Nossa Senhora de Guadalupe
Salmo Responsorial: Is 12
R. Exultai de
alegria, porque é grande no meio de vós o Santo de Israel.
Deus é o meu Salvador, tenho confiança e nada temo. O Senhor
é a minha força e o meu louvor. Ele é a minha salvação.
Tirareis água com alegria das fontes da salvação. Agradecei
ao Senhor, invocai o seu nome; anunciai aos povos a grandeza das suas obras,
proclamai a todos que o seu nome é santo.
Cantai ao Senhor, porque Ele fez maravilhas, anunciai-as em
toda a terra. Entoai cânticos de alegria, habitantes de Sião, porque é grande
no meio de vós o Santo de Israel.
2ª Leitura (Flp 4,4-7): Irmãos: Alegrai-vos sempre
no Senhor. Novamente vos digo: alegrai-vos. Seja de todos conhecida a vossa
bondade. O Senhor está próximo. Não vos inquieteis com coisa alguma; mas em
todas as circunstâncias, apresentai os vossos pedidos diante de Deus, com
orações, súplicas e ações de graças. E a paz de Deus, que está acima de toda a
inteligência, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo
Jesus.
Aleluia. O Espírito do Senhor está sobre mim: enviou-me a anunciar a
boa nova aos pobres. Aleluia.
Evangelho (Lc 3,10-18): Naquele tempo, as
multidões perguntavam a João Baptista: «Que devemos fazer?». Ele
respondia-lhes: «Quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma; e
quem tiver mantimentos faça o mesmo». Vieram também alguns publicanos para
serem batizados e disseram: «Mestre, que devemos fazer?». João respondeu-lhes:
«Não exijais nada além do que vos foi prescrito». Perguntavam-lhe também os
soldados: «E nós, que devemos fazer?». Ele respondeu-lhes: «Não pratiqueis
violência com ninguém nem denuncieis injustamente; e contentai-vos com o vosso
soldo». Como o povo estava na expectativa e todos pensavam em seus corações se
João não seria o Messias, ele tomou a palavra e disse a todos: «Eu batizo-vos
com água, mas está a chegar quem é mais forte do que eu, e eu não sou digno de
desatar as correias das suas sandálias. Ele batizar-vos-á com o Espírito Santo
e com o fogo. Tem na mão a pá para limpar a sua eira e recolherá o trigo no seu
celeiro; a palha, porém, queimá-la-á num fogo que não se apaga». Assim, com
estas e muitas outras exortações, João anunciava ao povo a Boa Nova».
«Está a chegar quem é mais forte do que eu»
+ Cardeal Jorge MEJÍA
Arquivista e Bibliotecário de da S.R.I. (Città del Vaticano, Vaticano)
Hoje, em pleno Advento, a Palavra de Deus apresenta-nos o Santo Precursor de Jesus Cristo: S. João Baptista. Deus Pai decidiu preparar a vinda, quer dizer, o Advento, de seu Filho na nossa carne, nascido da Virgem Maria, «muitas vezes e de muitos modos», como diz o início da Carta aos Hebreus (1,1). Os patriarcas, os profetas e os reis prepararam a vinda de Jesus.
Vejamos as suas duas genealogias, nos Evangelhos de Mateus e
Lucas. Ele é filho de Abraão e de David. Moisés, Isaías e Jeremias anunciaram o
seu Advento e descreveram os traços do seu mistério. Mas S. João Baptista, como
diz a liturgia (Prefácio da sua festa), pôde apontá-lo com o dedo e coube-lhe -
misteriosamente! - a honra de ministrar o Baptismo ao Senhor. Foi a última
testemunha antes da vinda. E foi-o com a sua vida, com a sua morte e com a sua
palavra. O seu nascimento também é anunciado, como o de Jesus, e é preparado,
segundo o Evangelho de Lucas (caps.1 e 2). E a sua morte como mártir, vítima da
debilidade de um rei e do ódio de uma mulher perversa, também prepara a de
Jesus. Por isso, recebeu o extraordinário louvor do próprio Jesus que lemos nos
Evangelhos de Mateus e de Lucas (cf. Mt 11,11; Lc 7,28): «entre os nascidos de
mulher não veio ao mundo outro maior que João Baptista. Mas o menor no Reino
dos Céus é maior do que ele». E S. João Baptista diante disto, que não pôde
ignorar, é um modelo de humildade: «Eu não sou digno de desatar as correias das
suas sandálias» (Lc 3,16), diz-nos hoje. E, segundo S. João (3,30): «Convém que
ele cresça e eu diminua».
