Santos Mártires de Cunhaú e Uruaçu
Salmo Responsorial: 127
R. O Senhor nos
abençoe em toda a nossa vida.
Feliz de ti que temes o Senhor e andas nos seus caminhos.
Comerás do trabalho das tuas mãos, serás feliz e tudo te correrá bem.
Tua esposa será como videira fecunda no íntimo do teu lar;
teus filhos como ramos de oliveira, ao redor da tua mesa.
Assim será abençoado o homem que teme o Senhor. De Sião o
Senhor te abençoe: vejas a prosperidade de Jerusalém todos os dias da tua vida;
e possas ver os filhos dos teus filhos. Paz a Israel.
2ª Leitura (Heb 2,9-11): Irmãos: Jesus, que, por
um pouco, foi inferior aos Anjos, vemo-lo agora coroado de glória e de honra
por causa da morte que sofreu, pois era necessário que, pela graça de Deus,
experimentasse a morte em proveito de todos. Convinha, na verdade, que Deus,
origem e fim de todas as coisas, querendo conduzir muitos filhos para a sua
glória, levasse à glória perfeita, pelo sofrimento, o Autor da salvação. Pois
Aquele que santifica e os que são santificados procedem todos de um só. Por
isso não Se envergonha de lhes chamar irmãos.
Aleluia. Se nos amamos uns aos outros, Deus permanece em nós e o seu
amor em nós é perfeito. Aleluia.
Evangelho (Mc 10,2-16): Aproximaram-se então
alguns fariseus e, para experimentá-lo, perguntaram se era permitido ao homem
despedir sua mulher. Jesus perguntou: Qual é o preceito de Moisés a respeito?
Os fariseus responderam: Moisés permitiu escrever um atestado de divórcio e
despedi-la. Jesus então disse: Foi por causa da dureza do vosso coração que
Moisés escreveu este preceito. No entanto, desde o princípio da criação Deus os
fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua
mulher, e os dois formarão uma só carne; assim, já não são dois, mas uma só
carne. Portanto, o que Deus uniu o homem não separe! Em casa, os discípulos
fizeram mais perguntas sobre o assunto. Jesus respondeu: Quem despede sua
mulher e se casa com outra, comete adultério contra a primeira. E se uma mulher
despede seu marido e se casar com outro, comete adultério também. Algumas
pessoas traziam crianças para que Jesus as tocasse. Os discípulos, porém, as
repreenderam. Vendo isso, Jesus se aborreceu e disse: Deixai as crianças virem
a mim. Não as impeçais, porque a pessoas assim é que pertence o Reino de Deus.
Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não
entrará nele! E abraçava as crianças e, impondo as mãos sobre elas, as
abençoava.
«O que Deus uniu o homem não separe»
Rev. D. Fernando
PERALES i Madueño (Terrassa, Barcelona, Espanha)
Jesus lembra o que diz o Livro do Gênesis: Desde o princípio
da criação Deus os fez homem e mulher, (Mc 10,6, cf. Gn 1,27). Jesus fala de
uma unidade que será a Humanidade. O homem deixará os seus pais e se unirá a
sua mulher, sendo um com ela para formar a Humanidade. Isto supõe uma realidade
nova: Dois seres formam uma unidade, não como uma associação, senão como
procriadores da Humanidade. A conclusão é evidente: O que Deus uniu o homem não
separe, (Mc 10,9).
Enquanto tenhamos do matrimônio uma imagem de associação, a
indissolubilidade resultará incompreensível. Se reduzimos o matrimônio a
interesses associativos, entende-se que a dissolução apareça como legítima.
Falar assim do matrimônio é um abuso de linguagem, já que não é mais que uma
associação de dois solteiros desejosos de fazer mais agradável a sua
existência. Quando o Senhor fala do matrimônio está dizendo outra coisa. O
Concílio Vaticano II lembra-nos: Deste modo, por meio do ato humano com o qual
os cônjuges mutuamente se dão e recebem um ao outro, nasce uma instituição
também à face da sociedade, confirmada pela lei divina. Em vista do bem tanto
dos esposos e da prole como da sociedade, este sagrado vínculo não está ao
arbítrio da vontade humana. O próprio Deus é o autor do matrimônio, o qual
possui diversos bens e fins, tudo o que é de máxima importância para a
propagação do gênero humano (Gaudium et spes, n. 48).
