar, aumenta.
O próprio evangelista Marcos faz um comentário crítico e diz: “Eles não tinham
entendido nada a respeito dos pães. O coração deles estava endurecido” (6,52).
A afirmação coração endurecido evoca o coração endurecido do faraó (Ex
7,3.13.22) e do povo no deserto (Sl 95,8) que não queria ouvir Moisés e só
pensava em voltar para o Egito (Nm 20,2-10), onde havia pão e carne com fartura
(Ex 16,3).
Para um confronto
pessoal
1. Noite, mar
agitado, vento contrário! Você já se sentiu assim alguma vez? Como fez para
vencer?
2. Você já se espantou alguma vez porque não reconheceu Jesus presente e atuante em sua vida?
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