Salmo Responsorial: 95
R/. Hoje nasceu o
nosso Salvador, Jesus Cristo, Senhor.
1. Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, terra
inteira, cantai ao Senhor, bendizei o seu nome.
2. Anunciai dia a dia a sua salvação, publicai entre as
nações a sua glória, em todos os povos as suas maravilhas.
3. Alegrem-se os céus, exulte a terra, ressoe o mar e tudo o
que ele contém, exultem os campos e quanto neles existe, alegrem-se as árvores
das florestas.
4. Diante do Senhor que vem, que vem para julgar a terra:
julgará o mundo com justiça e os povos com fidelidade.
2ª Leitura (Tít. 2,11-14): Caríssimo:
Manifestou-se a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens. Ela nos
ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos, para vivermos, no tempo
presente, com temperança, justiça e piedade, aguardando a ditosa esperança e a
manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo, que Se
entregou por nós, para nos resgatar de toda a iniquidade e preparar para Si
mesmo um povo purificado, zeloso das boas obras.
Aleluia. Anuncio-vos uma grande alegria: Hoje nasceu o nosso salvador,
Jesus Cristo, Senhor. Aleluia.
Evangelho (Lc 2,1-14): Naqueles dias, saiu um
decreto do imperador Augusto mandando fazer o recenseamento de toda a terra — o
primeiro recenseamento, feito quando Quirino era governador da Síria. Todos iam
registrar-se, cada um na sua cidade. Também José, que era da família e da
descendência de Davi, subiu da cidade de Nazaré, na Galileia, à cidade de Davi,
chamada Belém, na Judéia, para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava
grávida. Quando estavam ali, chegou o tempo do parto. Ela deu à luz o seu filho
primogênito, envolveu-o em faixas e deitou-o numa manjedoura, porque não havia
lugar para eles na hospedaria. Havia naquela região pastores que passavam a
noite nos campos, tomando conta do rebanho. Um anjo do Senhor lhes apareceu, e
a glória do Senhor os envolveu de luz. Os pastores ficaram com muito medo. O
anjo então lhes disse: «Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que
será também a de todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o
Salvador, que é o Cristo Senhor! E isto vos servirá de sinal: encontrareis um
recém-nascido, envolto em faixas e deitado numa manjedoura» De repente,
juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste cantando a Deus: «Glória a
Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz aos que são do seu agrado!».
«Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo
Senhor»
Rev. D. Ramon Octavi SÁNCHEZ i Valero (Viladecans, Barcelona, Espanha)
Porém, contrariamente ao que a nossa sociedade consumista
celebra, Jesus não nasce num ambiente de abastança, de compras, de conforto, de
caprichos e de grandes refeições. Jesus nasce com a humildade de um portal e de
um presépio.
E fá-lo deste modo porque é rejeitado pelos homens: ninguém
quis dar-lhes guarida, nem nas casas nem nas estalagens. Maria e José, e o
próprio Jesus recém-nascido, sentiram o que significa a rejeição, a falta de
generosidade e de solidariedade.
Depois, as coisas mudaram, e com o anúncio do Anjo — «Não
tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo o
povo» (Lc 2,10) —todos correram para o presépio para adorar o Filho de Deus.
Foi um pouco como a nossa sociedade, que marginaliza e rejeita muitas pessoas
porque são pobres, estrangeiras ou simplesmente diferentes, e depois celebra o
Natal falando de paz, solidariedade e amor.
Hoje, nós os cristãos estamos cheios de alegria, e com
razão. Como afirma São Leão Magno: «Hoje não está certo que haja lugar para a
tristeza, no momento em que nasceu a vida». Mas não podemos esquecer que este
nascimento nos exige um compromisso: viver o Natal do modo mais parecido
possível com o que viveu a Sagrada Família. Quer dizer, sem ostentações, sem
gastos desnecessários, sem pôr a casa de pernas para o ar. Celebrar e fazer
festa são compatíveis com austeridade e até com a pobreza.
Por outro lado, se durante estes dias não temos verdadeiros
sentimentos de solidariedade para com os rejeitados, forasteiros, sem teto, é
porque no fundo somos como os habitantes de Belém: não acolhemos o nosso Menino
Jesus.
Pensamentos para o
Evangelho de hoje
«Demos graças a Deus Pai através do seu Filho, no Espírito
Santo, porque se compadeceu de nós pela imensa misericórdia com que nos amou.
Estando nós mortos pelos pecados, ele nos fez viver com Cristo, para que graças
a ele sejamos uma nova criatura» (São Leão Magno)
«Neste dia nasceu, da Virgem Maria, Jesus o Salvador. Vamos
a adorar a Bondade de Deus feito carne e deixemos que as lágrimas de
arrependimento encham os nossos olhos e lavem o nosso coração. Todos nós
precisamos» (Francisco)
«Jesus nasceu na humildade dum estábulo, no seio duma
família pobre. As primeiras testemunhas deste acontecimento são simples
pastores. E é nesta pobreza que se manifesta a glória do céu. A Igreja não se
cansa de cantar a glória desta noite: ‘Hoje a Virgem dá à luz o Eterno e a terra
oferece uma gruta ao Inacessível. Cantam-no os anjos e os pastores, e com a
estrela os magos põem-se a caminho, porque Tu nasceste para nós, pequeno
Infante. Deus eterno!’» (Catecismo da Igreja Católica, nº 525).
