Salmo Responsorial: 2
R. Felizes aqueles que confiam no
Senhor.
Porque se
agitam em tumulto as nações e os povos intentam vãos projetos? Revoltam-se os
reis da terra e os príncipes conspiram juntos contra o Senhor e contra o seu
Ungido: «Quebremos as suas algemas e atiremos para longe o seu jugo».
Aquele que
mora nos céus sorri, o Senhor escarnece deles. Então lhes fala com ira e com
sua cólera os atemoriza: «Fui Eu quem ungiu o meu Rei sobre Sião, minha
montanha sagrada».
Vou
proclamar o decreto do Senhor. Ele disse-me: «Tu és meu filho, Eu hoje te
gerei. Pede-me e te darei as nações como herança e os confins da terra para teu
domínio. Hás de governá-los com ceptro de ferro, quebrá-los como vasos de
barro».
Aleluia. Se
ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo está sentado
à direita de Deus. Aleluia.
Evangelho (Jo 3,1-8): Havia
alguém dentre os fariseus, chamado Nicodemos, um dos chefes dos judeus. À
noite, ele foi se encontrar com Jesus e lhe disse: «Rabi, sabemos que vieste
como mestre da parte de Deus, pois ninguém é capaz de fazer os sinais que tu
fazes, se Deus não está com ele». Jesus respondeu: «Em verdade, em verdade, te
digo: se alguém não nascer do alto, não poderá ver o Reino de Deus!». Nicodemos
perguntou: «Como pode alguém nascer, se já é velho? Ele poderá entrar uma
segunda vez no ventre de sua mãe para nascer?». Jesus respondeu: «Em verdade,
em verdade, te digo: se alguém não nascer da água e do Espírito, não poderá
entrar no Reino de Deus. O que nasceu da carne é carne; o que nasceu do
Espírito é espírito. Não te admires do que eu te disse: É necessário para vós
nascer do alto. O vento sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes de
onde vem, nem para onde vai. Assim é também todo aquele que nasceu do
Espírito».
«Se alguém não nascer
do alto, não poderá ver o Reino de Deus!»
Frei Josep Mª MASSANA i Mola OFM (Barcelona, Espanha)
Há alguns dias atrás celebramos a Vigília Pascal. Uma parte integrante desta vigília era a celebração do Batismo, que é a Páscoa, a passagem da morte para a vida. A bênção solene da água e a renovação das promessas foram momentos chave naquela noite santa.
No ritual
do batismo faz-se uma imersão na água (símbolo da morte) e uma saída da mesma
água (imagem da nova vida). É se submergido juntamente com o pecado e emerge-se
depois renovado. Isto é o que Jesus denomina como «nascer do alto» ou «nascer
de novo» (cf. Jo 3,3). Isto é “nascer da água”, “nascer do Espírito” ou “do
sopro do vento...”.
Água e
Espírito são os símbolos usados por Jesus. Ambos exprimem a ação do Espírito
Santo que purifica e dá vida, limpa e anima, sacia a sede e faz respirar,
suaviza e fala. Água e Espírito realizam uma única operação.
Por outro
lado, Jesus fala também da oposição entre carne e Espírito: «O que nasceu da
carne é carne; o que nasceu do Espírito é espírito» (Jo 3,6). O homem carnal
nasce humanamente quando se dá a sua concepção na Terra. Mas o homem espiritual
morre para o que é puramente carnal e nasce espiritualmente através do Batismo,
que é nascer de novo e do alto. Há uma bela frase de São Paulo que poderia ser
o nosso tema de reflexão e ação, sobretudo neste tempo pascal: «Ou ignorais que
todos nós, que fomos batizados em Cristo Jesus, fomos batizados na sua morte?
Pelo Batismo fomos, pois, sepultados com Ele na morte, para que, tal como
Cristo foi ressuscitado de entre os mortos pela glória do Pai, também nós caminhemos
numa vida nova» (Rm 6,3-4).
Reflexões de Frei
Carlos Mesters, O.Carm
* João 3,1: Um homem, chamado
Nicodemos - Pouco
antes do encontro de Jesus com Nicodemos, o evangelista falava da fé imperfeita
de certas pessoas que só se interessavam pelos milagres de Jesus (Jo 2,23-25).
