Santa Eufrásia do S. Coração de Jesus, Virgem de nossa Ordem
Salmo Responsorial: 95
R. O Senhor vem
julgar a terra.
Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, terra
inteira. Publicai entre as nações a sua glória, em todos os povos as suas
maravilhas.
O Senhor é grande e digno de louvor, mais temível que todos
os deuses. Os deuses dos gentios não passam de ídolos, foi o Senhor quem fez os
céus.
Alegrem-se os céus, exulte a terra, ressoe o mar e tudo o
que ele contém, exultem os campos e quanto neles existe, alegrem-se as árvores
dos bosques.
Diante do Senhor que vem, que vem para julgar a terra.
Julgará o mundo com justiça e os povos com fidelidade.
Aleluia. O Espírito do Senhor está sobre Mim: Ele me enviou a anunciar
a boa nova aos pobres. Aleluia.
Evangelho (Lc 4,16-30): Naquele tempo, Jesus foi a
Nazaré, onde se tinha criado. Conforme seu costume, no dia de sábado, foi à
sinagoga e levantou-se para fazer a leitura. Deram-lhe o livro do profeta
Isaías. Abrindo o livro, encontrou o lugar onde está escrito: «O Espírito do
Senhor está sobre mim, pois ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa
Nova aos pobres: enviou-me para proclamar a libertação aos presos e, aos cegos,
a recuperação da vista; para dar liberdade aos oprimidos e proclamar um ano de
graça da parte do Senhor». Depois, fechou o livro, entregou-o ao ajudante e
sentou-se. Os olhos de todos, na sinagoga, estavam fixos nele. Então, começou a
dizer-lhes: «Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de
ouvir». Todos testemunhavam a favor dele, maravilhados com as palavras cheias
de graça que saíam de sua boca. E perguntavam: «Não é este o filho de José? ».
Ele, porém, dizia: «Sem dúvida, me citareis o provérbio: ‘Médico, cura-te a ti
mesmo’. Tudo o que ouvimos dizer que fizeste em Cafarnaum, faze também aqui, na
tua terra!». E acrescentou: «Em verdade, vos digo que nenhum profeta é bem
recebido na sua própria terra. Ora, a verdade é esta que vos digo: no tempo do
profeta Elias, quando não choveu durante três anos e seis meses e uma grande
fome atingiu toda a região, havia muitas viúvas em Israel. No entanto, a
nenhuma delas foi enviado o profeta Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na
Sidônia. E no tempo do profeta Eliseu, havia muitos leprosos em Israel, mas
nenhum deles foi curado, senão Naamã, o sírio». Ao ouvirem estas palavras, na
sinagoga, todos ficaram furiosos. Levantaram-se e o expulsaram da cidade.
Levaram-no para o alto do morro sobre o qual a cidade estava construída, com a
intenção de empurrá-lo para o precipício. Jesus, porém, passando pelo meio deles,
continuou o seu caminho.
«Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir»
Rev. D. David AMADO i
Fernández (Barcelona, Espanha)
Mas, além disso, todas as palavras do Evangelho possuem uma
atualidade eterna. São eternas porque foram pronunciadas pelo Eterno e, são
atuais porque Deus faz com que se cumpram em todos os tempos. Quando escutamos
a Palavra de Deus, temos que recebê-la não como um discurso humano, mas sim
como uma Palavra que tem, sobre nós, poder de transformação. Deus não fala aos
nossos ouvidos, mas ao nosso coração. Tudo o que diz está profundamente cheio
de sentido e de amor. A Palavra de Deus é uma fonte inextinguível de vida: «É
mais o que perdemos do que o que captamos, tal como ocorre com os sedentos que
bebem de uma fonte» (Santo Efrém). Suas palavras saem do coração de Deus. E, desse
coração, do seio da Trindade, veio Jesus —a Palavra do Pai — aos homens.
Por isso, cada dia, quando escutamos o Evangelho, temos que
poder dizer como Maria: «Faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1,38); e
Deus nos responderá: «Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes
de ouvir». Mas para que a Palavra seja eficaz em nós devemos nos desprender de
todo o preconceito. Os contemporâneos de Jesus não o compreenderam, porque o
viam somente com olhos humanos: «Não é este o filho de José?» (Lc 4,22).
Enxergavam a humanidade de Cristo, mas não se deram conta de sua divindade.
Sempre que escutamos a Palavra de Deus, mais à frente do estilo literário, da
beleza das expressões ou da singularidade da situação, temos que saber que é
Deus quem nos fala.
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
* Lucas 4,16-19: A
proposta de Jesus. Animado pelo Espírito Santo, Jesus tinha voltado para a
Galiléia (Lc 4,14) e começou a anunciar a Boa Nova do Reino de Deus. Andando
pelas comunidades e ensinando nas sinagogas, ele chegou em Nazaré, onde tinha
sido criado. Estava de volta na comunidade, onde, desde pequeno, tinha
participado durante quase trinta anos. No sábado seguinte, conforme o seu
costume, Jesus foi à sinagoga para participar da celebração e levantou-se para
fazer a leitura. Escolheu o texto de Isaías que falava dos pobres, presos,
cegos e oprimidos (Is 61,1-2). Este texto refletia a situação do povo da
Galiléia do tempo de Jesus. A experiência que Jesus tinha de Deus como Pai
amoroso dava a ele um novo olhar para avaliar a realidade. Em nome de Deus,
Jesus toma posição em defesa da vida do seu povo e, com as palavras de Isaías,
define a sua missão: (1) anunciar
a Boa Nova aos pobres, (2) proclamar
a libertação aos presos, (3) a
recuperação da vista aos cegos, (4) restituir
a liberdade aos oprimidos e, retomando a antiga tradição dos profetas, (5) proclama “um ano de graça da parte do Senhor”.
