quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Transfiguração do Senhor

1ª Leitura (Dan 7,9-10.13-14): Estava eu a olhar, quando foram colocados tronos e um Ancião sentou-se. As suas vestes eram brancas como a neve e os cabelos como a lã pura. O seu trono eram chamas de fogo, com rodas de lume vivo. Um rio de fogo corria, irrompendo diante dele. Milhares de milhares o serviam e miríades de miríades o assistiam. O tribunal abriu a sessão e os livros foram abertos. Contemplava eu as visões da noite, quando, sobre as nuvens do céu, veio alguém semelhante a um filho do homem. Dirigiu-Se para o Ancião venerável e conduziram-no à sua presença. Foi-lhe entregue o poder, a honra e a realeza, e todos os povos e nações O serviram. O seu poder é eterno, que nunca passará, e o seu reino jamais será destruído.

Salmo Responsorial: 96

R. O Senhor é rei, o Altíssimo sobre toda a terra.

O Senhor é rei: exulte a terra, rejubile a multidão das ilhas. Ao seu redor, nuvens e trevas; a justiça e o direito são a base do seu trono.

Derretem-se os montes como cera diante do senhor de toda a terra. Os céus proclamam a sua justiça e todos os povos contemplam a sua glória.

Vós, Senhor, sois o Altíssimo sobre toda a terra, estais acima de todos os deuses. Alegrai-vos, ó justos, no Senhor e louvai o seu nome santo.

2ª Leitura (2Pe 1,16-19): Caríssimos: Não foi seguindo fábulas ilusórias que vos fizemos conhecer o poder e a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas por termos sido testemunhas oculares da sua majestade. Porque Ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando da sublime glória de Deus veio esta voz: «Este é o meu Filho muito amado, em quem pus toda a minha complacência». Nós ouvimos esta voz vinda do céu, quando estávamos com Ele no monte santo. Assim temos bem confirmada a palavra dos Profetas, à qual fazeis bem em prestar atenção, como a uma lâmpada que brilha em lugar escuro, até que desponte o dia e nasça em vossos corações a estrela da manhã.

Aleluia. Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O. Aleluia.

Evangelho (Mc 9,2-10): Naquele tempo, seis dias depois, Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João e os fez subir a um lugar retirado, no alto de uma montanha, a sós. Lá, ele foi transfigurado diante deles. Sua roupa ficou muito brilhante, tão branca como nenhuma lavadeira na terra conseguiria torná-la assim. Apareceram-lhes Elias e Moisés, conversando com Jesus. Pedro então tomou a palavra e disse a Jesus: «Rabi, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias». Na realidade, não sabia o que devia falar, pois eles estavam tomados de medo. Desceu, então, uma nuvem, cobrindo-os com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: «Este é o meu Filho amado. Escutai-o!». E, de repente, olhando em volta, não viram mais ninguém: só Jesus estava com eles. Ao descerem da montanha, Jesus ordenou-lhes que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem ressuscitasse dos mortos. Eles ficaram pensando nesta palavra e discutiam entre si o que significaria esse «ressuscitar dos mortos».

«Rabi, é bom ficarmos aqui»

Rev. D. Ignasi NAVARRI i Benet (La Seu d'Urgell, Lleida, Espanha)

Hoje, celebramos a solenidade da Transfiguração do Senhor. O monte Tabor, como o Sinai, é o lugar da proximidade com Deus. É o espaço elevado, em relação à existência diária, onde se respira o ar puro da Criação. É o lugar da oração, onde se está na presença do Senhor, como Moisés e Elias que aparecem com Jesus transfigurado falando com Ele sobre o Êxodo que O esperava em Jerusalém (ou seja, a sua Páscoa).

«As suas vestes tornaram-se resplandecentes, de tal brancura que nenhuma lavadeira na terra as poderia branquear assim» (Mc 9,3). Este facto simboliza a purificação da Igreja. E Pedro disse a Jesus: «Vamos fazer três tendas, uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias» (Mc 9,5). Santo Agostinho comenta belamente que Pedro procurava três tendas porque ainda não conhecia a unidade entre a Lei, a Profecia e o Evangelho.

«Nisto veio uma nuvem que os cobriu, e dela saiu uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado; escutai-o» (Mc 9,7). A Transfiguração não é uma mudança em Jesus, mas sim a Revelação da sua Divindade. Pedro, Tiago e João, contemplando a Divindade do Senhor, preparam-se para enfrentar o escândalo da Cruz. A Transfiguração é uma antecipação da Ressurreição!

«Rabi, é bom ficarmos aqui» (Mc 9,5). A Transfiguração recorda-nos que as alegrias, semeadas por Deus na vida, não são pontos de chegada, e sim luzes que Ele nos dá na peregrinação terrena para que “só Jesus” seja a nossa Lei, e a sua Palavra seja o critério, o gozo e a bem-aventurança da nossa existência.

Que a Virgem Maria nos ajude a viver intensamente os nossos momentos de encontro com o Senhor para que O possamos seguir cada dia com alegria, e nos ajude a escutar e seguir sempre o Senhor Jesus, até à paixão e à Cruz, para podermos participar também da sua Glória.