Nicodemos era uma destas pessoas. Tinha boa vontade mas a sua fé ainda era
imperfeita. A conversa com Jesus vai ajudá-lo a perceber que deve dar um passo
a mais para poder aprofundar sua fé em Jesus e em Deus.
* João 3,2: 1ª pergunta de Nicodemos:
tensão entre o velho e o novo - Nicodemos
era um fariseu, pessoa de destaque entre os judeus e com um bom raciocínio. Ele
foi encontrar Jesus de noite e lhe diz: "Você vem da parte de Deus como um
mestre, pois ninguém é capaz de fazer os sinais que você faz!" Nicodemos
opina sobre Jesus a partir dos argumentos que ele, Nicodemos, tem dentro de si.
Isto já é um passo importante, mas não basta para conhecer Jesus. Os sinais que
Jesus faz podem despertar a pessoa e produzir nela um interesse. Podem gerar
curiosidade, mas não geram entrega nem fé. Não fazem ver o Reino de Deus
presente em Jesus. Para isto é necessário dar mais um passo. Qual é este passo?
* João 3,3: Resposta de Jesus:
"Tem que nascer de novo!" - Para
que Nicodemos possa perceber o Reino presente em Jesus, ele terá que nascer de
novo, do alto. Quem tenta compreender Jesus só a partir dos seus próprios
argumentos, não consegue entendê-lo. Jesus é maior. Enquanto Nicodemos fica só
com o catecismo do passado na mão, não vai poder entender Jesus. Ele terá que
abrir mão de tudo. Terá que deixar de lado suas próprias certezas e seguranças
e entregar-se totalmente. Terá que fazer uma escolha entre, de um lado, manter
a segurança que lhe vem da religião organizada com suas leis e tradições e, do
outro lado, lançar-se na aventura do Espírito que Jesus lhe propõe.
* João 3,4: 2ª pergunta de
Nicodemos: Como é possível nascer de novo? Nicodemos não dá o braço a torcer e torna a perguntar
com certa ironia: "Como uma pessoa pode nascer sendo já velha? Poderá
entrar uma segunda vez no seio de sua mãe e nascer?" Nicodemos tomou as
palavras de Jesus ao pé da letra e, por isso, não entendeu nada. Ele deveria
ter percebido que as palavras de Jesus tinham um sentido simbólico.
*
João 3,5-8: Resposta de Jesus: Nascer do alto, nascer do espírito. Jesus explica o que quer dizer:
nascer do alto ou nascer de novo. É "nascer da água e do Espírito".
Aqui temos uma alusão muito clara ao batismo. Através da conversa de Jesus com Nicodemos,
o evangelista nos convida a fazer uma revisão do nosso batismo. Ele relata as
seguintes palavras de Jesus: "O que nasceu da carne é carne. O que nasceu
do Espírito é Espírito". Carne significa aquilo que nasce só das ideias
nossas. O que nasce de nós tem o nosso tamanho. Nascer do Espírito é outra
coisa! O Espírito é como o vento. "O vento sopra onde quer e você ouve o
seu ruído, mas você não sabe de onde vem nem para onde vai. Assim acontece com
todo aquele que nasceu do espírito" O vento tem, dentro de si, um rumo,
uma direção. Nós percebemos a direção do vento, por exemplo, no vento Norte ou
vento Sul, mas não conhecemos nem controlamos a causa a partir da qual o vento
se movimenta nesta ou naquela direção. Assim é o Espírito. "Ninguém é
senhor do Espírito" (Ecl 8,8). O que mais caracteriza o vento, o Espírito,
é a liberdade. O vento, o espírito, é livre, não pode ser controlado. Ele age
sobre os outros e ninguém consegue agir sobre ele. Sua origem é mistério, seu
destino é mistério. O barqueiro deve, primeiro, descobrir o rumo do vento.
Depois, deve colocar as velas de acordo com este rumo. É o que Nicodemos e
todos nós temos de fazer.
