terça-feira, 30 de março de 2021

Sexta-feira Santa

Textos: Is 52, 13- 53,12; Hb 4, 14-16; 5, 7-9; João 18, 1-19, 42: Paixão de Cristo segundo São João.

Evangelho (Jo 18,1—19,42): Dito isso, Jesus saiu com seus discípulos para o outro lado da torrente do Cedron. Lá havia um jardim, no qual ele entrou com os seus discípulos. Também Judas, o traidor, conhecia o lugar, porque Jesus muitas vezes ali se reunia com seus discípulos. Judas, pois, levou o batalhão romano e os guardas dos sumos sacerdotes e dos fariseus, com lanternas, tochas e armas(…) O  , o comandante e os guardas dos judeus prenderam Jesus e o amarraram. Primeiro, conduziram-no a Anás (…). Anás, então, mandou-o, amarrado, a Caifás. (…) De Caifás, levaram Jesus ao palácio do governador. Era de madrugada (…). Pilatos, então, mandou açoitar Jesus. Os soldados trançaram uma coroa de espinhos, a puseram na cabeça de Jesus e o vestiram com um manto de púrpura. Aproximavam-se dele e diziam: «Viva o Rei dos Judeus!»; e batiam nele. Pilatos saiu outra vez e disse aos judeus: «Olhai! Eu o trago aqui fora, diante de vós, para que saibais que eu não encontro nele nenhum motivo de condenação». Então, Jesus veio para fora, trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. Ele disse-lhes: «Eis o homem!». Quando o viram, os sumos sacerdotes e seus guardas começaram a gritar: «Crucifica-o! Crucifica-o!». (…) Então, lhes entregou Jesus para ser crucificado. Carregando a sua cruz, ele saiu para o lugar chamado Calvário (em hebraico: Gólgota). Lá, eles o crucificaram (…). Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: «Mulher, eis o teu filho!». Depois disse ao discípulo: «Eis a tua mãe!». A partir daquela hora, o discípulo a acolheu no que era seu. Depois disso, sabendo Jesus que tudo estava consumado, e para que se cumprisse a Escritura até o fim, disse: «Tenho sede!». Havia ali uma jarra cheia de vinagre. Amarraram num ramo de hissopo uma esponja embebida de vinagre e a levaram à sua boca. Ele tomou o vinagre e disse: «Está consumado». E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.

A hora de Jesus no Horto de Getsêmani

Elaborado com base nos textos de Bento XVI) (Città del Vaticano, Vaticano)

Hoje o Monte das Oliveiras — o mesmo de então—um dos lugares mais venerados do cristianismo. Nele encontramos um dramático ponto culminante do mistério de nosso Redentor: ai Jesus experimentou a "última solidão", toda a tribulação do ser homem. Aí, o abismo do pecado e do mal chegou até o fundo da alma. Ai se estremeceu diante da morte eminente. Ai o beijou o traidor. Ai todos os discípulos o abandonaram.

São João recolhe todas estas experiências e dá uma interpretação teológica do lugar: com a palavra "horto" faz alusão à narração do Paraíso e do pecado original. Quer nos dizer que ao se retomar aquela historia. Naquele horto, no "jardim" do Éden, se produz uma traição, mas "horto" é também o lugar da ressurreição.

No horto Jesus aceitou até o fundo a vontade do Pai, a fez sua, e assim deu uma transformação a historia. Aqui Ele lutou também por mim!

A Paixão de Cristo

Rev. D. Antoni CAROL i Hostench(Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)

Hoje, assombrados, comemoramos a Paixão de Jesus Cristo. Hei aqui seu itinerário: o cenáculo da Eucaristia, o Horto de Getsemani, os palácios de Caifás e Herodes, o pretório de Pilatos, o Calvário da morte e o túmulo. Em cada um destes locais, entre uns e outros, fizemos sofrer a Jesus.

Deus podia nós redimir de mil modos diferentes. Escolheu o caminho do sofrimento até dar a vida. “Perder a vida” é a manifestação mais radical de amor. Não há improvisação: Profetizado já no Antigo Testamento, Jesus o predisse várias vezes; na Última Ceia nos deu de presente como alimento seu "Corpo que será entregue"; em Getsemani reza e diz "sim" a Deus-Pai. Na Cruz — plenamente consciente — mais uma vez diz “SIM”, entregando com liberdade e serenidade seu espírito.

Jesus, meu Redentor, cuidarei de ti com minhas mãos, te defenderei com meus braços, te exaltarei com inteligência, te adorarei com todo meu coração. O farei com tua e nossa Bendita Mãe, Santa Maria.

A postura do orador: Jesus reza de joelhos

Elaborado com base nos textos de Bento XVI) (Città del Vaticano, Vaticano)

Hoje, depois da exortação à vigilância dirigida aos Apóstolos, Jesus se distancia um pouco. Começa propriamente a oração do Monte das Oliveiras. Mateus e Marcos nos dizem que Jesus caiu com o rosto na terra: a postura de oração que expressa a extrema submissão à vontade de Deus, o abandono mais radical a Ele; uma postura que a liturgia ocidental inclui ainda na sexta-feira Santa e na profissão monástica, assim como na Ordenação de diáconos, presbíteros e bispos.

