São Venceslau, mártir
João Paulo I, Papa
Salmo Responsorial:
86
R. O Senhor está conosco.
O Senhor ama a cidade, por Ele fundada sobre os montes
santos; ama as portas de Sião mais que todas as moradas de Jacob. Grandes
coisas se dizem de ti, ó cidade de Deus.
Contarei o Egito e a Babilónia entre os meus adoradores; a
Filisteia, Tiro e a Etiópia, uns e outros ali nasceram. E dir-se-á em Sião:
«Todos lá nasceram, o próprio Altíssimo a consolidou».
O Senhor escreverá no registo dos povos: «Este nasceu em
Sião». E irão dançando e cantando: «Todas as minhas fontes estão em ti».
Aleluia. O Filho do homem veio para servir e dar a vida pela redenção
dos homens. Aleluia.
Evangelho (Lc 9,51-56): Quando ia se completando o
tempo para ser elevado ao céu, Jesus tomou a firme decisão de partir para
Jerusalém. Enviou então mensageiros à sua frente, que se puseram a caminho e
entraram num povoado de samaritanos, para lhe preparar hospedagem. Mas os
samaritanos não o queriam receber, porque mostrava estar indo para Jerusalém.
Vendo isso, os discípulos Tiago e João disseram: «Senhor, queres que mandemos
descer fogo do céu, para que os destrua?». Ele, porém, voltou-se e os
repreendeu. E partiram para outro povoado».
«Voltou-se e os repreendeu»
Rev. D. Jordi POU i Sabater (Sant Jordi Desvalls, Girona, Espanha)
Conta a história de um homem que transportava água da Índia,
carregava dois cântaros um a cada lado pendurado no extremo de um pau que se
apoiava em seus ombros: Um era perfeito, e o outro tinha uma rachadura e perdia
água. Este –triste- observava o outro tão perfeito e com vergonha e sentindo-se
miserável, disse um dia ao seu amo: sinto muito, que por causa do meu defeito
perca metade do meu conteúdo. Ele lhe respondeu: Quando voltarmos para casa
repara nas flores que crescem no lado do caminho. E reparou: eram belíssimas
flores, mas vendo que continuava a perder água, repetiu: Não sirvo, faço tudo
mal. O senhor lhe respondeu: —reparaste que as flores só crescem no teu lado do
caminho? Isto porque eu sempre soube que em ti havia uma rachadura, então
plantei sementes do teu lado e a cada dia que fazia este trajeto tu regavas as
sementes e assim pude recolher estas flores para o altar da Virgem Maria. Sem
ti e a tua maneira de ser, não seria possível esta beleza.
Todos, de alguma maneira somos cântaros rachados, mas Deus
conhece bem os seus filhos e dá-nos a possibilidade de aproveitar as
rachaduras-defeitos para alguma coisa boa. Assim o apóstolo João —que hoje
quere destruir—, com a correção do Senhor converte-se no apóstolo do amor nas
suas cartas. Não se desanimou com as correções, senão que aproveitou o lado
positivo do seu caráter impulsivo —a paixão— para o serviço do amor. Que nós,
também sejamos capazes de aproveitar as correções, as contrariedades
—sofrimento, fracasso, limitações— para “começar e recomeçar”, tal como São
Josemaria definia a santidade: dóceis ao Espírito Santo para convertermos a
Deus e sermos seus instrumentos.
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
* “Jesus decide ir
para Jerusalém”. Esta decisão vai marcar a longa e dura viagem de Jesus
desde a Galileia até Jerusalém, da periferia até a capital. Esta viagem ocupa
mais de uma terça parte de todo o evangelho de Lucas (Lc 9,51 até 19,28). Sinal
de que a caminhada até Jerusalém teve uma importância muito grande na vida de
Jesus. A longa caminhada simboliza, ao mesmo tempo, a viagem que as comunidades
estavam fazendo. Elas procuravam realizar a difícil passagem do mundo judeu
para o mundo da cultura grega. Simbolizava também a tensão entre o Novo que
continuava avançando e o Antigo que se fechava cada vez mais. E simboliza,
ainda, a conversão que cada um de nós tem que fazer, procurando seguir Jesus.
