Salmo Responsorial: 77
R. Não esqueçais as obras do Senhor.
Escuta, meu
povo, a minha instrução, presta ouvidos às palavras da minha boca. Vou falar em
forma de provérbio, vou revelar os mistérios dos tempos antigos.
Quando Deus
castigava os antigos, eles O procuravam, tornavam a voltar-se para Ele e
recordavam-se de que Deus era o seu protetor, o Altíssimo o seu redentor.
Eles,
porém, enganavam-no com a boca e mentiam-Lhe com a língua; o seu coração não
era sincero, nem eram fiéis à sua aliança.
Mas Deus,
compadecido, perdoava o pecado e não os exterminava. Muitas vezes reprimia a
sua cólera e não executava toda a sua ira.
2ª Leitura (Flp
2,6-11): Leitura da Epístola do apóstolo São
Paulo aos Filipenses Cristo Jesus, que era de condição divina, não Se valeu da
sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de
servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se
ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz. Por isso Deus O exaltou e
Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus
todos se ajoelhem no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua proclame que
Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.
Aleluia. Nós Vos
adoramos e bendizemos, Senhor Jesus Cristo, que pela vossa santa cruz remistes
o mundo. Aleluia.
Evangelho (Jo
3,13-17): Naquele tempo, disse Jesus a
Nicodemos: «Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu: o Filho do
Homem. Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também será levantado
o Filho do Homem, a fim de que todo o que nele crer tenha vida eterna. De fato,
Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele
crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao
mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele».
«A fim de que todo o
que nele crer tenha vida eterna»
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès,
Barcelona, Espanha)
Bem sabemos
que a cruz era o suplício mais atroz e vergonhoso de seu tempo. Exaltar a Santa
Cruz não deixaria de ser um cinismo se não fosse porque ai está o Crucificado.
A cruz, sem o Redentor, é simples cinismo; com o Filho do Homem é a nova árvore
da sabedoria. Jesus Cristo, «oferecendo-se livremente à paixão» da Cruz abriu o
sentido e o destino de nosso viver: subir com Ele à Santa Cruz para abrir os
braços e o coração ao Dom de Deus, num intercâmbio admirável. Também aqui nos
convém escutar a voz do Pai desde o céu: «Este é meu Filho (...), em quem me
comprazo» (Mc 1,11). Encontrarmos crucificados com Jesus e ressuscitar com Ele:
Eis aqui o porquê de tudo! Há esperança, há sentido, há eternidade, há vida!
Nós os cristãos não estamos loucos quando na Vigília Pascal, de maneira solene,
quer dizer, no Pregão Pascal, cantamos, louvando o pecado original: «Ó culpa
tão feliz, que tem merecido a graça de tão grande Redentor», que com sua dor
tem impresso sentido à mesma dor.
«Olhai a
árvore da cruz, foi sacrificado o Salvador do mundo: vem e adoremos» (Liturgia
da sexta-feira Santa). Se conseguirmos superar o escândalo e a loucura de
Cristo crucificado, não há nada mais que adorá-lo e agradecer-lhe seu Dom. E
procurar decididamente a Santa Cruz em nossa vida, para termos a certeza de
que, «por Ele, com Ele e Nele», nossa doação será transformada, nas mãos do
Pai, pelo Espírito Santo, em vida eterna: «Derramada por vós e por muitos para
o perdão dos pecados».
Comentário do Pe. Tomaz Hughes, SVD
O título
“Exaltação da Santa Cruz” chama a atenção, pois destaca o grande paradoxo da
nossa fé - foi exatamente através da Cruz, o mais terrível entre os suplícios,
que veio a salvação. Humanamente falando, a morte de Jesus na cruz significava
o fracasso total da sua vida e missão, mas, de fato, escondia a vitória de Deus
sobre o mal, da vida sobre a morte, da graça sobre o pecado - uma vitória que
se manifestaria ao terceiro dia, na Ressurreição. No mistério pascal da
vida-morte-ressurreição de Jesus verifica-se o que proclama Paulo na Primeira
Carta aos Coríntios: “Deus escolheu o que é loucura no mundo, para confundir os
sábios; e Deus escolheu o que é fraqueza no mundo, para confundir o que é
forte. E aquilo que o mundo despreza, acha vil e diz que não tem valor, isso
Deus escolheu para destruir o que o mundo pensa que é importante.” (1Cor 1,
27s).
Torna-se
muito importante resgatar uma sadia teologia e espiritualidade da Cruz. De um
lado temos que superar uma pregação errada que identificava a Cruz com qualquer
sofrimento, como se o sofrimento em si fosse um valor positivo. Quantas pessoas
sofreram injustiças a vida toda, aguentando situações quase insuportáveis, por
causa de tal pregação que levava à passividade diante das injustiças e
opressões. No fundo, faziam de Deus um sádico! Do outro lado, na sociedade de
hoje, a Cruz não está muito popular, pois o sacrifício, a autodoação em favor
de outros, está na contramão da sociedade hedonista e consumista. Até dentro da
Igreja muitas vezes há uma busca da Ressurreição e vitória, sem que se mencione
que o triunfo de Jesus veio através de uma vida de doação que o levou à cruz -
e como consequência dessa coerência, à Ressurreição.
A festa de
hoje celebra a Cruz, não o sofrimento. Jesus não nos salvou porque sofreu três
horas na cruz - ele nos salvou porque a sua vida foi totalmente fiel à vontade
do Pai. Por causa dessa fidelidade, as suas opções concretas o colocaram em
conflito com as estruturas de dominação sócio-político-religiosas, o que causou
o seu assassinato judicial. A morte de Jesus foi muito mais do que uma
tentativa de eliminar alguém que incomodasse! Era tentativa de aniquilar o seu
movimento, a sua pregação, a visão de Deus e do projeto de Deus que Ele
ensinava. A Cruz então se tornava o símbolo de doação total através de uma vida
de fidelidade absoluta ao projeto do Pai. Era o último passo de coerência,
consequência lógica da fidelidade à vontade de Deus.
Assim,
Jesus deixa bem claro nas páginas dos Evangelhos que a Cruz é a característica
do discípulo/a. “Se alguém quer me seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua
cruz, e me siga.” (Mc 8, 24). Jesus não nos convida a buscar o sofrimento, mas
a carregar a cruz - consequência de uma religião que é vivencial, que acarreta
ações e atitudes coerentes com o Deus em que acreditamos, e que traz em seu
bojo as sementes de conflito com todo poder opressor, pois “os meus projetos
não são os projetos de vocês, e os caminhos de vocês não são os meus caminhos”
(Is 55, 8).
Paulo
descobriu que pregar Cristo sem a Cruz era esvaziar a evangelização. Assim
declara à comunidade de Corinto: “Entre vocês eu não quis saber outra coisa a
não ser Jesus Cristo e Jesus Cristo crucificado.” (1Cor 2, 2). A Cruz de Cristo
é inseparável da sua vida, pois é a consequência dela. Mas, a Cruz também não
se separa da Ressurreição, pois ela é o resultado de tal coerência e
fidelidade. A festa de hoje nos desafia para que respondamos ao convite de
Jesus para carregar a nossa cruz numa vida de discipulado e missionariedade,
continuando a sua missão ao mundo. Pois, como diz o nosso texto hoje, “Deus
enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo
seja salvo por meio dele” (Jo 3, 17)
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