Salmo Responsorial:
117
R. Dai graças ao Senhor, porque Ele
é bom, porque é eterna a sua misericórdia.
Diga a casa
de Israel: é eterna a sua misericórdia. Diga a casa de Aarão: é eterna a sua
misericórdia. Digam os que temem o Senhor: é eterna a sua misericórdia.
A mão do
Senhor fez prodígios, a mão do Senhor foi magnífica. Não morrerei, mas hei de
viver, para anunciar as obras do Senhor. Com dureza me castigou o Senhor, mas
não me deixou morrer.
A pedra que
os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular. Tudo isto veio do Senhor: é
admirável aos nossos olhos. Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos
de alegria.
2ª Leitura (1Jo
5,1-6): Caríssimos: Quem acredita que Jesus
é o Messias, nasceu de Deus, e quem ama Aquele que gerou ama também Aquele que
nasceu d’Ele. Nós sabemos que amamos os filhos de Deus quando amamos a Deus e
cumprimos os seus mandamentos, porque o amor de Deus consiste em guardar os
seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados, porque todo o que
nasceu de Deus vence o mundo. Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé.
Quem é o vencedor do mundo senão aquele que acredita que Jesus é o Filho de
Deus? Este é o que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo; não só com a
água, mas com a água e o sangue. É o Espírito que dá testemunho, porque o
Espírito é a verdade.
Aleluia. Disse o
Senhor a Tomé: «Porque Me viste, acreditaste; felizes os que acreditam sem
terem visto». Aleluia.
Evangelho (Jo
20,19-31): Ao anoitecer daquele dia, o primeiro
da semana, os discípulos estavam reunidos, com as portas fechadas por medo dos
judeus. Jesus entrou e pôs-se no meio deles. Disse: «A paz esteja convosco».
Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos, então, se alegraram
por verem o Senhor. Jesus disse, de novo: «A paz esteja convosco. Como o Pai me
enviou também eu vos envio». Então, soprou sobre eles e falou: «Recebei o
Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os
retiverdes, ficarão retidos». Tomé, chamado Gêmeo, que era um dos Doze, não
estava com eles quando Jesus veio. Os outros discípulos contaram-lhe: «Nós
vimos o Senhor!». Mas Tomé disse: «Se eu não vir a marca dos pregos em suas
mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos, se eu não puser a mão no
seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, os discípulos encontravam-se
reunidos na casa, e Tomé estava com eles. Estando as portas fechadas, Jesus
entrou, pôs-se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a
Tomé: «Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a
no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!». Tomé respondeu: «Meu Senhor e meu
Deus!». Jesus lhe disse: «Creste porque me viste? Bem-aventurados os que não
viram, e creram!». Jesus fez diante dos discípulos muitos outros sinais, que
não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais
que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em
seu nome.
«Recebei o Espírito
Santo. A quem perdoardes os pecados, serão perdoados»
Rev. D. Joan Ant. MATEO i García (Tremp, Lleida,
Espanha)
Por
desígnio do Papa João Paulo II, a este Domingo chama-se o Domingo da Divina
Misericórdia. Trata-se de algo que vai muito mais além de uma devoção
particular. Como explicou o Santo Padre na sua encíclica Dives in misericordia,
a Divina Misericórdia é a manifestação amorosa de Deus em uma história ferida
pelo pecado. A palavra “Misericórdia” tem a sua origem em duas palavras:
“Miséria” e “Coração”. Deus coloca a nossa miserável situação devida ao pecado
no Seu coração de Pai, que é fiel aos Seus desígnios. Jesus Cristo, morto e
ressuscitado, é a suprema manifestação e atuação da Divina Misericórdia. «Tanto
amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito» (Jo 3,16) e
entregou-O à morte para que fossemos salvos. «Para redimir o escravo sacrificou
o Filho», temos proclamado no Pregão pascal da Vígilia. E, uma vez
ressuscitado, constituiu-O em fonte de salvação para todos os que creem nele.
Pela fé e pela conversão, acolhemos o tesouro da Divina Misericórdia.
A Santa
Madre Igreja, que quer que os seus filhos vivam da vida do Ressuscitado, manda
que —pelo menos na Páscoa— se comungue na graça de Deus. A cinquentinha pascal
é o tempo oportuno para cumprir esta determinação. É um bom momento para
confessar-se, acolhendo o poder de perdoar os pecados que o Senhor ressuscitado
conferiu à sua Igreja, já que Ele disse aos Apóstolos: «Recebei o Espírito
Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados» (Jo 20,22-23).
Assim iremos ao encontro das fontes da Divina Misericórdia. E não hesitemos em
levar os nossos amigos a estas fontes de vida: à Eucaristia e à Confissão.
Jesus ressuscitado conta conosco.
“Meu Senhor e meu
Deus”
Pe Antonio Rivero L.C.
Este
domingo se chamava domingo “in albis”, ou seja, “in albis deponendis”, “o
domingo no qual se despojam já os vestidos brancos” aqueles que antigamente
tinham recebido o batismo na noite da Vigília Pascal. Hoje este domingo se
chama, por indicação do Papa João Paulo II “Domingo II de Páscoa ou da divina
misericórdia”. Neste ano da misericórdia este domingo deverá ser vivido com
mais realce, se puder. Que ao passar junto dos nossos irmãos a nossa sombra
reflita a luz de Cristo que os ilumina e consola (1ª leitura). E assim possam se
encontrar com Cristo ressuscitado e exclamar com Tomé: “Meu Senhor e meu Deus”
(Evangelho).