No entanto, Lucas diz que Jesus orou de joelhos. Introduz assim, baseando-se na postura de oração, esta luta noturna de Jesus no contexto da historia da oração cristã: enquanto a lapidavam, Estevão dobra os joelhos e ora (cf. At 7,60); Pedro se ajoelha antes de ressuscitar a Tabita da morte (cf. At 9,40); se ajoelha Paulo quando se despede dos presbíteros de Efésio (cf. At 20,36)…

Contemplemos Jesus, o Servo sofredor. O que não sofreu para nos salvar!

 Pe Antônio Rivero LC

A Quinta-feira Santa foi “a hora de Jesus”. A Sexta-feira Santa é, sobretudo, “a hora de Satanás”. Duas horas que se reduzem a uma só hora, “a hora do Mistério Pascal”, com os seus dois ponteiros: a entrega de Cristo e a maldade humana. A celebração da Paixão de hoje, que não é missa, tem três partes: primeira parte, liturgia da Palavra e oração universal; segunda parte, adoração da santa cruz e, terceira parte, sagrada Comunhão. Também podemos dividi-la assim: Paixão proclamada nas leituras, Paixão invocada na oração universal, Paixão venerada no beijo à santa cruz e Paixão comunicada na comunhão.

Em primeiro lugar, quem resiste contemplar este Servo sofredor? Desprezado, sem estima, leproso, ferido de Deus, humilhado, trespassado pelas nossas rebeliões (1ª leitura), com medo, pavor, tristeza, tédio, gritos, lágrimas. Ai, jogado no horto das oliveiras. Ai, aniquilado e sangrando na flagelação. Ai, blasfemado, injuriado, insultado na cruz. Ai, pregado mãos e pés no madeiro ignominioso da cruz. Ai, com o flanco sangrando pela culpa dessa lança cruel. Ai, deitado na cruz, o céu fechado sem a voz do seu Pai e uma noite escura interior terrível.

Em segundo lugar, não obstante, esse Servo sofredor é modelo e exemplo para nós (2ª leitura). Modelo de obediência ao Pai acima de tudo. Modelo de amor pelos homens até dar a vida por eles. Modelo de perdão sem medida. Modelo de mansidão, que diante de tanta injustiça não esperneou nem sequer se rebelou. Modelo de generosidade, que enquanto ao seu redor cada um tirava um proveito para si, Ele nada reservou para si mesmo. Modelo na hora de sofrer com paciência tanto atropelamento, golpes, empurrões, cusparadas, bofetadas, açoites, coroa de espinhos. Modelo de fidelidade até o final ao plano de Deus. Modelo de confiança nas mãos do seu Pai. 

Finalmente, cada um de nós tem algo de culpa na dor deste Servo sofredor. Os Judas que traem Jesus e o vendem por umas moedas de prazer. Os Pedros que negam Jesus para salvar a sua pele. Os outros discípulos que o abandonam de medo da cruz. Os que o martirizam e crucificam fazendo sofrer os seus irmãos, com os quais Cristo se identifica. Os Anás que estão bem apoltronados no seu sofá amidonado, que escondem no seu palácio uma máfia, sendo ele o padrinho onipotente, cético e agnóstico, disposto a dar uma bofetada em Jesus diante da força da verdade que ele não aceitava; sim, esse Anás que passará para a história como o protótipo de homem que faz valer os seus direitos de “autoridade aposentada”, para humilhar os outros, dar-se importância… E como não pôde, recorreu à violência baixa e própria de vilões. Homem orgulhoso, expeditivo, frontal, prático, seguro de sim mesmo. Também estão os Caifás. Caifás era homem mais político que ético: estava interessado na religião do “interesse”, disposto a praticá-la, embora tivesse que passar por cima da morte, enquanto lhe proporcionasse algo. Este era Caifás: um juiz que pronunciou a sentença, muito antes que o juízo começasse. Homem orgulhoso, expeditivo, frontal, cortante, prático, seguro de sim mesmo. Culpa também têm os covardes Pilatos de turno que preferem lavar as mãos para não perder o posto de prestígio, embora tenham que sacrificar a verdade e dar morte ao inocente. Claro está que têm o seu peso de culpa os Herodes supersticiosos, sensuais, frívolos que pretendem servir-se de Jesus como diversão da festa. E também os Barrabás, baderneiros, criminais, assassinos. Menos mal que também estavam os que consolaram Jesus: a sua santa Mãe, João evangelista, o Cireneu, as santas mulheres, a Verônica.     

Para refletir: Quero acompanhar Cristo na sua Paixão e Morte, ou serei mais um na lista de quem fizer Cristo sofrer neste ano? Qual personagem da Paixão eu quero protagonizar neste ano?

Para rezar: Senhor, piedade e misericórdia. Senhor, obrigado por ter me salvado. Senhor, dai-me a graça de lutar contra o pecado e de levar a minha própria cruz, pequeno pedaço da vossa enorme cruz.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:  arivero@legionaries.org

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