Proclama o ano do jubileu!
* Na Bíblia, o “Ano
Jubileu” era uma lei importante. Inicialmente, a cada sete anos (Dt 15,1;
Lev 25,3), as terras deviam voltar ao clã de origem. Cada um devia poder voltar
à sua propriedade. Assim impediam a formação de latifúndio e garantiam às
famílias a sobrevivência. Também deviam perdoar as dívidas e resgatar as
pessoas escravizadas (Dt 15,1-18). Não foi fácil realizar o ano jubileu cada
sete anos (cf Jr 34,8-16). Depois do exílio, decidiram realizá-lo cada sete vezes
sete anos (Lev 25,8-12), isto é, cada cinquenta anos. O objetivo do Ano Jubileu
era e continua sendo: restabelecer os direitos dos pobres, acolher os excluídos
e reintegrá-los na convivência. O jubileu era um instrumento legal para voltar
ao sentido original da Lei de Deus. Era uma oportunidade oferecida por Deus
para fazer uma revisão da caminhada, descobrir e corrigir os erros e recomeçar
tudo de novo. Jesus inicia a sua pregação proclamando um jubileu, um “Ano de
Graça da parte do Senhor”.
* Lucas 4,20-22:
Ligar Bíblia com Vida. Terminada a leitura, Jesus atualiza o texto de
Isaías dizendo: “Hoje se cumpriu esta passagem da escritura que acabastes de
ouvir!" Assumindo as palavras de Isaías como suas próprias palavras, Jesus
lhes dá o seu pleno e definitivo sentido e se declara messias que veio realizar
a profecia. Esta maneira de atualizar o texto provocou uma reação de descrédito
por parte dos que estavam na sinagoga. Ficaram escandalizados e já não queriam
saber dele. Não aceitaram Jesus como o messias anunciado por Isaías. Diziam:
“Não é este o filho de José?” Ficaram escandalizados porque Jesus falou em
acolher os pobres, os cegos e os oprimidos. O povo de Nazaré não aceitou a
proposta de Jesus. E assim, no momento em que apresentou o seu projeto de
acolher os excluídos, ele mesmo foi excluído.
* Lucas 4,23-30: Ultrapassar
os limites da raça. Para ajudar a comunidade a superar o escândalo e
levá-la a compreender que sua proposta estava bem dentro da tradição, Jesus
contou duas histórias conhecidas da Bíblia, uma de Elias e outra de Eliseu. As
duas histórias criticavam o fechamento do povo de Nazaré. Elias foi enviado
para a viúva estrangeira de Sarepta (1 Rs 17,7-16). Eliseu foi enviado para
atender ao estrangeiro da Síria (2 Rs 5,14). Transparece aqui a preocupação de
Lucas em mostrar que a abertura para os pagãos já vinha desde Jesus. Jesus teve
as mesmas dificuldades que as comunidades estavam tendo no tempo de Lucas. Mas
o apelo de Jesus não adiantou. Ao contrário! As histórias de Elias e Eliseu
provocaram mais raiva ainda. A comunidade de Nazaré chegou ao ponto de querer
matar Jesus. Mas ele manteve a calma. A raiva dos outros não conseguiu
desviá-lo do seu caminho. Lucas mostra assim como é difícil superar a
mentalidade do privilégio e do fechamento.
* É importante notar
os detalhes no uso do Antigo Testamento. Jesus cita o texto de Isaías até
onde diz: "proclamar um ano de graça da parte do Senhor". Cortou o
resto da frase que dizia: "e um dia de vingança do nosso Deus". O
povo de Nazaré ficou bravo com Jesus por ele pretender ser o messias, por
querer acolher os excluídos e por ter omitido a frase sobre a vingança. Eles
queriam que o Dia de Javé fosse um dia de vingança contra os opressores do
povo. Neste caso, a vinda do Reino seria apenas uma virada da mesa e não uma
mudança ou conversão do sistema. Jesus não aceita este modo de pensar, não
aceita a vingança (cf.Mt 5,44-48). A sua nova experiência de Deus como Pai/Mãe
ajudava-o a entender melhor o sentido das profecias.
Para um confronto
pessoal
1) O programa de
Jesus consiste em acolher os excluídos. Será que nós acolhemos a todos, ou
excluímos alguém? Quais os motivos que nos levam a excluir certas pessoas?
2) Será que o
programa de Jesus está sendo realmente o nosso programa, o meu programa? Quais
os excluídos que deveríamos acolher melhor na nossa comunidade? O que ou quem
nos dá força para realizar a missão que Jesus nos deu?
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