Durante a viagem, os discípulos e as discípulas tentam seguir Jesus, sem voltar
atrás. Nem sempre o conseguem. Jesus dedica muito tempo à instrução dos que o
seguem de perto. Um exemplo concreto desta instrução temos no evangelho de
hoje. Logo no início da viagem, Jesus sai da Galileia e leva seus discípulos
para dentro do território dos samaritanos. Ele procura formá-los para que
possam entender a abertura para o Novo, para o “outro”, o diferente.
* Lucas 9,51: Jesus
decide ir para Jerusalém. O texto grego diz literalmente: "Quando se
completaram os dias da sua assunção (ou arrebatamento), Jesus firmou o seu
rosto para ir a Jerusalém”. A expressão assunção ou arrebatamento evoca o
profeta Elias que foi arrebatado ao céu (2 Rs 2,9-11). A expressão firmar o
rosto evoca o Servo de Javé que dizia: “Faço meu rosto duro como pedra, certo
de não ser enganado” (Is 50,7). Evoca ainda uma ordem que o profeta Ezequiel
recebeu de Deus: "Fixa a teu rosto contra Jerusalém!" (Ez 21,7).
Usando tais expressões, Lucas sugere que, com a caminhada em direção a
Jerusalém, começa uma oposição mais declarada de Jesus contra o projeto da
ideologia oficial do Templo de Jerusalém. A ideologia do Templo queria um
Messias glorioso e nacionalista. Jesus quer ser o Messias-Servo. Durante a
longa viagem, esta oposição vai crescer e, no fim, vai terminar no
arrebatamento ou na assunção de Jesus. A assunção de Jesus é a sua morte na
Cruz, seguida da ressurreição.
2. Lucas 9,52-53:
Fracassa a missão na Samaria. Durante a viagem, o horizonte da missão se
alarga. Logo no início, Jesus ultrapassa as fronteiras do território e da raça.
Ele manda seus discípulos preparar a sua vinda numa aldeia da Samaria. Mas a
missão junto dos samaritanos fracassou. Lucas diz que os samaritanos não receberam
Jesus porque ele estava indo para Jerusalém. Porém, se os discípulos tivessem
dito aos samaritanos: “Jesus está indo para Jerusalém para criticar o projeto
do Templo e para exigir maior abertura”, Jesus teria sido aceito, pois os
samaritanos eram da mesma opinião. O fracasso da missão deve-se, provavelmente,
aos discípulos. Eles não entenderam por que Jesus “firmou a cara contra
Jerusalém”. A propaganda oficial do Messias glorioso e nacionalista impedia-os
de enxergar. Os discípulos não entenderam a abertura de Jesus, e a missão
fracassou!
3. Lucas 9,54-55: Jesus
recusa o pedido de vingança. Tiago e João não querem levar desaforo para
casa. Não aceitam que alguém não concorde com a ideia deles. Querem imitar
Elias e usar o fogo para se vingar (2 Rs 1,10). Jesus recusa a proposta. Não
quer o fogo. Certas Bíblias acrescentam: "Vocês não sabem de que espírito
são movidos!" Significa que a reação dos dois discípulos não era do
Espírito de Deus. Quando Pedro sugeriu a Jesus para não seguir pelo caminho do
Messias Servo, Jesus chamou Pedro de Satanás (Mc 8,33). Satanás é o mau
espírito que quer mudar o rumo da missão de Jesus. Recado de Lucas para as
comunidades: os que querem impedir a missão junto dos pagãos são movidos pelo
mau espírito!
* Durante os dez
capítulos que descrevem a viagem até Jerusalém (Lc 9,51 a 19,28), Lucas,
constantemente, lembra que Jesus está a caminho de Jerusalém (Lc 9,51.53.57;
10,1.38; 11,1; 13,22.33; 14,25; 17,11; 18,31; 18,37; 19,1.11.28). Raramente,
porém, ele diz por onde Jesus passava. Só aqui no começo da viagem (Lc 9,51),
no meio (Lc 17,11) e no fim (Lc 18,35; 19,1), você fica sabendo algo a respeito
do lugar por onde Jesus estava passando. Isto vale para as comunidades de Lucas
e para todos nós. O que é certo é que devemos caminhar. Não podemos parar. Nem
sempre, porém, é claro e definido por onde passamos. O que é certo é o
objetivo: Jerusalém.
Para um confronto
pessoal
1) Quais os
problemas que já apareceram em sua vida como consequência da decisão que você
tomou de seguir Jesus?
2) O que
aprendemos da pedagogia de Jesus com seus discípulos que queriam vingar-se dos
samaritanos?
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