Refletindo o Evangelho com Pe. Thomaz Hughes, SVD
Este trecho pode ser subdivido assim:
1) O contexto histórico e o nascimento de Jesus - 2, 1-7
2) Pronunciamentos angélicos explicando o sentido de Jesus -
2, 8-14
3) Respostas aos pronunciamentos dos anjos - 2, 15-20
A chave para a compreensão do texto se acha nos versículos
11-14. Aqui Lucas apresenta Jesus como o Messias davídico que trará o dom
escatológico de paz, o Shalom de Deus. Assim ele faz contraste com a figura de
César Augusto. Na impotência da sua infância, Jesus é o Salvador que traz a
verdadeira paz, em contraste com o poderoso Augusto, que era celebrado no culto
oficial imperial como o fundador de um reino de paz, a “Pax Romana”. O “Shalom”
é na verdade o contrário da “Pax Romana,” como hoje seria o oposto da pretensa
“paz” imposta pelos canhões e bombardeiros da força militar prepotente - a “Pax
Americana!”. Esta revelação da parte dos anjos é recebida e aceita pelos
humildes pastores, e meditada por Maria, modelo de fé, e os discípulos, que
terão que meditar e aprofundar o sentido de Jesus para eles, sem cessar!
Desde a Idade Média, o presépio tem mantido o seu lugar como
um dos símbolos mais caros aos cristãos. Porém, é bom não deixar que a cena do
nascimento de Jesus se torne uma cena somente sentimental, com lembranças
saudosas da nossa infância! O relato quer sublinhar a opção de Deus que se
encarnou como pobre, sem as mínimas condições para um parto digno. Em nossos
presépios, até os bois e o asno tomaram banho! A realidade de nascer em uma
gruta ou estrebaria era diferente! Jesus nasce em condições semelhantes a
milhões de pobres e excluídos pelo mundo afora, nos dias de hoje! É mais uma
manifestação da fraqueza de Deus, que é mais forte do que os homens! (1Cor 1,
25).
Diferente de Mateus - que tem outros interesses teológicos -
os protagonistas desta cena são os pastores. Na época, eles eram considerados
pessoas desqualificadas, marginais, sujos, ritualmente impuros. Mas é para essa
gente que os anjos revelam o sentido do acontecido e são eles os primeiros a
encontrar Jesus recém-nascido. Assim, em Lucas, são pessoas à margem da
sociedade que testemunham o nascimento de Jesus, e igualmente são pessoas
desqualificadas que são as testemunhas da Ressurreição - as mulheres! Lucas não
perde uma oportunidade para destacar a opção preferencial de Deus pelos pobres
e humilhados!
O trecho continua com mais três ênfases tipicamente lucanas
- “não ter medo”, “sentir e expressar alegria” e o termo “hoje”. Os ouvintes
poderão ter coragem e alegria, porque a salvação de Deus irrompe no mundo
“hoje” - não em data futura distante. Esta ideia volta diversas vezes - na
sinagoga, depois de fazer a leitura de Isaías, Jesus dirá que “hoje cumpriu-se
essa passagem” (4, 21); ao condenado na cruz, Jesus garante que “hoje estará
comigo no paraíso” ( 23, 43). O reino da salvação está sendo inaugurado, e por
Jesus, na fraqueza da exclusão social, e não por César, com toda a pompa da
corte e das armas! Em uma manjedoura, e não em um palácio imperial! Por parte
de quem carece de força e prestígio, e não pelos poderosos e fortes do mundo!
Os pastores não somente testemunham a presença do
recém-nascido em Belém, mas anunciam o que disseram os anjos (v. 17). Essa
Boa-Notícia complementa o que foi já anunciado à Maria em 1, 31-33, por Maria
em 1, 46-45, e por Zacarias em 1, 68-79. É muito significante o termo que Lucas
emprega para descrever a reação de Maria:
“Maria, porém, conservava todos esses fatos, e meditava
sobre eles em seu coração” (v. 19)
Aqui Lucas retrata, através de Maria, a atitude do/a
discípulo/a diante dos mistérios de Deus, revelados em Jesus - Maria não capta
o significado pleno dos eventos e os rumina no seu íntimo. A ideia volta de
novo em Lc 2, 51:
“Sua mãe conservava no coração todas essas coisas”.
É uma maneira de apontar para a caminhada de fé que Maria
trilhou - e que todos nós, que não captamos o sentido pleno da ação de Deus em
nossas vidas, teremos que andar.
O texto encerra afirmando que os pobres e marginalizados -
personificados nos pastores: “voltaram, glorificando e louvando a Deus por tudo
o que haviam visto e ouvido” (v. 20). Qualquer celebração de Natal que não dê
para os sofridos motivo para alegria, coragem e louvor a Deus, pode ser tudo,
menos uma celebração cristã!
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