Salmo - 102/103
R.O Senhor é bondoso, compassivo e
carinhoso.
Bendize, ó
minha alma, ao Senhor, e todo o meu ser, seu santo nome! Bendize, ó minha alma,
ao Senhor, não te esqueças de nenhum de seus favores!
Pois ele te
perdoa toda culpa e cura toda a tua enfermidade; da sepultura ele salva a tua
vida e te cerca de carinho e compaixão.
Não fica sempre
repetindo as suas queixas nem guarda eternamente o seu rancor. Não nos trata
como exige nossas faltas nem nos pune em proporção às nossas culpas.
Quanto os
céus por sobre a terra se elevam, tanto é grande o seu amor aos que o temem; quanto
dista o nascente do poente, tanto afasta para longe nossos crimes.
2a Leitura (Rm 14,7-9):
Irmãos, nenhum de nós vive para si, e ninguém morre
para si. Se vivemos, vivemos para o Senhor; se morremos, morremos para o
Senhor. Quer vivamos quer morramos, pertencemos ao Senhor. Para isso é que
morreu Cristo e retomou a vida, para ser o Senhor tanto dos mortos como dos
vivos.
Aleluia. Eu vos dou
este novo mandamento, nova ordem, agora, vos dou; que, também, vos ameis uns
aos outros, como eu vos amei, diz o Senhor. Aleluia.
Evangelho (Mt
18,21-35): Pedro dirigiu-se a Jesus
perguntando: «Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra
mim? Até sete vezes?» Jesus respondeu: «Digo-te, não até sete vezes, mas até
setenta vezes sete vezes. O Reino dos Céus é, portanto, como um rei que
resolveu ajustar contas com seus servos. Quando começou o ajuste, trouxeram-lhe
um que lhe devia uma fortuna inimaginável. Como o servo não tivesse com que
pagar, o senhor mandou que fosse vendido como escravo, junto com a mulher, os filhos
e tudo o que possuía, para pagar a dívida. O servo, porém, prostrou-se diante
dele pedindo: ‘Tem paciência comigo, e eu te pagarei tudo’. Diante disso, o
senhor teve compaixão, soltou o servo e perdoou-lhe a dívida. Ao sair dali,
aquele servo encontrou um dos seus companheiros que lhe devia uma quantia
irrisória. Ele o agarrou e começou a sufocá-lo, dizendo: ‘Paga o que me deves’.
O companheiro, caindo aos pés dele, suplicava: ‘Tem paciência comigo, e eu te
pagarei’. Mas o servo não quis saber. Saiu e mandou jogá-lo na prisão, até que
pagasse o que estava devendo. Quando viram o que havia acontecido, os outros
servos ficaram muito sentidos, procuraram o senhor e lhe contaram tudo. Então o
senhor mandou chamar aquele servo e lhe disse: ‘Servo malvado, eu te perdoei
toda a tua dívida, porque me suplicaste. Não devias tu também ter compaixão do
teu companheiro, como eu tive compaixão de ti? O senhor se irritou e mandou
entregar aquele servo aos carrascos, até que pagasse toda a sua dívida. É assim
que o meu Pai que está nos céus fará convosco, se cada um não perdoar de
coração ao seu irmão».
«Senhor, quantas vezes
devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim?»
Rev. P. Anastasio URQUIZA Fernández MCIU (Monterrey,
México)
O perdão é
um dom, uma graça que procede do amor e da misericórdia de Deus. Para Jesus, o
perdão não tem limites, sempre e quando o arrependimento seja sincero e veraz.
Mas exige abrir o coração à conversão, quer dizer, obrar com os outros segundo
os critérios de Deus.
O pecado
grave afasta-nos de Deus (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 1470). O veículo
ordinário para receber o perdão desse pecado grave da parte de Deus é o
sacramento da penitência, e o ato do penitente que o coroa é a sua satisfação.
As obras próprias que manifestam essa satisfação são o signo do compromisso
pessoal —que o cristão assumiu perante Deus— de começar uma existência nova,
reparando, na medida do possível, os danos causados ao próximo.
Não pode
haver perdão do pecado sem algum tipo de satisfação, cujo fim é: 1. Evitar
deslizar-se a outros pecados mais graves; 2. Recusar o pecado (pois as penas
satisfatórias são como o feno e tornam o penitente mais cauto e vigilante); 3.
Tirar com os atos virtuosos os maus hábitos contraídos pelo mau viver; 4.
Assemelhar-nos a Cristo.