De regresso a casa, os Apóstolos perguntam pelas exigências
do matrimônio, e a continuação tem lugar uma cena carinhosa com as crianças. As
duas cenas estão relacionadas. A segunda é como uma parábola que explica como é
possível o matrimônio. O Reino de Deus é para aqueles que se assemelhem a uma
criança e aceitam construir algo novo. O mesmo o matrimônio, se captamos bem o
que significa: deixar, unir-se e devir.
"O que Deus uniu".
Postado por ✝
icatolica.com
Diante da questão posta pelos fariseus “pode um homem repudiar a sua mulher?” (v. 2), Jesus começa por recordar-lhes o estado da questão na perspectiva da Lei: “O que vos ordenou Moisés?” (v. 3). Não significa que Jesus está se identificando com o posicionamento da Lei a propósito da questão do divórcio. Efetivamente, a Lei de Moisés permitia o divórcio, contudo, essa condescendência da Lei não resulta do projeto de Deus para o homem e para a mulher, mas é o resultado da “dureza do coração” dos homens. Em contraste com a permissividade da Lei, Jesus vai apresentar o projeto primordial de Deus para o amor do homem e da mulher. Citando livremente Gn 1,27 e Gn 2,24, Jesus explica que, no projeto original de Deus, o homem e a mulher foram criados um para o outro, para se completarem, para se ajudarem, para se amarem. Unidos pelo amor, o homem e a mulher formarão “uma só carne”. A separação será sempre o fracasso do amor; não está prevista no projeto ideal de Deus. Só o amor eterno, expresso num compromisso indissolúvel, respeita o projeto primordial de Deus para o homem e para a mulher.
Jesus reitera que a relação entre o homem e a mulher deve se
enquadrar no projeto inicial de Deus. A perspectiva de Deus é que marido e
mulher, unidos pelo amor, formem uma comunidade de vida estável e indissolúvel.
Ambos, em igualdade de circunstâncias, são responsáveis pela edificação da
comunidade familiar.
A Sagrada Escritura começa pela criação do homem e da
mulher, à imagem e semelhança de Deus, e termina com a visão das “núpcias do
Cordeiro” (Ap 19,9). Do princípio ao fim, a Escritura fala do matrimônio e do
seu “mistério”, da sua instituição e do sentido que Deus lhe deu, da sua origem
e da sua finalidade, das suas diversas realizações ao longo da história da
salvação, das suas dificuldades nascidas do pecado e da sua renovação “no
Senhor” (1Cor 7,39), na Nova Aliança de Cristo e da Igreja.
A vocação para o matrimônio está inscrita na própria
natureza do homem e da mulher, tais como saíram das mãos do Criador, e ao
criá-los Deus os fez imagem do amor. E
este amor, que Deus abençoa, está destinado a ser fecundo e a realizar-se na
obra comum do cuidado da criação, conforme podemos ler na própria Sagrada
Escritura: “Deus abençoou-os e disse-lhes: ‘Sede fecundos e multiplicai-vos,
enchei a terra e submetei-a’” (Gn 1,28).
O vínculo matrimonial é, portanto, estabelecido pelo próprio
Deus, de maneira que o matrimônio ratificado e consumado entre batizados não
pode jamais ser dissolvido. Este vínculo, resultante do ato humano livre dos
esposos e da consumação do matrimônio, é, a partir de então, uma realidade
irrevogável. Pela sua própria natureza,
o amor dos esposos exige a unidade e a indissolubilidade e são chamados a
crescer sem cessar na sua comunhão, através da fidelidade quotidiana à promessa
da mútua doação total que o matrimônio implica (cf. CIgC, n. 1644). Esta é uma
consequência da doação de si mesmos que os esposos fazem um ao outro.
O matrimônio está ligado à fé e, nos tempos atuais, somos
capazes de compreender toda a verdade desta afirmação, em contraste com a dolorosa
realidade de muitos matrimônios que, infelizmente, acabam mal. Há uma clara
correspondência entre a crise da fé e a crise do matrimônio. E, como a Igreja
afirma e testemunha, o matrimônio é chamado a ser o sujeito da nova
evangelização, testemunho da unidade querida por Deus em cada circunstância da
vida, “na alegria e na tristeza, na saúde e na doença”, como prometeram no rito
sacramental.
