S. Afonso Maria de Ligório, Bispo e Doutor da Igreja
Salmo Responsorial: 77
R. O Senhor deu-lhes o pão do céu.
Nós ouvimos
e aprendemos, os nossos pais nos contaram os louvores do Senhor e o seu poder e
as maravilhas que Ele realizou.
Deu suas
ordens às nuvens do alto e abriu as portas do céu; para alimento fez chover o
maná, deu-lhes o pão do céu.
O homem
comeu o pão dos fortes! Mandou-lhes comida com abundância e introduziu-os na
sua terra santa, na montanha que a sua direita conquistou.
2ª Leitura (Ef
4,17.20-24): Irmãos: Eis o que vos digo e
aconselho em nome do Senhor: Não torneis a proceder como os pagãos, que vivem
na futilidade dos seus pensamentos. Não foi assim que aprendestes a conhecer a
Cristo, se é que d’Ele ouvistes pregar e sobre Ele fostes instruídos, conforme
a verdade que está em Jesus. É necessário abandonar a vida de outrora e pôr de
parte o homem velho, corrompido por desejos enganadores. Renovai-vos pela
transformação espiritual da vossa inteligência e revesti-vos do homem novo,
criado à imagem de Deus na justiça e santidade verdadeiras.
Aleluia. Nem só de pão
vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. Aleluia.
Evangelho (Jo
6,24-35): Naquele tempo, quando a multidão
percebeu que Jesus não estava aí, nem os seus discípulos, entraram nos barcos e
foram procurar Jesus em Cafarnaum. Encontrando-o do outro lado do mar,
perguntaram-lhe: «Rabi, quando chegaste aqui?». Jesus respondeu: «Em verdade,
em verdade, vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque
comestes pão e ficastes saciados. Trabalhai não pelo alimento que perece, mas
pelo alimento que permanece até à vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará.
Pois a este, Deus Pai o assinalou com seu selo». Perguntaram então: «Que
devemos fazer para praticar as obras de Deus?». Jesus respondeu: «A obra de
Deus é que acrediteis naquele que Ele enviou». Eles perguntaram: «Que sinais
realizas para que possamos ver e acreditar em ti? Que obras fazes? Nossos pais
comeram o maná no deserto, como está escrito: ‘Deu-lhes a comer o pão do céu’».
Jesus respondeu: «Em verdade, em verdade, vos digo: não foi Moisés quem vos deu
o pão do céu.É meu Pai quem vos dá o verdadeiro pão do céu. Pois o pão de Deus
é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo». Eles então pediram: «Senhor,
dá-nos sempre desse pão!». Jesus lhes disse: «Eu sou o pão da vida. Quem vem a
mim não terá mais fome, e quem crê em mim nunca mais terá sede».
«Senhor, dá-nos sempre
desse pão (...) Eu sou o pão da vida»
+ Rev. D. Joaquim FONT i Gassol (Igualada, Barcelona,
Espanha)
Jesus
deveria estar muito contente com o esforço por buscá-Lo e segui-Lo. Ensinava a
todos e os interpelava de vários modos. A uns dizia: «Trabalhai não pelo
alimento que perece, mas pelo alimento que permanece até à vida eterna» (Jo
6,27). Aqueles que perguntaram: «Que devemos fazer para praticar as obras de
Deus?» (Jo 6,28), receberão um conselho prático, naquela sinagoga de Cafarnaum,
onde o Senhor promete a Sagrada Comunhão: «Crede».
Você e eu,
que tentamos nos meter nas páginas deste Evangelho, vemos refletida nossa
atitude? A nós que queremos reviver esta cena, que expressões nos tocam mais?
Estamos prontos para o esforço de buscar a Jesus depois de tantas graças,
doutrina, exemplos e lições que temos recebido? Sabemos fazer uma boa comunhão
espiritual: ‘Senhor dá-nos sempre deste pão que acalma toda a nossa fome’?
O melhor
atalho para encontrar a Jesus é Maria. Ela é a Mãe de Família que reparte o pão
para os filhos no calor do lar paterno. É a Mãe da Igreja que quer alimentar os
seus filhos para que cresçam, tenham forças, sejam felizes, levem a cabo o seu
trabalho santamente e sejam comunicativos. Santo Ambrósio, em seu tratado sobre
os mistérios, escreve: «E o sacramento que realizamos é o corpo nascido da
Virgem Maria. Acaso aqui, a nível da natureza, podemos pedir o corpo de Cristo,
se o mesmo Jesus nasceu de Maria por cima das leis naturais?».
A Igreja,
mãe e mestra, nos ensina que a Sagrada Eucaristia é «o sacramento da piedade,
sinal da unidade, vínculo da caridade, convite Pascal, no qual se recebe a
Cristo, e a alma se enche de graça e nos é dada a prenda da glória futura»
(Concílio Vaticano II).
Reflexão
O diálogo
de Jesus com o povo, com os judeus e com os discípulos é um diálogo bonito mas
exigente. Jesus procura abrir os olhos das pessoas para que aprendam a ler os
acontecimentos e descubram neles o rumo que devem tomar na vida. Não basta ir
atrás dos sinais milagrosos que multiplicam o pão para o corpo. Nem só de pão
vive o homem. A luta pela vida sem uma mística não alcança a raiz. Na medida
que vão conversando com Jesus, as pessoas sentem-se cada vez mais contrariada
pelas palavras dele, pois não cede nem altera as suas exigências. O discurso
parece desenvolver-se em espiral. Na medida em que o diálogo avança, há cada
vez menos gente que fica com Jesus. No final ficam somente os Doze, e Jesus nem
sequer pode confiar neles. Hoje acontece o mesmo. Quando o evangelho exige um
compromisso muita gente afasta-se.