* Uma chave para entender melhor as
palavras de Jesus sobre o Espírito Santo. A língua hebraica usa a mesma palavra para dizer vento
e espírito. Como dissemos, o vento tem, dentro de si, um rumo, uma direção:
vento Norte, vento Sul. O Espírito de Deus tem um rumo, um projeto, que já se
manifestava na criação. O Espírito estava presente na criação sob a forma de uma
ave pairando sobre as águas do caos (Gn 1,2). Ano após ano, ele renova a face
da terra e coloca a natureza em movimento através da sequência das estações (Sl
104,30; 147,18). Este mesmo Espírito está presente também na história. Fez
recuar o Mar Vermelho (Ex 14,21) e trouxe as codornizes para o povo comer (Nm
11,31). Esteve com Moisés e, a partir dele, se distribuiu nas lideranças do
povo (Nm 11,24-25). Tomava posse dos líderes e os levava a realizar ações
libertadoras: Otoniel (Jz 3,10), Gedeão (Jz 6,34), Jefté (Jz 11,29), Sansão (Jz
13,25; 14,6.19; 15,14), Saul (1Sm 11,6), e Débora, a profetisa (Jz 4,4). Esteve
presente no grupo dos profetas e agia neles com força contagiosa (1Sm
10,5-6.10). Sua ação nos profetas produziu inveja nos outros, mas Moisés reagiu:
"Oxalá todo o povo fosse profeta e recebesse o Espírito de Javé!" (Nm
11,29).
* Ao longo dos séculos cresceu a
esperança de que o Espírito de Deus orientasse o Messias na realização do
projeto de Deus (Is 11,1-9) e descesse sobre todo o povo de Deus (Ez 36,27;
39,29; Is 32,15; 44,3).
A grande promessa do Espírito transparece de várias maneiras nos profetas do
exílio: a visão dos ossos secos, ressuscitados pela força do Espírito de Deus
(Ez 37,1-14); a efusão do Espírito de Deus sobre todo o povo (Jl 3,1-5); a
visão do Messias-Servo que será ungido pelo Espírito para estabelecer o direito
na terra e anunciar a Boa Nova aos pobres (Is 42,1; 44,1-3; 61,1-3). Eles
vislumbram um futuro, em que o povo, cada vez de novo, renasce pela efusão do
Espírito (Ez 36,26-27; Sl 51,12; cf. Is 32,15-20).
* O evangelho de João usa muitas
imagens e símbolos para significar a ação do Espírito. Como na criação (Gn 1,1), assim o
Espírito desceu sobre Jesus "como uma pomba, vinda do céu" (Jo 1,32).
É o começo da nova criação! Jesus fala as palavras de Deus e nos comunica o
Espírito sem medida (Jo 3,34). Suas palavras são Espírito e vida (Jo 6,63).
Quando Jesus se despediu, ele disse que ia enviar um outro consolador, um outro
defensor, para ficar conosco. É o Espírito Santo (Jo 14,16-17). Através da sua
paixão, morte e ressurreição, Jesus conquistou o dom do Espírito para nós.
Através do batismo todos nós recebemos este mesmo Espírito de Jesus (Jo 1,33).
Quando apareceu aos apóstolos, soprou sobre eles e disse: "Recebei o Espírito
Santo!" (Jo 20,22). O Espírito é como água que jorra de dentro das pessoas
que creem em Jesus (Jo 7,37-39; 4,14). O primeiro efeito da ação do Espírito em
nós é a reconciliação: "Aqueles a quem vocês perdoarem os pecados serão
perdoados; aqueles aos quais retiverem, serão retidos" (Jo 20,23). O
Espírito nos é dado para que possamos lembrar e entender o significado pleno
das palavras de Jesus (Jo 14,26; 16,12-13). Animados pelo Espírito de Jesus
podemos adorar a Deus em qualquer lugar (Jo 4,23-24). Aqui se realiza a
liberdade do Espírito de que fala São Paulo: "Onde há o Espírito do
Senhor, aí está a liberdade” (2Cor 3,17).
Para um confronto pessoal
1. Como você costuma reagir diante das novidades que se
apresentam? É como Nicodemos ou aceita a surpresa de Deus?
2. Jesus compara a ação do Espírito Santo com o vento (Jo
3,8). O que esta comparação nos revela sobre a ação do Espírito de Deus na
minha vida? Você já passou por alguma experiência que lhe deu a sensação de
nascer de novo?
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