PARA REFLETIR
Comecemos com o plano de Deus, descrito no Gênesis de modo
figurado, como as parábolas que Jesus contava. São textos que não devem ser
tomados ao pé da letra! Se lermos com atenção, perceberemos algo muito belo:
Deus, à medida que vai criando, vê que tudo é bom… Ao criar o ser humano, vê
que “era muito bom” (Gn 1,31). Mas, há algo na criação que o Senhor Deus viu
que não era bom: “Não é bom que o homem esteja só”. Se o ser humano é imagem do
Deus-Trindade, ele não foi criado para a solidão, mas deve viver em relação com
outros: “Vou dar-lhe uma auxiliar que lhe seja semelhante”. Notemos os detalhes
tão belos da criação da mulher: (1) “O
Senhor Deus fez cair um sono profundo sobre Adão”. Por quê? Para ficar claro
que o homem não participou da criação da mulher; esta é tão obra de Deus quanto
aquele. (2) “Tirou-lhe uma das costelas e fechou o lugar com
carne. Da costela tirada de Adão, o Senhor Deus formou a mulher”. A imagem é
bela: tirada do lado do homem, como companheira e igual! (3) “E
Adão exclamou: ‘Desta vez sim, é osso de meus ossos e carne da minha carne!’” É
a primeira vez que o homem falou, na Bíblia! E sua palavra foi uma declaração
de amor… não a Deus, mas à mulher que o Senhor Deus lhe dera de presente: osso
de meus ossos, carne de minha carne… parte de mim, cara metade, outro lado do
meu coração! E, finalmente, o preceito de Deus, inscrito no íntimo do coração
humano pelo próprio Criador: “O homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à
sua mulher, e eles serão uma só carne”. Pronto! Esta é o sonho de Deus para o
amor humano!
Já aqui há três observações a serem feitas: (a) o laço de amor entre o homem e a mulher é
superior a qualquer outro laço, inclusive aquele que liga pais e filhos: o
homem e a mulher deixarão pai e mãe para ir ao encontro de sua esposa, de seu
esposo. (b) Esta união, no sonho original de Deus, envolve a
pessoa toda, corpo e alma: “serão uma só carne”! É uma união completa,
abrangente, total: serão um só coração, um só sonho, uma só conta bancária, uma
só casa, um só futuro, um só destino! (c) A
relação matrimonial, no sonho de Deus, é uma relação entre um homem e uma mulher.
Por isso mesmo, jamais os cristãos poderão equiparar a união entre homossexuais
ao matrimônio! O respeito às pessoas homossexuais é dever de todos nós; o
respeito pela consciência dessas pessoas, que têm o direito de dar o rumo que
acharem justo às suas vidas, é obrigação nossa, é gesto de amor que Jesus
espera de seus discípulos. Mas, equiparar a relação matrimonial a qualquer
outra relação afetiva, sobretudo homossexual, nunca! Por fidelidade a Cristo,
nunca! Por respeito ao plano de Deus, jamais! Hoje, no Direito, há uma forte
corrente aqui no Brasil, que considera como sendo família qualquer união
simplesmente afetiva: não importa se a união é entre marido e mulher, entre
amigos ou entre duas pessoas do mesmo sexo. Para nós cristãos, tal concepção é
inaceitável! A família, para nós, não é uma realidade simplesmente natural, mas
tem sua raiz no próprio plano de Deus. A família é uma realidade também
teológica! É preciso escutar o que Deus tem a dizer sobre a família! O problema
é que nossa sociedade já não é cristã; é pagã e pensa e age como pagã; é ateia
e age como se Deus não existisse… Nossa sociedade acha que o homem é a medida
de todas as coisas, o senhor do bem e do mal, do certo e do errado. Isso é
absolutamente inaceitável para o cristão!
Agora podemos compreender a palavra de Jesus no Evangelho!
Naquele tempo havia o divórcio… E Jesus, que é tão misericordioso, condena sua
prática: “Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés” permitiu o
divórcio! “No entanto, no princípio da criação Deus os fez homem e mulher… Já
não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!”