Em primeiro
lugar, que muitos estão atravessando uma crise de fé, é evidente. Repetem o que
os outros experimentara. Albert Camus no seu livro “a Peste” faz dizer o ateu
Rieux, que não é mais que a sua mesma sombra: “Eu vivo na noite”, pois não
podia compaginar a bondade de Deus e o sofrimento dos inocentes. O maior
místico dos séculos na Igreja, São João da Cruz, diz: isto é “a noite escura da
alma”, porque de Deus não sentia nem o consolo nem o olhar nem o sussurro.
Santa Teresa de Lisieux: “Assaltam-me pensamentos como os que podem ter os
piores materialistas”, porque Deus desaparecia para ela nos telões da criação.
A Beata Teresa de Calcutá também viveu esta crise: “Há tanta contradição na
minha alma: um profundo almejo de Deus, tão profundo que faz dano; um
sofrimento contínuo, e com isso o sentimento de não ser querida por Deus,
rejeitada, vazia, sem fé, sem amor, sem zelo… O céu não significa nada para
mim, para mim parece um lugar vazio!”. Santa Teresa de Jesus, a grande mística
de Ávila, descreve assim a sua: “ó valha-me Deus, e que são os trabalhos
interiores e exteriores que padece uma alma até entrar na sétima morada… Nenhum
consolo é admissível nesta tempestade…”. E, se fosse pouco, Jesus na cruz: Meu
Deus, por que me abandonaste?!”. Ou seja que aqui, de Tomés pela vida afora,
quem mais e quem menos. Pois a estes Tomés Jesus quer mostrar as suas chagas e
curá-los, como o apóstolo Tomé.
Em segundo
lugar, o que fazer diante destas dúvidas e crises de fé? Culpar o ateísmo
teórico do marxismo e os seus sequazes, o laicismo e esceticismo de
intelectuais honradas ou baratos, o humanismo ateu de progressistas
cavernícolas, que reduzem a religião à correção ética da vida ou ao compromisso
social com o proletariado ou à auto realização da pessoa? Mas para dizer a
verdade, parte da culpa está em alguns cristãos. Assim declararam os 2000
padres conciliares no Concílio Vaticano II ao falar do ateísmo em 1965: “também
os que creem têm nisto a sua parte de responsabilidade…em quanto que, com o
descuido da educação religiosa, ou com a exposição inadequada da doutrina ou
inclusive com os defeitos da sua vida religiosa, moral e social, velaram mais
que revelaram o genuíno rosto de Deus e da religião” (Gaudium et spes, 19).
Também a estes crentes incoerentes Cristo ressuscitado quer lhes mostrar o seu
lado aberto para convidá-los a meter a mão e voltar à fé simples que lhes
transmitiram os seus avós e talvez a mãe de família. E assim possam exclamar de
coração: “Meu Senhor e meu Deus”.
Finalmente,
e agora compete a nós ver a mensagem para cada um de nós. É o momento de
revisar a nossa fé em Cristo ressuscitado, não seja que tenha algum Tomé
escondido entre alguma greta do nosso coração ou da nossa mente. A todos nós
chega a tentação de pedir a Deus um “seguro de felicidade”, ou pouco menos, ver
o rosto de Deus, ou receber provas ou sinais de que vamos por bom caminho. Quem
de nós não teve uma crise de fé, ou porque Deus parece ter entrado em eclipse
na nossa vida, ou porque se acumularam as desgraças que nos fazem duvidar do
seu amor, ou porque as tentações nos levam por caminhos não retos ou porque nos
esfriamos no nosso fervor inicial? Jesus misericordioso quer se aproximar.
Convida-nos a colocar o nosso dedo também nas suas chagas para que as nossas
dúvidas se convertam em certezas, as nossas tristezas em alegrias, as nossas
desconfianças em seguranças, a nossa teimosia em humildade, as nossas
tempestades em calma. Aprendamos de Tomé a nos despojar de falsos apoios, a
estar um pouco menos seguros de nós mesmos e aceitar a purificação que se
supõem nesses momentos de escuridão. Se os santos tiveram esses momentos, quem
somos nós para pedir a Deus que os tire de nós? “Meu Senhor e meu Deus”.
Para refletir: Como me comporto quando há nuvens
escuras na minha vida? Tenho medos e me alimento de dúvidas? Ou ao contrário,
esses momentos são ocasião para amadurecer na minha fé? Quantas vezes ao dia
exclamo: “Meu Senhor e meu Deus”?
Para rezar:
rezemos hoje a Maria e sempre que sintamos essas escuridões:
Sob a vossa proteção nos acolhemos,
Santa Mãe de Deus;
Não desprezeis as nossas súplicas
Que vos dirigimos
Nas nossas necessidades,
Antes bem livrai-nos de todo perigo,
Ó Virgem gloriosa e bendita!
Amém.
Qualquer sugestão ou
dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org
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