 “Este é o meu filho amado, escutai-o”

* O evangelho de hoje traz dois assuntos ligados entre si: a Transfiguração de Jesus e a questão do retorno do profeta Elias. Naquele tempo, o povo esperava pelo retorno do profeta Elias. Hoje, muita gente vive esperando pelo retorno de Jesus e escreve nos muros da cidade: Jesus voltará! Eles não se dão conta de que Jesus já voltou e já está presente no coração da nossa vida. De vez em quando, como num relâmpago repentino, esta presença de Jesus irrompe e se ilumina, transfigurando nossa vida.

* A Transfiguração de Jesus acontece depois do primeiro anúncio da Morte de Jesus (Mc 8,27-30). Este anúncio tinha transtornado a cabeça dos discípulos, sobretudo de Pedro (Mc 8,31-33). Eles tinham os pés no meio dos pobres, mas a cabeça estava perdida na ideologia do governo e da religião da época (Mc 8,15). A cruz era um impedimento para crer em Jesus. A transfiguração de Jesus vai ajudar os discípulos a superar o trauma da Cruz.

* Nos anos 70, quando Marcos escreve, a Cruz continuava sendo um grande impedimento para os judeus aceitarem Jesus como Messias. “A cruz é um escândalo!”, assim diziam (1Cor 1,23). Um dos maiores esforços dos primeiros cristãos consistia em ajudar as pessoas a perceber que a cruz não era escândalo nem loucura, mas sim expressão do poder e da sabedoria de Deus (1Cor 1,22-31). Marcos dá a sua contribuição neste esforço. Ele usa textos e figuras do Antigo Testamento para descrever a Transfiguração. Assim ele mostra que Jesus veio realizar as profecias e que a Cruz era o caminho para a Glória.

* Marcos 9,2-4: Jesus muda de aspecto.

Jesus sobe a uma montanha alta. Lucas acrescenta que ele subiu para rezar (Lc 9,28). Lá em cima, Jesus aparece na glória diante de Pedro, Tiago e João. Junto com ele aparecem Moisés e Elias. A Montanha alta evoca o Monte Sinai, onde, no passado, Deus tinha manifestado sua vontade ao povo, entregando a lei. As vestes brancas lembram Moisés que ficava fulgurante quando conversava com Deus na Montanha e dele recebia a lei (cf. Ex 34,29-35). Elias e Moisés, as duas maiores autoridades do Antigo Testamento, conversam com Jesus. Moisés representa a Lei, Elias, a profecia. Lucas informa que a conversa foi sobre “o êxodo de Jesus”, isto é, a Morte de Jesus em Jerusalém (Lc 9,31). Assim fica claro que, o Antigo Testamento, tanto a Lei como a profecia, já ensinava que, para o Messias Servidor, o caminho da glória tinha de passar pela cruz.

* Marcos 9,5-6: Pedro gostou, mas não entendeu. Pedro gostou e quis segurar o momento agradável na Montanha. Ele se oferece para construir três tendas. Marcos diz que Pedro estava com medo, sem saber o que estava dizendo, e Lucas acrescenta que os discípulos estavam com sono (Lc 9,32). Eles são como nós: têm dificuldade para entender a Cruz!

* Marcos 9,7-9: A voz do céu esclarece os fatos. Enquanto Jesus é envolvido pela glória, uma voz do céu diz: “Este é o meu Filho amado! Ouvi-o!”. A expressão “Filho amado” lembra a figura do Messias Servidor, anunciado pelo profeta Isaías (cf. Is 42,1). A expressão “Ouvi-o!” lembra a profecia que prometia a chegada de um novo Moisés (cf. Dt 18,15). Em Jesus, as profecias do Antigo Testamento estão se realizando. Os discípulos já não podem duvidar. Jesus é realmente o Messias glorioso que eles desejam, mas o caminho para a glória passa pela cruz, conforme tinha sido anunciado na profecia do Servo (Is 53,3-9). A glória da Transfiguração o comprova. Moisés e Elias o confirmam. O Pai o garante. Jesus o aceita. No fim, Marcos diz que, depois da visão, os discípulos veem só Jesus e ninguém mais. Daqui para a frente, Jesus é a única revelação de Deus para nós! Jesus, e só ele, é a chave para a gente entender todo o Antigo Testamento.

* Marcos 9, 9-10: Saber guardar o silêncio. Jesus pedia aos discípulos para não dizerem nada a ninguém até que ele tivesse ressuscitado dos mortos, mas os discípulos não o entenderam. De fato, não entende o significado da Cruz quem não liga o sofrimento com a ressurreição. A Cruz de Jesus é a prova de que a vida é mais forte que a morte.

* Marcos 9,11-13: A volta do profeta Elias. O profeta Malaquias tinha anunciado que Elias devia voltar para preparar o caminho do Messias (Ml 3,23-24). O mesmo anúncio está no livro do Eclesiástico (Eclo 48,10). Então, como Jesus podia ser o Messias, se Elias ainda não tinha voltado? Por isso, os discípulos perguntam: “Por que motivo os escribas dizem que Elias deve vir primeiro?” (9,11). A resposta de Jesus é clara: “Elias já veio e fizeram com ele tudo o que quiseram, conforme dele está escrito” (9, 13). Jesus estava falando de João Batista que foi assassinado por Herodes (Mt 17,13).

Para um confronto pessoal

1) A sua fé em Jesus já proporcionou a você algum momento de transfiguração e de alegria intensa? Como estes momentos de alegria dão força na hora das dificuldades?

2) Como transfigurar, hoje, tanto a vida pessoal e familiar, como a vida comunitária?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

DEIXE AQUI SEU SUA SUGESTÃO