João 6, 24-27: As pessoas procuram
Jesus porque querem mais pão e por isso vão atrás dele. Constatam que não entrou na barca
com os discípulos e não entendem como fez para chegar a Cafarnaum. Tampouco
entendem o milagre da multiplicação dos pães. A gente vê o que acontece mas não
consegue ver em tudo isto um sinal de algo mais profundo. Fica na superfície:
na fartura de comida. Procuram pão e vida mas só para o corpo. Segundo as
pessoas, Jesus fez o que Moisés fizera no passado: alimentar todos no deserto,
até à saciedade. Seguindo Jesus, queriam que o passado se repetisse. Mas Jesus
pede-lhe que dêem um passo mais. Além do trabalho pelo pão que perece, deve-se
trabalhar pelo pão que não perece. O Filho do Homem dará este alimento. Ele
dá-nos a vida que dura para sempre. Ele abre-nos um novo horizonte sobre o
sentido da vida e sobre Deus.
João 6, 28-29: “Qual é a obra de
Deus?”. As pessoas
perguntam: que devemos fazer para realizar este trabalho (obras) de Deus? Jesus
responde que a grande obra que Deus nos pede “é crer naquele que Deus enviou”,
ou seja, crer em Jesus! O discurso do Pão da Vida não é um texto para discutir
ou dissecar, mas um texto que se deve meditar e ruminar. Se não se entende
tudo, não nos devemos preocupar. O texto do Pão da Vida exige toda uma vida
para ser meditado e aprofundado. Um texto deste tipo, as pessoas devem lê-lo,
meditá-lo, rezá-lo, pensá-lo, lê-lo novamente, repeti-lo, ruminá-lo, como se
faz com um bom rebuçado na boca, ao qual se dá voltas até que se dissolva. Quem
lê superficialmente o quarto evangelho pode ficar com a impressão de que João
repete sempre a mesma coisa. Lendo com mais atenção, é possível perceber que
não se trata de repetições. O autor do quarto evangelho tem a sua própria
maneira de repetir o mesmo assunto, mas a um nível cada vez mais profundo.
Parece uma escada de caracol.
João 6, 30-33: “Que sinal realizas
para que acreditemos?”.
As pessoas perguntaram: “Que devemos fazer para realizar a obra de Deus?”.
Jesus responde: “A obra de Deus é crer naquele que Ele enviou”, isto é, crer em
Jesus. As pessoas formulam uma nova pergunta: “Que sinal realizas para que
possamos ver e acreditar em ti? Qual é a tua obra?”. Isto significa que não
entenderam a multiplicação dos pães como um sinal vindo de Deus para legitimar
Jesus perante o povo como um enviado de Deus. E continuam a argumentar: “Os
nossos pais comeram o maná no deserto, conforme está escrito: Ele deu-lhes a
comer o pão vindo do Céu”, ou seja, “pão de Deus”. Moisés continua a ser um
grande líder em quem eles acreditam. Se Jesus quer que eles acreditem nele tem
que fazer um sinal maior do que o de Moisés. “Qual é a tua obra?”. Jesus
responde que o pão dado por Moisés não era o verdadeiro pão do céu. Vinha do
alto, sim, mas não era o pão de Deus, visto não ter garantido a vida a ninguém.
Todos morreram no deserto (Jo 6, 49). O verdadeiro pão do céu, o pão de Deus, é
o pão que vence a morte e traz a vida. É o que desce do céu e dá a vida ao
mundo. É Jesus! Jesus procura ajudar as pessoas a libertarem-se dos esquemas do
passado. Para ele, fidelidade ao passado não significa encerrar-se nas coisas
antigas e não aceitar a renovação. Fidelidade ao passado é aceitar a novidade
que chega como fruto da semente plantada no passado.
João 6, 34-35: “Senhor, dá-nos
sempre deste pão!”.
Jesus responde claramente: “Eu sou o pão da vida!”. Comer o pão da vida é o
mesmo que acreditar em Jesus e aceitar o caminho que ele nos ensinou, a saber:
“O meu alimento é fazer a vontade do Pai que está no céu!” (Jo 4, 34). Este é o
alimento verdadeiro que sustenta a pessoa, que dá um rumo à vida e que traz
vida nova.
Palavra para o caminho
O caminho
que percorremos nesta terra é sempre um caminho marcado pela procura da nossa
realização, da nossa felicidade, da vida plena e verdadeira. Temos fome de
vida, de amor, de felicidade, de justiça, de paz, de esperança, de
transcendência e procuramos, de mil formas, saciar essa fome; mas continuamos
sempre insatisfeitos, tropeçando na nossa finitude, em respostas parciais, em
tentativas falhadas de realização, em esquemas equívocos, em falsas miragens de
felicidade e de realização, em valores efémeros, em propostas que parecem
sedutoras mas que só geram escravidão e dependência. Na verdade, o dinheiro, o
poder, a realização profissional, o êxito, o reconhecimento social, os
prazeres, os amigos são valores efémeros que não chegam para “encher” totalmente
a nossa vida e para lhe dar um sentido pleno. Jesus de Nazaré é o “pão de Deus
que desce do céu para dar a vida ao mundo”. É esta a questão central que o
Evangelho deste Domingo nos propõe.
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