Escutemos hoje a sua palavra, que nos exorta a partilhar o
que temos e a respeitar a justiça e a dignidade de todos. Preparemo-nos assim
para receber Aquele que vem agora para nos salvar, e virá de novo para «julgar
os vivos e os mortos».
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Aprendei do próprio João um exemplo de humildade. Ele não
se deixou confundir, ele se humilhou a si próprio. Ele compreendeu onde tinha a
sua salvação; compreendeu que não passava de uma tocha e temeu que o vento da
soberba a apagasse» (Santo Agostinho)
«Nos dias que correm, vamos rezar. Mas não vos esqueçais:
rezemos pedindo pela alegria do Natal. Agradeçamos a Deus pelas muitas coisas
que nos deu, em primeiro lugar a fé. Esta é uma grande graça» (Francisco)
«João Batista, 'que irá à frente do Senhor com o espírito e
a força de Elias' (Lc 1,17), anuncia Cristo como Aquele que 'há de batizar no
Espírito Santo e no fogo' (Lc 3,16), aquele Espírito do qual Jesus dirá: «Eu
vim lançar fogo sobre a terra e só quero que ele se tenha ateado! » (Lc 12,49)
(…)» (Catecismo da Igreja Católica, n. 696)
Alegrai-vos! O Senhor está perto!
O qualificativo de Gaudete, ou Domingo da Alegria, é dado a
este terceiro domingo do Advento em virtude da proximidade da Solenidade do
Natal do Senhor. Assim como, na Quaresma, o domingo Laetare nos anuncia a
proximidade da Páscoa, no Advento, o domingo Gaudete chama a nossa atenção para
a proximidade da grande celebração do nascimento de Nosso Salvador.
A primeira leitura, assim como a segunda, é permeada pelo
vocabulário da alegria. Em primeiro lugar, o povo de Israel é convidado a
alegrar-se, a rejubilar-se. Dois são os motivos de tão grande júbilo: o Senhor
revogou a sentença que havia contra o povo, afastando os seus inimigos; depois
o Senhor “está no meio” de Israel. A presença do Senhor no meio do seu povo é o
grande motivo de alegria.
A releitura cristã desse oráculo nos faz perceber que, em
Cristo, tal promessa realizou-se de modo definitivo. O anjo Gabriel, na
anunciação, convida Maria a entrar no mistério dessa alegria, quando lhe diz:
Alegra-te, cheia de graça, o Senhor é contigo (cf. Lc 1,28). A saudação do anjo
é como que um eco da profecia de Sofonias. Maria é a Virgem, filha de Sião. Ela
é símbolo de um povo ao qual Deus prometeu trazer a salvação definitiva. Quando
o anjo a saúda, ele como que anuncia que, enfim, o tempo é chegado. Agora, sim,
“Deus está” no meio do seu povo. Essa “presença” de Deus tornou-se visível e
palpável em Cristo. Ele entrou na nossa história, assumiu a nossa humanidade.
Ele é o “valente guerreiro” que, não utilizando-se de nenhuma forma de
violência, mas entregando-se pacificamente à morte, “salvou-nos” (cf. Sf 3,17).
No final do oráculo é Deus quem se alegra com o povo, movido
pelo amor. Nós nos alegramos com a visita de Deus, com a salvação que d’Ele nos
advém. Ao mesmo tempo, Ele se alegra conosco, ele exulta por nós, sobretudo
quando nos abrimos à sua Palavra e quando nos permitimos experimentar a sua
compaixão e a sua misericórdia.
O evangelho nos projeta para o segundo aspecto deste tempo
do Advento. Enquanto nos preparamos para celebrar a solenidade do nascimento de
Nosso Salvador, somos continuamente recordados pela liturgia, que Ele virá uma
segunda vez no fim dos tempos. A liturgia é, assim, memória e profecia.
