Salmo Responsorial:
102
R. O Senhor é indulgente, é
favorável.
— O Senhor
realiza obras de justiça e garante o direito aos oprimidos; revelou os seus
caminhos a Moisés, e aos filhos de Israel, seus grandes feitos.
— O Senhor
é indulgente, é favorável, é paciente, é bondoso e compassivo. Não fica sempre
repetindo as suas queixas, nem guarda eternamente o seu rancor. Não nos trata
como exigem nossas faltas, nem nos pune em proporção às nossas culpas. Quanto
os céus por sobre a terra se elevam, tanto é grande o seu amor aos que o temem;
— Quanto
dista o nascente do poente, tanto afasta para longe nossos crimes. Como um pai
se compadece de seus filhos, o Senhor tem compaixão dos que o temem.
Aleluia. Deus Pai nos
gerou pela palavra da verdade, para sermos as primícias das suas criaturas.
Aleluia.
Evangelho (Lc
10,38-42): Naquele tempo, Jesus entrou num
povoado, e uma mulher, de nome Marta, o recebeu em sua casa. Ela tinha uma
irmã, Maria, a qual se sentou aos pés do Senhor e escutava a sua palavra.
Marta, porém, estava ocupada com os muitos afazeres da casa. Ela aproximou-se e
disse: «Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o
serviço? Manda pois que ela venha me ajudar!». O Senhor, porém, lhe respondeu:
«Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto,
uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada».
«Tu te preocupas e
andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária»
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès,
Barcelona, Espanha)
Porque
ocupados estaremos sempre se obedecermos à indicação do Criador: «Sede fecundos
e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a!» (Gn 1,28). A Terra! O mundo: é
aqui o nosso lugar de encontro com o Senhor. «Eu não rogo que os tires do
mundo, mas que os guardes do maligno» (Jo 17,15). Sim, o mundo é o altar para nós
e para nossa entrega a Deus e aos outros.
Somos do
mundo, mas não podemos ser mundanos. Muito pelo contrário, somos chamados a ser
como a bela expressão de João Paulo II sacerdotes da criação, sacerdotes do
nosso mundo, de um mundo que amamos apaixonadamente.
Eis aqui a
questão: o mundo e a santidade, o trabalho diário e a única coisa necessária.
Não são duas realidades opostas: temos que procurar a confluência de ambas. E
essa confluência se produz em primeiro lugar e sobre tudo em nosso coração, que
é onde se pode unir o céu e a terra. Porque no coração humano é onde pode
nascer o diálogo entre o Criador e a criatura.
É
necessário, portanto, a oração. «O nosso tempo é um tempo em constante
movimento, que frequentemente desemboca no ativismo, com o risco fácil de
acabar fazendo por fazer. Temos que resistir a essa tentação, procurando ser
antes de fazer. Recordamos a este respeito a reprovação de Jesus a Marta: «Tu
te preocupas e andas agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária
(Lc 10,41-42)» (S. João Paulo II).
Não há
oposição entre o ser e o fazer, mas sim há uma ordem de prioridade, de
precedência: «Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada» (Lc
10,42).
Reflexão
* Lucas 10,38: A casa amiga em
Betânia “Enquanto caminhavam, Jesus entrou num
povoado, e certa mulher, de nome Marta, o recebeu em sua casa”. Jesus está a caminho para Jerusalém, onde
será preso e morto. Ele chega na casa de Marta que o recebe. Lucas não diz que
a casa de Marta ficava em Betânia. É João que nos faz saber que a casa de Marta
ficava em Betânia, perto de Jerusalém. A palavra Betânia significa Casa da
Pobreza. Era um povoado pobre no alto do Monte das Oliveiras, perto de
Jerusalém. Quando ia a Jerusalém Jesus costumava passar na casa de Marta, Maria
e Lázaro (Jo 12,2)
* É impressionante verificar como Jesus entrava e vivia
nas casas do povo: na casa de Pedro (Mt 8,14), de Mateus (Mt 9,10), de Jairo
(Mt 9,23), de Simão o fariseu (Lc 7,36), de Simão o leproso (Mc 14,3), de
Zaqueu (Lc 19,5). O oficial reconhece: “Não sou digno de que entres em minha
casa” (Mt 8,8). O povo procurava Jesus na casa dele (Mt 9,28; Mc 1,33; 2,1;
3,20). Os quatro amigos do paralítico tiram o telhado para fazer baixar o
doente dentro da casa onde Jesus estava ensinando o povo (Mc 2,4). Quando ia a
Jerusalém, Jesus parava em Betânia na casa de Marta, Maria e Lázaro (12,2). No
envio dos discípulos e discípulas a missão deles é entrar nas casas do povo e
levar a paz (Mt 10,12-14; Mc 6,10; Lc 10,1-9).