Como
explicou S. Tomás de Aquino, o homem é devedor perante Deus, tanto pelos
benefícios recebidos, como pelos pecados cometidos. Pelos primeiros deve
tributar-lhe adoração e ação de graças; e pelo segundo, satisfação. O homem da
parábola não esteve disposto a realizar o segundo, pelo que se tornou incapaz
de receber o perdão.
"A 'TERAPIA DO
PERDÃO'”.
✝ icatolica.com
A Palavra de Deus que a liturgia do
24º Domingo do Tempo Comum nos propõe fala do perdão. Apresenta-nos um Deus que ama sem cálculos,
sem limites e sem medida; e convida-nos a assumir uma atitude semelhante para
com os irmãos que, dia a dia, caminham ao nosso lado.
Diz o
Senhor no livro do Eclesiástico: “Quem se vingar encontrará a vingança do
Senhor, que pedirá severas contas dos seus pecados. Perdoa a injustiça cometida
por teu próximo: assim quando orares, teus pecados serão perdoados. Se alguém
guarda raiva contra o outro, como poderá pedir a Deus a cura? Senão tem
compaixão do seu semelhante, como poderá pedir perdão dos seus pecados?” (Eclo
28, 1-4.). Quem não perdoa o irmão, não poderá exigir o perdão de Deus. A
felicidade do homem não está em cultivar sentimentos de ódio e de rancor, mas
sim em cultivar sentimentos de perdão e misericórdia.
Viveríamos
mal o nosso caminho de discípulos de Cristo se, ao menor atrito – no lar, no
escritório, no trânsito… –, a nossa caridade se esfriasse e nos sentíssemos
ofendidos e desprezados. Às vezes – em matérias mais graves, em que a desculpa
se torna mais difícil-, faremos nossa a oração de Jesus: Pai, perdoa-lhes,
porque não sabem o que fazem (Lc 23,34). Em outros casos, bastará um sorriso,
retribuir o cumprimento, ter um pormenor amável para restabelecer a amizade ou
a paz perdida. As ninharias diárias não podem ser motivo para perdemos a
alegria, que deve ser profunda e habitual na nossa vida.
COMENTÁRIO DOS TEXTOS
BÍBLICOS
Em segundo
lugar, Jesus diz a Pedro que deve- que devemos- perdoar 70 vezes 7; isto é,
sempre. Cristo sabe que o homem é vingativo por natureza. Não entrava na cabeça
de Pedro o perdão ilimitado de Jesus. Natural, pois na sinagoga ouviu muitas
vezes que um judeu se perdoa até três vezes, mas a um estrangeiro jamais. E
também ouvia que uma mulher se perdoa uma vez, cinco um amigo. Sente-se então
generoso e resolve perguntar a Jesus se se pode perdoar até 7 vezes. Para ter
força para perdoar temos que contemplar muitas vezes a Deus que sempre nos
perdoa. E mais, temos que pedir-lhe um transplante de coração e uma infusão do
seu Espírito de amor na alma. Se não, é impossível. Jesus passou toda a vida
perdoando. E nos ofereceu o sacramento da reconciliação onde encontramos o
perdão de Deus, sempre, a todas as horas, sem limites. Basta que estejamos
arrependidos e com propósito de emendar-nos.
Finalmente,
e nós? Temos muitas ocasiões, na vida de família e de comunidade, nas relações
sociais e laborais, de imitar ou não esta atitude de Deus que sabe perdoar. Os
pais tem que perdoar os filhos a sua progressiva decolagem, a sua resistência e
as suas trapaças. Os filhos têm que perdoar os seus pais o egoísmo, o seu
autoritarismo, o seu paternalismo, a sua incompreensão. O marido a mulher e o
fato de que não saiba valorizar o seu trabalho, nem respeitar a sua fatiga ou o
irrite com pretensões descabeladas. Como a mulher o marido a sua incompreensão
das 60 horas laborais em casa- ele que tem somente 40- as suas faltas de
sensibilidade afetiva, a sua cegueira, diária e defraudadora de sonhos, para o
detalhe. Que os laicos perdoem os seus sacerdotes os extravios, a sua
ignorância para ajudar e compreender, a sua gravidade ao falar. Como o
sacerdote deve perdoar os fiéis as suas escapadas da igreja, as suas
inapetências religiosas, inclusive o seu fazer caso omisso à palavra de Deus. E
assim o patrão o obreiro e vice-versa, o governante os súditos, os alunos o
professor… E sempre vice-versa. Todos diariamente 70 vezes 7.