Memória, porque atualiza no hoje da nossa existência o mistério salvífico
d’Aquele que nasceu, morreu e ressuscitou por nós. Profecia, porque Ele virá um
dia sobre as nuvens do céu. O hoje litúrgico é um grande Maranathá (1Cor
16,22), uma grande súplica ao Senhor para que Ele venha e instaure o seu reino
de amor.
A pregação de João Batista possui um forte cunho
escatológico. Ele anuncia a vinda do “mais forte” que batizará os homens no
Espírito Santo e no fogo. Ele se utiliza do binômio trigo/palha e da imagem da
colheita. O trigo será recolhido no celeiro, enquanto a palha será queimada no
fogo. Com esta imagem, João anuncia uma vinda de juízo, onde o Senhor fará a
distinção entre o trigo e a palha, entre os que praticam a justiça e os que
vivem na iniquidade.
Essa vinda do Senhor para o estabelecimento de um juízo
definitivo é o que se dará no que chamamos “fim dos tempos”. A Igreja professa
a fé na “parusia” (segunda vinda) do Senhor. Já as primeiras comunidades
cristãs viviam nessa perspectiva. No início, se achava que a vinda do Senhor
seria iminente. Pouco a pouco, contudo, foi-se compreendendo que o tempo de
Deus é diverso deste nosso tempo cronológico. Assim como foi na “plenitude dos
tempos” que o Cristo veio, do mesmo modo será no tempo previsto por Deus que
Ele retornará gloriosamente. Ao cristão cabe viver cada dia nessa “alegre
expectativa”, até mesmo porque todos nós sabemos que chegará o dia do nosso
encontro pessoal com o Senhor. Seja para a segunda e definitiva vinda de
Cristo, seja para esse encontro pessoal, nós devemos nos preparar.
E como nos preparar para acolher o Senhor que vem? Essa foi
a pergunta dos interlocutores de João Batista no início do Evangelho de hoje.
Três grupos diferentes aproximam-se de João: a multidão, os cobradores de
impostos e os soldados. A pergunta é sempre a mesma: O que devemos fazer? À
multidão, João apresenta o caminho da caridade: dividir as túnicas, dividir a
comida. Em uma palavra: socorrer o necessitado. Aos cobradores de impostos e
aos soldados João apresenta o caminho da justiça: não cobrar além do
estabelecido, não extorquir, não acusar falsamente, conformar-se com aquilo o
que se pode ganhar de forma honesta.
João apresenta aos seus interlocutores um caminho possível.
Ele não lhes exige altas penitências e nem um conhecimento profundíssimo das
verdades eternas. João não lhes impõe nem seu próprio caminho penitencial. Mt
3,4 e Mc 1,6 nos apresentam João Batista como um grande asceta: vestia roupa
feita de pelos de animais e comia gafanhotos e mel silvestre. João não diz que
ninguém tem que fazer o mesmo que ele faz. João lhes apresenta o caminho da
caridade e da justiça. Na pregação de João realiza-se o que fora predito pelo
Sl 85(84),11: Amor e verdade se encontram, justiça a paz se abraçam… O caminho
do amor é apresentado às multidões, e o caminho da justiça, que conduz à paz, é
apresentado àqueles que podiam se utilizar da sua posição para oprimir, ao
invés de servir.
Cada um deve se perguntar, neste tempo do Advento: O que eu
devo fazer? O evangelho é já, pra nós, uma resposta. Mas a nossa vida precisa
ser confrontada, cotidianamente, com o evangelho. Só assim encontraremos,
paulatinamente, resposta à essa pergunta. A resposta não será dada toda de uma
vez. Ela não é nada simples. A resposta à essa pergunta vai sendo dada à medida
em que buscamos viver em harmonia com a Palavra de Deus. Pouco a pouco o Senhor
vai nos mostrando o que precisamos fazer, em cada momento, em cada situação
concreta da nossa existência. Mas precisamos ter a coragem de nos colocar a
pergunta… Se não nos colocamos a pergunta, a resposta também nunca virá até nós.
Esperemos, conforme diz a oração coleta dessa missa,
“fervorosos o natal do Senhor”. Preparemo-nos intensamente, do melhor modo
possível, para essa solenidade. Não deixemos que os afazeres externos nos
impeçam de preparar o essencial: o nosso coração, onde o Cristo deseja estar,
nos alegrando com sua luz.
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