* Lucas 10,39-40: A atitude das duas
irmãs. “Maria,
sentou-se aos pés do Senhor, e ficou escutando a sua palavra. Marta estava
ocupada com muitos afazeres”. Duas atitudes importantes, sempre presentes na
vida dos cristãos: estar atenta à Palavra de Deus e estar atenta às
necessidades das pessoas. Cada uma destas duas atitudes exige atenção total.
Por isso, as duas vivem em tensão contínua que se expressa na reação de Marta:
"Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o
serviço? Manda que ela venha ajudar-me!". Expressa-se também na reação dos
apóstolos diante do problema que surgiu na comunidade de Jerusalém. O serviço à
mesa das viúvas estava tomando todo o tempo deles e já não podiam dedicar-se
inteiramente ao anúncio da Palavra. Por isso, eles reuniram a comunidade e
disseram: “Não é correto que deixemos a pregação da palavra de Deus para servir
às mesas” (At 6,2).
* Lucas 10,41-42: A resposta de
Jesus. "Marta,
Marta! Você se preocupa e anda agitada com muitas coisas; porém, uma só coisa é
necessária, Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será
tirada." Marta queria que Maria
sacrificasse sua atenção à palavra para ajudá-la no serviço da mesa. Mas não se
pode sacrificar uma atitude em favor da outra. O que é preciso é alcançar o
equilíbrio. Não se trata de escolher entre vida contemplativa e vida ativa,
como se aquela fosse melhor que esta. Trata-se de encontrar a justa
distribuição das tarefas apostólicas e dos ministérios dentro da comunidade.
Baseando-se nesta palavra de Jesus, os apóstolos pediram à comunidade que
escolhesse sete diáconos (servidores). O serviço das mesas foi entregue aos
diáconos e assim os apóstolos podiam continuar a sua atividade pastoral:
“dedicar-se inteiramente à oração e ao serviço da Palavra” (At 6,4). Não se
trata de encontrar nesta palavra de Jesus um argumento para dizer que a vida
contemplativa nos mosteiros é superior à vida ativa dos que labutam na
pastoral. As duas atividades tem a ver com o anúncio da Palavra de Deus. Marta
não pode exigir que Maria sacrifique a atenção à palavra. Bonita é a interpretação do místico medieval,
o frade dominicano Mestre Eckart que dizia: Marta já sabia trabalhar e servir
às mesas sem prejudicar em nada sua atenção à presença e à palavra de Deus.
Maria, assim ele diz, ainda estava aprendendo junto de Jesus. Por isso, ela não
podia ser interrompida. Maria escolheu o que para ela era a melhor parte. A
descrição da atitude de Maria diante de Jesus evoca a outra Maria, da qual
Jesus dizia: “Felizes os que ouvem a Palavra e a colocam em prática” (Lc
11,27).
Para um confronto pessoal
1) Como você equilibra na sua vida o desejo de Maria e a
preocupação de Marta?
2) À luz da resposta de Jesus para Marta, os apóstolos
souberam encontrar uma solução para o problema da comunidade de Jerusalém. A
meditação das palavras e gestos de Jesus me ajuda a iluminar os problemas da
minha vida?
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