PARA REFLETIR
Uma coisa
que a humanidade atual, tão cheia de si, não compreende é que a verdadeira
liberdade nossa, a autêntica maturidade, somente é possível se formos abertos
para Deus na nossa vida. O homem fechado em si é presa de suas paixões, de sua
tendência à autoafirmação, à amargura, ao rancor, à vingança… Quando nos
abrimos para Deus e temos a coragem de nos deixar medir por ele, aí sim, somos
obrigado a nos deixar a nós mesmos e nos sentimos compelidos a ver, sentir e
agir conforme o coração de Deus. Tomemos a primeira leitura da Missa.
Observemos como Deus nos coloca freio, como nos educa, como nos serve de medida
e modelo: “Quem se vingar encontrará a vingança do Senhor, que pedirá severas
contas dos seus pecados. Perdoa a injustiça cometida por teu próximo: assim,
quando orares, teus pecados serão perdoados. Lembra-te do teu fim e deixa de
odiar; pensa na destruição e na morte, e persevera nos mandamentos. Pensa na
aliança do Altíssimo, e não leves em conta a falta alheia!” Eis, irmãos, Deus
no colocando freio e rédeas às paixões! E por quê? Porque, como diz o Salmo:
“Ele te perdoa toda culpa, e te cerca de carinho e compaixão. Não fica sempre
repetindo as suas queixas, nem guarda eternamente o seu rancor. Não nos trata
como exigem nossas faltas nem nos pune em proporção às nossas culpas…” É esta a
grande diferença entre quem crê e não crê, entre quem é aberto para Deus e para
ele se fecha. Para quem crê, a medida é Deus, é o coração do Pai do céu, tal qual
Jesus no-lo revelou!
Esta ideia
aparece muito clara na segunda leitura de hoje. O Apóstolo nos recorda que a
vida não nos pertence de modo fechado, absoluto; a vida é um dom e como dom
deve ser vivida: “Ninguém dentre nós vive para si mesmo ou morre para si mesmo.
Se estamos vivos, é para o Senhor que vivemos; se morremos, é para o Senhor que
morremos. Vivos ou mortos, pertencemos ao Senhor”. Ele, portanto, é nossa
medida, nosso critério e nossa realização; ele, que por nós morreu e
ressuscitou, para ser o nosso Senhor.
Pensando
nisso, detenhamo-nos, agora, no Evangelho. Como já disse, a questão aqui é
ainda a vida na Igreja. Quantas vezes perdoar? Até quando conservar um coração
aberto, disponível, sem deixar-se levar pela tristeza e a amargura, o rancor e
o fechamento? Até quando manter a doçura, filha da esperança, fruto da certeza
da vitória do Senhor? O Senhor Jesus nos adverte que o perdão deve ser dado
sempre porque o coração do Pai, como o do rei da parábola, é assim: cheio de
compaixão, capaz de perdoar toda a dívida. Observem, caríssimos, que Jesus
começa dizendo que o Reino dos Céus é assim: o reinado de um rei que é Pai e
perdoa. Ora, o Pai somente reina no coração de quem perdoa como ele mesmo
perdoa, como ele mesmo nos perdoou e acolheu em Jesus, que morreu e ressuscitou
para ser o perdão de Deus para nós! Eis o que é a Igreja: o espaço, o ambiente
no qual o reinado de Deus deve manifestar-se no mundo; lugar da misericórdia,
do acolhimento, do amor, do perdão mil vezes, da esperança que não desiste, da
doçura aprendida e bebida daquele Coração aberto na cruz. A Igreja deve ser
assim, Não porque sejamos bonzinhos, mas porque aprendemos assim do coração do
Pai de Jesus. Com efeito, como experimentará o perdão de Deus quem tem o
coração fechado para os outros? Quem reconhecerá de verdade que tudo deve a
Deus e nunca pagará o bastante quem não perdoa as dívidas dos irmãos? É preciso
que compreendamos ser impossível experimentar Deus como amor e doçura – e nosso
Deus é assim; Jesus no-lo revelou assim! – se não nos deixar inundar pelo amor
e doçura de Deus, inundar nosso coração, até transbordar para os irmãos!
Caríssimos,
no Senhor, que o silêncio da oração, que a contemplação persistente do Cristo e
de seus gestos e palavras, que a participação piedosa, recolhida e devota da
Eucaristia, faça o nosso coração aprender do Coração do Pai de Jesus. Eis aqui
como a Comunidade chamada Igreja – esta Comunidade reunida para a Eucaristia –
será sinal do Reino, início do Reino, semente do Reino. Somente assim,
poderemos dizer ao mundo sedento de Deus: Vinde e vede! Que o Senhor no-lo
conceda. Amém!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
DEIXE AQUI SEU SUA SUGESTÃO