É uma palavra que parece dura, e os próprios discípulos tiveram dificuldades em
compreender… como muitíssimos a têm hoje em dia. Compreendamos! Jesus veio para
reconduzir este mundo ferido pelo pecado ao plano original de Deus. Ora, o
sonho de Deus para o amor conjugal é que ele seja uma entrega total e plena, no
amor indissolúvel, fiel e fecundo. Este é o ideal que Jesus aponta aos seus
discípulos! Na perspectiva de Jesus, o divórcio é contrário ao plano de Deus
para o amor humano! Por isso mesmo, o matrimônio abraçado por um cristão e uma
cristã, no Senhor Jesus, é indissolúvel! Aqui é preciso deixar claro que a
Igreja não tem autoridade para ensinar ou fazer diferente! Seria trair o
Senhor! Surgem, no entanto, algumas questões sérias e graves:
(1) Como prometer amor por toda a vida, se nosso
coração é inconstante? Primeiramente é necessário recordar que o matrimônio
cristão somente pode ser abraçado na fé, sabendo os esposos que jamais a graça
de Cristo lhes faltará. Com toda certeza, o Senhor haverá de conduzir os
esposos no caminho do amor. Isto, no entanto, de modo algum, dispensa os
esposos de cultivarem esse amor, com o diálogo, os gestos de carinho e de
perdão, de compreensão e de atenção. Amor não é só sentimento: o amor não nasce
de repente, não é fatal, não é cego, nem morre de repente. O amor pode e deve
ser cultivado, cuidado. Como dizia São João da Cruz: “Onde não há amor, semeia
amor e colherás amor”. A grande ilusão do mundo atual é pensar que o amor se
reduz a sentimento, que não precisa ser cuidado nem cultivado! Confunde-se amor
com paixão!
(2) Como
fazer uma aliança para sempre, se esta depende não só de mim, mas também da
outra pessoa? A questão é séria e, para nós, cristãos, deve ser pensada na fé.
O matrimônio entre cristãos é sinal, é sacramento, do amor entre Cristo e a
Igreja. São Paulo explica este mistério de modo belíssimo no capítulo quinto da
Carta aos Efésios: marido e mulher devem se amar como Cristo e a Igreja (cf. Ef
5,21-32). Ora, este amor foi selado na cruz e na ressurreição; é amor pascal,
amor que envolve morte e vida! A indissolubilidade não deveria ser vista como
um fardo, mas como uma proposta de um Deus que crê no homem que criou; um Deus
que nunca brinca com o amor, um Deus que aposta na nossa capacidade, quando
aberta à sua graça! Ora, este amor-doação matrimonial, imagem daquele outro,
entre Cristo e a Igreja, certamente terá a marca da cruz. As dificuldades conjugais,
para o cristão, têm o nome de cruz, cruz que, assumida com amor e por amor, é
transformada em alegria e plenitude de ressurreição. Aqui não se trata somente
de palavras bonitas, mas de uma realidade impressionante: quem capitula, quem
desiste ante as dificuldades, nunca plantará um amor no sentido cristão! A
presença de Cristo na união conjugal não exclui as crises, as dificuldades, a
incompatibilidade de temperamentos e até mesmo os erros na escolha do cônjuge!
Mas tudo isso, por quanto doloroso possa ser, pode se tornar, em Cristo, um
modo libertador e eficaz de participar com generosidade e desapego da cruz do
Senhor e caminho de felicidade! “Loucura! Insanidade! Demência!” – dirá o
mundo! Mas, a linguagem da cruz é loucura para o mundo! A sabedoria da cruz é
tolice para o mundo! Nunca esqueçamos isso! Mas, para quem crê, é poder de Deus
e sabedoria de Deus! (cf. 1Cor 1,18; 3,18-20). O problema é que as pessoas
casam como os cristãos, mas não creem nem vivem como os cristãos! Que fique bem
assentado: o sonho de Deus em Cristo para o matrimônio é a indissolubilidade!
(3) E os nossos irmãos e irmãs que fracassaram na aliança conjugal e estão numa nova união? É uma situação dolorosa. Se são cristãos de verdade, a coisa é primeiramente difícil para eles. Não nos compete julgar suas intenções e sua história! Compete-nos respeitá-los e acolhê-los com espírito fraterno, ajudando-os a viver esta nova união do melhor modo possível. Isto, no entanto, não significa aprovação da separação nem da nova união. Mas, simplesmente, respeito pela história, pela consciência e pelo mistério da vida e das opções de cada irmão e de cada irmã. Mesmo porque, quem estiver sem pecado, que atire a primeira pedra. Cuidado, irmãos: não coloquemos fardos na vida dos outros!
Que o Senhor socorra as famílias e fortaleça no amor os
esposos cristãos, fazendo-os simples como as crianças, capazes de acolher a
proposta do Cristo para o matrimônio e que, nas dificuldades, recordem-se que
Cristo, autor da nossa salvação, também foi levado à consumação passando pelos
sofrimentos. Que nossos sofrimentos, unidos aos dele, sejam semente e penhor de
vida eterna. Amém.
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